26 de outubro de 2011

Série O Resgate da Memória: 24 - Joelho de Porco São Paulo 1554/Hoje

No final de agosto postei aqui uma matéria da Folha sobre o disco solo de Gerson Conrad, publicada em 1975. Na mesma página há uma reportagem sobre o Joelho de Porco, mais até: fala do 1º disco da banda, o São Paulo 1554/Hoje antes mesmo de ter uma gravadora para lançá-lo. Clássico absoluto do começo ao fim!


Próspero e Joelho de Porco, o Disco Mais Esperado do Ano


Acervo Digital Folha de São Paulo
Caderno Ilustrada
17-11-1975

Por Carlos A. Gouveia (provavelmente)

Depois de um ano de pesquisas e ensaios, além do trabalho, é claro, Próspero e Joelho de Porco acabam de gravar uma fita com material para um LP. A gravadora? Várias estão disputando essa fita, pois os comentários que circulam pelo meio “rockiano” são imensos, a respeito. Pedrinho, baterista do Som Nosso de Cada Dia, Arnaldo, ex-Mutantes, Juarez Machado, artista plástico e Guarabira, além de Rogério Duprat, “of course”, dono do estúdio Vice-Versa, onde o grupo gravou, externaram as melhores opiniões possíveis sobre as gravações e a atuação dos músicos do Joelho de Porco.

O clima criado em torno do lançamento desse disco foi tal, que o empresário Mário Buonfiglio tem até rejeitado algumas propostas por parte de gravadoras, não por dinheiro, como ele fala, mas pela qualidade que ele e o grupo exigem para o lançamento e perfeita divulgação do disco.

Juarez Machado ouviu a fita, entusiasmou-se e fez a capa com caricatura dos componentes do grupo Joelho de Porco. Mas, é melhor que eles digam. O Joelho de Porco é formado por Próspero Albanese (vocais), Tico Terpins (baixo e composições), Walter Baillot (guitarra, vocais) e Flavinho Pimenta (bateria).

Próspero fala do disco: “Nós juntamos o material musical desde o início do grupo (1970). Nunca tivemos pressa de gravar e, quando gravamos pela primeira vez, na Phonogram, não encontramos apoio suficiente para uma boa divulgação. Gravamos “Se Você Vai de Xaxado Eu Vou de Rock n Roll” e “Fly America”, que tiveram boa aceitação por parte do público de rock e não-rock, mas a gravadora bobeou.”

Sete meses de ensaios e discussões se passaram até que decidiram partir para uma gravação financiada por eles próprios.

“Por que o autofinanciamento?”
“As gravadoras – fala Tico Terpins – se contentam com os 300 mil discos do Martinho da Vila e, por comodismo, não por falta de verba, não investem em coisas novas da música. Tanto é que a nossa maior preocupação cai em cima das letras que retratam a vida dessa cidade que é São Paulo. Como dizia Ezra Pound, os artistas são antenas da raça e eu me cansei de esperar informação das letras de Gilberto Gil e dos baianos em geral. Afinal todos tem 36 anos de idade e o rock ou a nova música popular brasileira se esqueceu da poesia.”

As músicas gravadas por Próspero e o grupo Joelho de Porco, são: “Trombadinha”, “Mardito Fiapo de Manga”, “Lâmpada de Edson”, “Aeroporto de Congonhas”, “Mexico Lindo”, “Cruzei Meus Braços”, “Fui um Palhaço”, “Boeing 723897” e outras. As músicas em que o grupo mais acredita são “Mardito Fiapo dde Manga” e “Boeing 723897”, que retrata o contraste entre o medo no edifício Itália e o medo que o índio do Amazonas tem de viajar de avião.

A produção do disco de Próspero e Joelho de Porco “São Paulo 1554/Hoje” é do próprio grupo. Próspero, antes de se integrar nesse grupo formou o Mona, que teve a participação de Pedro (baixo), Fábio (guitarra) e o excelente baterista Albanese. Nessa época, o Mona contou com a participação do inesquecível Barto (?), nos teclados. (Próspero) Tem 10 anos de bateria.

