24 de outubro de 2012

Série O Resgate da Memória: 30 - Casa das Máquinas e a Morte do Cameraman

Em setembro de 1977 integrantes da banda Casa das Máquinas se envolveram em um episódio lamentável. Mas o pior é que ninguém pagou por isso. Na época esse foi o julgamento mais longo até então realizado em São Paulo.
Foram muitas reviravoltas e diversas reportagens em jornais e revistas publicadas entre 1977 e 1988. Depois de tudo isso passar, o vocalista Simbas ainda foi pego em flagrante com cocaína.
Aqui reproduzo 3 matérias que pontuam bem esse ocorrido.
PS: Adoro Casa das Máquinas, sem dúvida uma das melhores bandas da geração 1970, porém a vida de um trabalhador pai de família se foi de uma forma estúpida...

ATENÇÃO: Ao final do texto não deixe de ler os comentários, porque há depoimento de familiares da vítima!




Briga na Record mata o câmera Lucínio de Faria
Folha de SP – 20-set-1977 – Primeiro Caderno

A briga entre dois músicos do conjunto “Casa das Máquinas” e dois funcionários do Canal 7 (TV Record) em São Paulo – que provocou a morte do câmera-man Lucínio de Faria e ferimentos graves no motorista João Luiz da Silva Filho, aconteceu no sábado, mas só foi registrada na Polícia no domingo à noite. E só ontem a tarde o delegado Manoel Levino, da 15ª DP (Itaim Bibi), começou a intimar os envolvidos. Entre eles o Cantor Nivaldo Alves Horas, conhecido como Simba, de 25 anos, seu irmão menor Nelson, de 17 (os outros membros do conjunto souberam do caso mais tarde), o motorista João Ruiz e o funcionário da Record Vady Gragnandini, acusado de ocultar a briga por temer que os envolvidos perdessem o emprego.

Segundo a versão de Simba, ele e seu irmão chegaram cedo na televisão porque costumam se atrasar para os shows do conjunto, devido ao grande volume de instrumentos e roupas especiais. No sábado estava prevista uma apresentação do conjunto no programa Raul Gil, às 15h30min. Por isso, estacionaram um Opala vermelho atrás do canal 7, na Avenida Rubem Berta. Mas logo foram avisados pelo motorista João Luiz que ali não podiam estacionar. Simba avisou que só ia guardar uma sacola no saguão da emissora mas foi tratado “com palavras de baixo calão”. Quando entrou no prédio ouviu um barulho de acidente. Ao voltar, viu que um ônibus da Record dirigido por João Luiz (o câmera-man Lucinio de Faria estava na cabine) tinha batido no Opala. A briga começou às 16 horas, entre os quatro, mas ampliou-se quando envolveram-se outros funcionários da emissora. João Luiz e Lucinio foram para casa, aconselhados por Vady Gragnandini, mas a família de Lucinio assustou-se com o seu estado e o internou num hospital de Santo André, onde faleceu.

Os músicos da “Casa das Máquinas” se apresentaram no programa, apesar da briga. E só depois que o caso foi comunicado à polícia, deram uma entrevista coletiva em seu apartamento na Avenida Diógenes Ribeiro de Lima. O baterista do conjunto, Luis Franco Thomaz, o “Netinho”, que trabalhou com        “Os Incríveis”, explicou que só souberam da morte de Lucinio no domingo por isso cumpriram integralmente o programa no fim de semana, que incluiu ainda apresentação em Santa Bárbara Do Oeste, em Santa Izabel e no Rio de Janeiro.

Formado a quase três anos, o conjunto “Casa das Máquinas” já gravou alguns LPs e vêm participando de shows em todo o Brasil. Dele participam também Mário Franco Thomaz, irmão de Netinho, Carlos Roberto Piazolli e João Alberto Martinez. Nenhum deles, por enquanto, foi chamado a depor, mas já estão consultando seu advogado, Ivan Francês. AF.



