29 de agosto de 2015

No Instagram

Recentemente fiz duas contas no Instagram, uma onde posto as datas que contam o dia a dia do rock brasileiro desde 1955 até hoje, e outra onde conto em textos curtos histórias e curiosidades do rock brasileiro.
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19 de agosto de 2015

Série O Resgate da Memória: 44 - O Terço (Criaturas da Noite)

Essa semana um dos grandes clássicos do rock brasileiro completou 40 anos de seu lançamento. Foi em agosto de 1975 que O Terço lançou Criaturas da Noite.

Aqui fica a homenagem a esse grande trabalho. Escolhi essa reportagem da Folha por trazer além de boas informações do disco, também contextualiza o rock feito naquele momento. Perceba que alguns questionamentos que estão na matéria são feitos até hoje...




Rock
O som mágico do Terço, uma boa realidade
(Jornal Folha de São Paulo, arquivo digital, edição de 18 ago 1975, caderno Ilustrada)

Por Carlos A. Gouvêa

A grande rivalidade, que existia há alguns anos entre dois grupos cariocas de rock, acabou. “A Bolha” tinha por seu maior concorrente “O Terço”. Do primeiro, devido às indefinições bem próprias dos elementos de nosso “showbusiness”, pouco se ouve falar nos dias de hoje. O segundo é tipo como um dos melhores e, por alguns, o melhor grupo de rock brasileiro.

O Terço acaba de gravar mais um LP. Na verdade é o terceiro mas na prática é o primeiro, que vem demonstrar pela qualidade que apresenta, os longos anos de vida que esse grupo deverá ter. Composto por Sérgio “Magrão”, na guitarra-baixo; Sérgio Hinds, na guitarra-solo; Flávio Venturini, nos teclados, e Moreno na bateria, esse conjunto no ano passado recebeu o troféu Rock 74, oferecido por Lady Jane, por ter apresentado o melhor show do ano (13/10/74 no MASP).

O álbum tem o título “Criaturas da Noite” nome da primeira faixa do lado “B”. A capa foi feita por Antônio e André Pelleov com fotos de Leonardo; gravado nos estúdios da Vice-Versa para a Copacabana e produzido pelo grupo e por seu empresário Mário Buonfiglio.

Este disco foi iniciado há cerca de um ano e a matriz da fita fez uma peregrinação por várias gravadoras. Sérgio Hinds conta a história: “Toda vez acontecia o mesmo. Levávamos a fita para os produtores, eles gostavam e, depois de fazerem uma reunião vinha sempre a resposta negativa”. O investimento para gravarem esse disco foi grande. O próprio conjunto custeou as gravações para depois vender a fita a alguma gravadora. Achando essa fórmula mais prática, pois infelizmente nosso rock é marginalizado pelas fábricas de discos, cujos “produtores” nem se preocupam em ouvi-lo e acham mais fácil dar uma resposta negativa, dizendo que rock não vende, os músicos do Terço querem fazer do anti-comércio (como os dirigentes de gravadoras chamam o rock) uma união de boa música acompanhada pelo sucesso da vendagem. “Terço”, pertencente a gravadora Copacabana cujo proprietário, Adiel Macedo, acreditando muito no sucesso que poderá render o conjunto disse que “O Terço” é ótimo para o Brasil, mas será muito melhor quando for lançado na França e Inglaterra, pelo selo “Virgin” conforme promessa feita por Adiel ao empresário do grupo, Mário Buonfiglio.

Sérgio Hinds guitarrista do conjunto durante a entrevista fez uma pergunta bastante oportuna, sobre o movimento de rock no Brasil: “Por que o público brasileiro não prestigia seus próprios conjuntos de rock, lotando teatros e comparecendo em massa a todo evento que se fizer! Eu acho que, Rita Lee, por exemplo, deveria ser assistida por 15.000 ou 20.000 pessoas no Anhembi. Não vamos chegar à casa de milhões de pessoas porque o rock ainda precisa de muita força e, principalmente, de boa vontade por parte dos dirigentes de gravadoras e empresários de shows. Público tem e bastante. Por que o Slade, um fraco conjunto inglês que apresenta música inferior a nossa consegue reunir na própria Inglaterra 200.000 pessoas para assisti-lo. E, no Brasil, em nossos shows só vai um pouco mais que a lotação do teatro?”

