29 de outubro de 2010

Histórias da MTV: Clima de Trabalho


Gastão grava Clássicos MTV
Na MTV você tinha suas obrigações e tinha que cumpri-las, independente do seu horário. Falo sobre o departamento de produção, mas também tinha o jornalismo, promo, relações artísticas, marketing... entre outros. E cada um deles com sua equipe e suas obrigações. (todos renderiam ótimos livros rsrs)

Nós do departamento de produção cuidávamos da realização dos programas musicais que iam ao ar, dos simples como um VJ no fundo chroma key ou complexo como uma transmissão ao vivo do U2 no Morumbi.

A MTV ficava em um prédio, os departamentos ficavam separados pelos seus nove andares. A configuração sempre mudava, mas quando entrei, produção e jornalismo ficavam em salas diferentes, mas ambos no 4º andar. Relações artísticas e marketing no 1º andar; sala vip no 9º andar. Estúdio A e B ficavam em andares diferentes (A é o menor e B o maior). Figurino e maquiagem no 2ª andar, o mesmo do estúdio A. Enfim...

Quando comecei a dirigir, ainda como free lancer, em fevereiro de 1994, a produção contava com pelo menos sete diretores. Cada diretor tinha ao menos dois programas para cuidar, além de outros trabalhos especiais. Por exemplo, o diretor do Disk também cuidava do Pé da Letra (programa de clipes traduzidos) e acabava indo para os EUA para gravar com algum VJ material especial durante o VMA. Éramos muitos, mas havia muita coisa pra se fazer.
Eu e Camila Pompeu

A cada ano a funções mudavam. Cada diretor cuidava do programa que tinha mais afinidade musical. Tinha o pessoal mais interessado pelo pop americano, pela MPB, pelo rock brasileiro, pelo rock internacional, pelo metal, pelo alternativo.

Claro que ninguém precisava usar terno e gravata. Tinha gente que ia trabalhar de havaianas (que não tinha o mesmo status de hoje), bermuda, camiseta e cabelo despenteado. O engraçado era que no prédio se via engravatados que trabalhavam nos departamentos administrativos e “a molecada porra louca”, que éramos nós da produção, do jornalismo, do promo, TAR...

Todos iam para as mesmas festas, os mesmos shows, os mesmos lugares. Era normal você ver gente dormindo debaixo de suas mesas, usando a mochila como travesseiro. Ressaca braba. Éramos uma grande turma.

As paredes do departamento eram cheias de pôsteres e colagens. Como recebíamos praticamente todas as revistas internacionais e muitas delas tinham pôsteres, eles acabavam nas paredes. Parecia quarto de adolescente. Cada canto, cada mesa tinha sua própria customização, seus adesivos.

Durante o trabalho um ajudava o outro, porque às vezes havia um trabalho para fazer de um artista pouco conhecido, então se pedia ajuda a quem conhecia melhor, que pudesse fornecer uma curiosidade ou história bacana. O que tínhamos de material de pesquisa eram reportagens de jornais, revistas e livros. Um imenso arquivo, do qual já falei aqui em No Olho do Furacão (1), que nos municiava para qualquer tipo de texto sobre cultura pop. Arquivo de valor inestimável, mesmo hoje em tempos de internet. Uma pena que pessoas lá de dentro não tenham dado o devido valor e simplesmente descartaram uma preciosidade, um tesouro de enorme valor. Visão curta e destruidora... uma pena...

Soninha, a coordenadora
Quando entrei lá, quem coordenava o departamento de produção era a Soninha Francine. Ela marcava todas as gravações e tínhamos a escala de gravação em um quadro. Ao fim do dia você ia lá para ver seus horários do dia seguinte e obrigações em geral. Nessa época ainda não havia programas ao vivo. Com relação aos programas eram três opções de gravação: estúdio A, estúdio B, externa. No estúdio A, onde ficava o chroma key, eram gravados os programas diários como Radiola, Disk, Clássicos, Gás Total, Pix (alguém aí da MTV lembra do ‘Topo da Hora’?). No estúdio B eram gravados os programas semanais como Top 20, Fúria Metal, Yo MTV Rap, Lado B, e que tinham cenário. Antes da minha chegada, digo 1990 até início de 1993, as coisas eram diferentes (Fúria e Lado B chegaram a ser gravados em fundo chroma).

Ganhávamos CDs todos os dias. Ganhávamos ingressos para todos os shows, nacionais e internacionais. Tínhamos acesso as principais revistas internacionais como Kerrang!, New Musical Express, Melody Maker, Spin, Uncut, Mojo, Billboard, Rolling Stone e outras de universo mais pop. Em alguns shows, até 1994, você nem precisava de ingresso, bastava o crachá da MTV. Era tipo Bozó, manja?

Daniel e Massari: redator e apresentador do Lado B
Apesar dos horários de gravação serem diferentes, muitas vezes a produção ficava cheia com pessoas que ainda iriam gravar ou que acabavam de gravar. Rolavam boas conversas, pé na mesa, assistíamos juntos clipes novos que chegavam, estreias especiais tipo Michael Jackson, Madonna, Nirvana, Spice Girls. E coisas novas, estranhas, porém legais como “Loser” do Beck. Rolavam discussões animadoras sobre artistas, clipes, filmes, matérias, shows, festivais. Tinham as viagens internacionais que sempre geravam boas histórias.

Era uma turma com idade média de 25 anos. Tinha esse clima de irmandade, risadas, descontração, mas a coisa toda era séria e cada um cuidava muito bem de suas obrigações. Os trabalhos coletivos, como transmissões ao vivo, também tinham essa força e era aparente a amizade entre todos, o que ajudava na qualidade do trabalho. Essa boa relação se estendia para a equipe técnica, que também era formada por pessoas jovens.

Trabalhava-se com prazer, porque todo mundo gostava de música e a maioria entendia do assunto. Era um prazer escrever uma cabeça de VJ, procurar assuntos, notícias. Era maravilhoso poder fazer uma pauta para o Ramones, para a Legião Urbana, entre outros grandes artistas. Era enriquecedor para todos nós que estávamos iniciando a carreira.

