30 de dezembro de 2014

O Ser Humano é Ridículo (Viva 2015!)

O que eu percebo – e não só eu – é que passamos dos limites. Nós seres humanos não estamos sabendo cuidar do que é nosso. Desde a coisa mais insignificante até a maior de todas.

Podemos pensar na humanidade inteira como sendo uma coisa só (e somos!). Se fosse um síndico, por exemplo, certamente seria um péssimo síndico; se fosse um presidente, seria um péssimo presidente; se fosse bombeiro, seria um péssimo bombeiro e se fosse um policial, não só seria um péssimo policial, como também seria corrupto. A humanidade, como um todo, é um lixo. É o mais fétido esgoto existente nesta galáxia.

O ser humano é egoísta e burro. Sabe que a poluição prejudica a saúde, inclusive do planeta, mas não a combate, pelo contrário. Sabe que arma de fogo gera violência, mas fabrica arma de fogo. Sabe que não pode matar e maltratar, no entanto, mata e maltrata.

Naquele vai e vem maluco de gente na rua (e que já citei em alguns textos no blog), sobe e desce, entra e sai nos terminais, ônibus e outros transportes públicos, seja hora do rush, período de festas, o corre corre. Todo mundo se atropela, ninguém se respeita, é a lei do mais forte. Não à toa é difícil ver pessoas especiais nesse momento. Deficientes visuais, cadeirantes. É difícil! É desumano!

Não é justo fazer uma pessoa se espremer e sofrer para ir e voltar do trabalho e ainda perder 4, 5, 6 horas do dia pra isso. E quem a faz sofrer? O próprio ser humano, corrupto e egoísta. É um efeito dominó, um maltratando o outro, de cima pra baixo. Um quer humilhar o outro. Um quer ser melhor que o outro.

O ser humano é um lixo. O quanto teríamos um lugar melhor se caso não houvesse egoísmo? Sem egoísmo conseguiríamos, inclusive, conviver numa boa com as diferenças.

Brigamos com o vizinho por causa do galho da árvore que invade o quintal, brigamos no trânsito por causa de meio metro, o aluno mata o professor que o repreende, o ciclista briga com o motorista, vamos ao banco e somos mal atendidos, a religião causa guerra... tudo é discórdia!

O ser humano é um viciado que não consegue largar o vício. Empurramos tudo com a barriga.

No caso do planeta Terra, já estamos chegando na fase de não ter mais conserto, e nada é feito. Tenho pra mim que, dia mais dia menos, irá surgir um vírus que acabará com mais da metade da população. Virá mais uma epidemia como outras que já vieram e dizimaram, juntas, ao menos 1 bilhão e 500 milhões de pessoas  Dessa vez os que restarem, serão obrigados a repensar a vida, mudar os conceitos e recomeçar do zero. 100% vida nova.

Nada impossível já que gostamos de brincar e desafiar a natureza. Imagine também o tanto de experiências que laboratórios fazem e que nem ficamos sabendo... e se dessas experiências surgir algo devastador?

Somos ridículos. Aquelas filas ridículas pra se comprar o novo modelo de Iphone conseguem explicar a mediocridade do ser humano.

Veja só: pense rapidamente em sua saúde!

A maioria das vezes, na verdade, essas pessoas que invejamos por ter poder e dinheiro, são muito mais preocupadas que nós reles mortais. Veja só o exemplo de Eike Batista: você acha que, mesmo no auge, ele dormia tranquilo?

E perceba o grande exemplo que foi Steve Jobs. Alias, não foi só um exemplo, foi também um recado para a humanidade, mas que ninguém, infelizmente, percebeu. E o recado é simples: De que adianta ter dinheiro, poder e o mundo em suas mãos, se não há saúde?

As coisas mais importantes da nossa vida, o dinheiro não compra!!! Isso é fato!

Tem mais zilhares de exemplos como o do Jobs e do Eike. O pobre e o rico, todos tem suas preocupações. Porém, a festa na laje é verdadeira e de coração, enquanto que a festa chique na beira da piscina é falsa e cheia de interesses. E quando morrerem pra onde todos irão?

Ao longo de sua vida quantas vezes você já parou para pensar na sorte de não precisar depender de ninguém por ter saúde? Te pergunto, sendo ou não ateísta, quantas vezes costuma agradecer sua saúde e da família. Você sabe o que é mudar toda sua rotina para ajudar a um familiar doente ou especial?

Já fez o exercício de se colocar no lugar de quem tem alguma deficiência física: lesão neurológica, artropatia, amputação, hemiplegia e tantas outras. Já se imaginou sem poder fazer 98% das coisas que você faz sem depender de ninguém?

