24 de agosto de 2011

Série O Resgate da Memória: 23 - Gerson Conrad Solo



Nota: É interessante ler sobre a ideia que Gerson dá às gravadoras quanto ao trabalho com os artistas, coisa que elas adotam só agora, por desespero.


A Luta de Gerson Conrad Para Lançar Seu Disco


Folha de São Paulo
Acervo Digital
17/11/1975

Carlos A. Gouveia

“A vinculação negativa que existe entre a minha pessoa e o Secos e Molhados, visto por muitos, foi a razão da falta de apoio que encontrei por parte dos empresários e firmas de promoções, que até o momento não me deixaram vir a São Paulo.”

Com essas afirmações Gerson Conrad justifica sua ausência de São Paulo e também o fato de não ter feito até agora o lançamento oficial de seu primeiro disco, junto com Zezé Mota, após a dissolução dos Secos e Molhados. Gerson afirma que, por falta de verba de patrocínio próprio, uma vez em que sua gravadora, a Som Livre, procura investir no artista, deixou o público paulista esfriar quanto à expectativa que havia criado em torno deste seu disco. João Ricardo e Ney Matogrosso haviam lançado seus disco e faltava o de Gerson, aguardado com muita ansiedade pelo público de rock, que, por falta de apoio da própria gravadodra, acabou caindo num quase esquecimento, deixando de aprovaitar uma chance valiosa com o clima de espera que se formou em meados deste ano.

“É curioso como aparece que as pessoas têm medo de alguma coisa. Recebi muitas propostas de Moraci Do Val, que eu considero um dos melhores empresários brasileiros, mas não houve acordo, por falta de tempo, talvez. Por mais massacrado que ele foi na época da dissolução do grupo, eu ainda acredito nele como empresário. O pouco que o conheci, trabalhamos muito...”

Zezé Mota fez uma observação quando ao show-business brasileiro: “Eu acho que está havendo uma crise no meio empresarial, um medo geral. Estou vendo muitas pessoas desistirem.”

Gerson continua falando dos problemas que tem enfrentado, particularmente dentro de sua gravadora. “A Som Livre, como qualquer gravadora, não se interessa em financiar ou investir para que seus artistas façam shows, o que fatalmente ajuda na venda dos discos. O argumento deles é incrível, pois alegam que “se fizermos com um, vamos ter que fazer com todos.” Eles garantem chamada na TV Globo, o que, sem dúvida, ajuda muito, como propaganda na venda dos discos, mas ao mesmo tempo, se quisermos utilizar a mesma chamada e botar um texto em cima para anunciar um show, eles só fazem se a gente pagar, ou melhor, comprar o anúncio da Globo que é sabido que custa uma fortuna.”

Zezé Mota: “A gravadora não fez nada pela gente. Eles investem em termos de produção, depois cortam tudo, não dá pra entender; preferem lançar discos de novelas, que é muito mais seguro, mas artisticamente não é nada. Produzem apenas por produzir. Já falaram até que se um dos sete contratados estourar, será o suficiente; os outros ficarão “gelados”...

Gerson Conrad: “E tem mais: eles prometeram lançar nosso disco dia 7 de julho e acabaram lançando dia 11 de agosto. Foram três meses de espera e prejuízo para nós. Eu já havia mobilizado toda a imprensa e tivemos que fazer um coquetel em casa para justificar o show que já estava programado para julho, quando eles prometeram que o disco ia sair. Fizemos assim mesmo. A gravadora não entrou com nada."

Gerson lembrou de uma passagem curiosa da época dos Secos e Molhados: “Sabe, naquela época diziam que os Secos e Molhados era um grupo que gravava e tocava apenas para a imprensa. Isso é gozado, não é Gerson”?

“Pois é. Sabe, nós éramos muito unidos no inicio e por isso aconteceu aquele tremendo sucesso. Depois fomos cada um para um lado, simplesmente por desilusão. Os Secos e Molhados, para mim, foi uma faca de dois gumes. Por ter pertencido ao grupo mais famoso do País, sofri muito. Com todas as pessoas que eu ia negociar aparelhagem ou qualquer outra coisa, procuravam me explorar, pensando que eu fiquei milionário, que eu era um Tio Patinhas, com quem não tenho nenhum parentesco. Foi uma época muito difícil. Aos poucos consegui mostrar para as pessoas a verdade. Artisticamente não vou negar que foi muito bom porque me deu nome. Foi uma fase importante dentro de minha carreira.”