Dep. de produção: sem computadores nas mesas
Eram tempos que não só não tinha internet, como também não tinha computador. Apenas a Soninha trabalhava com um Macintosh para poder fazer as escalas, organogramas e outras coisas. As cabeças de VJ eram escritas à mão direto no espelho de gravação. Depois de escrito, eram feitas cópias xerox para todos os envolvidos na gravação (incluvie operadores de teleprompter e GCs), e todos tinham que entender a letra. (Nada de computador em cima das mesas)

Essa era uma época em que a MTV Brasil ainda não tinha um sério compromisso comercial. Ainda era pouco acessada e isso nos dava liberdade para experimentar. O MTV Na Chapa, por exemplo, chegou um momento em que eu o fazia apenas com micro câmera, deixava tudo PB, tinha cabeça que Cazé só dormia. O saudoso Cep MTV, comandado pelo Thunder, era outra coisa fora do comum, só cabível ali, naquele momento. As experimentações de câmeras no MTV Sports, enfim, usávamos sem medo as ferramentas que tínhamos e éramos completamente livres para criar. Mesmo levando a sério, nos divertíamos trabalhando.

E dessa forma todos fizeram história.

PS1: As fotos são de 1996.

24 de outubro de 2010

O Pós-Punk Brasileiro

Mercenárias
Em 23/10/2010 o 'Cadê as Armas?', primeiro disco das Mercenárias, completa 24 anos. Um clássico. Usarei essa data para postar hoje este texto que já esta pronto há um mês.

Dias atrás, estava eu no ônibus voltando pra casa quando vi ao meu lado Sandra Coutinho. Comecei a suar frio. Já encontrei Sandra em outras ocasiões, mas não daquele jeito. Não resisti e agradeci por ‘Cadê as Armas?’ e ‘Ao Vivo no Mosh’. Conversamos rapidamente, disse a ela que eu tinha uma fita das Mercenárias ao vivo ainda com Scandurra na bateria e ela me falou que também tem material ao vivo, que está reunindo tudo para lançar oficialmente. Vixi Maria!
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Último Número
O pós-punk brasileiro teve seus bons representantes e, apesar de Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre, as bandas mais conhecidas foram as de Brasília e São Paulo.

Em BH o pós-punk foi basicamente calcado em um forte texto inspirado em poesia concreta, beatniks e na estética de Joy Division e Ian Curtis, Bauhaus e esse início do movimento gótico musical. Sexo Explícito, Último Número, O Grande Ah!, Divergência Socialista e outras, umas mais e outras menos, mas todas tinham influência pós-punk. Mas elas estavam também inseridas em um contexto em que havia também artes plásticas, instalações, além de artistas e fotógrafos que cuidavam da parte visual dos shows, das capas, das fotos, dos flyers. Festas, casas noturnas, bares, shows. Tinha a efervecência parecida com São Paulo, mas uma relação pessoal bem parecida com Brasília (essa é a leitura que tenho vendo de fora).

Ira!
O pós-punk de São Paulo foi muito bem registrado: Smack, Voluntários da Pátria, Akira S & As Garotas que Erraram, Musak, Ira!, Nau, Agentss, Gang 90, Cabine C, Fellini, Mercenárias, Patife Band, 3 Hombres, Nº 2 (que não gravou), Violeta de Outono e mais uma porção delas. Umas bem diferentes de outras, mas tendo uma unidade em estética e influências. Um monte de casas noturnas faziam parte do circuito alternativo: Napalm, Carbono 14, Madame Satã e Rose Bom Bom eram algumas. Em SP as letras não tinha essa característica de poesia marginal que havia mais em Minas, mas havia sim a representação paulistana, como Fellini e Akira S. Se você quiser achar parte desses nomes paulistanos o alvo certo é a Baratos Afins. Todo esse pessoal também se conhecia, as bandas faziam shows juntas, dividiam equipamento, se encontravam nas casas noturnas e festas, e eram rodeadas de outros artistas e fotógrafos que ajudavam na parte visual.

Plebe Rude
Em Brasília, toda essa cena conhecida da mídia que surgiu no início dos 1980 é influenciada pelo pós-punk. Plebe Rude, Capital Inicial, Legião Urbana, Escola de Escândalo, Elite Sofisticada, Finis Africae, todas elas gostavam de PIL, Gang of Four, XTC, Stranglers, Talking Heads, Television, Adam Ant, e todo o movimento gótico de Joy Division, Cure e Bauhaus (como em BH). A característica de Brasília é mais próxima a de SP, onde se dava a mesma importância para letra e música. Só que ao contrário de BH e SP, as bandas brasilienses não abandonaram as influências punks. Dá pra ver fortes semelhanças, entre Ira!, Mercenárias, Smack e todas as brasilienses, principalmente no período em que as candangas ainda estavam em Brasília, entre 1982 e 1984. Mas de todas da capital a que mais manteve as características iniciais foi a Plebe Rude.

Smack
Curitiba e Porto Alegre também tinham suas representantes, mas não eram tão numerosos como nas outras capitais. De Curitiba eu mesmo só ouvi Beijo AA Força, e de Porto Alegre, De Falla. Inclusive Edu K eu fui conhecer inusitadamente no Guarujá, numa casa noturna que se chamava QG. Em 1984 vi um show da banda lá, quando Edu tinha o cabelo de Billy Idol...

No Rio de Janeiro não havia uma cena específica, mas sim uma ou outra banda como o próprio Paralamas do Sucesso, Black Future e Picassos Falsos, mas longe de ser como nos outros lugares, mesmo Curitiba e PoA, que também tinham suas turmas.

Voluntários da Pátria
Pra mim, de todas essas cenas a mais radical (no bom sentido) é a de Minas, apesar de eu só ter ouvido de fato Sexo Explícito e Último Número. De São Paulo tenho tudo o que foi gravado, além de tapes ao vivo não oficiais. De Brasília, nem preciso falar muito, mas registro a saudade que tenho do que era a Legião e o Capital antes de gravarem seus primeiros discos.