Falta de prova
Veja 09-03-1983 (edição 757)

Em liberdade músicos que mataram cinegrafistas

Com uma salva de palmas, as 350 pessoas que lotaram a sala do 1º Tribunla do Júri, em São Paulo, saudaram a sentença que livrou da prisão os três músicos do conjunto Casa das Máquinas que assassinaram a socos e pontapés, em setembro de 1977, um cinegrafista da TV Record, Lucínio Faria, 35 anos, pai de cinco filhos. No embalo da festa no tribunal, um grupo de moças invadiu o palco do julgamento para abraçar e beijar os três acusados: Nivaldo Alves Horas, o “Simbas”, Carlos Roberto Piazzoli, o “Pisca”, e Sidney Giraldi. “Em todo julgamento existem torcidas contra e a favor dos réus”, resignou-se  o promotor Paulo Édson Marques, 33 anos. “Neste, como os acusados são músicos conhecidos e jovens, conseguiram lotar o tribunal com a torcida a favor deles.”

A defesa dos réus contava, além da torcida, com três experientes advogados. Comandados por Antônio Carlos de Carvalho Pinto, eles rechaçaram os ataques do jovem promotor Marques, durante a maratona do julgamento, que começou na segunda-feira passada e estendeu-se por precisamente 84 horas e meia, até a madrugada de sexta. Nesse embate, a defesa explorou uma fraqueza decisiva da acusação: a falta de provas. Graças a essa lacuna, ninguém pagará pelo crime ocorrido no final da tarde de 18 de setembro de 1977, um sábado, e presenciado por numerosas testemunhas.

AMEAÇA DE DEMISSÃO – Naquela tarde, defronte ao prédio da TV Record, o motorista João Luís da Silva Filho retirava da garagem um ônibus para gravações externas, auxiliado pelo câmera Lucínio, que fazia sinais para orientar a movimentação do veículo. Na manobra, o ônibus esbarrou levemente num Opala, de onde saltaram os três músicos, reforçados por um irmão de Simbas, Nelson Leandro Horas, então com 17 anos. O grupo começou a agredir João Luís e Lucínio, e o câmera foi o que mais sofreu. Depois de ser espancado no pátio, o franzino Lucínio foi arrastado para um banheiro da emissora, onde continuou o massacre. Ao encerrar-se a surra, ainda recebeu a última ameaça do chefe da segurança da Record, Wadi Gragnani Dini: seria demitido se contasse à polícia sobre a briga na emissora.

Em casa, à noite, Lucínio exibiu os ferimentos ao filho Wilson, então com 12 anos, revelou o que ocorrera e explicou que não podia procurar nem a polícia e nem hospital. Mas no dia seguinte a saúde piorou e ele precisou procurar o hospital Bartira, em Santo André, onde morreu logo depois, com rompimento do fígado e duas costelas fraturadas. As testemunhas de seu martírio, porém, não se apresentaram ao julgamento da semana passada para relatar o que sabiam. O próprio Wilson negou que o pai tivesse contado que a agressão fora praticada pelos músicos. Além de explorar essa falha, a defesa dos réus jogou toda a responsabilidade pelos golpes mortais no irmão de Simbas, Nélson, que era menor na época. Graças a isso, a defesa conseguiu absolver Pisca e Sidney. Simbas, por homicídio culposo, foi condenado a um ano de prisão, mas beneficiado com sursis por ser primário. Os três continuaram em liberdade.



Adiado de novo julgamento do grupo Casa das Máquinas
Folha de SP 25-abr-1985, Primeiro Caderno

O juiz José Roberto Barbosa de Almeida, 45, presidente do 1º Tribunal do júri de São Paulo, adiou para o dia 18 de junho o julgamento dos integrantes do conjunto musical Casa das Máquinas. Os três – Nivaldo Alves Horas, Carlos Alberto Piazzoli e Sidnei Giraldi – são acusados de matar, a socos e pontapés, o cinegrafista Lucínio de Faria, da TV Record, no dia 18 de setembro de 1977, em frente aos estúdios da emissora, na avenida Rubem Berta.

