10 de outubro de 2013

O Fim da História

A vida de um artista fica muito mais interessante quando há em sua história ao menos uma biografia não autorizada. Veja só os grandes artistas internacionais. Quantas bios não autorizadas têm Beatles, Rolling Stones, Michael Jackson, Madonna, David Bowie e zilhões de outros músicos, atores, políticos, pintores... Assim a história deles irá se perpetuar. Com erros e acertos, mas sempre com mais acertos, a história do biografado ficará documentada pra sempre. Gerações irão se passar, um milhão de anos irão se passar e a história estará aí registrada. Não haverá mais qualquer herdeiro, a obra já estará sob domínio público, mas o tetraneto do tetraneto do tetraneto do tetraneto de qualquer pessoa no mundo terá acesso a essas biografias que serão verdadeiros documentos. Ricos documentos.

O que pensam as grandes personalidades brasileiras que não querem sua biografia escrita? Pensam que as gerações futuras irão ficar acessando os arquivos digitais de jornais e revistas? Haverá Wikipédia? Google? Onde essas personalidades pensam que as pessoas irão procurar por sua história? Haverá blog do fã clube daqui a 200 mil anos?

É muita burrice.

E no fim das contas o que fica? Pensemos em alguns nomes: Paul McCatney, Mick Jagger, Iggy Pop, Aerosmith. Todos eles têm suas biografias não autorizadas, várias até. E o que aconteceu com eles? Mudou alguma coisa? Isso só ajuda, traz o biografado para a mídia pra desmentir ou afirmar as histórias escritas. Briga daqui, briga de lá, advogados rangem os dentes (ou nada disso), e no fim é tudo história. Algumas coisas até viram lendas e enriquecem mais ainda a biografia da pessoa, os fãs comentam, a imprensa quer saber. Verdade ou mentira? 

Político e grandes empresários da comunicação que deveriam temer biografias não autorizadas. Aí sim teria sujeira da pesada, suficiente para manchar o nome da família por mil gerações. Agora por que músicos? Fico me perguntando se é pela história mais recente deles, que eram perseguidos nos 60 e 70, mas que hoje são amiguinhos dos antigos inimigos e se aproveitam, e mamam nas tetas do poder com leis de incentivo e com patrocínio de empresas públicas. Quantos desses artistas escreveram em seus projetos que seus shows seriam com preços populares (leia-se 5 / 10 reais), mas que no fim cobravam 60, 100 ou mais, alegando que era culpa da casa de shows ou algo assim.

Será que é por isso que não querem que suas histórias sejam contadas? Tem muito mais por trás. Os bastidores da música são podres. Afinal, é sabido que pela frente todo mundo é amiguinho. Ligou a câmera e todo mundo fica sorrindo na simpatia.

Um biógrafo sério vai a fundo, chega nas pessoas mais inesperadas e isso assusta a quem tem o que esconder. Esses grandes nomes da MPB que surgiram nos anos 60, contra cultura, coisa e tal, tem muito o que esconder. Não sou eu quem está dizendo!!!! É a atitude deles em relação a biografias é quem diz.

Ney Matogrosso tem uma biografia linda!

No fim das contas o que se percebeu é que toda a reclamação girou em torno do dinheiro. Como se esses artistas consagrados precisassem de mais dinheiro. Mas a verdade é que ninguém que escreve livros no Brasil ganha dinheiro. Pode haver um ou outro caso, mas não é nada comum. Lançar um livro traz mais prestígio que dinheiro.

Fiz O Diário da Turma com meu dinheiro, o projeto levou 4 anos, montei um quebra cabeça com mais de 100 horas de conversa, gastei com passagens, xerox, pesquisa em arquivo, fotografia, ônibus, refeições, ligações, impressora, papel, computador... dinheiro que não acabava mais!!!

Se muito o livro se pagou. Fazendo as contas por alto, se eu quisesse ao menos comprar um apartamento de 150 mil reais eu teria que vender acredito que algo em torno de 500 ou 600 mil livros hahaha. Ri Djavan! Dá risada, cara!

Não à toa desisti de fazer mais pesquisas das efemérides do rock brasileiro que criei. Porque no fim, nem os artistas e nem os meios de comunicação se interessam. Então porque raios eu vou atrás de algo que seria até para ajudar a todos eles? Mas, ok. Valeu a brincadeira. Ótima experiência. Aprendi muito, e na unha, sobre pesquisa. Há muita história por trás dessas efemérides. Há livros. Poderia pegar toda essa enorme pesquisa que fiz e criar ao menos dois livros. Mas vou fazê-los por quê? Vou enaltecer a quem cospe no meu trabalho?

O mercado de biografias de artistas musicais brasileiros até aumentou, mas há tanta coisa ruim que é como se não existisse. Há livros que foram lançados, mas que não tiveram publicidade, pouca gente sabe da existência de certas biografias. Muitas são tão ruins que até dá vontade de chorar. Já escrevi essas biografias escritas que há em alguns DVDs musicais, que você clica no menu e vem o texto. Em dois casos elas foram ultra editadas pelos artistas. Textos cheios de curiosidades e histórias bacanas se tornaram textos banais, comuns, superficiais. Paciência.


Bem, no fim, o azar não é nosso. Tenho uma filha de 12 anos que não conhece Caetano, Chico ou Gil. Pelo jeito nunca irá conhecer. Talvez, no máximo, escutar suas músicas.

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