25 de junho de 2010

Angus Young (AC/DC) no Fúria Metal

AC/DC no Brasil ao vivo no Pacaembú. Assim que a notícia chegou os olhos esbugalharam e brilharam. Eu e Gastão como Beavis & Butthead: “queremos AC/DC no Fúria Metal!”. O dep. artístico: “Ok, vamos fazer de tudo”. Nós: “Queremos Angus!”

Os dias foram passando e nada de resposta. Não lembro bem, mas sei que ela veio em cima da hora, ou na tarde do dia do show ou um dia antes.

Alegria absoluta que dispensaria comentários, caso a entrevista fosse com a banda, mas a entrevista era uma exclusiva apenas com Angus Young! Era coisa de chamar o cardiologista – até mesmo escrevendo agora dá um frio na barriga só de lembrar.

Para Gastão AC/DC é banda nº1. No início dos anos 1980, quando comecei a escutar punk rock, duas bandas que eu adorava não eram da cena punk: AC/DC e Van Halen. Era meu segredo de estado.

A entrevista ficou marcada para o dia seguinte ao show e seria feita no hotel pouco antes da banda ir embora. Assistir ao show do AC/DC sabendo que você vai se encontrar com Angus Young no dia seguinte é de fato um momento mais que especial. E se mesmo para um artista de médio porte o Gastão fazia a melhor pauta do mundo, imagine então para Angus Young.

O show foi incrível, Brian Johnson calou a boca de muita gente que falava que ele já podia se aposentar. A voz estava nota 10 e ele ainda andava de um lado para o outro. Angus então. Assisti ao show na arquibancada coberta ao lado do palco com binóculo na mão.
No dia seguinte fomos para a entrevista no hotel que ficava na Rua Augusta (ou Frei Caneca?), felizes por ter visto um ótimo show e ansiosos pelo que vinha. Vixi!

Um monte de motos da polícia estava estacionada lado a lado em frente ao hotel, eram as motos da Rocam que fizeram a escolta da banda durante o tempo em que ficou em São Paulo. Logo na entrada, quando descemos da van, veio um guarda falar com Gastão, disse ser fã do Fúria Metal e pediu para que ele conseguisse um autógrafo com Angus (não lembro, mas acho que rolou). Inclusive resolvemos dedicar o programa a Rocam.

A equipe era eu, Gastão, o produtor artístico, o operador de câmera e o operador de áudio. Não sabíamos onde seria a entrevista e quando nos encontramos com o assessor da banda, ele nos levou para uma sala do hotel, dessas de ambiente com mesa de reunião e mais algumas poltronas em volta de uma mesa de centro. O assessor disse que Angus estava pronto e assim que o set estivesse montado ele o buscaria.

Resolvi fazer nas poltronas e então colocamos duas lado a lado e afastamos o resto dos móveis. Tudo pronto dei o ok para Angus descer para a entrevista. Momentos de ansiedade absoluta até sua chegada na sala. De tênis, meia, calça jeans, camiseta de algodão, casaco jeans e maço de cigarros na mão, Angus entrou na sala e cumprimentou a todos da equipe. Simpatia absoluta. Mostrei-lhe a poltrona em que sentaria, Betinho (o operador de áudio) se aproximou e colocou o microfone lapela em Angus (Gastão já estava com o dele). A recomendação era de não ser nada demorado, já que iriam pegar avião na sequência.

Foi tudo fantástico. Angus muito calmo, foi simpático o tempo inteiro, tratou todos de igual para igual, respondeu tudo. O engraçado era que a poltrona tinha o encosto muito para trás e quando Angus se encostava seus pés ficavam no ar por não alcançarem o chão, de tão pequeno que ele é.

Ao final, todos nós pedimos autógrafo. Já escrevi aqui que nunca fui de pegar autógrafos em todos os anos que fui diretor do Fúria, mas abri três exceções: Ramones, Buzzcocks e Angus Young. Eu poderia ter 500 autógrafos e é isso que faz esses três que tenho ser muito especiais.