Gerson parece bem inconformado com sua situação dentro da gravadora. Diz que foram feitas certas imposições, do que seria comercial ou não dentro do seu LP: “Trem Noturno foi a escolhida por eles como a mais comercial. Eu não acho comercial e não me preocupo com isso. Considero que um disco de dez ou doze faixas, se todas foram gravadas, obviamente é porque elas existem. Mas o que deve ter lavado a Som Livre a escolher essa música, é que ela possui frases melódicas repetitivas. A capa do disco, por exemplo, não tem nada a ver com “Trem Noturno”. Escolheram um trem velho, talvez para uma fácil comunicação com o povo. Não vejo outro motivo.”

Gerson acha que “Trem Noturno” é a música mais infantil do disco e, “por causa dela, alguns críticos cariocas nos chamaram de alienados, porque não possui mensagem. A época não está para mensagens”, frisou Gerson.

Mesmo com todos os problemas, Gerson Conrad diz que não pretende e nem gosta de mudar de gravadora, e apoia o provérbio citado por Zezé Mota: “Mudar de marido é mudar de defeito.” Gerson aponta a divulgação como a maior falha da gravadora. Disse que pediu uma planificação de divulgação, na época do lançamento de seu disco, nada recebeu como resposta: “Não tenho nada contra João Araújo, que é o diretor da Som Livre. Tenho muito contra o sistema que a gravadora usa para divulgação. Quando o disco saiu, eu fui com o divulgador, levado por ele três vezes a mesma emissora de rádio. É um absurdo.”

Gerson aponta sua união com Zezé Mota como uma das melhores coisas que já aconteceram em sua carreira. Conta o início: “Fui assistir Godspell e fiquei impressionadíssimo com a atuação de Zezé e também com sua voz. No Secos e Molhados eu era o único que ficava atrás. Quando parti para carreira-solo, achei que não tinha “background” suficiente para estar na frente de um palco. E Zezé, além do apoio vocal, me deu essa segurança. É um trabalho em conjunto onde existe um espírito só, e isso é importante, dá mais abertura.”


Sobre a atual situação do rock, no Brasil, Gerson Conrad acha fantástico e sem novidades. Fantástico porque “a batalha dos músicos de rock para sobreviverem e conseguem, é incrível, e sem novidades, porque existem”. Diz que o que mais aborrece é a falta de criatividade da maioria desses músicos. “Admito influencias, mas não cópias. Deixei de incluir em meu LP a música “O Gomo da Laranja” porque, depois de gravada, notei frases de guitarras iguais ao do guitarrista do “Yes”. Um exemplo típico de um trabalho criativo e bem elaborado é o do grupo Barca do Sol.”

Gerson Conrad, Zezé Mota e seu grupo deverão estrear em São Paulo, na “I Semana Nacional do Rock’n’Roll”, dia 3 de dezembro, no Teatro Bandeirantes ao lado de Próspero e Joelho de Porco.

21 de agosto de 2011

Autoramas & BNegão ou Auto Planet ou Hemp Ramas

Nunca fiz esse tipo de coisa no Sete Doses de Cachaça. Mas depois de assistir ontem (sábado 20/08/2011) ao show de Autoramas e BNegão, não pude deixar de registrar esse momento divertidíssimo para postar aqui.

O show aconteceu no Beco 203, na Rua Augusta. Recentemente fui lá para ver (e nunca mais esquecer) o belíssimo show do Television.

Mas de longe esse encontro de Autoramas e BNegão gerou o show mais divertido que vi no Beco. A casa abriu esse ano, e já fui no mínimo em uns 10 shows. Fora esse outro bem divertido também foi o Mockers (só belíssimas versões de Beatles).

O show começou acho que às duas da manhã e eu no maior ressacão brabo! Só na tota tola. 6ª feira foi loooooonga e divertida. Confesso que em um certo momento em casa me vi cantando "Should I Stay or Should I Go", mas como sabia que algo bom ia acontecer, então... Há anos não via um show do Autoramas e a banda tem tocado um bocado aqui em São Paulo. Sou fã das letras e riffs de Gabriel, o Thomaz.