Você que, como eu, é saudável, acorda todos os dias para trabalhar, anda até o banheiro, escova os dentes, toma um banho, se veste, faz o café da manhã, pega a bolsa/mochila, entra no carro ou no ônibus e vai para o trabalho, quantas vezes já parou para pensar que, se não fosse sua saúde, dependendo do problema, você nem conseguiria fazer xixi sem ajuda ou ir até a padaria comprar pão ou simplesmente pegar o controle remoto da TV ou sequer sair da cama?!?

O que é toda essa baboseira de Iphone novo, carro do ano ou o tênis da moda, diante da falta de saúde?

Repito: as coisas mais importantes da nossa vida, o dinheiro não compra!!!

Moramos todos no mesmo lugar, temos que manter a casa em ordem, viver em harmonia e manter a saúde de tudo e de todos.

A mudança mais difícil para nós todos é a mudança de comportamento. E essa mudança pode começar com você pensando melhor nos verdadeiros valores da vida. Assim, quem sabe, podemos evitar o pior.

Pra você e sua família um 2015 menos egoísta, com o pé no chão e com muita saúde!





17 de dezembro de 2014

Série O Resgate da Memória: 42 - Entrevista Camisa de Vênus em 1984

Em 1982 o Camisa de Vênus lançou seu compacto com "Controle Total" e "Meu Primo Zé", versões de Clash e Undertones. Em 1983 lançou o primeiro disco e não demorou para estourar com "Bete Morreu". O disco vendeu bem pra época e os shows passaram a ficar lotados.

Hoje é mais que normal, mas naquela época o nome Camisa de Vênus era um escândalo e a banda até deixou de tocar em rádios e televisão por causa dele. Se não me engano, o programa de Raul Gil foi o primeiro que o Camisa participou e que era transmitido em todo Brasil.

O primeiro disco do Camisa é clássico. Não tem problema ele ter sido mal produzido e gravado, a força das músicas é maior que as falhas, e a banda funcionava muito melhor ao vivo (até 1986 assisti a uns três shows).

Aqui mais uma boa reportagem da Roll, de abril de 1984. Antes disso o Camisa havia aparecido em outra reportagem na edição de dez/83 que fala do show com a Neuzinha Brizola (o primeiro no Rio, abriu para Neuzinha e roubou o show). Essa aqui é a primeira reportagem solo da banda. Infelizmente a matéria não está assinada.




Passamos Por Isso

O show era da Neuzinha Brizola. O sábado a noite era veranesco. Mas quem pôs o estádio de Remo da Lagoa para sacudir, embora estivesse meio vazio e cheio de familiares e socialites, foi o grupo de abertura que faz um punk rock/hard baiano: Camisa de Vênus.

A pequena galera skatepunk que estava presente dançou o que pode e daí pra frente conquistaram um público certo e fiel, que cresce a cada nova apresentação carioca. Naquele show da Brizolinha, o pessoal pediu bis, mas o som foi cortado. Não ficou ninguém pra ver a garota.

Agora eles são uma presença quase constante no cenário carioca. Circulam com seus admiradores, trocando ideias, cedendo cópias de vídeo filmados em Salvador – inclusive filmaram o vídeo-clip “Beth Morreu” por Copacabana. O rock preventivo está a solta e o orgasmo é total.

Num desses encontros nos pepinos da vida, embaixo de um sol causticante, antes de uma entrevista pro Realce, pegamos um abacatinho gelado e levamos um papo com a trupe (mulheres, filho, os cambau) numa das últimas sombras restantes perto da praia (maldita devastação ecológica). 

Perguntamos a Marcelo Nova (voz) o que acha do rock Rio-SP, e ele não hesitou em responder: “No Rio gosto do João Penca que são engraçados sem serem babacas, e não cansam. Tem uns que enchem o saco nessa de querer ser engraçadinho. Gostei muito da noite em que tocamos no Circo Voador com Lobão e Coquetel Molotov. Não houve disparidades. Eles são bons em seus estilos. Já em São Paulo só gosto dos Inocentes, mesmo porque não conheço nenhum outro grupo. Só de disco, mas para eu dizer que conheço e gosto, só vendo ao vivo.”