Levei minha cópia em CD do ‘Let There Be Rock’ e no momento oportuno, logo após a entrevista, colei em Angus e pedi para que ele assinasse. Angus perguntou meu nome: “Paulo, Paul + o”. Em seguida Betinho pediu para que eu ajudasse a enrolar um dos cabos de áudio e me afastei dois passos de Angus para pegar o cabo.

Nesse momento eu senti alguém cutucando minhas costas e me chamando pelo nome: “Paolo”. Olhei pra trás, era Angus querendo me entregar o CD e a caneta. Agradeci quase tendo um infarto. Assim como entrou, Angus Young saiu cumprimentando a todos. Me despedi agradecendo pela entrevista e desejando boa viagem. Depois disso eu e Gastão estávamos andando em nuvens. Tudo deu certo. Desejo realizado e ainda por cima sendo bem tratado por um dos ídolos da adolescência.


Eu bem que pedi e implorei para o cara da segurança que pegava o bilhete para não rasgar o meu, mas ele não só não ligou como nem olhou na cara... pelo menos ficou uma parte...




PS: Ozzy Osbourne acabou de lançar biografia e em outubro/2007 tem o post Ozzy Osbourne no Fúria Metal






18 de junho de 2010

Série O Resgate da Memória 15: Retrospectiva 1983

Como faço nas transcrições das matérias antigas, não mudo uma vírgula e não corrijo erros. Transcrição fiel. Essa matéria saiu na Revista Roll de julho de 1986. O texto é ruim, tem informações erradas e piada de mau gosto, mas ele é típico da época.


Retrospectiva 1983
Por Rogério Durst

Rolava o longínquo ano de 1983 e o engatinhante rock brasileiro encontrava guarita em pouco lugares, entre os quais o histórico Circo Voador mudado do Arpoador pra Lapa. O momento era muito mais pro rock carioca, de cabeça fresca e acordes fáceis, mas havia espaço pra paulistas, punks, brasilienses e outros exotismos. A ROLL, testemunha ocular da história do rock, estava lá e registrou. Abrimos nosso baú pra vocês a seguir. Alguns caras sumiram e outros estão aí até hoje. Feliz ou infelizmente. Parece que foi ontem.


Em foto de Maurício Valadares podemos ver os Paralamas antes do sucesso e da descoberta da pobreza brasileira (um horror!). O jovem ao centro da foto já não gostava de usar seus óculos e dificilmente poderia saber que se transformaria em mentor intelectual do futuro (negro) do rock brasileiro. Em tempo: “Selvagem” (a música e não o disco) é excepcional.



Este grupo era então um pouco conhecido representante (junto com o Capital Inicial) do hoje conhecido e irado rock brasiliense. Seu nome? Legião Urbana. No baixo vemos um barbudo Renato Russo que, segundo conta a lenda, antes de cortar os pulsos, era muito bom com esse instrumento.



Não, você não está enganado, esse aí é o Barão Vermelho. Fantasiados de conjunto de rock eles deram esse show no Circo Voador em 1983 quando tudo ainda eram rosas no rock’n’roll tupi. Com o tempo eles abandonaram os modelitos de couro e acabaram até abandonando uns aos outros. Ganhamos nós que agora temos a poesia de Cazuza e a garra do Barão em doses maciças.



Celso Blues Boy, o mago da Fender, como se pode ver continua exatamente a mesma coisa. Nem a sua carreira mudou muito. E até hoje é marginal. O que é inconcebível se considerarmos que ele é um ótimo compositor e instrumentista e que sempre fez um trabalho fora da esquema tatibitati do rock carioca. Desejamos mais sorte no próximo triênio.