Primeiro Autoramas fez um set seu, de (acho) sete músicas (uma nova), depois entrou BNegão e foi assim até o final. Tocaram Planet Hemp (algumas), Little Quail, Daft Punk, uma lindíssima versão de Lou Reed (“Walk on the Wild Side”), Dança do Patinho, uma engraçada versão de “Let’s Groove” do Earth, Wind and Fire, “Garotos do Subúrbio” do Inocentes e fechando com chave de ouro um B-52’s..

Sou péssimo para analisar números, mas me arrisco em dizer que devia ter uma 300 pessoas lá e uma das coisas que fez o show ficar mais engraçado e divertido foi o astral de todo o lugar. Todo mundo dançando, todo mundo já alto, todo mundo cantando. Bom demais!

Aí a certa altura eu vi que aquele momento valia à pena registrar – e tinha um monte de gente fazendo isso, até uns fotógrafos profissionais. Então puxei a câmera do meu celular, que é um lixo e fiz diversas fotos. Não satisfeito também fiz tocos vídeos de 15 segundos cada. O Nokia X2-01 pode ser bonito e caro (não comprei), mas sua câmera é um lixão.

Encontrei também o velho camarada Cazé Pecini. Esse showzaço ajudou a minha ressaca passar um pouco.

PS: Se a câmera de foto do celular é lixo, imagine então a de vídeo. O que vale é o registro, mesmo que podre.





















16 de agosto de 2011

O Dólar de Um Milhão

Aperta o Play Produções Esdrúxulas Apresenta:

O DÓLAR DE UM MILHÃO

Débora e Ricardo foram com amigos à uma cantina comer o nhoque da sorte. Eles precisavam de duas notas de um dólar para colocá-las embaixo do prato, como diz a tradição.

A família de Débora, pai, mãe e irmã, moravam no mesmo bairro e ela se lembrou de que seu pai tinha recém chegado de uma viagem de trabalho aos EUA. Ligou pra ele que disse a ela que tinha trinta e poucos dólares em casa.

Após o almoço foram todos à casa de um dos amigos para uma sobremesa caseira e café. Ricardo parou o carro a um quarteirão da casa onde iam e ele e Débora seguiram a pé até o endereço. No curto caminho surgiram duas crianças de, no máximo, 11 anos pedindo alguma coisa pois estavam com fome. A única coisa que o casal tinha era os dois dólares do nhoque da sorte. Débora os ofereceu as crianças que aceitaram na hora. Ela ainda alertou: “Olha, esses dólares são da sorte!”. A criança mais nova ficou curiosa e quis saber o motivo. Débora contou a tradição do nhoque e disse que aquele dinheiro ai trazer mais dinheiro.

Vanessa tinha 10 anos e Juliana tinha 8. As duas irmãs estavam fora de casa havia três dias e é, infelizmente, a clássica história do padrasto desempregado e alcoólatra que abusa das crianças e mãe omissa também alcoólatra. Ninguém tava nem aí para as meninas, que tinham que se virar para sobreviver.

As duas ficaram com a pulga atrás da orelha e não estavam acreditando naquele dinheiro estrangeiro. Perto de onde estavam tinha um hospital e elas eram amigas de um dos flanelinhas daquela área. Foram até ele para pedir ajuda.

Robson tinha 23 anos e há 5 se ocupava como flanelinha da principal rua do Hospital Central. Guardava e também lavava os carros. Era honesto, trabalhador, ajudava em casa, e ainda sobrava dinheiro para se divertir.

Ele disse as meninas que era dinheiro americano de verdade e que dava 10 reais pelos dois dólares (os dois valiam, na época, uns 5 reais). Elas negaram a oferta dizendo a ele que se tratava de dólares da sorte e que valia mais que 10, porque eles vinham de família muito rica e estrangeira, exagerando sobre a origem daquele dinheiro. Vanessa ainda disse que tinha vindo de gente famosa. Então Robson deu a elas 20 reais, o que para Vanessa e Juliana era uma fortuna.

Robson ficava admirando os dólares como se fosse uma grande barra de ouro. Ali ele chegou a conclusão de que aquele dinheiro não tinha chegado à ele sem querer, e que eram seus dólares especiais, intocáveis. Ainda na cama admirava o dinheiro e nem mostrou para a família.