ROLL: Você vê futuro no rock nacional?
MN: “Como postura, som, atitude, está começando agora. A falta de informação é muito grande entre os grupos e entre os consumidores do rock nacional. A mídia vende tudo como rock e depois da discoteca está se tentando vender rock aqui de qualquer maneira. É o mesmo que tomar Coca Cola como se fosse uísque. Não se pode dizer que o rock daqui é bom ou ruim, pelo menos ainda não. Primeiro as pessoas tem que saber o que estão consumindo. Como está não pode ficar. Um cara como o Lulu Santos, que ficou revoltado porque declarei numa entrevista ao JB que ele não faz rock, respondeu-nos usando um termo colhido debaixo do divã de seu psiquiatra: chamou-nos de DESSUCESSISADOS; quá quá quá. Tudo isso pra tentar justificar uma coisa que ele fez há muito tempo com o Vímana e não conseguiu. Quando ele vê uma coisa direta, inteira e sem frescuras, como o Camisa de Vênus, ele se bate, porque ele sabe que hoje nós temos um público que ele não conseguiu/consegue ter. E como ele pensa que é a Marilyn Monroe do rock, ele coloca essa coisa de sucesso. Se é entregar os pontos, de preocupar de antemão com quantas mil pessoas a música vai atingir, de calculadora na mão e etc, e gravar um Lp onde só se fala de tudo bem, eu te amo, o Camisa de Vênus deixa isso para pessoas como o Lulu. Voltando ao inívio da pergunta, na Bahia nós gostamos muito e apadrinhamos a banda Gonorréia, que inclusive vai ter que mudar de nome por causa da censura. No mais, ainda estamos conhecendo o que tem no rock nacional. O pessoal do Camisa faz questão de dizer que não viemos pro sul maravilha exportar sotaque e frescurinhas, como a maioria dos baianos”.

ROLL: Aproveitamos pra perguntar qual é a proposta que eles trazem para o rock:
MN: Existe intenção de nossa parte de fazer uma coisa, mas aliado a isso existe a posição da gravadora que vai querer colocar a coisa da melhor maneira possível para ela. E aí é que se situa o conflito entre o artista e a gravadora, tem muita gente que não quer segurar esse pepino. Nosso disco, por exemplo, demorou bastante pra sair e já estava até ficando defasado da proposta inicial. Não considero nosso primeiro disco uma coisa certinha. Na verdade estamos pouco nos lixando pra o que isso possa parecer perante a crítica ou ao apoio do público. A gente respeita muito a plateia da gente. Já no segundo disco pretendemos por xilofone e piano, mas quando você ouvir o disco ainda não vai poder afirmar que quem está tocando é o Camisa de Vênus, que continua firme na estrada.

ROLL: No rock internacional ficam com o inglês ou com o americano?
Todos respondem unânimes: “inglês”.
Marcelo prossegue: “Não há dúvidas que na Inglaterra se faz rock muito melhor que nos Estados Unidos. Os americanos não fazem rock, fazem ‘dólar’, todas as revoluções dentro do rock aconteceram na Inglaterra, Rolling Stones, Beatles, Punk e outro. Os EUA são apenas o berço que os pariu e os lançam ao mundo.”

ROLL: Quais os grupos ingleses que apreciam? Citaram Echo and the Bunnymen, U2, Siouxsie and the Banshees, e muita coisa que continua brotando todo dia. E o que dizem sobre o punk rock no Brasil?
MN: “O aspecto que acho negativo nessa coisa do punk rock é a similaridade entre as bandas e a própria temática: guerra, fome, desemprego, etc. Mas eu gosto muito é da energia deles. É muito melhor ouvir qualquer banda punk do Rio ou São Paulo do que essas ‘coisas’ que rolam por aí (os leitores sabem a quem se referem)”.

ROLL: O Camisa está criando algum novo estilo? A princípio vocês parecem muito com os grupos punks da primeira leva como Buzzcocks, Vibrators, etc.
MN: “Se eu disser que criamos, fica um negócio pretencioso, mas a verdade é que nós já criamos essa cena de rock. E aí você começa a ter que enfrentar os problemas do que já está estabelecido pra não cair na rotina e fazer o segundo Lp igualzinho ao primeiro. Se o primeiro deu certo, fazer o segundo igual é um risco. É fácil, as tentações são muitas, inclusive financeiras (se o Lp estiver dado certo), mas nós não vamos cair nessa. O lance da semelhança dos grupos que você citou são pura homenagem. Veja que no Lp fizemos uma versão do Buzzcocks, uma do Jam e uma do Undertones. Fica aí”.

Súbito o papo é interrompido pois tá na hora do papo com Bocão e Antonio, pro Realce. A conversa segue mais ou menos a linha desta, com muita descontração, pois é o lema do programa. Nos veremos em outra oportunidade. Como o sol ainda tá muito bom e estamos de short, vamos dar um mergulho. Depois ficamos zarando, vendo os asa-deltas e o lindo pôr do sol, só pra passar tempo.


8 de dezembro de 2014

Moço Tem Camiseta de Rock Aí?

