28 de outubro de 2013

Em novembro...

Novembro começa com uma coincidência: foi o mês em que Carlos Imperial nasceu e morreu. Grande incentivador do rock no Brasil, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, terra de Roberto Carlos, Sérgio Sampaio, e tantos outros artistas que de lá saíram.

Imperial foi produtor, diretor, compositor, político e ator. Atuou no teatro, no cinema. Ainda no final da década de 1950 apresentou programas de TV Clube do Rock, Festa de Brotos e Os Brotos Comandam. Lançou Roberto Carlos, Eduardo Araújo e Renato e Seus Blue Caps. Entre seus sucessos como compositor estão “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo”, “Goiabão” e “A Praça”. Em 1984 Imperial foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro. Apesar desse extenso currículo, não era de muitos amigos.

É um mês cheio de bons e maus momentos. O Raimundos teve momentos bastante diferentes em novembro. A banda lançou Lavô Tá Novo que é um clássico, lançou o Cesta Básica. Mas foi o mês que aconteceu o fatídico show de Santos, onde morreram 8 pessoas, triste, muito triste. Também foi o mês que Canisso anunciou sua saída, por falta de compromissos profissionais da banda.

O Titãs passou por maus bocados porque foi em novembro que Tony Bellotto e Arnaldo Antunes foram presos por porte de heroína. Sem precedentes na história do rock brasileiro os dois sofreram com a imprensa, até porque Titãs ainda não era a banda que é hoje, nem tinha lançado o Cabeça Dinossauro. Esse episódio inspirou a música “Polícia”. Vários artistas fizeram protestos e homenagens aos dois, principalmente Arnaldo que ficou mais tempo preso. Lobão e Cazuza cantavam “Mal Nenhum” dedicando a música a eles.

Anos mais tarde outro Titãs, Paulo Micklos, foi preso por porte de cocaína. Como a quantidade era irrisória, acabou não acontecendo nada.

Na mesma cidade onde Legião Urbana fez seu primeiro show da carreira, em Patos de Minas (MG), o Capital Inicial passou por uma tragédia que foi o acidente do Dinho, quando caiu do palco de costas e se quebrou inteiro de forma séria, correndo o risco de perder a vida. A recuperação foi lenta, sofrida (teve infecção hospitalar), mas Dinho conseguiu sair inteiro disso tudo.

Essa sorte não teve Marcelo Yuka, então baterista d’O Rappa, que foi surpreendido em um assalto, e levou tiros que tiraram os movimentos de suas pernas. Impossibilitado de voltar a tocar bateria, dois anos depois deixou banda.

Em plenos anos 1990 o Planet Hemp sofreu censura. Por um tempo sentimos todos a volta da ditadura. Depois de um show da banda em Brasília, todos os integrantes foram presos acusados de fazer apologia às drogas. Isso foi uma ação ridícula que mobilizou praticamente toda a comunidade artística, intelectual, jornalística e todos os jovens. A pressão diante da detenção foi grande, apesar disso a banda ficou 4 dias na prisão. Esse fato ajudou a esvaziar a agenda de shows da banda, que chegou a viajar com um advogado por precaução.

27 anos antes da prisão do Planet Hemp, em 1970, um delegado de Nova Friburgo (RJ) invadiu o sítio da Comunidade Quiabo´s, onde moravam 12 hippies e transitavam tantos outros, e prendeu todas as pessoas que lá estavam. O fato aconteceu durante as filmagens do filme Geração Bendita – É Isso aí Bicho, considerado o primeiro filme hippie brasileiro, dirigido por Carlos Bini. Nessa comunidade moravam os integrantes da banda Spectrum, que fez a trilha do filme e lançou seu único disco em 1971, que hoje uma cópia original chega a valer U$ 2.500,00.

Em 1984 a New Wave fez sua vítima. Durante um show em Caxias (RJ), o gel que estava no cabelo de Lulu Santos caiu no olho direito dele deixando-o inflamado. O show teve que ser interrompido para Lulu ir ao hospital. Ele foi obrigado a ficar de repouso durante alguns dias. Acredito que isso possa ter sido algo combinado entre ele e Michael Jackson que também teve problemas com seu gel de cabelo que acabou pegando fogo durante uma filmagem de um comercial de tv hahaha.

