26 de fevereiro de 2013

Em março...


Sempre digo e sempre irei repetir: uma pena que o universo do entretenimento e cultura pop no Brasil seja tão fraquinho, tão amador, tão cego, tão limitado. O que dói é saber que isso poderia facilmente ser diferente, o contrário.

Na música todo mês tem discos clássicos aniversariando, artistas de peso realizando algo memorável, enfim, acontecimentos gerais que poderiam muito bem fornecer conteúdo novo para os fãs, e seria muito bom para todos se esse mercado soubesse de fato explorar novos caminhos. Mas é aquela coisa: o futebol, por exemplo, não é gerido por pessoas que nada entendem de futebol? Então...

Março é um mês bombástico (como todos os outros hahaha), por de cara começar com três bombas: a inauguração da Rádio Fluminense no início dos 1980, a morte do Mamonas Assassinas (que obviamente todo mundo vai falar) e, por fim, comemora-se o lançamento de, sim, ele, o grande, o magnífico, o incrível e fantástico primeiro disco da Gang 90 & Absurdettes conhecido como Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes. Mas desse disco ninguém irá falar. Aliás, só o Sete Doses de Cachaça lembrará dessa importante data para o rock/pop brasileiro. Se quiser saber mais procure aqui mesmo no Especial Discos Históricos que publiquei em 09-08-2012 (é só colocar Gang 90 na pesquisa ao lado). Desculpe, mas até hoje não aprendi a colocar link dentro do texto. Será que algumas das poucas publicações especializadas irão falar alguma coisa desse disco? Será que algum jornal irá ao menos dar uma pequena nota? Será que algum site irá publicar uma reportagem ou disponibilizar alguma música da Gang em suas rádios virtuais?

Que nada! Ninguém vai falar nada porque ninguém sabe dessa data. É o próprio mercado do entretenimento dispensando matéria prima, como se tivesse conteúdo sobrando. Tem tanta gente que tocou na Gang que está por aí e poderia dar entrevista sobre as gravações desse disco, falar de Júlio Barroso, dos bastidores do lançamento e dos shows. O Júlio, a Denise e o Gigante Brazil já se foram e isso é mais um grande motivo para se fazer algo. Herman Torres, Luiz Paulo Simas, May East, Alice Pink Pank, estão aí, além de outras pessoas que tocaram na Gang como Edgard Scandurra, Lee Marcucci, Lobão, entre tantos outros (para Júlio, a Gang era uma espécie de coletivo, por isso tanta gente passou por ela).

Está vendo só? Fica até difícil não comparar com Europa e USA, como tratam seus ídolos. Há poucos dias foi comemorado o aniversário de George Harrison que, se estivesse vivo, completaria 70 anos, em 24 de fevereiro. No Brasil sites, telejornais, jornais, rádios falaram a respeito, tocaram músicas, e teve até show especial.

Agora pergunto se alguém lembrou que no dia 24 de fevereiro o grande Tony Campello completou 77 anos. Alguém lembrou que nesse mesmo dia Os Mutantes lançou seu segundo disco (de 1969) que tem os clássicos “2001”, “Dia 36” e “Qualquer Bobagem”. Alguém falou algo a respeito? Claro que não.

Bem, deixando a indignação de lado e voltando ao mês, a 1ª geração do rock brasileiro e a jovem guarda tem bons motivos para comemorar. Há grandes clássicos comemorando lançamentos. As músicas “Banho de Lua” de Celly Campello (53 anos), “Rua Augusta” de Ronnie Cord (49 anos), “Pobre Menina” de Leno & Lílian (47 anos) foram lançadas em compactos. O super clássico Viva a Juventude! (48 anos) de Renato e Seus Blue Caps foi de enorme repercussão (nele tem “Gatinha Manhosa” e “Negro Gato”). O disco Jovem Guarda de Roberto Carlos chegou ao topo da lista dos mais vendidos de SP (tem “Quero Que Và Tudo Para o Inferno”, “Mexerico da Candinha” e outros clássicos).