Houve um tempo em que colocar uma camiseta de uma banda de rock era algo realmente significativo. Uma época em que esse gesto realmente dizia algo, fazia a diferença e colocava você na ala dos “diferentes”.

Estou dizendo do início dos anos 80, mais precisamente entre 1980 e 1985. Ainda nessa época camisetas de rock não eram nada populares, pelo contrário, era coisa de marginal.

Qualquer que fosse a banda ou artista, se alguém gostasse do que visse na camiseta, era nova amizade na certa. Na verdade, nem seria preciso gostar da camiseta, só de ser rock já era motivo para uma conversa, uma troca de ideia. A camiseta já mostrava ao menos 50% de sua personalidade.

Em Brasília lembro de uma vez dois headbangers com camiseta do AC/DC chegarem em mim por causa da camiseta do Clash que eu usava. Eles estavam passando pela quadra onde eu estava, sentado em um bloco, viram a camiseta e vieram me mostrar o Never Mind The Bolocks do Sex Pistols, pois queriam vender o disco. Não comprei, mas os caras sentaram lá e ficamos conversando, outras pessoas chegaram e os dois acabaram se tornando amigos.

Em São Paulo, logo que cheguei à cidade, estava eu caminhando pela Consolação, quando dois office boys me pararam por eu estar usando camiseta do Dead Kennedys e ter cabelo um pouco longo para usar uma camiseta daquelas rsrs. Trocamos uma ideia, disse que tinha acabado de chegar de Brasília e eles, por coincidência, conheciam um pessoal de lá. Tudo amigo. Apesar de radicais, me convidaram para uma festa, e acabamos nos esbarrando em alguns shows depois dessa conversa.

A camiseta de rock falava por você. Em São Paulo, por exemplo, onde havia muita rixa entre gangs, se alguém passasse por punks com uma camiseta do Smiths, por exemplo, estava arriscado a tomar porrada. Se um punk passasse por headbangers com uma camiseta do Ramones, era briga na certa! Uma pessoa que usava uma camiseta do David Bowie certamente era bem diferente de uma pessoa que usasse uma camiseta do Black Sabbath. A conversa seria diferente com cada uma.

Usar uma camiseta rock era coisa “séria”. Por ela falar muito de você, não dava pra usar uma camiseta rock só por ser legal, isso era impensável. Nem era fácil achar boas camisetas de rock fora de SP. Na cidade, além da galeria do rock, também tinha a loja da Punk Rock Discos, do Fábio (Olho Seco) e a Stoned... e teve uma época em que as duas ficavam na Rua Augusta, uma perto da outra.

Nessa época nem era muito comum gostar de rock. Assim como não era comum ser skatista ou surfista. Nessa primeira metade dos 80 o rock estava chegando ao mainstream: U2, REM, Echo and the Bunnymen, Smiths, New Order, eram todas underground, seus discos não eram lançados aqui no Brasil. Eram tempos em que Clash, Talking Heads, Ramones, PIL, Dead Kennedys estavam em plena atividade.

Aí, de repente, as coisas começaram a mudar, e antes do final da década de 80 os sertanejos já estavam usando calças rasgadas e o símbolo tradicional da anarquia passou a ser usado por qualquer um. Durante os anos 90 outras particularidades do movimento punk e do rock alternativo se tornaram moda até que, por fim, algum figurinista ou estilista resolveu colocar camiseta de bandas em modelos famosas e em integrantes de bandas pop. Hoje até o moicano foi banalizado e agora é usado por pagodeiro e jogador de futebol.

Cada um é livre pra fazer o que quiser, quem sou eu pra dizer algo, porém acho deveras ridículo ver menininhas e garotões usando camiseta do Ramones ou Motorhead a troco de nada. Banalizando uma coisa tão legal. Eu que ando em transporte público vejo gente que está anos luz distante do universo rock usando camiseta de Ramones, AC/DC, Iron Maiden e Black Sabbath. Triste.

Vestir esses astros da música pop com esse tipo de camiseta é bom e ruim ao mesmo tempo. Ruim por ser moda, mas bom porque ao menos, as fãs de 10 a 13 anos, de alguma forma, têm contato com rock.

O que reparo hoje é que certas camisetas ainda falam muito. Apesar de terem banalizado o logotipo do Ramones, há outras que nem todos usam e aí dá pra separar o joio do trigo. Até porque dá pra distinguir bem quem realmente gosta de rock e usa uma camiseta de banda por amor e quem usa banalizando-a. Só não vou citar as bandas que não são comuns, porque vai saber, né? Deixa assim. Ver camisetas do Ramones, Motorhead, AC/DC e Black Sabbath banalizadas já é triste demais...