Novembro era pra ficar marcado também pela realização de três festivais brasileiros, mas só dois aconteceram. Em 1969 a ditadura militar proibiu a realização do famoso Ibirastock, festival que aconteceria no Parque do Ibirapuera, em SP, mas que em cima da hora proibiram a realização. Iriam tocar Os Mutantes, Tim Maia, Beat Boys, Beatnicks, entre outros. Porém no início dos anos 1970 aconteceu, em Nova Jerusalém (PE), a 1ª Feira Experimental de Música do Nordeste. Conhecido como o “Woodstock cabra da peste”, o festival foi coordenado pelo desenhista e músico Laílson de Holanda Cavalcanti. Foi nesse festival que a banda Tamarineira Village (ainda sem esse nome) estreou. Essa foi a primeira grande banda de rock psicodélico do Recife, que misturava ritmos locais, psicodelismo e rock progressivo.

Já no início dos 80 rolou o histórico festival O Começo do Fim do Mundo, no SESC Pompéia. Tocaram todas as bandas punks e hardcore da grande SP, as que já existiam e as que existiram apenas para o festival hahaha. 

Ele ficou registrado em uma coletânea também histórica e maravilhosa! Esse festival foi de grande importância para o punk rock brasileiro, não só o paulistano. Tenho amigos que ficaram presos no telhado do SESC, de onde assistiam aos shows, pois a escada de dava acesso até lá, foi retirada com a chegada da polícia.

Mesmo que seja em um pequeno parágrafo, é importante deixar registrado que o Replicantes lançou o primeiro home video de uma banda brasileira. Esse home video, em VHS, trazia imagens de shows, ensaios e viagens da banda.

Abri o texto falando de coincidência e fecharei da mesma forma. Três bandas cariocas fizeram suas estreias ao vivo em novembro: Barão Vermelho, Kid Abelha e Paralamas. Kid Abelha e Paralamas não só no mesmo mês, mas também no mesmo ano.

Nesse segmento rock/pop foram mais de 30 lançamentos neste mês. Destaco os seguintes:
Cássia Eller (1990), Som Nosso (Som Nosso de Cada Dia), Refestança (Gilberto Gil e Rita Lee), Atrás dos Olhos (Capital Inicial), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (Titãs), Exagerado (Cazuza), Caia na Estrada e Perigas Ver (Novos Baianos), Patife Band (Baratos Afins, 1985), Herva Doce (2º), Nadando com os Tubarões (Charlie Brown Jr.), Bing Bang (Paralamas), O Dia em que a Terra Parou (Raul Seixas), Saqueando a Cidade (Joelho de Porco), O Descobrimento do Brasil (Legião Urbana),

São quase 20 aniversarios em novembro, entre eles:
Philippe Seabra (Plebe Rude), Serguei + Antônio Marcos + Edu K no mesmo dia, Maurício Defendi (ex-Ultraje à Rigor), Zé Rodrix, Júlio Barroso (Gang 90 & Absurdettes), João Ricardo (Secos e Molhados), Sônia Delfino e Carlos Imperial.

Mortes: O produtor iugoslavo Mitar Subotic (Suba), Carlos Imperial, Paulo César Padovan (baixo na banda de apoio de Supla de 1989 chamada Os Exibidos), Marcos Vinicius Rodrigues Souza, o Pena, baterista que tocou nas bandas Sangue da Cidade, Herva Doce e Hanoi Hanoi.




18 de outubro de 2013

Relaxa e Goza

Lembro que o que me deixou feliz no Rock in Rio 3 foi a presença de Neil Young. Porém fiquei embasbacado quando vi que, perguntado se iria tocar músicas novas, Neil disse que não tocaria por causa do Napster. Pô, fiquei decepcionado. Como se o fã de Neil Young àquela altura de sua carreira fosse deixar de comprar um trabalho novo por conta de uma ou duas músicas novas ao vivo vazadas na internet. A primeira coisa que fiz, já que trabalhava de editor de música em um site e tinha acesso à tecnologia e queimador de CD, foi abrir o Napster e fazer uma coletânea ao vivo de Neil Young. Dupla! Ficou ótima e a escuto até hoje.

Deixei Metallica de lado depois que Lars Ulrich se posicionou contra a troca de arquivos na rede. Idiota. Hoje se arrepende, mas agora é tarde demais. Aposto que se existisse Napster quando Ulrich estava começando com o Metallica, ele iria baixar um monte de discos.

