29 de abril de 2011

Ramones no Palace 1987 - Revista Poster (Somtrês)


Da primeira passagem do Ramones no Brasil, mais especificamente no Palace (SP), quase não há registro, principalmente de áudio e vídeo.

Felizmente a boa e velha editora SomTrês fez uma revista poster com algumas fotos dessa histórica passagem. Remexendo meu velho baú a encontrei quase que intacta. Aliás tenho uma edição fechada no pacote, mas essa não achei.

Aqui vai mais uma homenagem a essa banda que desde sempre mora no meu coração. Não poderia deixar de repartir esse belo documento com o resto dos fãs.

Entre as postagens do SDC há diversos textos onde relato as passagens da banda por aqui, inclusive esse grande show no Palace - sem dúvida o melhor de todos!

Esse foi o meu primeiro show internacional (que honra!) e lembro bem que eu olhava para o palco, via a banda lá, Joey, Johhny e Dee Dee. Dee Dee! Olhava em volta via todo o público. Fiquei fora do ar. Os shows foram porrada pura e digo com segurança que 95% do público não entendeu nada.

Eu na fila do Palace pra entrar vi Dee Dee fumando um cigarro ali fora, ao lado da porta que dava acesso ao camarim e fundos do palco. Foi demais, inesquecível!

Naquela época o Ramones não era conhecido no Brasil e a única música que tocava na 89FM, que promoveu o show, era "Surfin' Bird", que nem da banda é! Então, em todos os shows, o público ficou meio morno, apático e só rolou um certo caos na hora de "Surfin' Bird". Afff....

Ao final do primeiro show, o amigo que estava comigo perguntou pra mim se eu havia escutado tiros. Falei que não e até achei engraçado ele perguntar aquilo. Depois no jornal li sobre a confusão com os carecas, e vi os buracos de balas no teto do hall de entrada do Palace no dia seguinte.

Acho que no primeiro show (vi todos então fácil confundir), houve problema técnico com o equipamento de Johnny e o show foi interrompido por longos minutos, pelo menos uns 15.

Depois do primeiro show fui comer um hambúrguer com o ouvido zunindo rsrs. Ótimo!

De quebra uma reportagem sobre as apresentações publicada na Folha de São Paulo em 02/02/1987. Os shows aconteceram em 31/01 e 01/02.

Ao final incorporei show que a banda fez na Argentina três dias depois, em 04/02/1987. Praticamente o mesmo repertório. (na 1ª parte aos 3'30" se fala da passagem da banda por SP e da confusão).


























22 de abril de 2011

Sem Carro. Percepção Ampliada.

Não sou ecochato. Pelamor! Esse texto nada tem a ver com a poluição ou emissão de gases venenosos. Aqui falo de liberdade e socialização. Seria ótimo se em São Paulo houvesse muuuito menos carro na rua. Todo mundo ganharia com isso. Mas a culpa desse trânsito infernal é de quem? Do cidadão trabalhador que passa a vida praticamente pagando impostos? Claro que não! A culpa é do governo corrupto e incompetente.

Em 2001 vendi meu Golzinho 87 porque ele ficava parado na garagem. Eu era obrigado a ligá-lo só para fazer o motor funcionar um pouco. Pagava estacionamento, seguro, impostos e manutenção para não usá-lo. Vendi.

Ao contrário de muita gente, nunca vi problema em usar transporte público e andar a pé. É muito melhor. Ainda mais hoje que ter carro é uma dor de cabeça, por todos esses motivos que citei, somados ao trânsito e a revisão obrigatória. Aqui em SP nem vaga na rua tem mais. Na região da Av. Berrini, um lugar moderno, cheio de empresas, não há metrô e linhas de ônibus suficientes para a demanda. Tem muita gente que trabalha lá, que entra às 9h da manhã, mas que chega de carro as 6h só para esperar uma vaga na rua. A pessoa fica até três horas dentro do carro estacionado só esperando uma vaga. Ela dorme, lê jornal, ouve música, livro. Um horror!