Pra minha alegria (e de muitos outros brasilienses) o Escola de Escândalo prepara uma reunião especial, com direito a DVD, CD e shows pelo Brasil. Geruza, Marielle, Totoni e Parente estão reunidos já gravando o álbum. Ninguém melhor que Parente para reproduzir o que só Fejão fazia na guitarra. Estou aqui torcendo para que dê tudo certo.

Apesar dos lugares serem distintos, essas cenas tinham suas semelhanças. Em Brasília, em Minas e em São Paulo era comum encontrar pessoas que tocavam em mais de uma banda, as vezes em até três ou quatro ao mesmo tempo (como era o caso de Scandurra em SP, Fejão em BsB). Mesmo cada banda tendo sua sonoridade, todas elas tinham preocupação com a estética, influência da cena gótica, davam mais atenção ao baixo, faziam experimentações.

O pós-punk inglês e americano não ficou marcado por sucessos de rádios, ou por atingir um grande público (tirando as poucas exceções), mas tinha seus seguidores e influenciou bastante a new wave, o tecnopop, o alternativo das college radios, o grunge, o britpop, o electro rock. Ou seja...

Das bandas pós-punks citadas aqui as que mais fizeram sucesso foram Plebe Rude e Ira!, mas isso não significa que só elas eram boas. Pelo contrário, muitas delas são maravilhosas.



















20 de outubro de 2010

Histórias da MTV: Casa da Praia

MTV Brasil está mais velha. Completa 20 anos em outubro de 2010 e hoje (20/10) é dia de festa! Há tempos tenho escrito a respeito de minha passagem pela MTV (1993-2000). Tem post sobre o Central, Fúria Metal, Teleguiado, Monsters of Rock e outros programas que fiz e/ou participei.  Fora este, o texto mais recente é o do dia em que Kurt Cobain morreu (Série Anos 90 SP: O Olho do Furacão (1)).
Agora é a vez da Casa da Praia, que foi meu primeiro trabalho na emissora, ainda como produtor. Em uma das dez semanas que gravamos lá (acho), levei minha câmera vhs e registrei alguns momentos. Como gosto de fazer, tirei fotos dos frames dessas imagens em vídeo, que são absolutamente inéditas e exclusivas (tem mais um monte).
Estou preparando outros posts de memórias da MTV e aos poucos publico.


Quando entrei na MTV, ela estava completando seus três anos. Ainda procurava seu espaço. Como telespectador, digo que nesses três anos a MTV pouco foi vista, era mais falada do que assistida. Quando só pegava no UHF, a imagem da minha tv era péssima, toda chuviscada. Mesmo assim fui conhecer Lenny Kravitz com ela, logo em seu começo. Lembro que no show do The Cult no Ginásio do Ibirapuera tinha uma equipe realizando uma pesquisa sobre sua programação.

Mas nessa mesma época as TVs a cabo TVA e NET começaram a investir pesado em seus pacotes e a comercialização deses produtos ajudou na divulgação da MTV. Lembro de ver os próprios artistas falando que não assistiam MTV. Quando conheci Gastão, no início de 1992, eu nunca tinha o visto na televisão, mas sabia quem era.

os fundos da Casa que dava direto para a praia
A Casa da Praia, primeira produção especial de verão da MTV, foi uma forma de mostrar ao público, artistas, gravadoras, mídia que havia algo diferente ali. Lembro de ver diversos meios de comunicação fazendo matérias lá. Era o primeiro chacoalhão de outros que ainda viriam.

Tudo aconteceu em uma casa cenografada que ficava em frente a Praia de Camburi, no litoral norte de São Paulo, cerca de 2h00 da capital. Na verdade são duas praias, apenas separadas por um pequeno córrego: Camburizinho e Camburi.

Foi levado o maior número possível de artistas: Sublimes, Marcelo Nova, Titãs, Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, Edu K, Sepultura, Plebe Rude, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, Little Quail, Muzzarelas, Pin Ups, Rip Monsters, Laerte, Glauco, Angeli, o campeão brasileiro de pipa, origami, capoeira, chef de cozinha, entre outras personalidades.

Gastão e André (op. de áudio). Fim de tarde.
Esses convidados costumavam chegar mais ou menos na hora do almoço e ficavam até o final do dia. Dependendo de quem era, participava de um a três programas (tinham aqueles que a própria banda escolhia os clipes ou comentavam os próprios clipes). O clima era tão bom que não teve um convidado que não curtiu o dia. Lembro do Sepultura discutindo se iria embora logo após a participação no Disk ou se aproveitava o dia; o Paulo Lima (Trip) foi lá para ser entrevistado pela Astrid, entrou no mar enquanto esperava a gravação e só saiu de lá oito da noite, ou seja, não rolou a participação no programa.

As gravações começaram na última semana de novembro/1993 e foram até antes do Carnaval em 1994. Quando chegamos, fomos proibidos de entrar na Casa, pois a equipe cenográfica ainda estava arrumando os últimos detalhes. Um dos grandes desejos de toda a equipe foi realizado: ter, por todo o verão, uma máquina Polaroid com filme à vontade (era o sonho de qualquer um). Astrid criou no Top 20 um painel só de Polaroids dos artistas que passaram pela Casa. Além disso, também tínhamos uma geladeira da Kibon que era abastecida uma vez por semana e milhares de sacos de batata Ruffles, que também semanalmente chegavam em muitas caixas. Teve um Disk com Edu K onde ele comeu uns 15 picolés em, no máximo, 40 minutos de gravação. Eu só voltei a comer Ruffles há uns 5 anos atrás. Sério. Teve muita gente da equipe que nunca mais comeu o picolé Milka (que era lançamento naquele verão).