O que me chama a atenção nesses casos é que não se trata de artistas em início de carreira, mas sim já consagrados, e com o pé na aposentadoria. Quero dizer que eles já deram sua contribuição, e que dificilmente irão lançar algum outro grande clássico, já ajudaram a mudar o rumo da música, influenciaram e influenciam gerações. Já estão com a vida feita.

É sabido que vender disco não dá dinheiro para o artista, a não ser que venda zilhões.

Até tento me colocar no lugar deles. Mas aí penso que hoje eles continuam tocando e gravando porque amam o que fazem e, mais do que qualquer outro tempo, se divertem. Neil Young teve a década de 70 pra se firmar e Metallica a de 80. Depois da conquista de seu espaço dá pra relaxar e se divertir mais na estrada e no estúdio. No começo rola aquela obrigação de fazer bons discos, e os dois ou três primeiros são fundamentais. Vender discos, ganhar confiança da gravadora, conseguir espaço na mídia, vender shows, conquistar fãs, dar boas entrevistas, participar de tudo quanto é programa de rádio e tv. Ralação absoluta!

Depois, conforme o crescimento da carreira conquista-se respeito, escolhas vão sendo feitas, liberdades são conquistadas. O artista já passa, por exemplo, a escolher melhor os programas que participará, terá um orçamento melhor para gravar disco novo, melhor divulgação. Terá um tratamento melhor nos lugares que for, ficará em hotel 5 estrelas, e até mesmo escolher onde e quando tocar.

Aí, depois que conquistou esse respeito todo – e merecido, vem à fase da bonança. Vende-se shows aos montes, novos contratantes surgem, o cachê aumenta cada vez mais, discos são vendidos também aos montes sendo bons ou ruins. Esse é o momento de ganhar grana, e desfrutar tudo o que não pode nos primeiros anos de ralação.

Dependendo de seu talento, aqui estou falando de dois exemplos Neil Young e Metallica, chega o momento de renovar o contrato com a gravadora e aí, ao invés de você chorar, é a gravadora que vai implorar pra você ficar com ela. Então você passa a ter mais dinheiro investido em marketing e porcentagem maior na vendagem. Ou seja, é a fase de colocar o máximo de grana no bolso, investir, comprar imóveis, aplicar, fazer render e garantir o futuro das próximas gerações da família.

Depois vem outra fase da carreira, que é a de se divertir sem obrigações. É quase como os avós com os netos. Já criaram os filhos, ralaram para dar uma vida digna a eles, e agora é só festa com os netos. É ter um novo neném sem ter que cuidar dele. Que maravilha! Com artista consagrado é assim. Afinal o que ainda querem Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Chuck Berry, U2? Apenas diversão. O que vai mudar para eles mais um disco baixado de graça ou mais uma biografia não autorizada lançada? A história já está escrita!

10 de outubro de 2013

O Fim da História

A vida de um artista fica muito mais interessante quando há em sua história ao menos uma biografia não autorizada. Veja só os grandes artistas internacionais. Quantas bios não autorizadas têm Beatles, Rolling Stones, Michael Jackson, Madonna, David Bowie e zilhões de outros músicos, atores, políticos, pintores... Assim a história deles irá se perpetuar. Com erros e acertos, mas sempre com mais acertos, a história do biografado ficará documentada pra sempre. Gerações irão se passar, um milhão de anos irão se passar e a história estará aí registrada. Não haverá mais qualquer herdeiro, a obra já estará sob domínio público, mas o tetraneto do tetraneto do tetraneto do tetraneto de qualquer pessoa no mundo terá acesso a essas biografias que serão verdadeiros documentos. Ricos documentos.

O que pensam as grandes personalidades brasileiras que não querem sua biografia escrita? Pensam que as gerações futuras irão ficar acessando os arquivos digitais de jornais e revistas? Haverá Wikipédia? Google? Onde essas personalidades pensam que as pessoas irão procurar por sua história? Haverá blog do fã clube daqui a 200 mil anos?

É muita burrice.

E no fim das contas o que fica? Pensemos em alguns nomes: Paul McCatney, Mick Jagger, Iggy Pop, Aerosmith. Todos eles têm suas biografias não autorizadas, várias até. E o que aconteceu com eles? Mudou alguma coisa? Isso só ajuda, traz o biografado para a mídia pra desmentir ou afirmar as histórias escritas. Briga daqui, briga de lá, advogados rangem os dentes (ou nada disso), e no fim é tudo história. Algumas coisas até viram lendas e enriquecem mais ainda a biografia da pessoa, os fãs comentam, a imprensa quer saber. Verdade ou mentira? 