No carro você é um individuo isolado, vivendo em um mundo a parte. Usando transporte público você tem a percepção ampliada, está junto do coletivo, percebe melhor o movimento da cidade, consegue ver coisas que não enxerga de dentro de um carro. Nota melhor os detalhes, a arquitetura, a rotina e o dia-a-dia das pessoas. É mais vida.

Claro que, mesmo sendo melhor que há 10 anos, o transporte público paulistano continua sendo um verdadeiro lixo. Porém agora que a água bateu na bunda – no Brasil é sempre assim – as autoridades (in)competentes já pensam com mais carinho nessa questão. É mais do que urgente tirar carros da rua. Pra mim os corredores de ônibus deveriam ter, no mínimo, duas faixas. Danem-se os carros, eles que se espremam em uma faixa única andando a 3 km/h (e a tendência é essa).

O porteiro lavando a calçada do prédio, o carteiro andando pra lá e pra cá, um grupo atravessando a rua, um casal olhando a vitrine, os botecos movimentados, as pessoas conversando, o tiozinho na janela, e até mesmo o trânsito visto de fora é um atrativo. Dessa forma você está dentro do contexto, consegue ouvir a música ou a rádio que as pessoas escutam, ouve também as conversas, alguns perdidos te param para pedir indicação de caminho, você cumprimenta o jornaleiro, o balconista da padaria. Consegue perceber tudo o que acontece em sua volta.

Tem gente que não consegue se ver em um ponto de ônibus, ou entrando no metrô. Tem gente que diz ter preguiça de andar até o ponto, ou de ter que pegar dois ônibus. Tudo é uma questão de costume, de prática e disciplina. Qual o problema de sair meia hora mais cedo? Dependendo para onde for, pode ser até mais rápido pegar busão.

Eu mesmo, dependendo de onde estou trabalhando, volto para casa a pé para fazer exercício. Aqui em São Paulo qualquer chuvinha faz a cidade parar e não estar de carro me dá inclusive a opção de sair do ônibus e fazer o caminho a pé. Foi assim no dia do PCC, com a cidade toda parada e eu a pé vendo toda aquela bagunça. Parava na padaria e comprava um sorvete, depois uma água, e assim cheguei em casa numa boa.

Há muito deixei de ficar nervoso dentro de um carro. Tem gente que já chega estressado no trabalho as 8h da manhã só por causa do trânsito. Aí vai embora pra casa e chega nervoso também por causa do trânsito. Será que vale a pena estragar a saúde física e mental por causa de trânsito?

Pode ser que seja impossível para você deixar o carro de lado, porque vai do trabalho para a faculdade, ou mora muito longe de tudo, ou leva e traz o filho, enfim, cada um com seus problemas. Não tô aqui querendo levantar bandeira alguma, nem conheço a fundo o trânsito de todas as grandes cidades brasileiras, mas tenha certeza de que o dia muda para melhor não estando de carro num lugar como São Paulo.

15 de abril de 2011

RegistroPessoal.doc I

Esta fase pela qual passo me lembra muito o início de 1991, quando um namoro com uma amiga de infância, paixão platônica, terminou depois de 10 meses. Foi quando me fechei, resolvi voltar a estudar, me matriculei em um cursinho e fui tentar vestibular para jornalismo. Eu ia e voltava muitas vezes a pé do cursinho, com meu walkman, escutando Pixies e Beatles no máximo. Passei a selecionar as baladas, por isso, saia pouco. Fiquei pensando mais em mim e assim fiquei por um ano. Foi maravilhoso! Descobri muita coisa.

Agora estou assim novamente, bastante parecido com aquela imagem fictícia do avestruz com a cabeça no buraco. Eu estou com a cabeça no buraco.

Clichê (e fato): Basta uma fração de segundo para sua vida mudar para todo o sempre. Algumas vezes vivi isso na pele. Há casos muito, mas muito piores que o meu, mas este é um registro pessoal.