Ele mesmo responde: “Na Europa não existe rivalidade entre os grupos. Existe respeito. Ninguém cola cartazes em cima de outros cartazes. Os grandes grupos evitam fazer shows no mesmo dia, e com tudo isso o público recebe melhor informação, pois não existe bagunça. E outra coisa: lá não existem divisões descabidas entre música popular, rock e futebol. Os próprios artistas, a exemplo de Rod Stewart, gostam de futebol (consequentemente o público que comparece aos estádios para ver um jogo, vai também a um concerto de rock. As discriminações e preconceitos existentes no Brasil são fatores altamente contribuintes para o bloqueio do sucesso do rock”.

Moreno o baterista, intervém: “Apesar de tudo o público rock no Brasil, sabe o que quer e não se deixa mais iludir por mentiras e shows sem qualidade, e muito menos discos que apresentam qualquer coisa”

Os teatros estão cobrando, em média, 25% da renda bruta. A Prefeitura 10%; direitos autorais, mais 10%. Além disso, existe o pagamento obrigatório de cartazes volantes, anúncios em jornais, iluminação, transporte e pessoal técnico. Como é possível fazer shows em teatros? Qual o lucro? (se houver, pois parece-me que existem mais despesas).

O empresário do Terço, Mário Buonfiglio, responde:
“O lucro financeiro não existe, pois isso é conseguido quando da venda de shows em clubes. Os teatros de rock estão faturando mais do que teatros que não apresentam rock, pois a frequência de público é maior. Entretanto, os teatros que não apresentam rock têm uma regalia: são isentos dos 10% cobrados pela Prefeitura. Nossa produção é cara. E para uma peça de teatro, às vezes vai o ator, um violão e cadeira. Nós temos um caminhão com quatro toneladas de equipamentos, dois tipos de iluminação, uma própria e outra da Crow, e mais uns 12 mil de promoção. E com todos esses gastos dificilmente voltaremos a fazer teatro em São Paulo, onde estão cobrando uma taxa absurda de 25% da renda bruta. Isso nos leva ao incentivo de fazer teatro apenas no Rio de Janeiro, onde as taxas são bem menores e lá não tem Prefeitura. Só aí, ganhamos 25% sem trabalhar”.

Sérgio “Magrão” contrabaixista do Terço acha uma grande bobagem um conjunto ser avaliado pelo número de instrumentos importados que possui: “Hoje, no Brasil, a técnica da construção de aparelhagem é toda nacional, menos a bateria. E muita gente pensa que é importada pelo som limpo que nós tiramos”.

Melhor do que falar do Terço é assistir seu show, que estreia quinta-feira (28) no Teatro Bandeirantes, indo até domingo, no horário das 21h30. Sábado, o grupo fará uma segunda sessão denominada “Sessão maldita”, à meia-noite.

Nos espetáculos serão apresentadas as músicas do novo LP – “Criaturas da Noite”, além de algumas inéditas, como “Espanhola”, de autoria de Flávio Venturini e Guttemberg Guarabira. Pode-se prever uma coisa: durante a execução de “Hey, Amigo”, a plateia toda dançará e cantará com o grupo a exemplo de outros shows. Essa música pode ser considerada um fenômeno, pois ano passado, sem estar gravada, já era cantada por todos. Hoje, data oficial do lançamento do disco, já é desde algumas semanas a música mais executada em várias rádios. Já foram vendidas cerca de dez mil cópias por antecipação e foram prensadas cerca de 30.000 capas.

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Cenário-Pop

Rick Wakeman...

Rita Lee
Rita Lee despediu-se ontem de seu público na curta temporada de 11 dias, no Teatro Aquárius. A casa estava lotada quase todos os dias e seu LP – “Fruto Proibido” – já atingiu a casa das 20 mil cópias vendidas. Em poucas semanas segundo previsões do crítico Nelson Motta, o disco de Rita deverá chegar à casa das 50.000 cópias vendidas, o que representa vitória para o nosso rock.


11 de agosto de 2015

Rock Brasileiro: 9 - A Sobrevivência do Rock Brasileiro?!?

Como costumo fazer, dia desses publiquei um dos textos do blog na página do Facebook, e acabou que eu e Gabriel (Autoramas), trocamos opiniões nos comentários (A Morte do Rock Brasileiro?!?). Nos conhecemos desde os tempos de Brasília.

Por vezes sou mal interpretado em textos que escrevo sobre o futuro do rock no Brasil. Gosto de também ser mal interpretado rsrs. O que escrevo é sempre uma mistura de provocação, verdade, exagero, mas pé no chão, com certeza.