Foi o mês em que o Aborto Elétrico acabou. Pouco depois Fê Lemos formou o Capital Inicial com o Loro Jones. Renato Russo já era o Trovador Solitário. Por falar em Brasília, março foi quando o Paralamas assinou contrato com a EMI (casamento que dura até hoje, e lá se vão exatos 30 anos).

Foi nesse mês que o Sepultura tocou fora de BH pela primeira vez. O show foi no Rio e era lançamento do Bestial Devastation. Um ano antes a banda participou do 1º festival de Metal em BH junto com Sarcófago, Metal Massacre e Sagrado Inferno.

Continuando no underground, também comemora-se o lançamento da coletânea Não São Paulo 2, que não teve o mesmo impacto da primeira, mas mesmo assim é legal pacas (tem Nau, Gueto, 365 e Vultos). Também foi quando o Cólera iniciou sua corajosa turnê europeia. Foi a primeira banda brasileira a fazer uma turnê pela Europa.

Falei do aniversário de Tony Campello, mas em março completará 10 anos da morte de Celly Campello, a primeira mulher no Brasil a ter sucesso fazendo rock. Coincidência ou não foi nesse mesmo mês que, em 1961, ela anunciou sua aposentadoria dos palcos. Se casou e se tornou dona de casa.

Comemora-se (só aqui no SDdC, claro) os 20 anos do Festival Superdemo, organizado pela querida Elza Cohen e que foi uma super vitrine para Skank, O Rappa e Planet Hemp. O resto é história rsrs.

Março foi o mês que a banda progressiva Bixo da Seda estreou (antes ela era conhecida como Liverpool). 200 pessoas lotaram o teatro onde o show aconteceu. Outras 500 ficaram de fora. Isso não é pouca coisa quando se fala de meados dos anos 1970. Em 1976 a banda lançou um ótimo disco e era composta só por feras como Mimi Lessa e seu irmão. Renato Ladeira, na década seguinte, fez sucesso tocando no Herva Doce.

Tem um monte de aniversários: Lílian (Leno & Lílian da jovem guarda) e Ronaldo (guitarra Inocentes), Bob Bolão (que teve suas bandas em 1950 e 1960. Tocava saxofone, clarinete, flauta), Branco Mello (Titãs), Otávio Monteiro (batera Fevers), Henrique Portugal (Skank) e Lúcio Maia (Nação Zumbi) no mesmo dia, Miguel Gustavo (jornalista e poeta que fez “Pra Frente Brasil” e “Rock ‘n’ Roll em Copacabana” gravada em 1956 por Caubi Peixoto), Fernando Deluqui (RPM), Renato Russo (Legião), Getúlio Cortês (cantor jovem guarda “Negro Gato”), Hely Rodrigues Ferreira (batera 14 bis), Pupillo (Nação Zumbi), Dinho (Mamonas Assassinas), Décio (Deny e Dino), Paulo Sérgio (cantor jovem guarda), Kid Vinil, o grande Lafayette (tecladista jovem guarda), Badauí (CPM22), Chico Science (Nação Zumbi), Carlos Stein (Nenhum de Nós), Demétrius (cantor jovem guarda), Taciana Barros (Gang 90), Bi Ribeiro (Paralamas). Mas eles não acontecem necessariamente nessa ordem...

Há dezenas de lançamentos importantíssimos, mas destaco dois discos de décadas bem diferentes: Clube da Esquina, lançado nos anos 1970; e Da Lama ao Caos, lançado nos anos 1990. Dois discos indispensáveis na história da evolução musical brasileira.

Foi em março que Arnaldo Baptista deixou a banda Patrulha do Espaço, com quem gravou dois discos. O maravilhoso e estupendo Elo Perdido e o ao vivo Faremos Uma Noitada Excelente...

Chega que eu já estou entregando muito ouro ao bandido... Tem muuuito mais acontecimento legais em março, mas já basta!

Vamos olhar um pouco mais para o nosso umbigo!!! Devemos nos valorizar mais!!!

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