1 de novembro de 2014

Rock Brasileiro: 6 - Propagandas

Bizz, agosto 1986
Entre fevereiro e novembro de 1986 o Brasil teve um boom de consumo impulsionado pelo Plano Cruzado, um plano econômico doido em que todos ganhavam com a inflação. Os supérfluos nunca foram tão consumidos quanto nesse curto período que pareceu eterno enquanto durou.

Muita gente saiu ganhando com isso. Para o bem ou para o mal. Aqui, no caso, foi para o bem, já que estou falando de música, de rock.

Para se ter uma ideia, Luis Calanca, da Baratos Afins, editou e lançou o vinil do Akira S e As Garotas que Erraram apenas com metade da capa. A meia capa se completava com um plástico transparente protetor, e junto vinha um papel com a ficha técnica, etc.

Isso porque não havia matéria-prima para a produção de vinis, capas e tudo que ia no produto final.

Isso aconteceu por causa do RPM que vendeu como água o Rádio Pirata ao Vivo. Papel, máquinas, vinil, tudo para o RPM. Esse disco, inclusive, antes de ser lançado já havia vendido 600 mil cópias (nº de pedidos das lojas). A banda vendeu horrores em um curto espaço de tempo, assim como o Mamonas nos anos 90.

Por conta disso aconteceu de muitos discos de bandas e artistas, incluindo os internacionais, serem lançados com uma qualidade inferior ao tradicional, sem encarte, sem nada especial. As gravadoras ganharam rios de dinheiro. O rock era a bola da vez e toda gravadora tinha em seu casting ao menos duas bandas de rock. Gastava-se o mínimo para produzir e lucrava de monte!

Em se tratando de contrato entre gravadoras e artistas, cada caso é diferente. Há cláusulas que dizem respeito a divulgação e, por isso, havia artista que tinha assessoria de imprensa e mais exposição na mídia que outros. Entrevistas, rádios, televisão, revistas e jornais. Além disso, havia também a obrigação de se bancar propagandas em veículos impressos.

Imagine: os juros das aplicações financeiras eram enormes. Ganhava-se muito, por exemplo, com poupança. Então imagine o quanto de dinheiro que sobrava para as gravadoras! Não à toa, nesse abastado período, havia montes de propagandas, e a publicação que concentrava mais a atenção das gravadoras era a revista Bizz, da Editora Abril.

Curioso, fui dar uma olhada na minha coleção das revistas Roll e vi que, principalmente entre 1983 e 1985, praticamente não há propaganda de lançamentos nacionais, salvo raras exceções - há uma propaganda coletiva da Warner de 1983 em que já há nomes nacionais como Titãs, Ultraje, Lulu Santos, etc. Há, sim, muita propaganda de artistas internacionais: Rod Stewart, Smiths, U2, Tears For Fears, Talking Heads, Dire Straits, The Cure, David Bowie e zilhares de outras.

Infelizmente não tenho muito material do período entre 1988 e 1990 para uma comparação, mas pela situação que ficou o país pós Plano Cruzado 1 e 2, e pelas poucas revistas que tenho desse período, as propagandas diminuíram. As gravadoras até apostaram em novas bandas, mas a economia destruía cada vez mais o futuro do país. Gueto, Nau, De Falla, Inimigos do Rei, Conexão Japeri, Nenhum de Nós, Kongo, Picassos Falsos, Hojerizah... Porém não houve força.

O dinheiro do consumidor sumiu, e se a essa altura já estava difícil comprar o básico, imagine então comprar um vinil ou ir a um show...

Anterior a Bizz, de artistas nacionais, só vi propaganda do Paralamas (Selvagem?) e a da Warner (que postei aqui também). Desse período de bonança, veja só, haviam propagandas inclusive de artistas que não eram do 1º escalão. Recentemente lendo revistas mais atuais, em algumas não havia nada, apenas propagandas de artistas internacionais. A única que vi foi do trabalho novo da Pitty, o Setevidas. Há muita propaganda de roupa, carro, operadora de celular, calçados, etc.

Em se tratando de importância, como comparação, cada uma em seu tempo, Roll e Bizz foram nos anos 80 o que a MTV foi nos anos 90. Hoje nenhuma publicação especializada tem sequer 1/10 da importância que as duas tiveram. O prêmio Bizz era tão aguardado quanto um dia foi o VMB nos 90.

Se aparecer nessas revistas era tudo que o artista queria, imagine então o que era ter nelas uma propaganda de seu disco ou turnê!


Bizz, março 1987
Bizz, abril 1986
Bizz, agosto 1987
Bizz, julho 1986
Bizz, dezembro 1986
Bizz, fevereiro 1987
Bizz, agosto 1987
Bizz, novembro 1986
Bizz, dezembro 1986
Bizz, outubro 1986
Bizz, maio 1987
Bizz, março 1987
Bizz, agosto 1987
Bizz, julho 1986
Bizz, julho 1986
Bizz, maio 1987
Bizz, julho 1986
Bizz, novembro 1986
Pipoca Moderna, janeiro 1983
Roll, dezembro 1983
Bizz, novembro 1986
Bizz, maio 1986

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