Ex-Blitz, ex-solo, Lobão fechou 83 com banda nova: Os Ronaldos. Um grupinho um tantinho bem comportado demais pro meu gosto (excessão pra deslumbrante Alice, ex-Pink Pank, ex-Absurdete, e na época Alice R.) junto do qual Lobão enveredou pelo desagradável caminho da niuêivi, com tecladinhos e tudo mais. A separação foi litigiosa.



Houve uma época em que eles eram Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens, com o tempo os abóboras dançaram. Talvez sejam o conjunto mais estável do rock (?) carioca e brasileiro, com uma imensa quantidade de hits e um trabalho de impressionante coerência. Infelizmente essa estabilidade não se estendeu ao simpático casal, na direita da foto, que acabou quebrando o pau (ou seria o pandeiro?).



Eles começaram a fazer o circuito mais underground do rock carioca, e até hoje, infelizmente, ainda não emplacaram. Entre desertores, mortos e casados, sobraram poucos miquinhos amestrados ao João Penca. Essa foto aí é ancestral e toda redação se pergunta: quem é esse cara no centro e na frente?



Essa senhora aí acreditava que um sobrenome ilustre era o bastante para fazer carreira de brilho no mundo do rock. Por causa disso fomos obrigados a engolir diversos sapos musicais perpetrados por ela e seu parceiro João Atanásio. Felizmente acabou não dando certo. Alguém ainda se lembra dela?



O conjunto chamava-se Blitz e era, sem dúvida possível, o maior sucesso do rock (?) em 1983. Aqui podemos vê-los todos juntos (em sua segunda formação, sem Lobão na bateria) prestes a adentrar aos portais dourados do Canecão, o que, na época, transformava qualquer um mortal num grande astro de nossa música popular.


É claro que 1983 foi muito mais que isso; tinha o funk do Brylho, Dusek em sua fase rock e Léo Jaime iniciando carreira solo. Tinha o Zé da Gaita, que não deu certo, Malu Viana, que deu mais errado ainda. Tinha Ritchie (alguém lembra?) e o hiper-fabricado Sempre Livre. O que rolou aí em cima foi só uma prise pra refrescar a memória de todos. Como já se falou muitas vezes: se esquece com muita facilidade nesse país. Só que em alguns casos essa é a melhor coisa a fazer.

15 de junho de 2010

Modest Mouse

Gosto muito de coisas esquisitas, principalmente aquelas que têm forte ligação com o pós-punk.

Quebrar as regras não é fácil. Derrubar paradigmas não é fácil. Ano passado mesmo tive essa incumbência numa emissora de televisão: fazer um programa que quebrasse os paradigmas, que trouxesse algo novo. No fim das contas, até quem me pediu isso e deu carta branca, ficou com medo e voltou atrás. Não é fácil querer se arriscar. Claro que para uma emissora de TV é mais difícil, por todos os compromissos comerciais. Mas em se tratando de música, é preciso se arriscar. Você tem que se arriscar. A não ser que você queira ser como Creed, Nickelback, Bush ou Silverchair, que já de cara usa uma fórmula de sucesso com composições caretas e sem personalidade, para ir direto ao comercial melado e sem tempero.

Não basta também apenas querer soar diferente. Isso geralmente acontece naturalmente, é uma coisa que vem já com a pessoa, pela forma como vive, o que escuta, o que lê, onde mora, enfim. E se você consegue transmitir às pessoas através da música que você é diferente, que pensa diferente, então você pode se dar bem.

Dos anos 1990 brasileiro posso dar como exemplo três bandas: Raimundos, Chico Sience & Nação Zumbi e Planet Hemp. São bandas com sonoridade diferentes. Dá pra sentir no primeiro acorde que a mistura sonora é uma coisa natural para todas elas. O forró e o discurso safado era normal para o Raimundos, assim como o Maracatu para o CSNZ e a maconha com rap e samba do Planet Hemp. Dá pra saber no primeiro acorde se a banda ou o artista solo está sendo natural ou forçado. Ao contrário dessas bandas citadas, hoje no Brasil o que não falta é artista forçando a barra.