Tico Terpins começou em 1967 participando do finado grupo “Baobás”, depois passou a trabalhar com Juca Chaves, sendo o autor da música “Sdruws”, “Circo Azul e Branco” e compositor de “Sei Lá Que Tem” (?), gravado por Elisete Cardoso. Entrou para o Joelho de Porco em 1972.

Walter Baillot tem 25 anos, sendo 14 de guitarra com oito anos de profissionalismo. Começou nos “Provos”, integrou também o “Século XX” e tocou com Eduardo Araújo. Entrou para o Joelho de Porco em 1972, após uma estada no Canadá para pesquisa de rock.

Flavinho Pimenta, baterista de 17 anos, dá aula em conservatórios e tocou na Orquestra Jovem do Municipal. Entrou no Joelho de Porco no ano passado, quando Próspero deixou a bateria para se dedicar aos vocais.


17 de outubro de 2011

Ramones (e Eu)


Eu sou mais um que teve a vida mudada depois de ter ouvido Ramones. Ouvi pela 1ª vez em 1980, com 10 anos. Era exatamente “Rock’n’Roll High School” e “Do You Remember Rock’n’Roll Radio?”, “Chinese Rocks”, “Let’s Go” e “Danny Says”. Era uma fita cassete da Mila, minha irmã mais velha (que tinha 13 na época). Nela também tinha Sex Pistols e Siouxsie and the Banshees. Engraçado que, como sobrou espaço na fita que não era virgem, ficou um resto de Pink Floyd que era o que estava gravado antes (bastante significativo, não? Adeus PF!).

Mesmo sendo moleque, me chamou atenção. Meus pais gostavam de rock, não pauleira, mas um bom soft rock, Beatles e sucessos da era hippie e disco. Coisas assim. Então quando escutei aquele rockão, claro que me chamou a atenção. Sempre que podia escutava aquela fita e outras que foram aparecendo.

Mas Ramones é Ramones. Tive a sorte de ter alguns de seus discos perto do lançamento ou na sequência. Em 1982 comprei ‘End of the Century’ e ‘Pleasant Dreams’ que eram, inacreditavelmente, edições nacionais. O primeiro comprei numa lojinha em Brasília, que ficava na comercial da 111 Sul, quadra onde morava. Foi nos fundos dessa loja que rolou um show do Aborto Elétrico.

‘Too Tough to Die’, ‘Animal Boy’ e ‘Halfway to Sanity’ foram três discos que tive a sorte de tê-los na sequência de seus lançamentos. Os dois primeiros no mesmo mês em que saíram e ‘Halfway’ um dia depois (!!!).

Nos tempos de fita cassete se media a importância da banda pela qualidade da fita com a qual você gravava os discos. Da discografia da banda (em vinil) tenho de ‘Leave Home’ até ‘Brain Drain’. Todos os amigos e amigas me davam fitas ou iam em casa gravar. Uns gravavam discos específicos, outros faziam coletâneas. A maioria das vezes as fitas que se gravava Ramones eram das melhores, tipo TDK importada.

Mesmo clichê, é sempre bom lembrar que, sem internet, não tínhamos muitas notícias frescas, principalmente do Ramones e punk rock em geral (até o heavy metal tinha suas revistas). Então, notícias frescas do Ramones nem pensar...

Nos anos 1990, quando já estava na MTV, como todo fã, fiquei chocado com as notícias que chegavam sobre o clima interno na banda. Tive a honra de conhecer a banda por causa do Fúria Metal. Junto com Gastão fiz três entrevistas com ela. Tenho uma camiseta com o autógrafo de todos eles que peguei em 1994.

Acabei de ler Hey Ho Let’s Go – A História dos Ramones de Everett True, e o livro me mostrou que eu não era o único a pensar tudo o que pensava sobre a banda e de como toda a revelação me chocou, mas sem derrubar o mito, claro!