Esse julgamento já foi transferido 42 vezes em sua segunda versão, depois que a primeira – realizada entre 28 de fevereiro e 4 de março de 1983 – absolveu dois dos acusados (só Nivaldo recebeu pena de um ano de prisão, com direito ao sursis) e acabou sendo anulado pelo Tribunal de Justiça por sua sentença “contrariar as provas constantes nos autos”. Já os motivos que geraram esse 43ª mudança na data são controvertidos. Embora o juiz argumentasse inicialmente ter suspendido a sessão por falta de infra-estrutura para o julgamento, é certo que o pedido de adiamento partiu do promotor do 1º Tribunal, doutor Paulo Edson Marques. Ele teria se recusado a participar do julgamento, por causa das denúncias de irregularidades na composição dos Conselhos de Sentença, os jurados que dão veredito nos júris.

Depois de apresentar sua versão oficial – “Não foi providenciada alimentação para os jurados – Almeida acabou admitindo as denúncias, garantindo “que elas serão apuradas”. O defensor dos réus – criminalista Antônio Carlos Carvalho Pinto – no entanto, se enfureceu com  a mudança da data e o tom das denúncias. “O adiamento é uma medida de cautela. Não vou comandar um julgamento de dias para depois o Tribunal dizer que houve irregularidades.”

Irregularidades que nem chegam a ser precisadas. O procedimento para a escolha dos jurados é o mesmo há décadas. Primeiramente, são indicados 2.500 nomes de cidadãos que, segundo o juiz, têm seus antecedentes checados por oficiais de justiça. Desses, 21 são sorteados para serem jurados do Tribunal por certo tempo. Na abertura do julgamento, o próprio magistrado retira sete nomes de uma urna de madeira. “Não acredito que nesse sistema possa atuar uma máfia que favoreça determinados resultados”, afirma Almeida. Mesmo assim, admite, cauteloso: “A corrupção pode existir na escolha dos nomes, como em qualquer outra atividade humana”. Abandonando rapidamente o Tribunal, o promotor Marques não confirmou nem desmentiu ter solicitado a suspensão do julgamento por causa dessas denúncias.

Indiretamente, no entanto, o juiz presidente confirma que os pedidos de adiamento e de investigação das denúncias partiram mesmo do promotor: “Toda vez que a acusação ou a defesa acenarem com irregularidades, eu suspenderei o Júri para apurá-las, pois é esse meu dever.” Como a segunda criticou o adiamento, apenas Marques pode tê-lo solicitado. O juiz evita comentar essa hipótese, numa aceitação tácita de sua veracidade. E, logo a seguir, deixa escapar: “Vou pedir ainda hojre ao promotor que me ofereça novos dados sobre as denúncias”. Depois, garante que instaurará um inquérito administrativo no 1º Tribunal do Júri e que suas “conclusões serão levadas ao conhecimento da Corregedoria Geral da Justiça”.

Colisão foi a causa - Na tarde de 17 de setembro de 1977, um sábado, um ônibus de tomada de externas da TV Record se chocava, diante do portão da emissora na avenida Moreira Guimarães, com um Opala dirigido por Nivaldo Alves Horas, o “Simba”, 25 anos na época, membro do conjunto “Casa das Máquinas”. Da troca de insultos, os protagonistas do episódio passaram aos socos e pontapés. De um lado, o motorista do ônibus, João Luís da Silva Filho, e o cinegrafista Lucínio de Faria, 32, cinco filhos; do outro Nivaldo, seu irmão Nélson Leandro Horas (17), Carlos Roberto Piazzoli, o “Pisca”, e Sidnei Giraldi.

