28 de setembro de 2011

Cólera / Redson

Tá meio ridículo esse negócio de comentar a morte de Redson. Não tenho e não acesso o Twitter, mas o que tenho visto no Facebook é lamentável. Gente que sequer sabia da existência de Cólera, deixando homenagens. Essas pessoas são nojentas ao usar a morte de uma pessoa só para aparecer.

Lixomania e Cólera são duas bandas que tem 100% de influencia na minha vida. São duas bandas bastante adoradas nos velhos tempos em Brasília, pela Turma toda. As coletâneas Grito Suburbano, SUB e O Começo do Fim do Mundo, além de discos como Tente Mudar o Amanhã, Pela Paz em Todo Mundo são trabalhos magnânimos.

Conheci Redson nos bastidores do velho programa da TV Cultura chamado Boca Livre, que passava em 1987. Isso aconteceu logo depois de eu ter chegado em SP. Ele era amigo de praticamente todos os músicos de Brasília dos anos 1980 (digo Plebe, Capital, Legião e Escola). Renato Russo, outro grande músico que adorava Cólera e Redson, dedicou no show de lançamento do 1º disco em SP, a música “O Senhor da Guerra” ao Redson.

Grande pessoa, grande músico e grande compositor, Redson chegou a ser banalizado por muita gente – inclusive pessoas que se diziam amigas – por causa de alguns temas que abordava nas músicas do Cólera. Hoje esses “amigos” estão aí fazendo homenagens.

A admiração fica pra sempre, e não é por conta de sua morte que vou escutar seus discos. Escuto Cólera independente de qualquer coisa, assim como escuto Violência e Sobrevivência, Miséria e Fome, Botas, Fuzis e Capacetes ou Descanse em Paz.

O punk rock brasileiro perdeu um de seus principais nomes. Mas artistas significativos não morrem, pois a obra fica.

Como humilde homenagem a um dos meus ídolos, deixo aqui algumas datas das minhas efemérides, que falam de Cólera direta ou indiretamente.

Pela Paz Em Todo Mundo!


EFEMÉRIDES
- Em junho de 1986 o Cólera lançou o disco Pela Paz em Todo o Mundo. Os destaques são “Medo”, “Vivo na Cidade” e “Não Fome” e a faixa título.

- Em 1º de março de 1987 o Cólera iniciou sua turnê européia. Foram cinco meses e 56 shows. A banda tocou na Espanha, França, Alemanha, Noruega, Holanda, Suíça, Áustria, entre outros. O último show dessa turnê rolou em 23 de julho. Foi a primeira banda brasileira a fazer uma excursão pela Europa.

- Em 14 de fevereiro de 1989 o Cólera lançou o disco European Tour 87, registro da turnê européia que a banda fez em 1987. Os destaques são “Medo”, “São Paulo” e Palpebrite”.

- Em 26 de outubro de 1979 surgiu a banda paulistana de punk rock Cólera. Considerada uma das primeiras bandas punks do Brasil, o Cólera participou da primeira coletânea de punk rock Grito Suburbano, ao lado de Olho Seco e Inocentes. Em 1984 lançou o primeiro disco Tente Mudar o Amanhã e foi a primeira banda de rock no Brasil a fazer uma turnê européia, em 1987. Entre seus sucessos estão “Violar Suas Leis”, “Subúrbio Geral”, “Medo”, “Palpebrite” e “Pela Paz”. A formação inicial era Redson (baixo e vocal), Pierre (bateria) e Helinho (guitarra. A formação clássica era Redson (guitarra e vocal), Pierre (bateria) e Val (baixo).

- Em 27 e 28 de novembro de 1982 rolou, no SESC Pompéia, o primeiro festival punk de São Paulo chamado O Começo do Fim do Mundo. Dele participaram 20 bandas, entre elas Inocentes, Ratos de Porão, Olho Seco, Cólera, Lixomania e Psykose.

- Em 26 de março de 1983 rolou no Circo Voador o 1º Festival Punk do Rio de Janeiro. Participaram as bandas Inocentes (SP), Cólera (SP), Psykose (SP), Ratos de Porão (SP), Coquetel Molotov (RJ), Eutanásia (RJ), Descarga Suburbana (RJ). Participou, abrindo o festival, o Paralamas do Sucesso.