Político e grandes empresários da comunicação que deveriam temer biografias não autorizadas. Aí sim teria sujeira da pesada, suficiente para manchar o nome da família por mil gerações. Agora por que músicos? Fico me perguntando se é pela história mais recente deles, que eram perseguidos nos 60 e 70, mas que hoje são amiguinhos dos antigos inimigos e se aproveitam, e mamam nas tetas do poder com leis de incentivo e com patrocínio de empresas públicas. Quantos desses artistas escreveram em seus projetos que seus shows seriam com preços populares (leia-se 5 / 10 reais), mas que no fim cobravam 60, 100 ou mais, alegando que era culpa da casa de shows ou algo assim.

Será que é por isso que não querem que suas histórias sejam contadas? Tem muito mais por trás. Os bastidores da música são podres. Afinal, é sabido que pela frente todo mundo é amiguinho. Ligou a câmera e todo mundo fica sorrindo na simpatia.

Um biógrafo sério vai a fundo, chega nas pessoas mais inesperadas e isso assusta a quem tem o que esconder. Esses grandes nomes da MPB que surgiram nos anos 60, contra cultura, coisa e tal, tem muito o que esconder. Não sou eu quem está dizendo!!!! É a atitude deles em relação a biografias é quem diz.

Ney Matogrosso tem uma biografia linda!

No fim das contas o que se percebeu é que toda a reclamação girou em torno do dinheiro. Como se esses artistas consagrados precisassem de mais dinheiro. Mas a verdade é que ninguém que escreve livros no Brasil ganha dinheiro. Pode haver um ou outro caso, mas não é nada comum. Lançar um livro traz mais prestígio que dinheiro.

Fiz O Diário da Turma com meu dinheiro, o projeto levou 4 anos, montei um quebra cabeça com mais de 100 horas de conversa, gastei com passagens, xerox, pesquisa em arquivo, fotografia, ônibus, refeições, ligações, impressora, papel, computador... dinheiro que não acabava mais!!!

Se muito o livro se pagou. Fazendo as contas por alto, se eu quisesse ao menos comprar um apartamento de 150 mil reais eu teria que vender acredito que algo em torno de 500 ou 600 mil livros hahaha. Ri Djavan! Dá risada, cara!

Não à toa desisti de fazer mais pesquisas das efemérides do rock brasileiro que criei. Porque no fim, nem os artistas e nem os meios de comunicação se interessam. Então porque raios eu vou atrás de algo que seria até para ajudar a todos eles? Mas, ok. Valeu a brincadeira. Ótima experiência. Aprendi muito, e na unha, sobre pesquisa. Há muita história por trás dessas efemérides. Há livros. Poderia pegar toda essa enorme pesquisa que fiz e criar ao menos dois livros. Mas vou fazê-los por quê? Vou enaltecer a quem cospe no meu trabalho?

O mercado de biografias de artistas musicais brasileiros até aumentou, mas há tanta coisa ruim que é como se não existisse. Há livros que foram lançados, mas que não tiveram publicidade, pouca gente sabe da existência de certas biografias. Muitas são tão ruins que até dá vontade de chorar. Já escrevi essas biografias escritas que há em alguns DVDs musicais, que você clica no menu e vem o texto. Em dois casos elas foram ultra editadas pelos artistas. Textos cheios de curiosidades e histórias bacanas se tornaram textos banais, comuns, superficiais. Paciência.


Bem, no fim, o azar não é nosso. Tenho uma filha de 12 anos que não conhece Caetano, Chico ou Gil. Pelo jeito nunca irá conhecer. Talvez, no máximo, escutar suas músicas.

4 de outubro de 2013

Em outubro...