As roupas que eram uniformes, o fato de Johnny não falar com Joey, Joey doente, enfim. Assim como outros fãs também sempre desconfiei a respeito da gravação de algumas guitarras nos discos do Ramones que não foram feitas por Johnny... fato depois comprovado...

Rara foto com Johnny rindo
Não gosto de praticamente nada do que foi feito após ‘Halfway to Sanity’. Há apenas alguns poucos bons momentos. Quando ‘Halfway” saiu, eu já morava em São Paulo, e lembro de ter ido ao shopping onde minha amiga (muito querida Cris Rio Branco) trabalhava. Ela tinha chegado de Nova York no dia anterior e disse que havia comprado o disco indo para o aeroporto, e que eu havia me dado bem porque tinha chegado nas lojas nesse mesmo dia que ela foi embora. Lembro que ela me disse ter visto a loja de disco cheia de pôsteres do Ramones e que não entendia como eu ainda gostava da banda. Falou também que durante o tempo que ficou em NY (acho que um mês) houve alguns shows do Ramones, mas tudo em lugares bem pequenos. Disse que a banda estava por baixo. O pior é que estava mesmo! Mas nunca pra mim.

‘Halfway to Sanity’ é um clássico. Ótimas composições, letras e produção. Disco pesado, e que considero o que tem uma das melhores baterias da discografia. Ritchie Ramone estava muito iluminado nesse disco. É realmente incrível!

De todos os shows que a banda fez aqui só não vi o segundo de domingo, em 1987, e o último, em 1996. Eu vi Dee Dee em ação por duas vezes, e ele descia a porrada no baixo.

Não lembro se já escrevi aqui, mas uma vez tive a grande honra, na MTV, de levar Joey Ramone até o banheiro, onde ele quis ir antes de uma entrevista. Como não tinha ninguém do A&R naquele momento, coube a mim levá-lo. Com meu inglês macarrônico disse a ele que teríamos que subir um lance de escada, e ele resmungou de uma forma engraçada, mas foi na boa. Indiquei a direção e abri a porta do banheiro. Ele entrou já tirando um pente do bolso e se abaixando para se olhar no espelho – ele era muito alto. Tudo isso foi rápido porque a porta logo se fechou e eu, claro, o esperei ao lado de fora.

Na última passagem da banda aqui (no Olympia), eu e Gastão fomos até lá entrevistar Joey durante a passagem de som - sim, durante toda a carreira era a própria banda que passava o som, salvo raras exceções. Lá percebi que de fato o clima não era bom. Senti na pele os boatos que ouvia. Eles estavam em camarins separados. O que era pra ser 10 minutos, acabou sendo uns 20 e poucos. Entrevista curta, mas muito boa. Agradecemos e Joey, muito simpático (sempre, todos eles), entrou no camarim. Juntamos o equipamento e na hora que estávamos saindo, a banda subiu ao palco para passar o som. O clima não estava bom! Inclusive tenho (péssimas e escuras) fotos dessa entrevista e da passagem de som. Joey e Johnny tocavam um de costas para o outro. Comentei com Gastão minha tristeza em presenciar aquilo e a minha decisão de não ir ao show por conta disso tudo. Não fui mesmo. Foi difícil pensar que o Ramones estava ali ao meu lado tocando e eu não estava. Não fui!

Nos tempos de walkman adorava escutar o 1º Ramones e o Leave Home, pois a mixagem que foi feita nesses discos, não sei porque cargas d’água, permitia escutá-lo sem vocal. Lembro também de um dia em 1985, voltando pra casa já de madrugada a pé junto com Danilo, após um ensaio do Filhos de Mengele no Rádio Center, de comentarmos como seria bom ver um show do Ramones. Naquele tempo isso era um sonho impossível, mas pouco mais de um ano estava eu no Palace vendo Joey, Dee Dee, Johnny e Ritchie ao vivo. O tempo inteiro me lembrava dessa conversa com Danilo.