Perdi meu pai quando eu ainda tinha 18 anos. Ele tinha apenas 50. A vida da família mudou. Tudo mudou. E foi bem na época em que "Marvin" (versão do disco Go Back) tocava nas rádios sem parar (Agora é só você / A vida é pra valer...).

Dois anos antes, em 1987, minha mudança repentina de Brasília para São Paulo virou minha vida de ponta cabeça. Nos anos 1990 um sério problema de saúde de minha mãe também deu mais um chacoalhão na minha vida.

Essas mudanças repentinas, que acabam nos levando para onde não queremos ir, só quem já viveu sabe das dificuldades para se refazer. Recomeçar do zero novamente. Mais uma vez recomeço do zero. Já recomecei.

Dessa vez em plena vida adulta, verei como é não ter mais 17, 18 ou 23 anos, mas sim 41. Se me assusto ao olhar pra frente e tentar ver o muito que tenho a percorrer? Não, de forma alguma. Há muito aprendi que não devemos nos preocupar. Ou seja, nos pré-ocupar. É difícil sim, mas não impossível. Aí também vai da fé de cada um. Outra coisa que aprendi cedo foi que a paciência é uma das maiores virtudes do homem. Como diz o ditado: nada melhor do que um dia após outro.

Se algo saiu errado e você não tem culpa alguma, pelo contrário, tem a consciência limpa do dever cumprido, então é mais fácil lidar com a mudança.

Mesmo assim, como toda mudança repentina, veio o baque inicial. Como tomar um soco de 120 quilos do Mike Tyson. É coma na certa. Aí começa um exercício de paciência: corre o risco de perder a vida, sofre intervenção cirúrgica, semanas a fio em CTI e UTI, mais operações, milhares de exames, tempos depois um quarto no hospital, reabilitação, remédios, vai pra casa, mais exames, acompanhamento e depois de um ou dois anos, vida normal.

Comparando-me a essa situação, diria que há poucas horas sai da UTI e toda a equipe médica está cheia de esperança. É assim que me sinto agora.

Nada como a força da família e dos amigos que são muuuito poucos, porém verdadeiros irmãos. É lição de vida. Mais experiência para minha bagagem. Sinto-me ainda fraco, mas agora a fraqueza é o ponto zero. De agora em diante é sair dele e caminhar para o 10.

Vi o copo com metade de água e cheguei a pensar que ele estivesse metade vazio. Mas logo vi que ele, na verdade, está metade cheio. A vida continua. Os problemas nunca irão acabar. Eles surgem como muriçoca, que você mata uma e logo aparece outra. Mas o que seria da vida sem problemas?

Não nasci para fazer mal a ninguém. Não nasci para me encostar em ninguém. Não nasci para puxar o saco de ninguém. Estou no mundo para vencer de forma honesta. Não me arrependo de nada do que fiz até hoje (ou do que não fiz). Tenho um orgulho sadio de minhas conquistas, e como já disse aqui uma vez, não tenho e nunca tive pistolão. Sou homem com H e nunca fugi de minhas responsabilidades, pelo contrário, sempre as encarei com serenidade e seriedade.

Não é muito o que eu peço só um pouco de paz. Quero dias normais, uma vida simples, ficar com a família e os amigos, trabalho honesto e amor verdadeiro.

Agora é cabeça erguida, humildade, muito trabalho, fé e esperança, equilíbrio, saúde física, mental e espiritual.

É isso!

PS: Família e amigos: vocês são o máximo!

1 de abril de 2011

Série O Resgate da Memória: 19 - O Lançamento de Tropicália ou Panis et Circensis

Nesta reportagem histórica que descreve a noite de lançamento de um dos discos mais importantes da música brasileira, o que mais chama a atenção é a riqueza de detalhes. Uma verdadeira viagem no tempo.