Lembro em 1988, quando fui a casa onde moravam Skowa e Carlos Eduardo Miranda, bem na época em que Miranda tinha acabado de produzir a coletânea ‘Sanguinho Novo’. Ele me mostrou um vinil com uma moça linda na capa e com os seios de fora. Disse que era uma banda de respeito e que merecia atenção. Era o ‘Surfer Rosa’ do Pixies. Um ano depois, minha irmã Mila voltou de uma viagem à Londres com um fita cassete do álbum Doolittle e a partir dali nunca mais larguei o Pixies. Pra quem já gostava de Hurker Du, não era tão estranho o Pixies. Aliás pra quem já gostava de pós-punk e coisas esquisitas como XTC, Stranglers, PIL e Tones on Tail, Pixies foi só alegria. Mesmo dentro da cena alternativa o Pixies soava diferente.

Mas toda essa história de música esquisita é apenas para falar de Modest Mouse, que surgiu profissionalmente em 1996 para salvar-nos das garras entediantes de Oasis, Korn e Marilyn Manson (pelo menos pra mim).

Modest Mouse faz parte daquele hall de bandas que precisaram lançar dois álbuns (ou mais) para chamar a atenção. A tal quebra de paradigma e a sonoridade esquisita fazem com que isso aconteça. O Metallica só foi estourar com o ‘Black Album’ e Red Hot Chili Peppers com o ‘Blood Sugar...’. Coincidentemente as duas bandas só foram se tornar realmente grandes quando lançaram o 5º álbum, ambos de 1991.

Com Modest Mouse aconteceu a mesma coisa. A banda foi formada em 1993 e em 1994 gravou o 1º álbum ‘Sad Sappy Sucker’. Porém ele só foi lançado em 2001. Oficialmente o primeiro lançamento é ‘This is a Long...’, de 1996. Mas MM só foi mesmo chamar a atenção nos EUA e Europa em 2000 com o maravilhoso The Moon & Antarctica (relançado em abril 2010 numa edição especial de aniversário de 10 anos). Este foi o 4º lançamento, mas o 5º gravado.

O núcleo da banda é formado por Isaac Brock (voz, guitarra, banjo e composições), Jeremiah Gree (bateria e percussão) e Eric Judy (baixo). Junto com eles desde 2004 estão Joe Plummer (bateria e percussão) e Tom Peloso (guitarra, baixo e banjo). Mas é normal ver um entra e sai na formação.

O ex-guitarrista do Smiths, o grande Johnny Marr, estava com a banda até final do ano passado. Ele entrou para a banda na época da gravação do ‘We Were Dead...’ de 2007 e saiu para tocar no The Cribs. Mas saiu sem oficializar a saída, assim como acontece com outros.

O doidão mesmo (no bom sentido) é Isaac Brock, que tem uma personalidade forte, não tem muita paciência para lidar com os bastidores da música, dificilmente dá entrevistas, não é difícil vê-lo de mau humor (com os jornalistas), odeia a comparação com o Pixies, já foi acusado de estupro (acusação falsa já comprovada), tem placa de metal na cabeça, já teve a mandíbula quebrada, foi acusado de tentativa de homicídio (num caso confuso, por dirigir bêbado, mas claramente um engano), ficou preso por 10 dias, e escreve boas letras de humor negro.

Não é só o som do MM que chama a atenção, mas os textos e títulos que Isaac dá aos álbuns e músicas: ‘This is a Long Drive For Someone With Nothing to Think About’ e ‘Gods News For People Who Love Bad News’ são exemplos. Os timbres das guitarras, as afinações, seu modo de cantar, os timbres e linhas de baixo e bateria, o banjo como instrumento constante, tudo isso diferencia o Modest Mouse de todas as outras bandas, assim como Pixies em sua época. Não há pose de alternativo cool. É o que eu já escrevi aqui no blog: o cara gosta do que faz, entende de rock, gosta de ler e tem conhecimento. Essas coisas acabam refletindo numa música de personalidade.