- Em 19 de outubro de 1985 rolou o show de lançamento da coletânea Ataque Sonoro, no Circo Voador (RJ). Entre as bandas que se apresentaram estavam Ratos de Porão, Cólera, Lobotomia, Virus 27, Garotos Podres e Grinder’s.

- Em 03 de novembro de 2002 teve início o festival punk O Fim do Mundo, com sete dias de duração e com 62 bandas de São Paulo e outros estados. Ele aconteceu na Casa de Cultura Tendal da Lapa e teve a partipação de Lixomania, Cólera, Ulster, Fogo Cruzado, Holly Tree, Euthanasia (RJ) e Pacto Social (RJ). Essa é a terceira edição da trilogia iniciada em 1982 com o festival O Começo do Fim do Mundo e com a 2ª edição A Um Passo do Fim do Mundo, em 2001.

- Em agosto de 1981 aconteceu, em São Paulo, o primeiro de uma série de shows punks dentro do evento batizado de Grito Suburbano, organizado pelos próprios artistas e bandas, na discoteca Stop. Dele participaram as bandas Lixomania, Anarkólatras, Olho Seco, Cólera e Mark.

- Em 24 de julho de 1982 Foi lançada a coletânea Grito Suburbano, um clássico do punk rock brasileiro que tem a participação das bandas Inocentes, Olho Seco e Cólera. Grito Suburbano traz 12 músicas que foram gravadas em apenas oito horas.









15 de setembro de 2011

Série Coisa Fina: 7 - Let Love Rule (Lenny Kravitz)

Eu morava literalmente na esquina da Rua Bartira com a Rua Monte Alegre, em Perdizes, em frente ao Teatro Tuca e a PUC. Era um sábado em 1990, início de noite, e eu estava em casa de bobeira assistindo TV. Nessa época não existia TV a cabo (ou existia só pra quem era milionário), e a MTV recém-inaugurada era só UHF, que em casa pegava male male, e com muito chuvisco, por isso quase nunca a via, até então talvez tenha colocado no canal apenas umas 3 ou 4 vezes no máximo.

O áudio era bom e a imagem péssima. Tô lá eu de bobeira quando ouço um som qu me chamou a atenção e vi o clipe de “Let Love Rule”. Aquilo me deixou maluco e corri para pegar papel e caneta para anotar o nome da banda (eu achava que era uma banda). Não desgrudei o olho da TV e quando apareceu os créditos anotei rapidamente já xingando Lenny por ter um sobrenome complicado, ainda mais visto pela primeira vez e uma imagem de chuviscos. Pensei até que não iria conseguir anotar. Dobrei o papel e o coloquei dentro da carteira. A intenção era dar para minha irmã mais velha que estava indo para Londres a trabalho (ou já estava lá). Devia ser outubro de 1990 já que ‘Let Love Rule’ foi lançado no final de setembro. Consegui pedir para minha irmã, que não só trouxe o disco de Lenny, mas também o Dolittle do Pixies.

Lembro de todos esses detalhes porque realmente esse disco me marcou e, até hoje, de tempos em tempos, passo dias escutando-o, principalmente pela manhã, para começar o dia.

Com o disco (na verdade fita cassete oficial) descobri que todos os principais instrumentos tinham sido gravados por Lenny Kravitz: guitarras, baixos, baterias, teclados, voz, backings). Fiquei mais maluco ainda porque o que ele faz com os instrumentos de corda (guitarras, violões, baixos) é absurdo de bom.

A bateria é um caso a parte porque é bem a bateria tocada por alguém que tem noção do instrumento, sabe o que precisa tirar dele, mas que não o domina. As viradas de caixa, as pratadas, as conduções de prato, viradas (quando há) em tudo dá pra notar que se trata de alguém com noção básica e ponto. Adoro as baterias desse disco. Simples e eficaz.

‘Let Love Rule’ é sincero do começo ao fim, feito com amor e na raça. Isso é nítido. Dá pra ver bem que Lenny Kravitz agarrou a oportunidade com unhas e dentes, e se dedicou. Repertórios iniciais, na maioria das vezes, são os melhores.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a sonoridade hippie. Lembro de muita gente virar a cara para o som dizendo que era plágio de outras coisas. Tem a sonoridade hippie San Francisco, a soul music de Stevie Wonder, Al Green e Curtis Mayfield, o rock do Led Zeppelin e um toque de modernidade tipo Prince. Misturei um monte de coisas, mas grosso modo são essas as influências em ‘Let Love Rule’.