Em desvantagem, João Luís e Lucínio foram surrados e pisoteados. O motorista apresentava hematomas no ventre e na perna; Lucínio, que já tivera problemas hepáticos, morreria cerca de 22 horas depois, no Hospital Bartira (Santo André), vítima de ruptura do fígado e lesões pulmonares, devido a costelas quebradas. A ocorrência foi registrada no 15º DP em Indianópolis


10 de outubro de 2012

Rock Brasileiro: 3 – A Imprensa e Publicações da Geração 80


Quando eu comecei a me interessar por rock com 11 anos (1981), o que havia de publicação especializada era praticamente a Som Três, que era uma revista sobre equipamentos de áudio e vídeo e que tinha, na parte final da revista, uma seção dedicada a música. Nela escreviam Paulo Ricardo, Ezequiel Neves, Maurício Kubrusly, Júlio Barroso (que escrevia para outras e acho que para ST também), Ana Maria Bahiana e outros conhecidos. Mas o que havia nessa seção era pouco, os principais lançamentos, e algumas poucas matérias. Sempre havia uma pauta com artista brasileiro. Era um período de pouco rock e mais MPB. Sem preconceito falava de tudo. Não era para ser uma revista de opinião.

Ao contrário da Pipoca Moderna que circulou nessa mesma época, mas que infelizmente teve vida curta. Não lembro exatamente, mas durou poucos meses e deixou ótimas matérias. Alguns nomes que escreviam para a Som Três também escreviam para a Pipoca. Esta sim tinha opinião em suas reportagens e nas resenhas de discos e filmes. Era cultura pop mais focada em música. Muitas bandas tiveram suas primeiras matérias feitas pela Pipoca Moderna: Blitz, Eduardo Dusek e João Penca, a cena punk carioca, a Turma da Colina em Brasília, Paralamas (apenas uma nota com foto).

A Pipoca Moderna pegou o início da cena 1980 e conseguiu registrar essas e outras boas matérias. A postura, apesar da formação de opinião, era de jornalista mesmo, um olhar de fora e a intenção era dar uma força para a nova cena que surgia. Aqui mesmo no Sete Doses de Cachaça você acha matérias onde o jornalista  vai ao show, descreve o ambiante, o clima das pessoas e diz até se a cerveja estava gelada ou não. Nas resenhas de discos até apareciam críticas negativas, mas não tinham a intenção de atingir o artista por algo pessoal. Muitas vezes era até um texto, digamos, inocente.

Mas logo que Pipoca Moderna saiu de circulação, apareceu a Roll. Grande revista que dominou o mercado de 1983 até o surgimento da Bizz em 1985. Era a principal e melhor publicação sobre música. Nessa época ainda havia a Som Três, mas como falei, era mais voltada para equipamento (deve ter durado até 1987/88). E não foi pouca coisa não. Só pra se ter ideia, foi a Roll que cobriu o Rock in Rio desde o anúncio oficial até o fim do festival. Fez matérias, entrevistas com os artistas, a chegada deles, toda a montagem, e o que mais podia! E todos eles tiravam fotos com a revista na mão. Muito legal.

A Roll também pegou o filé mignon da cena 1980 o surgimento e a consolidação de toda ela. Era uma revista feita no Rio de Janeiro, mas tinha muita matéria de São Paulo e outros lugares do Brasil. Foi ela que fez as primeiras entrevistas com Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Ultraje, Paralamas, Ira! (antes da exclamação). Cobriu a saída de Cazuza do Barão, a morte de Cláudio Killer (João Penca), de Júlio Barroso (Gang 90). A Roll não cobria só o que as gravadoras majors estavam apostando, mas também o underground do eixo Rio-São Paulo e de outros lugares como Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e Brasília. Ela mostrou o Camisa de Vênus, Coquetel Molotov, De Falla, Beijo AA Força, TNT, Mercenárias, Voluntários da Pátria, Último Número, Picassos Falsos, Finis Africae...