O lançamento mais recente ‘We Were Dead Before the Ship Even Sank’, de 2007, chegou ao topo da Billboard. No final do ano passado foi lançado ‘No One’s First and You’re Next’ que é uma compilação de 8 músicas lançadas ao longo de 2009 como singles.

Se você ainda não conhece Modest Mouse pode ouvir qualquer coisa, mas adianto que há uma evolução em cada álbum. Mesmo sendo esquisita a sonoridade da banda foi ficando mais, digamos, acessível a cada lançamento. O The Moon & Antarctica tem longas partes instrumentais porque foi durante as gravações que Isaac quebrou sua mandíbula.

Aqui percebo que são pouquíssimas pessoas que conhecem Modest Mouse. Apesar de cultuada por diversos artistas de respeito como Trent Reznor, Bob Mould e Yo La Tengo.
Não entendo o motivo pelo qual a banda não “vingou” aqui no Brasil. Já a indiquei para amigos empresários (para trazer ela pra cá) e achei no google notícia que a banda pode vir pra cá em julho. Boatos.

A parte visual também é de suma importância para a banda e é perfeitamente compatível ao som que faz. As capas dos álbuns e singles são ótimas. Vale ir ao You Tube pra ver a todos os clipes. Um mais incrível que o outro. Eles me fazem lembrar as esquisitices que o Cure costumava fazer. Infelizmente a incorporação dos clipes é proibida e o que postei aqui são apresentações em programas de TVs que valem a pena ver.











Documentário da banda realizado em 1997 (parte 1 de 5)

8 de junho de 2010

Rock é rock o resto é resto

Sou um roqueiro convicto. Daqueles que largaram o time de botão pelos encartes, discos, fitas e revistas. Se você pegar todos os gêneros musicais verá que de todos eles o rock é o mais criativo e eclético em suas variações.

Só para clarear: jazz, ska/reggae, rap, R&B, soul, country, blues e eletrônico. Não vou aqui falar em gêneros brasileiros (a MPB também é riquíssima), mas me ater a esses gêneros que estão inseridos na cultura pop.

Não que eu não goste desses outros gêneros, mas com eles não é preciso ir muito a fundo. É só imaginar uma floresta, o rock é toda a Amazônia e o resto é um horto florestal. Não, não estou sendo radical. Todos os gêneros tem seus sub-gêneros e esses sub-gêneros tem seus sub-gêneros, mas não são tão diferentes entre eles, como acontece com o rock.

Dá para falar que o Metallica é parecido com Go-Go’s? Que Led Zeppelin é irmão de New Order? Ou que Beatles e Iron Maiden tem o mesmo DNA? Para um leigo parece que a ligação entre essas bandas é impossível, mas é tudo rock.

Agora perceba esses exemplos: B.B. King, John Lee Hooker, Janis Joplin e Blues Traveler; Chet Baker, Billie Hollyday, Yellowjackets, Chick Corea; Afrika Bambaataa, Beastie Boys, Public Enemy, Cypress Hill; Bob Marley, Desmond Dekker, UB40, Shabba Hanks. Peguei exemplos bastante diferentes entre si, mas mesmo assim um leigo ao escutar esses artistas irá perceber muito mais fácil o quanto eles são parecidos. Isso é fato.

No jazz existem as variações, pode ser um trio de bateria, piano e baixo de pau, pode ser uma super banda com teclados e percussão ou pode ser apenas um duo de piano e voz. Não importa. Na hora do improviso e das notas mais, digamos, complicadas, é tudo igual. Na hora das pentatônicas, dissonantes ou qualquer outra firula, a forma como soa é praticamente igual.