Dez dias depois de ter comprado os dólares, Robson teve que salvar seu primo de uma dívida de jogo. Coisa boba, aposta de sinuca de boteco, mas acabou devendo 50 reais a um cara da turma dos traficantes da área conhecido como Pé na Cova. Era pagar ou morrer. Robson foi conversar com Pé na Cova e resolveu abrir mão de seus dólares da sorte. Com muita lábia conseguiu convencer Pé na Cova de que se tratava de dólares que tinham pertencido a “uma grande estrela do cinema americano”.

Mentiu dizendo que havia pago 30 reais por cada dólar e que iria revendê-los por 60 reais cada um, mas que daria a ele para saldar a dívida de seu primo. Trato feito. Pé na Cova ficou com os dólares.

Pé na Cova, na verdade, era um tipo de garoto de recados dos traficas da área. Era o famoso assistente do mosquito do coco do cavalo do bandido, ou se preferir, o Aspone (Assistente de Porra Nenhuma), mas mesmo assism botava panca de mau, andava armado e vivia com dinheiro graças as gordas gorjetas que ganhava pelos serviços prestados. Agora era ele quem tratava os dólares como especiais. Pé na Cova tinha certeza de que aquele dinheiro iria trazer mais dinheiro a ele. Seu sonho era morar em Miami e gravar um CD de rap cantando em inglês.

Tempos depois Pé na Cova tomou uma geral da polícia. Por sorte estava sem sua arma, voltando da balada para casa a pé com amigos. Era madrugada e tomaram um baculejo por nada, só por estarem conversando alto e rindo no meio da madrugada.

Um dos policiais, obviamente folgado, abriu a carteira de Pé na Cova e achou os dólares. Puxou-os e falou: “olha, o pivete tem dinheiro americano! Andou assaltando gringo moleque?”. Ao ver a cara de decepção de Pé na Cova, o policial ficou intrigado e quis saber se os dólares tinham alguma coisa de especial.

“Paguei 100 reais em cada um deles”, disse Pé na Cova, e completou afirmando com absoluta convicção de que aqueles dois dólares tinham pertencido a cantora Madonna. Disse que iria emoldurá-los para vender, e completou dizendo que os dólares tinham sido gorjeta dada pela própria cantora na última vez que ela tinha vindo ao Brasil. Claro que o policial pegou os dólares para ele.

O policial Danilo tinha o desejo de terminar de fazer o 2º andar de sua pequena casinha na periferia. Apesar de corrupto, não era rico e nem vivia com folga financeira. Na área onde mora tem que disfarçar sua profissão. Na verdade o fato de ser corrupto pesa na consciência de Danilo, mas tendo 4 filhos para criar, só seu salário não basta. Ele costuma jurar para ele que assim que terminar a obra na laje, vai parar com as ilegalidades.

Ele só precisava de mais R$ 1.200,00 para acabar sua casa. Resolveu acreditar naqueles dólares e colocou cada dólar em uma moldura. Com eles na mão resolveu que iria vendê-los a R$ 600,00 cada um.

Um dia Danilo teve que ir ao Fórum Criminal e depois de horas lá, conversando com um advogado particular, contou a ele sobre os dólares de Madonna. O advogado mostrou interesse já que suas filhas eram fãs de Madonna. Danilo percebeu que o advogado era bem rico e pediu 800 reais por cada dólar. Conseguiu vendê-los ao advogado 600 cada um, como queria.

Dr. Ronaldo era um advogado bem conceituado, bastante requisitado e caro. Tinha seu escritório, seus clientes, era professor, autor de livros e palestrante. Morava em bairro de altíssimo padrão e tinha até casa no exterior. Uma de suas filhas, a Carolina, era uma geniazinha de 19 anos que estava de mudança para os EUA para estudar em Harvard bem na época em que ganhou o dólar do pai.

Depois de um ano nos EUA, Carolina resolveu dar uma festinha em casa. Muitos convidados questionaram sobre o dólar pendurado na parede. Carol contou a história, mas um dos colegas questionou sobre o selo de autenticidade, mas Carol disse que não tinha como consegui-lo já que foi uma gorjeta dada no meio da rua. Disse que para ela não importava em não ter o selo.

A festa seguiu, todo mundo encheu a cara, inclusive Carol. A casa ficou de pernas para o ar e o dólar de Madonna acabou sumindo. Alguém tinha roubado.

Kelly era inglesa e estava de passagem por Harvard e, dois dias antes de voltar à Londres, acabou indo à festa de Carol, mas sem conhecê-la, foi com um grupo de amigos. Ela também era muito de Madonna e, a certa altura, bêbada como todo o resto da festa, pegou o dólar da parede colocou dentro das calças e foi embora. Ninguém viu.