Blues Etílicos
Logo nos primeiros dias Gastão e Astrid chegaram a dormir nos quartos da Casa, mas essa idéia foi logo abandonada, para preservá-la como cenário (que era de fato). Parte da equipe (incluindo eu) dormia numa casa em frente a Casa da Praia, outro pessoal ficava numa pousada a um quarteirão da Casa, e ainda outra parte da equipe dormia numa pousada no início de Camburizinho.

Eram duas equipes de gravação e os VJs que trabalharam lá foram Gastão, Astrid, Cuca, Cazé e Adriana Lessa. Thunder chegou a ir lá, mas já estava com um pé na Globo; Cazé e Adriana Lessa fizeram suas estréias na Casa da Praia. Pix, Gás Total, Disk, Top 20 e Pé da Letra eram os programas feitos na Casa. Por dia eram gravados uma média de cinco programas (Pix, Gás Total e Disk eram diários).

Sepultura no Disk
Foi nesse verão que melhor comi na minha vida. Foi contratado um maravilhoso chef conhecido por nós como Le Paul, que cuidava da alimentação de toda a equipe. Ele preparava café da manhã, almoço e jantar; e sua base era a casa da produção a qual eu ficava. Tanto no almoço, quanto no jantar, a comida era farta: salada, acompanhamentos e carnes. Trabalhávamos muito e debaixo de muito sol e calor, nada mais justo que uma alimentação no mínimo maravilhosa.

Passávamos a semana inteira em Camburi e os finais de semana em São Paulo. No final esse vai-e-vem já estava dando no saco! Íamos e voltávamos de ônibus fretado e os convidados iam de van. Tinha gente na equipe que aguentava fazer baladas noturnas, afinal estávamos em uma das principais prais do litoral norte paulista e em pleno verão. No dia seguinte, se dava 10 minutos de folga, era ronco na certa. Eu não fiz balada nenhuma. Era puxado. Era o primeiro a acordar e o último a ir dormir. Mesmo assim foi tudo maravilhoso.

O Márcio Garcia na época ainda era o apresentador do MTV Sports, e chegou a ir duas vezes até a Casa. Inclusive em uma dessas idas, ele foi por conta própria de carro, com a namorada, e ainda me roubou uma caixa fechada de Chicabon. Lembro d'eu correndo atrás do carro dele... Zeca Camargo, Chris Couto e Chris Nicklas iam lá uma vez por semana, ou menos, para gravar o MTV no Ar.

Capital Inicial e Astrid
 O Capital Inicial foi para divulgar o Rua 47, primeiro trabalho com o vocalista Murilo Lima. O Dinho também foi à Casa, mas para divulgar o Vértigo. O Pin Ups foi para fazer o programa em que a banda escolhia o clipe, mas não foi para o ar porque o Luis, vocalista, estava completamente bêbado (todo artista que ia lá tinha a sua disposição uma garrafa de Red Label, mas isso não durou muito). O Muzzarelas foi participar do Gás Total e um dos caras da banda ficou na roubada porque seu carro quebrou e ele teve que dormir lá. Um dos primeiros programas gravado pela Cuca na Casa, me lembro, foi o Pix com participação das Sublimes. Foi gravado dentro da Casa e com luz forte. A cada cabeça era preciso retocar a maquiagem de todas de tanto suor (porque não gravaram na praia???).

A Casa da Praia foi um tremendo sucesso em todos os sentidos. Foi uma delícia. Apesar de intenso, o relacionamento de toda a equipe foi muito bom. O objetivo foi alcançado. Ao final do verão a MTV já era outra. Aliás, logo após o fim da Casa da Praia, vieram mudanças radicais na cúpula da emissora.

Cazé hippie?

Sepultura levou João Gordo. Praticamente um profissional do Bodyboard.

Este programa com o Virna Lisi (talvez o Pix) foi o último gravado na Casa da Praia

Eu e o Rip Monsters. Gravação do Gás Total.

Philippe Seabra (Plebe Rude) participa do Disk com Astrid e Adriana Lessa

Astrid e Titãs. Nesse dia quem mais se divertiu foi Bento, filho de Branco Mello.

15 de outubro de 2010

Elvis Não Morreu

Steve é dono de uma pequena frota de lanchas que aluga para os turistas e moradores de Aruba e seus arredores. Em 2005 achou uma mochila em uma dessas lanchas. Nela, entre outros objetos, havia dois cadernos de textos com anotações, observações, fotos coladas. Era uma biografia escrita em forma de diário. Uma colagem de textos e imagens datadas de setembro de 1977 até aquele momento, final de 2005. Um relato impressionante.

Não pensou duas vezes, fez alguns contatos, pegou um avião para Califórnia, e se encontrou com cinco grandes fãs de Elvis Presley. Foram três dias de análise do material, até que ele recebeu uma boa oferta, inclusive para ficar calado. Ele saiu de lá com a conta bancária abarrotada de dólares, mas antes da negociação tinha fotografado e escaneado todo o conteúdo dos cadernos. Vazou.

Trata-se de textos em primeira pessoa contando tudo o que aconteceu com Elvis Presley após 16 de agosto de 1977. Na época em que foram encontrados os cadernos Elvis teria 69 anos. Resumindo os fatos escritos:

Em 1970 Elvis, em um inusitado encontro, jantou e passou horas com Jim Morrison (visualize os dois conversando bêbados em um restaurante vazio de pouca luz e um garçom dormindo numa cadeira ao lado deles). Foi ali que Jim falou para Elvis da vontade de sumir, e que pensava seriamente em forjar sua própria morte. Contou como iria fazer e da ajuda que teria do governo americano. Em 1971, quando anunciaram a morte de Jim, Elvis desconfiou. E ficou com a história na cabeça.

Em 1974 Elvis começou a sentir um vazio e falta de tesão para suas apresentações em Las Vegas. Intensificou suas dosagens de remédios. Queria sair dos EUA, viajar e tocar pela Europa, Japão e mundo afora. Pra ele era um momento 8 ou 800: ou ele mudaria a carreira, quebraria o contrato com Las Vegas e com o General, para gravar com outras pessoas, viajar pelo mundo, buscar novos caminhos musicais; ou então pararia tudo, se fosse pra ficar como estava, então bastava de "mais do mesmo". Para ele a música, há tempos, havia deixado de ser diversão, e Elvis sentia falta disso.