No jazz gosto das big bands. Glenn Miller, Duke Ellington. Tenho tudo do Squirrel Nut Zippers. Adoro também Frank Sinatra, principalmente dos anos 1960 pra trás. Mas a variação que existe em torno de tudo isso é pequena.

Lembro de um Free Jazz que assisti em 1988 – quando ainda só vinham artistas de jazz, que fiquei de boca aberta com a apresentação de Oscar Castro Neves que misturou de forma magnífica o jazz, a bossa nova, a MPB e o improviso. Merecidamente foi aplaudido de pé por um bom tempo. Na mesma noite teve a apresentação da band The Lounge Lizards, liderada por John Lurie, que tinha acabado de fazer o filme ‘Down By Law’, e naquela época era cool cultuá-lo, mas a banda era muito chinfrim, e ele ficava andando de um lado para o outro do palco e de vez em quando parava no microfone para assoprar seu saxofone. Mas manja Jô Soares tocando trompete? Era o mesmo nível. Eu simplesmente me levantei e fui embora, algumas pessoas ainda tiveram a cara de pau de me vaiar.

Com o reggae também é difícil achar algo diferente, é difícil ir muito além do que já foi feito até início dos anos 1980. Não vejo sentido em escutar mais que Wailers, Bob Marley, Peter Tosh, alguma coisa de dub e pronto. Tem também algumas variações, mas nada muito incrível. Na verdade pra falar de reggae tem que falar primeiro de ska, porque o reggae é, na verdade, uma variação do ska e mesmo o ska é limitado. O reggae foi um achado dentro do ska. Aí tem o reggae com pop que dominou os anos 1980 com bandas como UB40, tem o dancehall, o 2Tone na virada dos 1970 para os 1980. As variações são poucas, e pouco acrescentam.

Nesses casos em que tudo é parecido o melhor mesmo é assumir essa falta de alternativas e ficar mesmo com os originais. Vi uma lista de variações do blues que só me fez rir com coisas do tipo piano blues, jazz blues, Chicago blues, eletrica blues, harmonica blues, jump, delta. Pra que tudo isso?

A variação é nítida ou não ao pensar em Slayer e Strokes, AC/DC e Blur, Bad Religion e Weezer, Black Sabbath e Green Day....

Peço desculpas aos amantes desses outros gêneros pelo rock ser tão mais criativo e cheio de alternativas, e também por essa verdade nua e crua. E melhor ainda é que o rock continua sendo marginalizado, principalmente, por essas pessoas amantes de blues, jazz, erudito... Isso pra mim é injveja. Afinal, querendo ou não, o rock é o mais conhecido, o mais adorado!!! O rock é rico e viaja de primeira classe! rsrs

2 de junho de 2010

Onde começa o emo?

Claro que não gosto de emocore. Ele é pobre. Ruim demais. Acompanho e conheço diversas dessas bandas que fazem sucesso. Há muita discordância quanto à origem desse estilo. Cada um tem sua tese. Quando fiz a 2ª temporada do programa ‘Que Rock é Esse?’ procurei, procurei, mas não há uma origem certa. Cada um fala uma coisa.
Porém ela é clara: Ramones.

Pelamordedeus! Não que Ramones seja emo, mas sendo a primeira em uma série de quesitos, entre eles está essa peculiaridade de falar de amor acompanhado de uma música barulhenta, e não necessariamente uma balada, apesar de Ramones ter várias maravilhosas.

Nunca se esqueça de que o rock é pontuado como AR/DR (Antes de Ramones e Depois de Ramones). No liquidificador da banda tinha Beatles, Kinks, Beach Boys, Stooges. Falar de amor não era problema, assim como não era problema falar de drogas.
Depois mais um monte de bandas punks gravaram músicas de amor: Buzzcocks, Damned, Stranglers, Generation X e outras tantas já nos anos 1970 faziam letras, riffs e acordes emocionais com peso. De certa forma isso tudo era paródia com as músicas de amor que rolavam no auge do flower power. Uma espécie de: “olha aqui, não escrevo bem e nem toco direito, mas também sei fazer uma canção de amor e ela é tão verdadeira quanto a sua.” Numa cena punk onde se pregava ‘no future’ (sem futuro), não havia motivos para falar de amor, certo?