Em resumo, pra mim é assim: pode até ter bandas boas, mas nada de grande destaque. Nada que vá revolucionar, trazer algo novo, revigorar o gênero. Eu vejo shows de bandas novas quase toda semana. Às vezes até 3 shows, e não vejo nada que realmente mostre algo novo.

Criei o programa Ultrassom que a MTV produziu por duas temporadas, em 1998 e 1999. Era um programa de bandas novas, duas por programa, que era semanal. Recebíamos tanto material que foi preciso contratar uma pessoa pra ajudar a ouvir e fazer uma primeira peneira. Mesmo assim, com tanta banda, era difícil escolher de 8 a 10 por mês. Em uma conta esdrúxula eu achava uma banda a cada 20 ouvidas.

Mesmo nos anos 1980, eram pencas de bandas, para pouquíssimas boas. Costuma-se falar de Barão, Blitz, Lobão, Paralamas, Kid Abelha, Legião, Lulu Santos, Camisa de Vênus, Titãs, Ira!, Ultraje... Mas havia muito, mas muito mais. Pencas não conseguiram chegar a gravar, e outras pencas que conseguiram não vingaram nem no 1º disco. Perceba: Os Eles, Eletrodomésticos, Cheque Especial, Taranatiriça, Grafitti, a lista vai longe. Se for então escrever aqui os nomes das bandas que estouraram apenas uma música, o texto não terá fim.

Mesmo com o boom dos anos 1990, bandas ruins e sem força também ficaram no caminho, muitas não gravaram (apesar de já haver facilidades pra isso), e outras simplesmente não vingaram. E era um desespero. Digo isso por viver na pele, por estar bem na MTV, onde todos os artistas, grandes e pequenos, queriam aparecer.

Em todas essas décadas era assim: quantidade sem qualidade. Um bom momento para o rock brasileiro, pode soar estranho, foram os anos 1970. Mesmo fora do mainstream, das rádios e tvs, a cena estava ativa e cheia de bons nomes. Tinham festivais alternativos, shows em teatros - mais que isso, pois muitas vezes eram temporadas, e não apenas um ou dois shows. Tocava-se durante um mês no teatro X, depois ia pra outro, fazia-se um ou outro show solto, festivais. Era uma cena forte que gerou discos clássicos. Módulo 1000, Bicho da Seda, Ave Sangria, Som Imaginário, Joelho de Porco, Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Made in Brazil, Rita Lee & Tutti Frutti. Nessa época arrisco em dizer que não havia quantidade, mas qualidade. Em plena ditadura militar, não era nada fácil ser cabeludo e fazer barulho.

Hoje, mais do que em qualquer outra época, temos muito mais quantidade do que qualidade. Além de ver shows, recebo muitos links. Um dos grandes problemas da cena atual são as letras. E isso não sou só eu que digo. Em um recente trabalho que fiz e  que aborda o rock brasileiro, tanto artistas, quanto público, todos são unânimes em dizer que falta conteúdo.

Não quero citar nomes, mas existem ao menos sete ou oito bandas relativamente novas que podem vingar em 2016. Dessas, 2 ou 3 têm capacidade de durar além de dois ou três discos. Muita gente fala que o rock vai voltar, e não deixo de acreditar nisso, já que tudo é um ciclo. Depois de 20 anos, quem sabe a mídia não resolve investir no rock novamente. É possível.

Já existe uma cena nova. Ela é esquisita, desunida, sem ponto de referência, mas está aí. Em SP e outras poucas cidades que tenho conhecimento, estão voltando casas noturnas interessadas em shows autorais. Isso é bom sinal. Porém é pouco. 

É necessário que a mídia participe, obviamente indo além das vias especializadas. Eu acredito que seja possível uma gravadora apostar em um casting rock, digo dois ou três nomes para se trabalhar. Quem sabe assim, outras rádios, tvs, jornais e revistas também passem a falar novamente do rock. Quem sabe até a MTV volte a falar de música, de rock!

Como em outras épocas, é preciso um movimento de explosão, todo mundo junto falando de vários artistas ao mesmo tempo. Todos esses canais de comunicação falando juntos de oito, dez nomes. Uma gravadora aqui lança dois nomes, outro selo ali lança mais dois, mais outra gravadora aposta em um...

Se assim for, e espero ser, como a história mostra, sobreviverão os fortes.