Cheia de ideais hippies e humanitários, Kelly resolveu incluir o dólar em um leilão que a ONG onde trabalhava estava organizando em pról das crianças doentes e desnutridas da Etiópia.

Kelly deu mais uma investida e trocou a moldura por uma mais bonita, cara e segura. Disse aos amigos que, apesar de não ter selo de autenticidade, aquele dólar tinha sido de Michael Jackson, dado por ele como gorjeta a uma menina pobre da favela Dona Marta no Rio de Janeiro onde ele havia gravado parte do videoclipe da música “They Don’t Care About Us” em 1995.

A ONG e os organizadores do leilão acreditaram na história e resolveram ir atrás do selo de autenticidade para o agora dólar de Michael Jackson. No fim das contas a família Jackson, ainda abalada pela morte de Michael, acabou validando o dólar, já que também não tinha como ter certeza se tinha sido dele ou não. Mas vinda de uma ONG séria, também acreditou e validou toda a história.

No leilão, um rico investidor que não se identificou, comprou o dólar pelo preço final de 1 milhão de dólares e o doou para o Museu De Young em San Francisco, nos EUA. Não muito tempo depois, um terremoto atingiu San Francisco e o De Young veio abaixo, não sobrando praticamente nada dele em pé. As primeiras pessoas a passarem pelo Museu após o terremoto foram alguns mendigos, que acabaram pegando alguns objetos de prata e ouro antes mesmo da polícia chegar. Um desses mendigos achou o dólar de Michael Jackson fora da moldura, que havia quebrado inteira, e colocou-o no bolso, já que estava juntando uns trocados para comprar um maço de cigarros.

10 de agosto de 2011

Tecn-O-ver

Nasci em 1970 e mesmo sendo jovem já passei por diversas revoluções. Certamente a mais importante delas e a tecnológica. O que vivemos nos últimos 10 anos foi intenso, marcante. E o melhor (ou pior): ainda vivemos essa revolução tecno que, acredito eu, ainda será intensa pelos próximos 10 ou 20 anos. São descobertas diárias. Lembro que em 1984 fiz um estágio na SERPRO e achava tudo muito estranho. Aqueles computadores, a linguagem Basic (Go to...), eu olhava tudo aquilo com desconfiança e nem imaginava que um dia teria um computador em casa. Pra mim, computador era coisa da Nasa e só.

Se pensarmos em site, e-mail, MP3, Napster, You Tube, celular até chegarmos nos atuais dispositivos móveis, você verá que tudo isso aconteceu em pouco mais de 10 anos. Apenas 10 anos!!!! O You Tube foi inaugurado em fevereiro de 2005, ou seja, tem pouco mais de 6 anos, mas parece que o You Tube sempre existiu.

Comecei a trabalhar com 15 anos, e o computador só foi entrar na minha rotina profissional em 1997-98. Aos poucos a tecnologia, que era privilégio apenas das grandes empresas, passou a fazer parte das médias e pequenas também, até finalmente chegar a todas as casas. Quando penso em internet discada, parece que volto 30 anos.

Ainda fico boquiaberto de pensar que temos um aparelho que cabe em nosso bolso e que é telefone, câmera de foto e vídeo, computador, agenda, despertador, tocador de música, rádio, televisão... Coisa dos Jetsons!

Site, blog, Orkut, Facebook e Twitter. A forma virtual de se comunicar também evoluiu e essa evolução continua firme e forte. Porém vejo que parecemos àquela criança que ganha o presente desejado e não o larga nem na hora de dormir. Anos atrás li uma matéria sobre as pessoas que ficavam depressivas e inseguras por não receber e-mails, torpedos e ligações no celular. Recentemente li que existem pessoas que acabam de transar e já pegam o IPad para usá-lo; e de gente que fica mais preocupada em fotografar e relatar no twitter o lugar onde está do que simplesmente se divertir. As pessoas estão ficando paranoicas!

Em um feriado no início do ano fui a um restaurante com toda a família. Era um almoço, a cidade vazia, dia agradável. Num chutômetro digo que das 20 mesas ocupadas, apenas umas 5 não tinham alguém mexendo em seu aparelho, seja IPhone ou IPad. Em 100% dessas mesas praticamente não havia diálogo algum.