Folha de São Paulo
14 – agosto – 1968 (quarta-feira)
Acervo Digital Folha


Uma Noite Tropicalista
Adones de Oliveira




Às 11 da noite de anteontem o Avenida Danças já estava repleto. Tudo funcionava regularmente. Como nos dias normais as mulheres chegavam, sentavam-se nas cadeiras que rodeiam o enorme salão e ficavam esperando que os cavalheiros as viessem tirar para dançar. Cada um tinha recebido seu cartão numerado na entrada, que seria picotado e devolvido na saída, para o devido acerto de contas. Às 11 da noite de anteontem no Avenida Danças, Ipiranga, 1120, já era grande o número de pessoas que chegavam para assistir ao lançamento de “Tropicália” e viver o maior acontecimento tropicalista já havido, desde que o tropicalismo foi inventado.

Primeiro chegaram Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé e o empresário Guilherme Araújo, produtor da festa, Caetano chegou mais tarde e quando entrou foi recebido com palmas e gritos. O salão tinha sido dividido. Num lado continuava-se dançando, os “habitues” nem davam bola para o que acontecia na outra metade, cheia de mesas, que não chegavam para o número de pessoas presentes. Gil, numa mesa grande, com Nara Leão e as bailarinas da Rhodia, apertava uma buzina e gritava “Tereziiiiinha”.

Chegaram os componentes do “New Vaudeville Band”, sete ingleses vestido com moda de 1920. Os “Beat Boys” barbudos e de boina, à “Che” Guevara, também transitavam no meio da multidão de manecas, bailarinas, artistas, jornalistas, desconhecidos, fotógrafos, etc. Caetano usava um casaco comprado em Londres e um boa cor-de-rosa, espécie de estola, enrolada no pescoço. Ele e Gil ficavam andando de um lado para outro, cumprimentando uns e outros.

À uma hora os apresentadores oficiais do Avenida Danças, impecavelmente vestidos, anunciaram o show. Ninguém conseguia ouvir direito o que diziam, o barulho era enorme, todo mundo gritava “Terezinha”. Um grupo ficou chamando o poeta Décio Pignatari, afastado um pouco da turba. Um fotógrafo quis brigar com um rapaz, que o impedia de trabalhar direito. Guardas, com a indelicadeza costumeira, exigiam a saída dos que se sentavam na passarela, à falta de lugares melhores. O pano se abriu, começaram a gritar “senta, senta!”, Gilberto Gil iniciou o espetáculo com “Miserere Nobis”. Houve um pouco de silencio quando Caetano cantou “Coração Materno”. Nas outras o público acompanhava e batia palmas. No palco estavam Nara, Gil, Caetano, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé. Saíram, uma a uma, todas as músicas do disco. “Miserere Nobis”, “Coração Materno”, “Parque Industrial”, “Panis ET Circenses”, “Hino do Senhor do Bomfim da Bahia”, “Baby”, “Lindonéia”, “Três Caravelas”, “Batmacumba”, etc.

Na vez do hino o ator Antonio Pitanga ficou dando vivo ao Nosso Senhor do Bomfim, como nas procissões. O auge do entusiasmo deu-se em “Batmacumba”, cantado por todos. A orquestra, muito boa por sinal, era da casa e Rogério Duprat a regeu. Terminado o show apareceu Jorge Bem, que também subiu ao palco. Todo mundo cantava e dançava.

Lenie Dale subiu na passarela e ficou se exibindo. Nas mesas as moças da Rhodia dançavam e davam gritos. Outros artistas também aplaudiam: Claudete Soares, Da Kalafe, Walmor Chagas, Rejane Medeiros e outros. Gil e Caetano desceram do palco, ficaram abraçando as pessoas. Algumas pessoas saíram, mas a confusão continuou. A orquestra voltou a tocar os boleros, recomeçaram a dança. Os homens que saiam tinham que devolver os cartões, picotados ou não. O Avenida Danças viveu uma noite “social” das mais movimentadas, mas o faturamento não foi grande. Muitos fregueses deixaram de dançar para ver de perto uma noite tropicalista.