Tive muita sorte de conhecer a banda, sorte de ver Dee Dee em ação e de poder fazer pauta para entrevistá-la. Tudo incrível! Pra mim, o melhor disco da banda é disparado o 'It’s Alive', por ser o resumo da primeira e melhor fase do Ramones (os três primeiros discos). Dos anos 1980 gosto demais de 'Too Tough to Die' e 'Halfway to Sanity'.

Ramones era uma gangue e eu fazia parte dessa gangue.

Ramones é a maior banda entre todas que já existiram no universo, e assim será pra sempre!

Menos é mais!

PS: É incrível o fato dos principais integrantes da banda - Joey, Dee Dee e Johnny - terem morrido em um intervalo de 3 anos e 5 meses. Eles realmente nasceram para a missão Ramones. Terminada, aproveitaram um pouquinho e foram embora.

10 de outubro de 2011

Histórias da MTV: Especial Legião Urbana

Nesse final de semana que passou assisti a programação especial dos 15 anos da morte de Renato Russo que a MTV fez (mas não cheguei a ver tudo). Até me toquei que os amigos Renato Russo e Redson morreram em datas próximas. Dois grandes ídolos meus.

Assisti, depois de muitos anos, o Acústico Legião Urbana, o qual eu fiz a edição especial para Home Vídeo / DVD (foram 3 meses intensos de trabalho). Mas o que passou na MTV foi o especial Acústico com uma entrevista que fiz com Dado e Bonfá, em 1999, intercalada entre as músicas. Era o lançamento do Acústico em CD. Acredito que desde então nunca mais tinha visto esse pgm e ouvido o Acústico.

Na MTV, entre 1996 e 1997 (ou 1997 e 1998?) fiz um programa chamado Arquivo. Era uma mistura de matérias do arquivo da MTV com videoclipes. Era programa que variava entre meia hora ou uma hora de grade.

Era um programa mensal com diversas reprises. A princípio era pra ser produzido com artistas que estivessem com alguma novidade no mercado, seja um novo trabalho, videoclipe, ou uma efeméride significativa e, claro, artistas que tivessem bastante material de arquivo. Era um programa de edição e colagem. Fiz Michael Jackson (e vi de perto seu vitiligo), Madonna, Cure, Marisa Monte, R.E.M., Nirvana e mais um monte que nem me lembro.

Eu, documentarista que gosta pouco de pesquisar, fui a fundo nas pesquisas de arquivo. Não me limitava apenas ao arquivo de matérias jornalísticas, procurava por tudo, até as mínimas participações em programas (seja MTV BR ou EUA / Europa). O que eu achava, eu assistia


Procurava montar o programa de forma cronológica, mas nem sempre dava certo, já que os arquivos da MTV começam em 1990. Quando não era possível, montava de acordo com o material que eu tinha na mão


Alguns programas eram demanda e outros eu sugeria. Horas de decupagem e horas e edição. Não lembro a data certa, mas acabei fazendo um Arquivo MTV Legião Urbana, que deveria ter apenas 30 minutos de grade, ou seja, 22 minutos de produção. Talvez por conta da proximidade do lançamento do A Tempestade (não sei). 


Esse tempo para um programa que ainda deveria ter videoclipes inteiros era irrisório, mas fiz e ficou legal (na verdade não lembro dele rsrs), mas deu certo. Pra mim o programa tendo 10’, 30’ ou uma hora tanto fazia. O trabalho era o mesmo. 


Obviamente ficou muita coisa de fora do Arquivo Legião, mas a medidda em que ia assistindo e montando o Arquivo, vi que eu teria um ótimo programa especial da Legião. Havia músicas inteiras gravadas de alguns shows feitos em SP e RJ. O áudio não era lá essas coisas, mas dava pra escutar tudo numa boa: voz, letra e instrumental. Vi out takes de entrevistas que não tinham sido usadas e, com os dois materiais dava pra fazer um programa de uma hora de grade (48’ de produção).