Já vi jogadores de futebol, mais velhos, reclamar da falta de diálogo nas viagens e concentrações, tudo por conta do lap top, do celular, do twitter ou do vídeo game. É realmente estranho esse comportamento. Entro no ônibus e vejo pessoas com celular na mão fuçando no Facebook. Isso porque acabaram de sair do trabalho, onde ficaram o dia inteiro em frente ao computador e, claro, conectados nas redes sociais. Se fosse apenas escutando música ou rádio...

Ninguém mais relaxa, se desliga de toda essa tecnologia para simplesmente se divertir em uma mesa de bar, em casa com amigos, num cinema, viagem, enfim.

Tenho dois amigos que, quando viajamos, eles ficam conectados no desktop, lap top ou IPhone. Todos a noite assistindo a um filme ou numa roda de conversa com bebidas e petiscos e os dois concentrados em seus aparelhos. Outros amigos ficam recebendo pelo celular sinais de e-mails, postagens em Twitter e Facebook, uma verdadeira paranoia. A pessoa vê um programa de televisão com o IPhone ao lado, e a cada coisa que acontece e alguém tuita, o celular faz plin, e lá vai ela ver o que escreveram. Geralmente isso acontece com mais intensidade quando é programa ao vivo ou jogo de futebol.

Fico me perguntando se isso é de fato paranoia, é o comportamento humano que mudou, é doença, vício, exibicionismo, solidão. Eu quero acreditar que seja uma adaptação, como um deslumbramento inicial. Observo essa troca entre o seguido e o seguidor e sinto uma ansiedade de quem posta e de quem lê. Qual motivo dessa ansiedade? Porque querer escrever qualquer coisa e querer ler qualquer coisa?

Até os grandes veículos de comunicação estão perdidos com tantas ferramentas. A margem para erros está muito grande. Qualquer coisa vira notícia. Parece que é obrigação transformar qualquer coisa em notícia. Todo mundo em busca de um furo, uma exclusividade, quando hoje isso está cada vez mais difícil. É preciso ter calma.

É preciso entender que hoje temos na mão um monte de tecnologia que não faz diferença alguma para nossa sobrevivência. Se não existisse computador, celular, internet, televisão, rádio e outras coisas do tipo, estaríamos vivendo nosso dia a dia normalmente: trabalhando, estudando, viajando, namorando, conversando, se divertindo... tudo normal.

Dizem que quanto mais gente na cidade, mais solidão sentimos. Quanto mais tecnologia mais solidão?



4 de agosto de 2011

MTV Na Chapa

Outro dia peguei zilhares de DVDs com zilhares de coisas neles, tudo trabalho meu, desde institucionais chatos que fiz para grandes e pequenas empresas, até reality shows, clipes e muitos programas de televisão, incluindo os que fiz na MTV.

Um dos que me fez parar para assisti-lo foi o MTV Na Chapa. Apesar de ter sido pouco visto e ser nada lembrado, esse é um dos programas que moram no meu coração. E ele fez revolução na Music Television.

Na Chapa estreou na grade de programação de 1996 e ia ao ar das 6h as 8h da manhã. Era o programa que abria a programação do dia. Só conheci um amigo que de fato o assistia, pois acordava muito cedo e, enquanto via o Na Chapa, fazia caminhada na esteira...

Na Chapa exatamente por ser pela manhã. O cenário era um quarto e o apresentador era o Cazé. O figurino era pijama e nesse quarto tinha armário com roupas, cama, mesa com café da manhã (só no início, 1º mês).

Eu era o diretor e redator. Foi o primeiro programa da MTV a não falar sobre música. A idéia era falar de qualquer coisa... qualquer coisa mesmo! Tanto que uma de minhas fontes era o recém-lançado Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte. Fora ele, eu usava almanaques, jornais, enciclopédias, revistas e outros livros. Se na época existisse internet eu o faria com o pé nas costas.

Era difícil escrevê-lo. Eram muitas cabeças para gravar! Eu escrevia de tudo: esporte, comida, cinema, atualidades, comportamento, sexo, mundo animal, cultura inútil, efemérides e até música! Chegou a um ponto em que comecei a entrar em paranoia por falta de fontes. Qualquer coisa virava texto para o Na Chapa. Escrevia tarde da noite, nos finais de semana... ele começou a me ocupar por todo tempo. Eu podia estar em casa tranquilo vendo jornal na televisão e se viesse uma reportagem com um assunto legal lá ia eu pegar papel e caneta para escrever um texto. Em 1996 teve as Olimpíadas e o cinema completou 100 anos. Criei séries de textos com esses temas.