Assim como supostamente Jim fez, Elvis secretamente procurou o alto escalão do governo para pedir ajuda. Ele já havia traçado um plano e iria morar em uma pequena ilha na Grécia. Cortou e descoloriu o cabelo, deixou o bigode crescer e colocou uma falsa cicatriz no rosto, perto da boca. Mudou seu nome para Alberto Morris (era fã de “Feellings”), trocou toda sua documentação e, quanto ao dinheiro, desde quando se tornou um fenômeno musical, criou uma conta secreta, que foi muito pouco movimentada desde o final dos anos 1950. Era muita grana.

Elvis foi obrigado a fazer duas plásticas. Não queria, mas viu que era preciso. Operou o nariz e o maxilar, alterando um pouco sua fisionomia. Agora ele apenas se parecia com Elvis. Entre sua “morte” e a chegada em sua ilha para viver definitivamente uma nova vida, foram dez meses. Durante esse tempo ele permaneceu em um dos locais secretos do governo. Era quase como se ele estivesse participando de um programa de proteção a testemunhas.

Chegando em sua ilha, Elvis (agora Alberto) teve que arrumar sua nova vida, agora sem os milhares de assessores que tinha. Começou do zero. Ele tinha apenas sua ilha e sua casa já toda mobiliada. Teve que ir às compras, contratar cozinheira, faxineira, caseiro... Além disso, teve que aprender a viver em um novo lugar, com outros costumes. Acabou comprando uma lancha para poder ir para à cidade resolver as burocracias normais do dia-a-dia como qualquer cidadão.

Frequentava supermercados, feiras, bancos, lojas, shopping. Agora Elvis era apenas o Alberto, um americano rico, viúvo, aposentado... e que se parecia com Elvis Presley.

Claro que algumas vezes batia uma depressão em Elvis (agora Alberto), sentia saudades de algumas coisas da época de rockstar, mas estava mais feliz agora. Nada de obrigações contratuais. Nada de gente chata. Segundo seus textos, até ele chegar à ilha, se adaptar, encontrar sua nova rotina e começar a curtir a nova vida demorou um ano.

Foi só no final de 1979 que Elvis (agora Alberto), pôde se organizar para a tão sonhada viagem pela Europa. E ela foi longa. Em algumas cidades parou por até dois meses. Ou seja, a viagem durou oito meses.

Voltou para a ilha feliz pelas novas amizades, e irradiante principalmente com as coisas mais simples que fez, como comer em pequenos bistrôs. Em outubro de 1980 estava novamente tranquilo na ilha. Tranquilo em termos.

Na viagem duas coisas chamaram sua atenção: o tanto de gente que comentou sobre sua semelhança com Elvis e alguns dos shows covers de Elvis que assistiu. Alguns o deixou impressionado pela semelhança. Tudo isso ficou remoendo em sua cabeça por meses.

De tudo que abriu mão com sua “morte”, o que mais sentia falta, era do palco, dos shows. Foi em 1981 que Elvis (agora Alberto), resolveu formar uma banda cover e, depois de muitos ensaios na ilha, montou um kit de apresentação com release, fotos, fita demo. Dessa forma conseguiu uma agência para marcar alguns shows e realizar seu sonho de tocar fora dos EUA. Tornou-se cover de si mesmo, fazendo um show aos moldes da 'era Las Vegas' (como todos os covers), viajando pelo mundo até 1991, quando completou 55 anos.

Apesar de nunca ter participado dos concursos de covers, Alberto (o verdadeiro Elvis) ganhou muito prêmios e se tornou por alguns anos um dos júris oficiais do concurso de sósias e covers sediado em... Las Vegas. De 1992 até 1998 passou a fazer um show cover especial que era apenas ele e piano tocando só o repertório gospel. Muito elogiado e disputado.

Sem muito detalhes disse que casou, teve filhos, e pelo jeito ainda vive em sua ilha grega com a família.

Em nenhum dos cadernos diz se ele está bem. Se estiver, agora (2010) tem 74 anos.

Ah! Durante os anos 1980 Elvis (agora Alberto) descobriu que tinha companhia na Grécia... depois de assistir a um show cover do The Doors...

PS: Nesse diário Elvis Presley desvenda um mistério: ele de fato é pai de Greg Tortell (o Tortelvis do Dread Zeppelin).

14 de outubro de 2010

Pixies


Conheci Pixies quando também conheci (Carlos Eduardo) Miranda. Na época ele era um jornalista que escrevia para a Bizz e estava trabalhando em sua primeira grande produção musical: a coletânea Sanguinho Novo.

Era 1988 e o vinil que Miranda pôs para eu escutar era importado (Surfer Rosa). Depois disso fiquei muito tempo sem ouvir Pixies, mas voltei a escutar muito Husker Du (Black Francis era o novo Bob Mould!).

Quando escutei Pixies identifiquei muitas coisas boas: PIL, XTC, Stranglers, Modern Lovers, Gang of Four, Husker Du, Violent Femmes, Neil Young, Fall.

Só fui ver a banda ao vivo em um vídeo que passou antes de um show do Yo Ho Delic, em 1992. Uma verdadeira decepção por ver que todo aquele poderoso som era executado ao vivo de maneira fria. Até então imaginava a banda ensandecida no palco. Decepção absoluta. Confesso que cheguei a ficar com raiva, mas depois vi mais alguns vídeos e era tudo com a mesma frieza, então eu entendi. Kim Deal sempre foi a mais simpática no palco.