Anotei tudo e guardei não sei por quanto tempo. Em uma reunião feita no dia da morte de Renato Russo, falei sobre o programa que eu tinha na mão, e rapidamente juntei o material para fazê-lo. Eu só precisava de algumas horas de ilha para montá-lo. Eu tenho um show que a Legião fez em Santos, em 1983 ou início de 84, abrindo para o Paralamas, com Herbert fazendo a apresentação da banda. Usei esse áudio para abrir o Especial e resolvi gravar uma cabeça introdutória explicando o conteúdo do pgm, que foi gravada pelo Cazé. De fato não lembro bem quando e como tudo aconteceu...


Dias depois que o programa foi ao ar, pessoal do departamento de jornalismo me contou que Dona Carmem (mãe de R. Russo) ligou pra lá para agradecer a homenagem, e ainda disse que aquela tinha sido a homenagem mais bonita que tinha visto. Nos encontramos diversas vezes depois disso, mas nunca perguntei a ela sobre isso. Verdade ou não, de fato fiz esse programa de coração. E tudo o que há nele era, até então, inédito na MTV. Não quis fazer nada piegas por conta da morte de Renato. 


Claro que, passados 14 anos de sua exibição, o contexto hoje é outro. Em 1997 não havia You Tube e nem mesmo internet caseira (era para pouquíssimos, mesmo!), portanto o conteúdo exibido tinha um valor diferente de hoje, de material raro e garimpado. Fiquei feliz com o resultado.


PS: Este texto foi escrito ao som do m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o O Descobrimento do Brasil.


5 de outubro de 2011

Síndrome do Pânico

Comecei a escrever este texto em Brasília, justamente onde me sinto muito bem. Foi em Brasília que dei o “golpe final” em minha síndrome do pânico. Golpe final é modo de dizer porque quem tem SdP viverá com ela pra sempre. Infelizmente essa é a realidade. Depende de você conseguir controlá-la. Eu controlo. Brinco dizendo que deixo minha SdP dormindo em eterna hibernação. Quando dá sinais de vida, logo dou uma pancada em sua cabeça e ela volta a dormir. A primeira lição: não a deixe ser mais forte que você. Ridículo se for.

Comigo veio aos poucos, não percebi até começar a ter sinais físicos: fortes dores no peito seguidas de desmaios. Muita dor. Aguda.

Meu querido pai morreu aos 50 anos de infarto. Então fiquei com medo de ser algo ligado ao coração. Eu era fumante e consumia um maço por dia. Fui fazer um checkup completo, da cabeça aos pés. Tudo quanto é exame. Foram uns três meses de laboratórios, hospitais e consultórios.

Eu não tinha nada. Aconselhado, fui a um terapeuta para uma única conversa, que logo detectou a síndrome do pânico. Mesmo já conhecida na época, não havia muita informação disponível sobre a doença, então as informações que ele me passou foram cruciais.

O terapeuta me receitou 30 cápsulas de Prozac, e eu estava prestes a viajar de férias para o RJ e Brasília para começar a fazer o Diário da Turma. Fiquei fora de SP por 36 dias. Junto a todos esses exames, fiz uma terapia alternativa (nem tanto assim) com uma técnica de massagem que me deixava completamente fora de órbita, e que me ajudou demais.

Tomei apenas uma cápsula de Prozac e deixei-o de lado. Sair de SP foi outro grande benefício. Durante minhas crises de pânico eu só pensava que tinha que fazer alguma coisa além do trabalho, caso sobrevivesse (rsrs). Assim resolvi fazer o livro e a partir de então passei a me dedicar a outros projetos fora do trabalho. Na época, fazer o livro foi o meu remédio, meu respiro, minha distração além, é claro, de fazer exercício. No meu caso, que adoro uma piscina, passei a nadar frequentemente.

