9 de abril de 2014

Autógrafos

Amigos até hoje me perguntam sobre autógrafos. Aí quando digo que não tenho quase autógrafo nenhum, tem gente que fala: “mas como???”,“perdeu oportunidade”, “você é louco?”, “ah, se eu fosse você!”.

Fato é que tenho apenas os autógrafos de Angus Young (AC/DC), Ramones e Pete Shelley e Steve Diggle (Buzzcocks). Só.

Nem consigo lembrar todos os artistas que trabalhei, principalmente, claro, na MTV. Dos brasileiros é mais fácil falar com quem não trabalhei ou me encontrei por aí. Se você pensar em heavy metal, punk e hardcore nos anos 1990, a MTV falou com a maior parte que apareceu por aqui. Tive, inclusive, contato exclusivo com os artistas que vieram tocar nas edições do Monsters of Rock, Hollywood Rock, Free Jazz e outros festivais.

Um tempo atrás rolou uma conversa sobre esse assunto no programa Redação no canal Sportv. Programa matinal que fala do universo do futebol e aborda as manchetes dos principais jornais do mundo, apresentado pelo meu ex-colega de sala na PUC, André Risek. Na bancada discutia-se se era certo um jornalista pegar o autógrafo de uma personalidade que esteja fazendo uma entrevista ou algo do tipo. Alguns jornalistas não ligavam, mas outros disseram ser errado, porque um dia você vai pegar o autógrafo e no outro essa pessoa faz algo errado, e aí levantavam a hipótese do autógrafo influenciar na hora da isenção na notícia. Se você pede autógrafo e foto para o Ronaldo após uma entrevista, e amanhã ele é apontado em irregularidades. Será que você seria capaz de mostrar a acusação contra ele e investigá-lo a fundo?

Na música pode acontecer, por exemplo, de você pegar um autógrafo, depois falar mal de um disco novo, e ter que entrevistar o artista novamente. E aí, como fica? E eu deixei de pegar zilhares de autógrafos por basicamente dois motivos: 1) Timidez, 2) Por ser trabalho.

Tem amigo que fala que eu poderia ficar rico com autógrafos de artistas que já morreram, pois valem mais no mercado. Coisa mais mórbida!

O Ramones deu entrevista para o Fúria todas às vezes que veio ao Brasil, acho que pelo menos quatro (desde que a MTV entrou no ar em 1990).Devo ter feito pelo menos três entrevistas. Em uma delas eu pedi autógrafo por pensar ser a última do grupo aqui (foi a penúltima). Eu estava de camiseta branca, peguei uma caneta ao final da entrevista, depois que a câmera já estava desligada. Fim do trabalho. Estiquei a camiseta e os quatro assinaram nela. Confesso que não fazia questão do autógrafo de CJ, mas tive que pegá-lo pois estava bem ao lado de Marky e ia ficar mal eu não pedisse à ele. Mas o que ficou na memória foi ver a cara de Joey e Johnny enquanto assinavam minha camiseta!

Com Buzzcocks foi a mesma coisa. Pô, cresci escutando punk rock e Buzzcocks eu escuto desde meus 12 anos, ou até antes. Pete Shelley e Steve Diggle assinaram a capa do Singles Going Steady. Também no estúdio após a entrevista e câmeras desligadas. À noite vi o show da banda em um Aeroanta vazio. Foi lindo!

Com o Angus foi no hotel onde a banda estava hospedada, se não me engano na Rua Augusta. Eu, Gastão e amigos fomos ao show no Pacaembú, e só tivemos confirmação da entrevista, como dizem, aos 46 minutos do segundo tempo! Foi difícil. Queríamos Angus, mas iam tentar o que fosse. Lembro de nos contarem meio com pesar dizendo: “mas olha, só vai ter um da banda, ok”, e eu e Gastão: “quem?”, “ah, só o Angus Young, tudo bem?”. hahaha. Saímos pulando é claro.

No meu universo punk cabiam três bandas metal: AC/DC, Van Halen e Motorhead. Então pegar o autógrafo de Angus foi como pegar o autógrafo de Joey Ramone ou de Pete Shelley.

Angus assinou meu Let There Be Rock, que escolhi a dedo. O que foi mais emocionante nesse autógrafo é que, como sempre, o pedi após o fim do trabalho. Assim que dei a capa e a caneta para Angus, o operador de áudio me pediu ajuda e comecei a enrolar o cabo de um dos microfones. Assim que entreguei o cabo, Angus Young me cutucou nas costas e me chamando pelo nome com um forte sotaque: “Paolo!”. Olhei pra ele que me entregou a capa e a caneta. E eu embasbacado agradeci. Incrível! Coisa de fã. kkk

Mas eu não gostava de pedir autógrafo e tietar. Poderia ter pego todos que quisesse, mas sempre optava por uma postura mais profissional. Entrevistei zilhares de vezes Iron Maiden + Bruce Dickinson solo e nunca peguei nada de ninguém da banda. Pelo contrário, já contei aqui que dei uma revista Bizz para Steve Harris por ele estar na capa. Ele estava sentado ao meu lado na sala de espera do aeroporto em Curitiba, enquanto eu lia a revista.

Kiss, Metallica, Slayer, Megadeth, Alice Cooper, Black Sabbath, Ozzy Osbourne, Robert Smith, Lou Reed. Difícil lembrar de tudo. Já era prazer estar ali dirigindo um programa com essas personalidades, tendo contato direto com elas, então não sentia necessidade de mais nada. Ter a postura profissional até me aproximava mais deles. Eles viam seriedade e conhecimento ao mesmo tempo. E era assim que eu me mostrava fã.

Resumindo, eu sou contra ficar de tietagem com o artista que você está trabalhando. Até porque o artista tem que se mostrar receptivo, e a minha postura 100% profissional até já me ajudou na hora de enfrentar artistas mal humorados, que são muitos.



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