Outubro é o mês que o rock brasileiro faz aniversário. A data exata é 24 de outubro de 1955. Foi quando a cantora de boleros Nora Ney entrou em estúdio para gravar “Rock Around the Clock”, aqui batizada de “Ronda das Horas”. A música foi gravada por conta da chegada do filme de mesmo título aqui no Brasil. “Rondas das Horas” foi lançada em novembro de 55 em um compacto simples junto com a música “Ciuminho Grande”. Nessa época não havia rock no Brasil, portanto não havia ninguém em especial que pudesse ser chamado para gravar essa versão. A escolha de Nora Ney deveu-se apenas pelo fato dela cantar muito bem em inglês e com pronúncia perfeita, já que tinha uma carreira internacional de respeito. Uma semana após seu lançamento, o compacto chegou ao primeiro lugar na parada da Revista do Rádio. 

A partir dessa gravação a história do rock brasileiro passou a ser escrita. Ainda sem ídolos do rock, em 1956 Caubi Peixoto foi o escolhido para gravar o primeiro rock cantado em português, chamado “Rock'n'Roll em Copacabana”, mas essa é outra história. Coincidências da vida, Nora Ney morreu aos 81 anos em 28 de outubro de 2003 (48 anos e quatro dias após a histórica gravação). O fato dela ter gravado o primeiro rock no Brasil foi ignorado em todos os textos e reportagens feitas em consequência de seu falecimento.

A geração dos anos 1980 perdeu o seu grande nome. Renato Russo morreu no dia 11, e no dia 19 foi anunciado, por Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos, o fim da Legião Urbana – não poderia ser diferente. Lembro que pouca gente sabia de seu estado de saúde. Algumas poucas informações me chegavam não por Brasília, mas no trabalho, na própria MTV. Apesar de saber sobre eu estado de saúde delicado, sei lá por quê, eu tinha esperança de que ele melhorasse para poder viver bem, assim como vive bem até hoje Magic Johnson. O consolo é que a Legião Urbana já tinha deixado uma grande obra atemporal.

Foi em outubro que aconteceu a grande final do 3º Festival da Música Popular Brasileira, na TV Record, grande data que ficou marcada por vários acontecimentos. Sérgio Ricardo, que defendia a música “Beto Bom de Bola”, arrebentou seu violão inteiro no palco. Caetano com “Alegria, Alegria” e Gil com “Domingo no Parque” receberam vaias, mas Gil ficou em 2º lugar e Caetano em 4º. A música vencedora foi “Ponteio”, de Edu Lobo e Capinan. Caetano e Gil foram acompanhados pelas bandas de rock Beat Boys (Caê) e Os Mutantes (Gil). Nessa época era acalorada a discussão do uso da guitarra na música brasileira. Pura bobagem.

Por falar em Os Mutantes, o programa de Ronnie Von, chamado O Pequeno Mundo de Ronnie Von, estreou. Era um programa que concorria com o famoso Jovem Guarda, porém com uma pegada mais alternativa. Foi Ronnie Von que sugeriu a Rita, Arnaldo e Sérgio o nome Os Mutantes. Até então a banda se apresentava como Os Bruxos. Ronnie Von é um dos pioneiros do rock psicodélico no Brasil, mesmo sem nunca ter tomado drogas.

Pra continuar na jovem guarda, lembro que também foi no mês 10 que Roberto Carlos, no auge da beatlemania, chegou pela primeira vez, ao primeiro lugar da parada do ibope com “O Calhambeque” que desbancou nada mais nada menos que “Twist and Shout” do Beatles. “O Calhambeque” fazia parte de um compacto simples junto com a música “Um Leão Está Solto Nas Ruas”.

O Circo Voador, depois que saiu do Arpoador, reinaugurou nos Arcos da Lapa. O Circo foi fundamental para a geração rock dos anos 1980 e é impossível imaginar essa cena sem ele.

Foi no final do mês que alguns representantes do rock paulistano invadiram a redação do jornal Folha de São Paulo para desautorizar o jornalista Pepe Escobar a escrever sobre as bandas da capital paulista. Republiquei a matéria, que originou essa discussão e suas consequências, aqui no Sete Doses de Cachaça. Procure por Desventuras do Rock Paulistano que está em duas partes por conta dos desdobramentos da história..

Uma coisa que percebi de cara foi o número de bandas que surgiram em outubro. Cada uma em um ano diferente, a maioria no início dos anos 80: Ira (ainda sem exclamação), Ratos de Porão, Inocentes, Titãs, Cólera, Nenhum de Nós e Veludo. Dessas sete, cinco são paulistanas; das cinco paulistanas, quatro tem influencia direta do punk rock, sendo que três delas participaram das duas primeiras coletâneas punk do Brasil: Grito Suburbano e SUB. Titãs também tinha influencias punks, mas não só punks. Das sete surgidas, seis ainda estão na ativa. E lá se vão mais de trinta anos de carreira e algo em torno de 53 discos lançados somando as cinco paulistanas (sem contar compactos, splits, coletâneas). Fico pensando se somássemos todos os shows, qual seria o número?