Pra mim, essa falta de ânimo ao vivo foi uma das causas da dissolução da banda. Claro que as intermináveis brigas entre Black Francis e Kim Deal também ajudaram, mas a gota d’água foi abrir para o U2, na turnê do Achtung Baby, e receber pouca atenção. O fim do Pixies me entristeceu pacas. Era a mais européia das bandas americanas.
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Na terça feira dia 12 de outubro acordei e fui em busca de notícias do festival SWU e da repercussão do show do Pixies. Assisti pela TV e achei incrível. Kim Deal realmente estava com excelente humor. Apesar de Black Francis ter dado um sorriso entre o fim do show e o bis, era o Pixies ao vivo de sempre. Um desfile de hits. Maravilhoso!

Falar que Black Francis é um mau humorado ao vivo é coisa de quem realmente não entende de Pixies. Pior é relegar a banda apenas como “a grande inspiração de Kurt Cobain para compor “Smells Like Teen Spirit””. Pixies é muito, mas muito mais que isso.

Aliás são só duas coisas que escrevem sobre a banda: que influenciou Kurt Cobain e que é um dos maiores nomes do rock alternativo dos anos 1980. Só. É muita preguiça! Pelamor!!!

O estudante de antropologia Charles Thompson, que depois passou a ser conhecido pelo nome artístico Black Francis, chegou a morar em Porto Rico para estudar espanhol (intercâmbio), mas abandonou o curso para formar o Pixies com Joey Santiago, que era seu amigo de quarto na Universidade de Massachusetts.

Boston é a cidade da banda e Black sempre foi fã de ficção científica, ovnis, bíblia (principalmente o Velho Testamento) e outros assuntos não comuns. Ele também é fã de surf music, folk, punk rock e pós-punk. (fiquei feliz de saber que ele, como eu, prefere PIL a Sex Pistols)


Só que a influência da ficção científica e ovnis, ia muito além do texto. Black transportou isso para uma sonoridade baseada nesses assuntos, até por isso alguns timbres de guitarra, na base e em solos, são diferentes e fazem lembrar sons, ruídos e barulhinhos, digamos, futuristas (tipo filmes B de ficção).

Em março de 1987 a banda lançou um EP com 8 músicas chamado Come on Pilgrim. Esse EP era, na verdade, uma demo com 18 músicas, gravada e bancada pela própria banda.

Quase todo mundo escreve que Pixies foi formado no final dos anos 1980. Mentira. Foi formado em 1986 e lançou dois discos ainda nessa década (Surfer Rosa, 1988 e Doolittle, 1989), ou seja, metade de sua discografia. Pixies influenciou tudo o que veio depois, incluindo aí o Grunge e o Britpop, dois movimentos que são o retrato dos anos 1990.

A segunda metade dos anos 1980 foi esquisita, principalmente entre 1987 e 1990. O que tinha sido underground na primeira metade da década, nessa época se tornou mainstream ou sumiu do mapa; nessa época as college radios tiveram um papel importante na renovação musical. Entre as bandas que frequentavam essas rádios estavam Red Hot Chili Peppers, Husker Du, REM, Sonic Youth, Replacements.

Pixies surgiu no meio disso tudo, quando Husker Du já dava sinais de fim de linha, e quando essas college radios começavam a ganhar a atenção de quem gostava do diferente ou de quem estava querendo garimpar algo novo.

É difícil apontar apenas um fator diferencial na música do Pixies, mas dá para enumerar alguns deles: a mistura inusitada de surf music e pós-punk, a sonoridade e timbres dos instrumentos, os riffs, a reverberação de estúdio, os vazios, as dinâmicas, a sonoridade pós-punk do baixo, a bateria esquisita de David Lovering, a perfeita combinação das guitarras de Joey Santiago e Black Francis. Kim Deal também trouxe um diferencial fundamental, além de dar um novo status para a mulher no rock. 

Em 1987/88 não havia nada parecido com “Bone Machine”, “Broken Face”, “Gigantic”, “Were Is My Mind” e “Vamos”. Até então não existia uma dinâmica vocal parecida com o que Black e Kim faziam. Também não tinha essa mistura que Black fez com a língua espanhola. NME, Melody Maker, Spin, Sound, várias foram as revistas que consideraram Surfer Rosa o melhor disco de 1988.

O Pixies causou um grande impacto em todas as bandas que já existiam quando surgiu. Fez todas elas repensarem seus conceitos. Quebrou paradigmas e mostrou novos caminhos.


PS: Das 65 músicas oficialmente gravadas pelo Pixies, 63 são de autoria de Black Francis, e duas são covers. Das 63 músicas de Black Francis, apenas três são escritas em parceria com Kim Deal e outros ("Levitate Me", "Gigantic" e "Silver"). As covers são "Cecilia Ann" (The Surftones) e "Head On" (Jesus and Mary Chain).







8 de outubro de 2010

Série Anos 1990 SP: 7 - Imagens (1)

Não sei se em algum texto dessa série havia falado, mas durante uns quatro anos, de 1992 até 1996, em todo lugar que eu ia, levava minha câmera VHS. Gravava tudo: ensaios, shows, festas, churrascos, festivais, viagens, almoço de família.

Infelizmente alguma coisa se perdeu, e tinham gravações que eu fiz para os amigos e entregava a fita no final da gravação, sem fazer cópia pra mim. Gastão e Johnny ficaram com um bom material do Rip Monsters e outras bandas (e baladas). Esse material também já era. Aliás descuido meu foi perder dois shows incríveis: o primeiro aconteceu em frente ao Teatro Tuca (eu morava em frente ao Tuca). Foi o show de lançamento (acho) do disco solo de Edgard Scandurra, Amigos Invisíveis. Era 1989. Lembro que na banda dele a baterista era a Biba (ex-De Falla). Abriu para o Edgard a banda 3 Hombres. Eu tinha isso. O outro show que perdi foi do Killing Chainsaw no bar The Wall em Piracicaba. Um show de cair o queixo. Esqueci a fita lá e puf!, sumiu.