Tinha também uma opinião forte e, como a Pipoca Moderna, uma postura amigável, mesmo que algumas vezes surgisse alguma opinião negativa. É bom deixar aqui registrado que nesses primeiros anos de publicação segmentada havia uma torcida para que a cena rock, que estava surgindo junto, desse certo. A turma da MPB já não era novidade, as bandas que haviam, e que misturavam o rock na MPB (e não ao contrário), era o que pegava mais nesse período 1981-1983, mas como surgia uma nova geração de jovens, com ela novas bandas e a esperança de que elas pudessem chegar nas rádios para mudar as coisas, por isso, o jornalismo e a opinião de Pipoca Moderna e Roll era de apoio, de querer mostrar para as gravadoras “escuta isso aqui que é legal”. Até porque essa cena era conteúdo para publicar e se desse certo teria mais conteúdo ainda. Não era uma revista com boa qualidade técnica de impressão e papel, ao contrário de sua maior rival.

Quando a Bizz apareceu na metade de 1985, já chegou chutando a santa. Era feita em São Paulo e formada por um time de jovens jornalistas que também eram músicos, tinham suas bandas e compunham suas músicas. Isso, de certa forma, não foi bom. Esses jornalistas/músicos tocavam no mesmo circuito que tocavam as bandas que apareciam nas revistas. Às vezes faziam shows juntas, se encontravam nas casas noturnas, em festas, mas na medida em que o tempo passava, algumas bandas conseguiam assinar com grandes gravadoras, outras não. Acabou que bandas que eram do underground passaram a ser do mainstream: Ira!, Titãs, Legião, Plebe, Ultraje, Capital, Blitz, Lobão, RPM. Na época da Roll esses e outros artistas eram underground, estavam começando. Quando a Bizz surgiu, alguns desses artistas estavam em seus primeiros discos, salvo algumas poucas exceções. Claro que alguns desses jornalistas/músicos se incomodaram de ver seus amigos se darem bem, gravar, tocar nas rádios, ficarem famosos, shows por todo Brasil, hotel, mulheres, contrato, dinheiro.

Tudo ficou diferente, porque antes era só escrever sobre os pequenos shows do underground e, de repente, virou resenha de disco lançado por multinacional, entrevista, reportagens mais profundas. Aí começou aquele negócio de falar que escreveu mal sobre o disco ou o show, só por inveja da nova condição do amigo. Havia discussões através da seção de cartas, artista que falava que não dava mais entrevista para fulano ou sicrano.

Quando o rock se estabeleceu de vez nos 80, aí virou um festival de jornalistas desprezarem o rock brasileiro, falarem mal dos discos e dos shows. Até hoje há os jornalistas que ignoram o rock brasileiro.

De 1985 até seu fim em 2001 a Bizz teve uma postura bem diferente de suas antecessoras. A Roll foi até 1988, mas já no final de 1986 ela não tinha mais a mesma força. Até porque a Bizz era forte, de uma editora forte, já chegou com bom papel, qualidade técnica igual e de outras grandes publicações brasileiras de respeito, uma equipe pronta que recebia discos e respeito das gravadoras. Por ela já chegar forte, também já chegou arrogante. Não que isso fizesse dela uma revista ruim, mas nela haviam jornalistas ruins, desses que tem mau caráter mesmo. Durante todo o resto dos 80 e durante todo os 90 a Bizz foi a principal referência como publicação musical, mas chegava a irritar até mesmo seus leitores. Havia todo um time de jornalistas/músicos frustrados fazendo parte dela e isso era o lado negro da revista.

Aqui no Brasil, a imprensa especializada e as publicações também fazem parte de uma história esburacada, como a do próprio rock. Hoje há publicações especializadas, mas elas nunca mais irão ter a mesma força de antes. Infelizmente, publicações especializadas aparecem e desaparecem sem deixar rastro.

