15 de setembro de 2011

Série Coisa Fina: 7 - Let Love Rule (Lenny Kravitz)

Eu morava literalmente na esquina da Rua Bartira com a Rua Monte Alegre, em Perdizes, em frente ao Teatro Tuca e a PUC. Era um sábado em 1990, início de noite, e eu estava em casa de bobeira assistindo TV. Nessa época não existia TV a cabo (ou existia só pra quem era milionário), e a MTV recém-inaugurada era só UHF, que em casa pegava male male, e com muito chuvisco, por isso quase nunca a via, até então talvez tenha colocado no canal apenas umas 3 ou 4 vezes no máximo.

O áudio era bom e a imagem péssima. Tô lá eu de bobeira quando ouço um som qu me chamou a atenção e vi o clipe de “Let Love Rule”. Aquilo me deixou maluco e corri para pegar papel e caneta para anotar o nome da banda (eu achava que era uma banda). Não desgrudei o olho da TV e quando apareceu os créditos anotei rapidamente já xingando Lenny por ter um sobrenome complicado, ainda mais visto pela primeira vez e uma imagem de chuviscos. Pensei até que não iria conseguir anotar. Dobrei o papel e o coloquei dentro da carteira. A intenção era dar para minha irmã mais velha que estava indo para Londres a trabalho (ou já estava lá). Devia ser outubro de 1990 já que ‘Let Love Rule’ foi lançado no final de setembro. Consegui pedir para minha irmã, que não só trouxe o disco de Lenny, mas também o Dolittle do Pixies.

Lembro de todos esses detalhes porque realmente esse disco me marcou e, até hoje, de tempos em tempos, passo dias escutando-o, principalmente pela manhã, para começar o dia.

Com o disco (na verdade fita cassete oficial) descobri que todos os principais instrumentos tinham sido gravados por Lenny Kravitz: guitarras, baixos, baterias, teclados, voz, backings). Fiquei mais maluco ainda porque o que ele faz com os instrumentos de corda (guitarras, violões, baixos) é absurdo de bom.

A bateria é um caso a parte porque é bem a bateria tocada por alguém que tem noção do instrumento, sabe o que precisa tirar dele, mas que não o domina. As viradas de caixa, as pratadas, as conduções de prato, viradas (quando há) em tudo dá pra notar que se trata de alguém com noção básica e ponto. Adoro as baterias desse disco. Simples e eficaz.

‘Let Love Rule’ é sincero do começo ao fim, feito com amor e na raça. Isso é nítido. Dá pra ver bem que Lenny Kravitz agarrou a oportunidade com unhas e dentes, e se dedicou. Repertórios iniciais, na maioria das vezes, são os melhores.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a sonoridade hippie. Lembro de muita gente virar a cara para o som dizendo que era plágio de outras coisas. Tem a sonoridade hippie San Francisco, a soul music de Stevie Wonder, Al Green e Curtis Mayfield, o rock do Led Zeppelin e um toque de modernidade tipo Prince. Misturei um monte de coisas, mas grosso modo são essas as influências em ‘Let Love Rule’.

E essa mistura da leveza do hippie com o swing da soul music e o peso do rock é perfeita. Escrevendo aqui até parece descrição clichê, mas essa é a melhor forma de dizer. “Fear” é um exemplo maravilhoso do que falo, e uma das melhores do disco – se é que existe uma que seja melhor que a outra.

Outra impressão que tenho e que me é nítida, é o domínio que ele tem sobre o repertório. Ele soube tirar o melhor de cada canção, as dinâmicas, os climas, as partes instrumentais, os vocais e backings. É daqueles discos que é uma extensão da pessoa tamanho é o domínio nas músicas. As linhas de baixo são ótimas. É um disco muito bom de se escutar, tem uma boa energia e dá pra escutá-lo a qualquer hora do dia.

PS: Há uma edição de 20 anos, CD duplo com uma faixa extra, 3 demos e faixas ao vivo.


























2 comentários:

Afonso disse...

Você ouviu o novo dele, "Black and white America"? Gostei, me surpreendi pois Kravitz retornou c/ um fôlego, um vigor que ele parecia estar perdendo c/ o passar dos anos. É bem mais black que os anteirores, uma coisa meio Motown, meio '70... não sei se vc concorda. É claro que não se compara ao excelente Let Love Rule, que eu tbem adoro, foi um disco marcante demais, incomparável. Mas é tão bom constatar que músicos que a gente admira conseguem pairar acima da média da mesmice imposta pela mídia. Tanto que eu soube que a recepção desse novo cd nos EUA foi bastante fria, ele não parece fazer mesmo o jogo do mercado, ainda bem. Um abraço, Paulo.

Paulo Marchetti disse...

Oi Afonso. Concordo com você. LK acertou a mão nesse novo disco. Claro, não é como o LLR, mas dá pra ver que é uma coisa feita com vontade. Tenho escutado direto. Ele acertou em sair do comum.

Outro que gosto muito é The Lady Killer (Cee Lo Green) que lançou ano passado.

abç