Em SP sempre morei em Perdizes / Pompeia. Fui aos poucos deixando de ir a lugares mais distantes, que me obrigavam a pegar vias de mais movimento. Eliminei marginais e principais avenidas. Depois limitei bairros e não ia além de Higienópolis, Av. Paulista e Pinheiros. Quando vi, era só de casa para o trabalho, do trabalho pra casa. Até os almoços na casa da avó eu abandonei. Não conseguia nem fazer viagens profissionais, uma simples ponte aérea era o terror, o fim do mundo, uma catástrofe.

Não era medo de voar. Era medo de ficar longe de casa, da minha zona de conforto, da rotina segura. Quando eu ia viajar procurava saber onde era o hospital mais próximo de onde eu ficaria hospedado. Eu fazia de tudo para não sair da rotina. Cheguei a perder a namorada e no trabalho não pegou bem porque ninguém sabia ao certo o que era aquilo, se era realmente uma doença ou eu que era fraco. Minha vida social foi para o lixo. Dos 1º sintomas ao buraco completo, foi coisa de uns 8 meses. Eu fui completamente dominado pela Síndrome do Pânico. Fora a única cápsula de Prozac que ingeri, nada mais tomei de remédio. Pensei comigo: se é uma doença da cabeça, então é com a ajuda da cabeça que vou me curar. Fazer exercício físico também foi de suma importância. Foi uma época em que descobri quem eram meus amigos de verdade.

Nesse mesmo período descobri três pessoas dentro da MTV que também tinham a SdP. Uma delas tinha sintomas bem mais graves que os meus, tendo que tomar remédio de tarja preta e, em crises, respirava em saco para se acalmar. Nem todo mundo falava que tinha a síndrome para não sofrer preconceito. Vejo que, mesmo sendo hoje absolutamente normal, ainda há gente que esconde a doença.

É muito chato. Há artistas na música que tem esse problema e que precisam se virar para cumprir os compromissos profissionais. Viajar de 3 a 5 vezes por semana - dependendo do artista até mais que isso - é de fato um martírio. Recentemente li que Marrone (da dupla sertaneja), após o acidente de helicóptero, também disse estar com SdP. Nesses últimos 6 meses três amigos também me disseram estar passando por maus bocados por causa da síndrome.

Eu soube dominar a minha. Mas, pra isso, é preciso ser forte para enfrentar uma mudança de comportamento e estar disposto a isso. É preciso disciplina. A SdP me afeta hoje, mas não me atrapalha. Com ela adquiri uma sensibilidade estomacal que antes não tinha. Hoje enjoo fácil em avião, barco, metrô, ônibus, van, carro. Agora, ao viajar de avião, preciso tomar dramin. Também adquiri uma sensibilidade maior com barulho de trânsito. Ao procurar um lugar para morar, minha primeira preocupação é achar um local mais tranquilo, uma rua menos movimentada, andares mais altos e apartamentos de fundo.

Isso não é paranoia, nada disso. Isso é precaução. É não querer acordar a SdP que está em mim.

Cada pessoa tem um sintoma diferente e hoje há diversos remédios e modos de tratamento. Mas, se puder, fuja de todos eles. Como já falei, seja mais forte, procure terapias alternativas e exercícios físicos. Procure algo que te dê prazer fora do trabalho, uma terapia ocupacional que  te motive. Divida seu tempo com as obrigações com algo que te dê tesão em fazer. Tente entender, com você mesmo, o seu medo inexplicável da morte e perceba logo quanto isso é bobagem (mesmo que isso continue a te atormentar). Largue o cigarro, a maconha (ou ao menos use-a sem exagero), deixe seu carro de lado, não se irrite com qualquer coisa. Tente ver a vida de um jeito mais leve. Sem força de vontade ninguém consegue se livrar da Síndrome do Pânico.


PS: É claro que em casos graves, o remédio é mais do que necessário, mas não pode deixar de lado os exercícios físicos e mentais.