Mesmo com as perdas tenho muita coisa e tirei fotos de diversos frames desses videos. Tenho planos mirabolantes para esse material. Tentei segurar, mas a mão coçou e resolvi publicar. Tem muito mais e aos poucos postarei. Todas essas imagens são 100% exclusivas. Aliás, acredite se quiser, são imagens que não existem em lugar algum. A revista Noize (nº 37 set/2010) publicou duas dessas fotos minhas (Miranda e RDP no Aeroanta).


1 - Essa é a prova do crime. Nessa época, a camera VHS era a melhor forma de se fazer videos caseiros. Também existia a Hi8, mas era cara e não agradou ninguém. A primeira vez que vi uma câmera digital caseira foi com Bob (ex-Rodox) em 1996. Profissional em paraquedismo ele filmava saltos, e nessa época nem as fitas eram vendidas no Brasil.  



2 - 1994. Quando o Banguela surgiu e iniciou suas atividades, o QG ficava no estúdio Be Bop, no bairro de Pinheiros, ao lado da Av. Pedroso de Moraes e da livraria Fnac. Ficava perto da minha casa e da MTV. Passei a frequentar o estúdio quando o Raimundos entrou para gravar o 1º álbum. Quando eu estava de bobeira, sempre ia lá. Lembro quando o Little Quail e Miranda colocaram, acho que 200 pessoas no estúdio A para fazer coro em "1, 2, 3, 4". Eu filmei com a câmera de Gabriel (Fejão estava lá).
Nessa foto Miranda está mixando a coletânea A Vez do Brasil com Pit Bulls on Crack, Graforréia Xilarmônica, Rip Monsters e Little Quail.



3 - Uma folga. Jantar na cozinha do Be Bop. Miranda trabalhava pra caceta e ainda tinha que aguentar todo aquele povo chato que frequentava o estúdio (incluindo eu... jeje).



4 - Der Temple. Visão do palco. No fundo à direita ficavam os banheiros (atrás da parede prateada), à esquerda você ia para a pista de dança (Nirvana, Stooges, Pixies, Ramones, Jane's Addiction pra baixo). Bem a esquerda, e fora da foto, ficava o bar. Nessa época eu morava a poucos quarteirões do Der Temple. Vivia lá.



5 - 1993. Essa jam aconteceu depois de um show do Rip Monsters. Um monte de gente tocou, mas quem mais ficou foi Kuaker (Yo Ho Delic), Johnny Monster (Rip) e todo Viper. Jam clichê, clássica, com todo mundo doidão tocando 'Smoke on the Water", "Sex and Violence"... Lembro do show do Kangurus in Tilt bem na hora do jogo do São Paulo no campeonato mundial (Rai, Cafú, Telê e cia). Colocaram uma tv em cima do balcão do bar e todos, banda e público, ficavam assistindo o jogo. Foi engraçado. Teve a festa de casamento de João Gordo e Alê Briganti (ex-Pin Ups), a festa com Kurt Cobain e Courtney Love (essa eu não estava). Ah! E teve o show do Pavilhão 9. A banda ficou mascarada dentro de um carro estacionado na frente do Der Temple e só saiu dele na hora do show.



6 - Gastão Moreira e Yves Passarell tocando sei lá o quê. Teve uma outra vez memorável que foi o show do De Falla. Na mesma noite a banda tocou no Espaço Retrô e depois no Der Temple. Operação de guerra. Uma casa ficava perto da outra, e no final do show no Retrô amigos, banda e equipamentos se dividiram em vários carros e todos juntos fomos para o Der Temple, estacionamos, carregamos equipamento, montaram o palco e o show rolou. Muito bom.  Foi na época em que Edu K estava com aquele moicano de lã rosa colado na cabeça (perto da participação do De Falla no Hollywood Rock 1992).




7 - Público aguardando o início do show do Okotô no Garage (talvez 1994). O lugar era um galpão, que foi dividido no meio pelo palco que tinha uns 2 metros de altura. A parte da frente era ambiente único (esse da foto), que tinha a entrada e saída, o bar e os banheiros. Atrás do palco era o "camarim", mas que não tinha nada, era apenas o resto do galpão, um lugar aberto. Não havia sala ou divisórias, apenas duas ou três mesas de ferro (tipo boteco) e algumas cadeiras.



9 - Eu e Mogs no camarim do SESC Pompéia. Era 1992 e estava rolando um festival de metal organizado pela revista Dynamo. Nesse dia tocaram Rip Monsters e Volkana. Era um momento "a-rebelde-arte-abstrata-cabeça-filosófica-que-nada-significa", comigo jogando água no espelho (tem uma sequencia de fotos).

 


10 - 1993. Teatro Mars. Lançamento da coletânea A Vez do Brasil, da 89 FM. Cada banda tocava três músicas e era transmissão ao vivo na rádio. Tatola e Massari eram os apresentadores. Nessa foto Graforréia Xilarmônica.



11 - 1993. Piracicaba é minha terra natal. Há anos não vou lá, mas tenho muitos amigos na cidade, e costumava fugir de SP para passar finais de semana em Pira. Nessa foto o Happy Cow (Piracicaba) toca ao vivo no bar Hitchcock (Santa Bárbara D'Oeste). Esse bar era de César Maluf que tocava no Concreteness (ficava na garagem da casa dele). Piracicaba e Santa Bárbara são vizinhas, quase coladas.

 


12 - Nessa foto o Kleiderman toca ao vivo no Olympia num show promovido pela 89 FM. Também tocaram Rip Monsters, Inocentes, Ira! e mais um monte de banda. Não lembro o ano. 1994 ou 1995.....

 


13 - 1994. Little Quail ao vivo no Garage.



14 - Durante esses anos dos 1990 nunca vi um show do Little Quail em que a banda tocasse "1, 2, 3, 4" sozinha no palco. Sempre tinha centenas de pessoas fazendo coro. Aí está Zé Ovo e André Fonseca (Okotô) no Garage em 1994.


1 de outubro de 2010

O Mercado Fonográfico do Planeta Kapuf

Existe um planeta chamado Kapuf, que fica a 12 galáxias de distância daqui e lá seu sistema é bem parecido com o nosso, inclusive o mercado fonográfico. Porém nessa área Kapuf já avançou.

