3 de dezembro de 2012

Rock Brasileiro: O Videoclipe


Depois que o Beatles, sem querer, criou o videoclipe, tudo mudou na cultura pop. A divulgação das bandas e artistas solos barateou, porque até então era preciso fazer turnê só para divulgar o novo trabalho e havia muito gasto para isso. O mundo inteiro seguiu essa nova linguagem e no Brasil não foi diferente.

Os primeiros clipes pop do Brasil foram rodados nos anos 1960 com a jovem guarda, e até mesmo antes com Tony e Celly Campello e outros nomes da primeira geração do rock. Mas esses clipes eram, na verdade, participações em programas de TV e como no início dos 1960 não havia o recurso de gravação do VT (era tudo ao vivo), quase tudo que havia naquela época, ficou naquela época.

Mas no mundo inteiro, durante os anos 1960 e 70, grande parte dos videoclipes eram resultado de participação em programas de televisão ou apresentações ao vivo que eram gravadas até em Super 8 e depois sonorizadas, como um clipe clássico ao vivo, mas ali, naquele momento, isso não era chamado de videoclipe.

Se você fizer uma busca no You Tube, Vimeo ou outras fontes verá que os clipes brasileiros dessas décadas também eram tirados de apresentações em TV, mas não eram reprisados como em um programa de clipes (e nem havia isso) como temos hoje. Eles passavam uma ou duas vezes, no máximo. Nem tinha onde veicular essas apresentações além do próprio canal onde houve a apresentação. Nesse formato você verá Rita Lee, Mutantes, Secos e Molhados, A Cor do Som, Novos Baianos, Casa das Máquinas, Joelho de Porco, Made in Brazil e, inclusive, artistas da MPB.

Aí tudo mudou nos anos 1980 quando a MTV estreou nos EUA. Mais precisamente em 1983. Nesse momento Michael Jackson foi o cara, não só com o clipe de “Thriller”, mas também com “Beat it”, com a história das gangs, a pose de mal e o solo de Eddie Van Halen. Também chapou todo mundo.

Aqui no Brasil quem importou essa nova linguagem foi o Fantástico da Rede Globo, que começou a produzir seus próprios clipes em acordo com as gravadoras. Esse era o único canal de divulgação para novos trabalhos, e de todos os gêneros. O Fantástico fez clipes da Blitz, Lobão, Kiko Zambianchi, Ultraja a Rigor, Metrô, Magazine e mais uma tonelada de artistas. O videoclipe dessa época era, na verdade, os programas de auditório Chacrinha, Bolinha, Raul Gil, Barros de Alencar. Só assim era possível ver várias vezes a banda que você gostava fazendo playback. Ao vivo mesmo só o Fábrica do Som e o Perdidos na Noite.

O programa de clipes que existia até então, digo do final dos 1970 e início dos 1980, era o Som Pop, e antes teve o Sábado Som com a apresentação de Nelson Motta. Tiveram outros, mas transmitiam basicamente clipes intenacionais, e que eram feitos em televisão com fundo chroma key, como aqueles clássicos que sempre vemos tipo “Smoke on the Water” do Deep Purple, “War Pigs” do Black Sabbath e “America Breakfast” do Supertramp. Aqui no Brasil Raul Seixas foi quem  usou pela primeira vez o chroma key no clipe de "Eu Nasci..." feito para o Fantástico, que tinha acabado de adquirir esse equipamento.

A Rede Manchete, que entrou no ar em junho de 1983, também deu uma chacoalhada no mercado fonográfico, porque ela também investiu em musicais, mesmo não tendo, claro, a mesma força da Globo. Ela não só produziu videoclipes e programas de parada com playback, mas também fez especiais com muitas bandas. Eu mesmo lembro de Titãs, Plebe Rude e João Penca.

Também foi a partir de 1985 que começaram a surgir algumas produtoras independentes em São Paulo, Rio e Porto Alegre, e começaram a fazer clipes de verdade, pois até então, os artistas consideravam essas produções televisivas mais como musicais do que videoclipes propriamente ditos. Lembro dos clipes de Ira!, Mercenárias, Titãs, Replicantes.

Em 1985 a Globo criou o programa Clip Clip que, como outros programas semelhantes, passava basicamente clipes estrangeiros, pela falta de clipes nacionais. Uma boa solução que o programa encontrou foi gravar artistas tocando ao vivo em estúdio. Isso era muito legal.

Até 1990, quando a MTV chegou ao Brasil, o mercado brasileiro de videoclipe praticamente não existia, não era uma questão importante para artistas e gravadoras. A divulgação em rádio era tudo e chegar à trilha de novela era o ápice, até porque automaticamente garantia um clipe no Fantástico.

Inclusive no início da MTV houve muita resistência das gravadoras em produzir videoclipes, já que eram caros. Por que a gravadora iria investir muito dinheiro em um videoclipe se não tinha prova alguma dizendo que seria um dinheiro bem investido? Aconteceu então que a própria MTV produziu alguns clipes para mostrar às gravadoras e artistas que era preciso investir nesse tipo de divulgação.

Em 1994, quatro anos depois de sua inauguração, e junto com a estabilidade do Real, estourou uma nova geração de bandas: Planet Hemp, Skank, Raimundos, Chico Science, O Rappa, mundo livre s/a, Pato Fú. Com essa estabilidade da moeda (sendo novidade depois de décadas de inflação e montanha russa econômica) as gravadoras tiveram mais folga para investir em vídeo. Por outro lado a MTV Brasil ajudou na divulgação dessas bandas (já que eram todas do underground) criando o ‘Bandas Sim’ e, em 1995, o Video Music Brasil. A partir daí o videoclipe se tornou obrigação.

Pra mim, o clipe divisor de águas foi “Segue o Seco” de Marisa Monte que, além de ser lindo, instigou outras produtoras e diretores a buscar resultados iguais.

O investimento na produção de clipes passou a ser uma coisa séria, e naquele momento eram realizados por produtoras de filmes publicitários e elas passaram a dar um tratamento de propaganda nos clipes, o que foi deixando-os muito chatos e caretas.

Hoje, com toda tecnologia que temos em mãos, qualquer um faz um videoclipe e também por causa da tecnologia, ele perdeu força de divulgação. São poucas as gravadoras e artistas que investem pesado nisso. A internet mudou tudo.

PS: No momento viajo a trabalho por lugares de pouco acesso à internet, por isso, tenho postado pouco nesses últimos três meses do ano.












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