E essa mistura da leveza do hippie com o swing da soul music e o peso do rock é perfeita. Escrevendo aqui até parece descrição clichê, mas essa é a melhor forma de dizer. “Fear” é um exemplo maravilhoso do que falo, e uma das melhores do disco – se é que existe uma que seja melhor que a outra.

Outra impressão que tenho e que me é nítida, é o domínio que ele tem sobre o repertório. Ele soube tirar o melhor de cada canção, as dinâmicas, os climas, as partes instrumentais, os vocais e backings. É daqueles discos que é uma extensão da pessoa tamanho é o domínio nas músicas. As linhas de baixo são ótimas. É um disco muito bom de se escutar, tem uma boa energia e dá pra escutá-lo a qualquer hora do dia.

PS: Há uma edição de 20 anos, CD duplo com uma faixa extra, 3 demos e faixas ao vivo.


























10 de setembro de 2011

Tô Côceis e Não Abro

Tive que atrapalhar os planos e atropelar alguns textos que estava fazendo para o Sete Doses por conta de I’m With You, o novo do Red Hot Chili Peppers.

Aleluia! A banda lançou o verdadeiro sucessor de Blood Sugar Sex Magic. Levou exatos 20 anos pra isso acontecer. Foi em setembro de 1991 que BSSM foi lançado e I’m With You em 30/08/2011. Se saísse em vinil I’m With You seria duplo como foi Blood Sugar.

Tenho que organizar minhas idéias para esse texto, porque escuto exaustivamente o disco e não canso, vou descobrindo os detalhes. Mas antes de tudo é bom dizer que há um percussionista brasileiro em 11 das 14 faixas do disco. É Mauro Refosco, que já tocou com David Byrne, Bebel Gilberto, no Red + Hot + Lisbon, e mais um monte de gente. Será que ele vai em turnê com a banda? Legal que os primeiros shows serão aqui.

Como imaginei Josh Klinghoffer foi absurdamente incorporado a banda. Muito bom. Por tocar com Frusciante no Ataxia, dá pra ver algumas semelhanças. Mas é diferente dele e, claro, também de Hillel Slovak.

A mesma vibe que a banda apresentou com Mother’s Milk e BSSM, quando Frusciante entrou, mostrou agora de novo com Josh. O Frusciante teve a responsabilidade, honra e coragem de substituir Slovak e esses dois primeiros discos com ele são maravilhosos.

O guitarrista novo deu gás novo. As influências de PIL e Gang of Four são claras (ele gosta de fazer uns barulhinhos, efeitos, pedais). Sou fã antigo, ainda dos tempos de “Mommy, Where’s Daddy?”, me sinto a vontade em falar de RHCP. A banda havia se perdido, mesmo quando Frusciante voltou. Não sou fã de Californication, By the Way e Stadium Arcadium. Caiu-se numa mesmice que enjoou. One Hot Minute ainda tem boas coisas. Acabou que a saída de Frusciente foi essencial pra esse novo trabalho ser bom. Bom demais!

Momentos lembram Mother’s Milk e Blood Sugar. Tem coisas maravilhosas, e é praticamente o disco todo: “Look Around”, “Goodbye Hooray” (um final que lembra um pouco as porradarias do Upflit Mofo Party Plan), “Police Station”, “Dance, Dance, Dance”, “Monarchy of Roses”, se deixar ponho o nome de quase aqui. A mais fraquinha é a balada “Meet Me at the Corner”, mas não que seja ruim. Como também tem coisas bem diferentes como também “Dance, Dance, Dance”, “Happiness Loves Company” e “Did I Let You Know”.


No I’m With You o RHCP resolveu sair do lugar comum. Pra variar Flea arrebenta. A primeira vez que escutei o disco foi em um sonzinho caído, com muito grave, mas foi bom porque deu pra ouvir bem o baixo, o velho Flea arrebentando. Esse é daqueles discos que a cada audição percebe-se algo novo. Geralmente esses são os bons.