Lá, assim como aqui, houve muita briga por causa de downloads não pagos, trocas de arquivo, e também chegaram ao cúmulo de prender e culpar o próprio consumidor pela incapacidade das gravadoras em lidar com o assunto.

Mas desde que os principais empresários das grandes corporações e do mercado independente se reuniram por uma semana para tomarem decisões sobre o que fazer para ninguém ir à falência, tudo mudou para melhor. As medidas tomadas e idéias levantadas durante esses dias de reunião deram um novo ânimo para o mercado. Tudo ficou mais leve. Todo mundo ficou feliz. Todo mundo saiu ganhando, até mesmo quem não tem nada a ver com o mercado musical.

Como tudo na vida, houve um investimento inicial, para depois vir o lucro.

Primeiramente, antes do anúncio ser feito, todas as gravadoras e selos já prepararam alguns downloads. Jogada de marketing que abriu essas páginas gratuitas dois dias antes do anúncio oficial. Deu buchicho na imprensa, e depois vieram com a notícia.

O mais importante foi o compartilhamento de idéias, que trouxe a facilidade de se ter a mesma ferramenta para as diversas empresas. Nesses primeiros anos de contrato assinado entre elas, o mesmo dado de usuário era dividido por todas. Você fazia um único cadastro para liberar os downloads e todas tinham acesso a ele.

As gravadoras e selos investiram e renovaram em seus departamentos comerciais e de marketing, porque foi essa parceria entre empresas que possibilitou o download gratuito. Grosso modo, se você, por exemplo, for fazer um download de um álbum do U2, é obrigado a entrar em uma página comercial, ver logomarcas e propagandas para depois baixar o arquivo. 

Aos poucos outras idéias comerciais e de marketing foram alimentando essa parceria entre empresas do mercado fonográfico com empresas das mais diversas. A parceria também permite que a empresa parceira hospede o download, além de fazer ações com os artistas.

Ao longo do tempo essa parceria foi se subdividindo. No início você assistia propagandas para acessar o artista, depois foi para cada álbum, e também para cada música. Para cada produto um parceiro comercial (ou não). Como é no futebol ou Fórmula 1, com os uniformes cheios de marcas.

Com os downloads oficiais as gravadoras e selos fazem promoções e sorteios com os IPs que mais acessam as páginas oficiais. São desde um simples encontro com um artista, um fim de semana com acompanhante em algum paraíso, um show especial, participação em gravação, discografias completas. Assim o consumidor passou a ser estimulado a baixar sempre no site oficial. Esse tipo de promoção e sorteio acabou migrando para os compradores de CD, o que ajudou no crescimento na compra do produto. E por falar em produto, com a liberação do download criou-se um novo e de grande sucesso: O Pen Drive do artista, que você compra, ele vem em uma caixa especial e nele há diversos arquivos além das músicas: fotos, wallpapers, biografia, mov com clipe e making of, brindes, desconto em shows. Quanto maior a memória do Pen Drive, maior a quantidade de arquivos adquiridos. Tornou-se item de colecionador.

As gravadoras também passaram a organizar constantemente shows e festivais com seu próprio casting. Esses eventos passaram a ser mais baratos, uma vez que as gravadoras não pagam cachê aos artistas, mas sim um percentual da vendas de ingresso. Assim o público comparece em maior número e aproveita outras áreas de entretenimento montadas nesses eventos. Essa maior atenção ao consumidor faz com que ele, apesar de fazer o download gratuito, consuma outros produtos como camisetas, pen drive, posteres, celulares, tudo produzido pelas próprias gravadoras. O consumidor também é estimulado, através de diversas ações e promoções, a ir aos shows. Todo mundo fica feliz. Todo mundo sai ganhando.

Com esse novo esquema de download gratuito as emissoras de televisão criaram novos prêmios: artista mais baixado do ano, música mais baixada do ano, rap mais baixado do ano, independente mais baixado do ano, Pen Drive mais vendido e, finalmente, download do ano.

Essa medida também aliviou o artista da obrigação de se lançar um álbum completo a cada ano. O lançamento pode ser apenas uma música, três músicas, cinco músicas, ou um álbum completo. O tempo de cada contrato com empresas parceiras variam por obra ou por tempo determinado. Dessa forma, não há mais a preocupação em ter que fazer ao menos dois hits por ano. Acabou aquela coisa que era comprar um álbum de quinze músicas por causa de apenas duas. 

Quando um artista lança músicas soltas, os fãs já sabem que vem coisa boa, porque se o artista lança solto, ou é porque vale muito a pena ou é algo especial – como uma gravação com participação especial. Então, depois de um período com todos os artistas lançando álbuns focados em, no máximo, quatro músicas, a qualidade nas composições de um álbum completo melhorou. Um ótimo lançamento tem vida mais longa.

Desde então as gravadoras espalharam máquinas de download por todas as cidades. Máquinas que você pluga seu tocador de mp3 e coloca a música que quiser. Elas estão em supermercados, shoppings, estádios de futebol, shows e festivais. Sempre em um display com patriconadores e parceiros comerciais.

Há uma tela, você coloca sua senha, coloca os artistas que quer em seu tocador e pronto. Da mesma forma que em um download normal, você vê logomarcas e propagandas. Em Kapuf, no verão, até mesmo na praia tomando sol você pode baixar músicas com os garotos e garotas que ficam andando pela areia com um lap top na mão e com camiseteas cheias de logomarcas. E você ainda pode baixar o download premiado!

Se você não consegue derrotar seu inimigo junte-se a ele, e foi o que os empresários do mercado fonográfico de Kapuf fizeram. De bandidos passaram a ser mocinhos. Todo mundo ficou feliz, todo mundo saiu ganhando. Os departamentos comerciais e de marketing se renovaram, tomaram uma injeção de ânimo com idéias e ações novas, artistas e empresários ficaram mais tranquilos, consumidor saiu ganhando e agora todos são aliados.