18 de março de 2010

Jerry Harrison

No futebol costuma-se dizer que juiz bom é aquele que não aparece, ou seja, que faz uma arbitragem correta, discreta, sem erros e muitos alardes. Jerry Harrison, ex-guitarrista e tecladista do Talking Heads é um desses casos que faz coisas incríveis, tem super bom gosto, é ótimo músico e produtor, mas quase ninguém fala dele.

Desde que descobri Talking Heads, ainda no início dos 1980, a figura dele me intrigava, até porque nessa época havia uma cruel falta de informação e eu hora via foto do Talking Heads com ele e ora sem ele. E eu ficava encucado, afinal quem é esse cara que parece e desaparece. Até explico melhor a agonia: as revistas especializadas da época, tipo Roll, em um mês saída foto do TH como trio e em outro saía foto como quarteto, as vezes em uma mesma matéria aparecia as duas coisas. Isso me deixava louco, porque eu sempre fui muito fã das guitarras de Talking Heads. Só anos depois, com a internet já bem abastecida é que eu pude saber mais de Harrison. Até o Stop Making Sense o que eu tinha do TH era em fita cassete.

Jerry Harrison é americano e ainda na escola formou seu primeiro grupo chamado The Walkers. Em Harvard, onde foi estudar arquitetura, formou o Albatroz, isso em 1967. Em 1971 formou o The Modern Lovers, que durou até 1974 e gravou um disco/demo que só foi lançado em 1976.

Depois disso ele tocou em alguns projetos menores e voltou para Harvard para completar a faculdade, mas nessa mesma época, em 1976, ele foi chamado para tocar como apoio no Talking Heads num show em Boston. Nos ensaios e no show deu tudo tão certo que ele acabou efetivado pela banda, que tinha acabado de lançar o primeiro single.


O Talking Heads é conhecido pelo bom gosto na parte visual, na produção de seus discos, shows e videoclipes e, claro, nas composições. Sempre em volta de grandes nomes como Brian Eno e Adrian Belew, não poderia ser qualquer a se meter nesse círculo. As guitarras e teclados de Jerry são assim também, de bom gosto, discretas, bem colocadas, timbres refinados. Ele faz parte de um tipo de guitarrista que ainda tem figuras como Andy Summers (Police), Robert Fripp (King Crimson), Keith Richards (Stones) e Wilko Johnson (Dr. Feelgood), que trabalham o silêncio, cada um no seu estilo, colocam o necessário, sem fazer firulas.

Em 1981, numa pausa do Talking Heads, Jerry lançou seu 1º solo chamado The Red and The Black, que ninguém falou nada, mas que é um disco maravilhoso e mostra bem o que ele era no Talking Heads. É excelente do começo ao fim, mas que infelizmente ficou apagado por conta do projeto paralelo de David Byrne com Brian Eno e Catherine Wheel e também por causa do lançamento do Tom Tom Club. Nesse seu disco ele pegou os músicos de apoio do Remain in Light do TH, entre eles Adrian Belew.

Foi também a partir daí que ele começou uma carreira paralela de produtor. Nesse início produziu músicas para trilha sonora do filme Totalmente Selvagem (1986) do diretor Jonathan Demme, que havia dirigido o show do Talking Heads Stop Making Sense. Também nessa época Jerry produziu o terceiro disco do Violent Femmes.

Foi também a partir de 1986 que 0 TH inteiro começou a se envolver mais com seus projetos paralelos até que a banda se separou após Naked de 1988. Mas já conhecido e respeitado no meio musical, Jerry ainda lançou dois discos solos Casual Gods (1987) e Walk on Water (1990), mas passou a concentrar sua carreira em produção e eventualmente participando de gravações e composições. Em 1999 fundou o site garageband.com que dá apoio a cena independente.

Estão entre as bandas que Jerry Harrison produziu (entre álbuns, trilhas, músicas soltas, singles): Foo Fighters, Neurotic Outsiders, Violent Femmes, General Public, Fine Young Cannibals, Crash Test Dummies, Live, No Doubt.

Se você tiver oportunidade assista ao DVD de Stop Making Sense e verás não só Jerry Harrison, mas um Talking Heads no auge e fazendo um showzaço. Há também muita coisa boa no You Tube.













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