2 de outubro de 2012

A História Esburacada Do Rock Brasileiro


Outro dia, conversando com amigos sobre Planet Hemp e Raimundos, perguntei pra mim mesmo: qual o legado que a geração 90 deixou para a geração seguinte? Voltemos décadas...

A jovem guarda não foi influencia para a geração 70 e pouco (bem pouco) influenciou a geração 80 (a urgência era outra). A própria JG era 100% influenciada pelo rock inglês e americano. Pela dificuldade de se chegar discos importados, muitas das bandas faziam versões nacionais de grandes sucessos estrangeiros. Dos anos 60 só mesmo a Tropicália foi influencia certa tanto para a década de 70, quanto à de 90.

A geração 80 se debruçou na new wave e no punk rock. Mesmo nomes que vieram dos 70 como Lobão, Lulu Santos, o pessoal do Herva Doce, Rádio Taxi entre outros, todos eles acabaram por incorporar a música pop de curta duração e refrão chiclete. Só depois, mais tarde, em seus 3º, 4º discos é que as bandas dos 80 foram colocar elementos nacionais em sua música. Mas mesmo assim esses elementos não tinham ligação alguma com qualquer geração anterior do rock brasileiro. 

Veio à geração 90 e, com ela, a mistura do rock e ritmos brasileiros acabou por se tornar um norte. Isso já nos primeiros trabalhos do Skank, Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s/a, O Rappa, Planet Hemp e Pato Fú. Todos eles citavam artistas brasileiros, de Os Mutantes e Roberto Carlos a Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Mas além dessa assumida influência da música brasileira, essa turma também citava as bandas dos 80: Legião, Titãs, Barão Vermelho, Ira!, Cazuza e Lobão. CSNZ até gravou Fellini! Ainda não consegui entender o motivo, mas a influência da jovem guarda sempre foi muito mais forte no Sul. (já vi Lulu santos e Frejat falar de jovem guarda)

Passada a geração 90, não veio mais nada. Artistas surgiram, mas não mais como uma cena que cresceu e estourou como nos 80 e 90. A partir de 2000 acabou essa coisa de cena, de surgir várias bandas boas de uma só vez, e conseguir um espaço considerável na mídia. O que aconteceu foi um CPM22 aqui, uma Pitty ali e um Los Hermanos acolá.

Hoje não existe uma nova cena que possa falar de suas influências e acredito que não terá mais esse tipo de coisa. Pelo que vejo, hoje está mais para “cada um por si”. Há sim uma cena nova, mas é da MPB e, de todo mundo que se fala, destaco apenas Tulipa Ruiz, que é fera mesmo! Outros nomes, mesmo que bem falados no meio, ainda não mostraram nada que tenha personalidade. Vejo em alguns veículos algumas tentativas de se lançar um ou outro nome novo, mas se não tem força, personalidade e carisma, não há marketing que resolva.

Da geração 90 as únicas bandas que vejo pessoas mais novas citarem são Raimundos, Chico Science e, de vez em quando, Planet Hemp

Só quero mesmo é filosofar sem conclusões, jogar palavras no ar para provocar o raciocínio. O que acontece com o rock brasileiro é que aqui não há uma continuidade. Digo das gravadoras investirem sempre em artistas novos de qualidade, de não existir publicações especializadas de longa vida (como há lá fora a Rolling Stone, NME, Billboard e outras). Ficou buracos na história por essa falta de investimento. É culpa de alguém? Acho que não. É ruim e é por isso que você bate o olho nas paradas das rádios e não vê nenhum novo nome. E pensar que já tivemos rock brasileiro até em abertura de novela em horário nobre. 

Mas também tem o seguinte: está difícil de achar alguma coisa com ao menos 10% de qualidade e assim fica beeeem difícil. Até já citei um ou outro nome que acho legal, mas acaba que não acontece nada.

Agora é só aguardar a chegada de uma nova não geração.