Eu não escrevia no computador - só tinha um no departamento inteiro. Nessa época textos de todos os programas eram escritos à mão no próprio espelho do programa. Por serem maiores, os textos do Na Chapa eu escrevia em uma folha sulfite a parte.


Passei um bom perrengue com a criação desses textos e isso foi mais do que uma escola pra mim. Para Cazé também, já que não havia teleprompter, e ele muitas vezes só conseguia o texto pouco antes de gravar (eu fazia de tudo para entregar um dia antes). Esses textos ajudaram a moldar o tipo que Cazé criou.

Claro que não falo por ele. Falo por lembrar de seu esforço, sua concentração e evolução, afinal, gravávamos de 2ª a 6ª.

Fora os textos cabeludos, Cazé ainda era obrigado a chamar o clipe que iria passar na sequência, e isso era péssimo, já que ele tinha que decorar um texto sobre a vida das abelhas e depois ainda falar “e agora vamos ver Sheryl Crow com All I Wanna Do”. Isso atrapalhava. Levei à direção da emissora o pedido para que Cazé não mais anunciasse os clipes. Deu rebu! Pode? Não pode? No fim das contas os nossos argumentos venceram a direção. Não anunciar clipe foi outra revolução e nos ajudou pra caceta! Hoje isso pode parecer banal, mas na época foi motivo de muita conversa e discussão. Inclusive teve gente que não gostou...

Eu fazia especiais sobre grandes nomes da música, da literatura, do cinema. Dediquei programas inteiros a Charlie Parker, Alfred Hitchcock, história do Brasil...

O Na Chapa era gravado cedo, em torno das 8h-9h da manhã e sua gravação era demorada. Nessa época o Teleguiado começava ao meio dia, então o cenário foi pensado para essa facilidade de se mudar rapidamente. As paredes laterais do quarto (onde ficavam a cama, os armários) eram de rodinhas e o lado oposto delas era o cenário do Teleguiado, ou seja, acabava a gravação do Na Chapa, recolhíamos todos os objetos, virávamos a parede e pronto! Era o tempo do Cazé sair, comer algo rapidamente, trocar o figurino e ir para o estúdio novamente.

No Teleguiado usávamos, muito pouco, uma micro câmera que já era ligada e balanceada junto com a câmera do Na Chapa. Não deu outra: em menos de um mês estávamos nós no Na Chapa usando a micro muito mais que no próprio Teleguiado (toda a equipe era a mesma nos dois programas). A usávamos tanto que chegou um momento que desisti da betacam e passei a usar apenas a micro câmera. Digo de brincadeira, apesar de ser verdade, que o Na Chapa foi o primeiro programa diário da TV brasileira a ser feito 100% com micro câmera. Coincidência ou não, depois disso o uso de micro câmeras em programas de televisão aumentou consideravelmente.

Da mesma forma que surrupiei a micro do Teleguiado, Cazé também passou a usar os textos do Na Chapa como pauta para o Teleguiado. Ele, na verdade, gostava, antes do programa, de sentar e folear alguns jornais atrás de assuntos bacanas, mas nem sempre ele conseguia fazer isso, então passou a usar os textos que já tinha em mãos. Depois o Teleguiado passou a ser das 20h as 20h30.

No Na Chapa eu inclusive usava recursos da mesa de vídeo para fazer um programa inteiro em preto e branco, colocava sujeiras na tela (como nos filmes velhos de Super 8), duplicava o Cazé no vídeo e todo dia inventávamos algo diferente para fazer.

Esse maravilhoso programa me sugou muito, mas foi um verdadeiro laboratório principalmente pra mim e para o Cazé. Aprendi muito.

Até Zé do Caixão fez o Na Chapa!

PS: Infelizmente não há nada do Na Chapa no You Tube. Dedico o texto ao Ticão que, apesar dos contra tempos da vida, continua piadista. Uma lição!

A trilha sonora era sempre com músicas mais calmas: Frank Sinatra, Carpenters, Durutti Column, Al Green, Chopin, Glenn Miller, entre outros. Na maioria das vezes eram CDs meus, e uma das trilhas recorrentes era Neil Young.