3 de novembro de 2011

Série Coisa Fina: 8 - Husker Du


Antes de tudo quero aproveitar o momento para esclarecer de uma vez por todas que o que existe é punk rock e hardcore. Todo mundo no mundo todo cria, sei lá o motivo, termos como punk pop, hardcore melódico e já li até mesmo o absurdo poppy punk.

O que todos querem dizer com punk pop? Que tem melodia, harmonia? O punk rock tem isso a começar pelo Ramones. O punk é pop por natureza. Riffs, refrões, harmonia, melodia, tra la la, sha la la, La ra ra, tchubiruba, uouououyeh, tudo isso está na música do Ramones, Clash, Sex Pistols, Generation X, Damned, Buzzcocks, Jam, Stiff Little Fingers, Television, Richard Hell e mais um monte de nomes da 1ª e 2ª geração do punk rock. Cada um com suas influencias, uma mais aparentes que outras. É só escutar com mais atenção os discos dessas bandas que citei e outras. Ter guitarras sujas, vocais gritados e ser barulhento não significa ausência de melodia e harmonia.

Hardcore é outra coisa (como alguns segmentos do metal). É mais radical porque tem guitarras sujas e vocais gritados, mas quase melodia nenhuma. Digo quase, porque no fim das contas o hardcore também tem refrões e melodia (mesmo que mínima em algumas músicas). Exploited, GHB, Discharge (do início), Riistetyt, Rattus, Anti Pasti e outras da primeira leva. Dead Kennedys e Fred Banana Combo são casos a parte, porque transitam nos dois lados muito bem.

Quer nominar essa geração punk / hardcore dos 1990 pra cá,então é só falar punk rock dos aos 1990. Pronto. Hardcore dos anos 2000. Pronto.

Dito isso, vamos ao hardcore e punk rock do Husker Du.

Digo hardcore e punk rock porque HD teve essas duas fases. O hardcore é do início, de 1979 até 1984, com Zen Arcade. Aí veio a fase punk rock que começou em 1985 com New Day Rising. Nesse mesmo ano saiu o 5º disco Flip Your Wig. Todos eles independentes. Depois o Husker Du assinou com a Warner e veio Candy Apple Grey (1986) e Warehouse: Songs and Stories (1987). Em dezembro de 1987 a banda acabou.

O rock independente / alternativo deve tudo a R.E.M. e Husker Du. A diferença entre ela, além do som (claro), é que uma chegou ao mainstream e a outra não.

Husker Du influenciou meio mundo, de forma direta ou não. Você escuta a banda em Pixies, Jane’s Addiction, Jesus and Mary Chain, Dinossaur Jr., Mudhoney, Nirvana, Weezer, Pavement e mais uma penca.

Aqui no Brasil quase não se fala de Husker Du. Algumas pessoas gostam, mas sempre foi difícil pra mim achar alguém que conhecesse bem. Teve um momento na fase grunge, mas mesmo assim nunca foi assunto nas rodas de conversa. Com influência direta tem o Killing Chainsaw e Garage Fuzz.

Os dois últimos discos do HD foram lançados pela Warner aqui no Brasil. Mas mesmo sendo mais comerciais, com mais violões, baladas, eles não venderam. Warehouse inclusive era duplo.

Em 1979 os três começaram tocando no porão da casa do baixista Greg Norton, e ainda tinha um tecladista que durou até o primeiro show. Não rolou química. Husker Du, assim como a grande maioria das bandas punks, começou tocando Ramones.

A banda tinha um diferencial: tanto Bob Mould, quando Grant Hart, os dois compunham e cantavam. Não era nada comum uma banda de hardcore com o baterista cantando. O hardcore do começo não era chinfrin, era porrada, mal gravado, sujo. Não é para os fracos... rsrs.

A banda é de Minneapolis e todos eles se conheceram em uma loja de discos onde Bob Mould trabalhava. Husker Du é o nome de um jogo dinamarquês dos anos 1950 e significa “você se lembra?”.

O primeiro disco, Land Speed Record, foi gravado ao vivo (mais barato), é uma sujeira tosca, tem 17 músicas em 27 minutos. Podreira da boa. Tudo bem, é o pior da banda, mas vale o registro. Fã é fã... e enxerga o lado bom até nas coisas ruins...

O clássico Zen Arcade tem 23 músicas e foi gravado em três dias, praticamente no take one. Apesar de também ser uma porrada só, ele já flertava – em uma faixa ou outra – com a musicalidade futura da banda, mais punk rock e menos hardcore. Zen Arcade quebrou paradigmas sendo, apesar de hardcore, um disco conceitual. Além do fato de ter sido duplo (não era qualquer banda que lançava disco duplo, ainda mais independente). Este foi um disco adorado por crítica e fãs.

Aliás, do primeiro ao último disco a diferença sonora é enorme, mas há unidade. Tudo faz sentido. A discografia do Husker Du comparo, de certa maneira, com a discografia do Clash que, depois de dois discos punks, mais crus, lançou três discos completamente diferentes e com outra direção (London Calling, Sandinista! e Combat Rock). Apesar de diferentes, eles têm unidade. Essa evolução também se vê na discografia de HD.

Mas o legal do Husker Du não é só o som. As letras do Bob Mould e do Grant Hart são muito boas. São existenciais, falam sobre relacionamento, amizade, traição, angustias, mentiras, algumas são cínicas, recados diretos.

A guitarra Flying V de Bob Mould, o bigodâo de Greg Norton e o vocal de Grant Hart eram demais. Como os ídolos Ramones, eles usavam os instrumentos no joelho. Os timbres de guitarra, baixo e da bateria de Hart são bastante característicos. Você reconhece de longe.

Apesar de bastante cultuado no underground, pelos artistas alternativos e outros até grandes, o Husker Du nunca conseguiu sair desse mercado alternativo, vendas baixas, shows pequenos, ralação absoluta. Aí começou um envolvimento de Mould e Hart com drogas pesadas, principalmente bebida. Quando Mould pulou fora dessa Hart, ao contrário, foi para a heroína. Também tinha o lance de uma rivalidade, no começo velada, pra ver quem compunha melhor.

Até por isso a banda era bastante produtiva, tanto é que em 1985 lançou dois discos (29 músicas): New Day Rising e Flip Your Wig, que chegaram a aparecer discretamente em algumas paradas. Boas críticas saíram em revistas mais conhecidas. A crítica sempre falou bem do Husker Du.

Ela foi a primeira banda alternativa dos 1980 a assinar com uma gravadora multinacional. Foi justamente nessa boa fase da Warner que a relação de Mould e Hart não estava nada legal. Pra completar, em 1987 o empresário David Savoy cometeu suicídio pulando de uma ponte, justamente um dia antes da turnê de Warehouse começar. Mesmo assim a turnê foi feita aos trancos e barrancos. Obviamente com o fim da turnê a banda acabou.

Apesar de tudo os três sobreviveram. Bob Mould e Grant Hart continuaram tocando e lançando discos. Greg Norton abandonou a música e abriu um (bom) restaurante na cidade Red Wing. Ele é chef de cozinha dos bons.

É difícil apontar o melhor disco do Husker Du. Mas se você não quer muita podreira, então escute de New Day Rising até Warehouse. Também tem o excelente The Living End que é um ao vivo oficial lançado em 1994 com 24 músicas da melhor qualidade. Esse vale muito a pena.














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