A banda se deu bem. Esse Josh Klinghoffer é fera e dá pra fazer numa boa esse disco inteiro ao vivo. Agora é esperar pra ver se a convivência com o novo integrante vai aflorar a criatividade da banda e, quem sabe, daqui dois anos não teremos um novo trabalho. Vai saber...


1 de setembro de 2011

Mais do Mesmo 6 (Nada Original)

Quando escrevi ‘Mais do Mesmo 1’ imaginei que fosse o único, e pensei a mesma coisa quando publiquei o ‘Mais do Mesmo 5’. Afinal é mais do mesmo!

Eis aqui eu com meu caderno rabiscando o ‘Mais do Mesmo 6’. Será o último? Já não direi mais “dessa água não beberei”.

Também, de tempos em tempos surge alguma coisa que me inspira a escrever mais do mesmo. Dessa vez foi uma matéria sobre o novo livro do crítico musical Simon Reynolds, onde ele diz que atualmente a cena musical imita o passado recente, dos anos 1990, principalmente. Mas é preciso analisar algumas coisas...

Filosofia gera filosofia...

É preciso ver o fator tempo. Nirvana, por exemplo, gostava de coisas como Husker Du e Pixies, bandas de influencia recente naquela época. Mesmo se você for pensar em punk rock, lembrando que o 1º do Nirvana é de 1989, o 'Never Mind the Bollocks' é de 1977. São 12 anos de diferença.

Se hoje voltarmos para o lançamento de Nevermind, vamos para 20 anos atrás. Mesmo se voltarmos para o 1º do Oasis ou o 1º do Pavement, voltaremos 17 e 19 anos, respectivamente. Passado recente, pra mim, é de 10 anos pra cá e olha lá!

geração de hoje que tem 20 anos, nasceu com o Nevermind. Com 15 anos, em 1985, eu estava no Filhos de Mengele, querendo imitar Ramones, Clash e Sex Pistols, que haviam lançado seus 1º discos 8 anos antes.

O que aconteceu foi que, falando de rock pop, do final dos anos 1940 até o final dos anos 1980 foram novidades atrás de novidades. Mas cada uma delas resgatando o passado. Dou como exemplo o Rolling Stones dos anos 1960 que queria ser a melhor banda de blues da Inglaterra. Mais ou menos assim: antes do gospel não tinha gospel, antes do blues não tinha blues, antes do rock ‘n’ roll não havia rock’n’roll, antes do progressivo não havia progressivo, antes do punk não havia punk, antes da new wave não havia new wave. Até que um dia isso acabou, e acabou exatamente no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando Lenny Kravitz lançou o maravilho ‘Let Love Rule’ com sonoridade hippie, e Stone Roses que resgatou o Beatles e os sixties. São só dois exemplos, tem mais, mas esses são emblemáticos.

O que tivemos entre os anos 1940 e 1980 nunca mais teremos. As novidades vieram de todos os lados, não só na música: cinema, literatura, artes em geral, comportamento, moda.


Por isso, durante todos esses anos cada novo artista, cada nova banda, imitava seus ídolos, mas sempre com algo diferente, com uma assinatura própria. Isso era possível. Ainda nos 1980 surgiram coisas que ainda não existiam como Metallica, Slayer, as bandecas poser, e mais um monte de coisas que surgiram em 1979 e que estouraram nos 1980.

Mas aí na virada de 1980 para 1990 começou a surgir sonoridades já conhecidas, já ouvidas. O grunge era cheio de referências do passado como a folk music, o punk rock e o heavy metal / hard rock dos anos 1970.

Hoje o que acontece é isso, há 20 anos não se tem novidades concretas. Uma coisa aqui outra ali, como o eletro rock, que não pegou como muitos previam. Teve boas bandas e bons discos, mas não chegou a marcar como marcaram cenas anteriores. Strokes, Interpol, Bloc Party, Franz ferdinand, Kaiser Chiefs, Arctic Monkeys, The Coral, Mars Volta, Arcade Fire, The Hives… tudo isso tem sonoridade dos anos 1960-70-80-90. Não teremos mais novidades originais.

O presente sempre se espelhou no passado, não há novidade nisso. Pra sempre teremos mais do mesmo. Normal. Fiquemos sempre com o original e sua imitação mais criativa. Isso já basta.

É a velocidade dos acontecimentos que determina a distância do passado?