A coisa toda foi evoluindo, vieram os anos 1980 que foram intensos e cheios de novidades, e foi quando o rock finalmente achou sua veia comercial de forma definitiva, tanto no Brasil quanto fora dele. Surgiu a MTV bem no auge da new wave e do início da era tecnopop. Era tudo ao contrário do punk, com todo mundo feliz, colorido da cabeça aos pés, tudo era festa e motivo pra dançar.

Essa coisa de rock pesado, guitarras distorcidas e da figura bad boy do punk estava em baixa, em segundo ou até terceiro plano. O punk e o hardcore nunca deixaram de existir, mas não eram mais a novidade.

Aí, na segunda metade dos anos 1980 veio outra peste chamada ‘poser’. Coisa horrorosa, mas que é de suma importância para o universo emo, pois aí todas as bandas que eram recheadas de bad boys tinham suas músicas de amor, e pior, eram baladas melosas com direito a interpretação em videoclipe. Mas fora as baladas, outras músicas posers pesadas também falavam de amor. Com a palavra Jon Bon Bovi: “Yes. Voxê êxxta cierto Paolo. All right.” Pois é.

Aí depois de uma década de soft rock no mainstream, os anos 1990 entra mais sem medo e sem vergonha. O grunge peidou na cara do poser e a influência punk veio à tona novamente. Mas o grunge não só resgatou o punk (Nirvana), mas também o metal (Soundgarden e Alice in Chains) e o folk e surf (Pearl Jam). Mas como quem reinou foi o Nirvana, então o punk voltou forte, mas também junto com Mudhoney, Melvins...

Antes disso tudo, ainda nos anos 1980, em paralelo a new wave e o tecnopop, acontecia uma cena também forte, mas no underground, e conhecida agora como ‘alternativa’. Tinha o Husker Du, REM, U2, Replacements, Fugazi, Sonic Youth.
O Husker Du é outra banda que outras pessoas dizem fazer parte das principais influências do emo, mas duvido que alguma dessas bandas emo conheça sequer duas músicas do HD. Mas é certo que a banda fez até mais que Ramones, trazendo para as baladas barulhentas acordes bastante emocionais. Isso era coisa de Bob Mould, fera em fazer baladas barulhentas. Mas falar eu Husker Du é emo é heresia. Além disso, tanto Mould quanto Grant Hart tinham mania de algumas vezes cantar chorosamente.

Depois vieram, nos anos 1990, outras bandas que se tornaram referências. Estou falando de At the Drive-In (longe de ser emo) e Sunny Day Real Estate.

Mas pra mim o que marcou muito a sonoridade dessa cena emo, principalmente a das primeiras bandas, foram Bad Religion e Offspring. Não que essas duas bandas sejam emo, mas a sonoridade das guitarras, o jeito de cantar e até a postura no palco acusam a forte influência.

O rock pesado e emocional na verdade sempre existiu, mas não havia denominação para esse tipo de música até chegarmos aos anos 2000 e o mercado fonográfico precisava de outra coisa que não fosse o britpop.

Me divirto com o emo assim como me divertia o poser. Ainda mais hoje que existem bandas que levam a sério essa coisa de emo.

O pior é que pelo visto nenhuma dessas bandas emos conhecem essas referências que citei: Husker Du, Buzzcocks, Generation X... talvez conheçam alguma coisinha de Ramones.

A maioria delas tem duas guitarras na formação, seus integrantes fazem uma pose rebelde incrível sem deixar o visual desmanchar, mas parecem ‘bandinhas de radinho de pilha’, se é que você me entende.

Série Coisa Fina 1: The Jam