Percebi quatro fatos interessantes do Barão Vermelho, todos dentro dos anos 80. Em outubro Barão ensaiou, pela primeira vez, com a formação original completa: Guto, Maurício, Dé, Frejat e Cazuza. E foi também em outubro que o Barão apareceu, pela primeira vez, sem Cazuza. Isso foi no programa A Era do Halley, musical feito pela Globo, e o Barão tocou “Torre de Babel”. Lembro bem disso, e havia uma grande expectativa em ver a banda sem Cazuza. “Será que o Barão vai ter força pra continuar?”... ficava essa pergunta no ar. Todos eles eram (e são) muito legais, então havia a força dos amigos e de quem gostava da banda. O 'Declare Guerra' tem parcerias com Júlio Barroso, Arnaldo Antunes, Humberto F, Antônio Cícero, música de Renato Russo, enfim. Um no antes desse especial, a banda estava em SP fazendo show de lançamento do Maior Abandonado. No hotel tomaram flagrante da polícia e todos foram para a delegacia por porte de maconha. Curiosamente Cazuza se safou porque não estava no hotel no momento. O Barão chegou ao fim dos 80 muito bem na fita, lançando o Barão Ao Vivo (1º ao vivo da carreira), gravado no Dama Xoc, e novamente no auge por conta do sucesso do Carnaval (discaço!). “Pense e Dance” fez parte da novela Vale Tudo.

Bem, o Nenhum de Nós surgiu em Porto Alegre. Teve seu ponto alto em 1987 com “Camila, Camila” e seu ponto baixíssimo em 1989 com “Astronauta de Mármore”, que estragou “Starman” de David Bowie.

O Veludo, puro rock progressivo, surgiu em 1974 e acabou 1978. Começou como Veludo Elétrico e Lulu Santos chegou a tocar um período, mas saiu pra formar o Vímana. O Veludo não lançou disco, no entanto, alguém tinha uma gravação da apresentação feita no festival Banana Progressiva de 1975 e acabou fazendo 2 mil cópias em vinil dessa gravação que não tem uma super qualidade. Vale pelo registro.

Este mês várias bandas surgiram, porém foi em outubro de 1987 que o Camisa de Vênus anunciou seu fim. Nunca fui grande fã, mas vi alguns shows. Gosto do 1º disco e de algumas outras músicas. Foi em 1987 que o Camisa lançou 'Duplo Sentido', o primeiro disco duplo do rock brasileiro. Depois desse fim, que separou de vez a formação clássica, Camisa foi e voltou zilhões de vezes e isso acontece até hoje. Também foi em outubro de 1983 que a banda tocou no Circo Relâmpago, em Salvador, para lançar seu primeiro disco. Coincidência?

Alguns lançamentos: O Papa é Pop (Engenheiros do Hawaii), Frutificar (A Cor do Som), Plebe Rude (Plebe Rude), Magazine (Magazine), Pedra 90 (Gang 90), Voluntários da Pátria (Voluntários da Pátria), Sunnyside Up (Analfabitles), Supercarioca (Picassos Falsos), Adeus Carne (Inocentes), Descanse em Paz (Ratos de Porão), Cadê as Armas (Mercenárias), Samba Esquema Noise (mundo livre s/a), Benzina (Edgard Scandurra), As Quatro Estações (Legião Urbana), 18 Anos Sem Sucesso (Joelho de Porco)

Alguns nascimentos: Carlos Coelho (Biquíni Cavadão), Lobão, Kiko Zambianchi, Luciano Garcia (CPM22), Pedro Luís (Pedro Luís e a Parede), Baby Santiago, Loro Jones (Capital Inicial), Leospa (Ultraje a Rigor), Flávio Lemos (Capital Inicial), Carlos Maltz (ex-Engenheiros do Hawaii), Sérgio Magrão (14 Bis), Franklin Paulillo (ex-Tutti Frutti), PJ (Jota Quest), Nelson Motta, Selvagem Big Abreu (João Penca)