24 de fevereiro de 2010

Quando Tudo Mudou

Acredito ter sido entre 1988 e 1989 que definitivamente chegou a mudança de rumo no universo pop. Ali a música descobriu novos caminhos. Quando digo música pop não quero dizer só os mela cueca tipo Madonna, Leonel Richie... Quero dizer música jovem de modo geral: o rock, o metal, o tecnopop, rap, funk... (em 1986 essa mudança já tinha dado sinal de mudança se lembrarmos de Selvagem? do Paralamas e "Walk This Way" com Run D.M.C. e Aerosmith).

Aqui no Brasil, pra mim, um fato exemplifica bem essa mudança: muita gente da mídia especializada começou a questionar o som feito pelo Ratos de Porão e muitos punks começaram a chamar o RDP de traidor só pelo fato de ter incorporado uma sonoridade mais pesada e próxima ao thrash metal, além de ser amigo do Sepultura e usar camisetas de Slayer e Nuclear Assault. Há outros episódios e lançamentos que marcam essa mudança, mas lembro que essa discussão em torno da sonoridade do Ratos e da postura de João Gordo ficou bastante evidente por um bom tempo.

Também tem o Popsambalanço de Lulu Santos, As Quatro Estações da Legião e o incrível Psicoacústica do Ira! – que inclusive anunciava essa mudança. Mas antes desses discos serem lançados há um outro lançado ainda em 1987 que já mostrava outro rumo da música pop: Estação Primeira do Gueto. Disco que chegou já com influências de Red Hot Chili Peppers e Beastie Boys. O Gueto ainda lançou outro clássico, o E Agora Pra Dançar?, mas infelizmente não aconteceu – talvez vítima de seu vanguardismo, afinal, essa coisa de funk e rock juntos ainda era underground.


Até 1986 as divisões e sub-divisões eram claras: quem era punk só escutava punk rock, quem era banger só escutava metal, quem era new wave só escutava tecnopop, quem era skinhead só escutava oi! Tudo era segmentado. Eu, por exemplo, apesar de punk rocker, sempre gostei de AC/DC, Motorhead e Van Halen, mas não podia falar isso pra ninguém, era como um segredo de estado. Aqueles que abriam o jogo e assumiam que gostavam de outros gêneros sofriam com gozações. Por isso que considero a discussão em cima do som do RDP bastante significativa para esse assunto. Não era gozação, era séria por uma coisa tão idiota.

Nessa segunda metade dos 1980 uma penca de bandas que haviam nascido na onda pós-punk e new wave já haviam acabado. O Smiths não tinha mais, o Dead Kennedys e Clash também haviam acabado, o Madness, enfim, o cenário era de mudança, e mudança definitiva, não efêmera. Nesse período surgiram bandas como Pixies e Jane’s Addition, o Husker Du tinha mudado seu som, o REM se tornava cada vez mais conhecido, o U2 messiânico, Manchester e Seattle vendo nascimento de bandas.


Outro disco que graças ao marketing marcou essa mudança de comportamento foi o Vivid do Living Colour. Graças ao Mick Jagger todo mundo começou a falar dessa banda que eu sinceramente nunca vi nada nela (nessa época o Red Hot Chili Peppers já tinha 3 discos lançados, estava num vácuo por causa da morte de Hillel Slovak, mas ninguém falava dela).

Naturalmente o rock e seus gêneros começavam a se fundir cada vez mais, principalmente com o eletrônico e a black music. Daí em diante surgiram as mais diversas coisas como Happy Mondays, Mudhoney, Faith No More, Lenny Kravitz, Stone Roses, Nirvana (Bleach é de 1989) e outras que já citei aqui. E nessas bandas era normal ver um cabeludo que não era hippie ou banger, um cabelo colorido que não era new wave ou punk, uma banda de rock eletrônico com camisetas de Ramones ou Sex Pistols. Da mesma forma como ficou cada vez mais comum o músico dizer que suas influências eram Dead kennedys com Sly and Family Stone, Slayer com Exploited, João Gilberto com Kraftwerk, Neil Young com Sex Pistols, sem medo de assumir ser eclético. Outras bandas iam além citando filmes, livros, pintores.

Pra completar essa salada, foi nesse mesmo período que a chata world music começou a se tornar conhecida e o gangsta rap começou a ditar novos rumos no rap.


Muitas dessas bandas que ajudaram a mudar o cenário não chegaram a fazer grande sucesso nos 1980, como é o caso do Chili Peppers e as bandas grunges que já existiam, mas acabaram se tornando referências nos 1990 consolidando de vez essa mistura que acabou rendendo filhotes como o nu metal e eletro rock.
Ah! Adoro Glenn Miller...


























11 de fevereiro de 2010

Killing Chainsaw

Nasci em Piracicaba, cidade do interior paulista a 160 quilômetros de São Paulo. Morei lá apenas um ano, em 1985, voltei para Brasília em 1986 e vim morar definitivamente em SP em 1987, quando voltei a freqüentar Piracicaba...
Lá minha família tinha uma casa na rua João Sampaio. Era nessa mesma rua, uns 7 ou 8 quarteirões de distância, que a estupenda banda Killing Chainsaw ensaiava. Toda vez que eu ia de SP para Piracicaba de ônibus, eu descia no início da João Sampaio e eu ia andando pra casa mais ou menos uma caminhada de uns 12 quarteirões. Diversas vezes nessa caminhada eu passava pelo ensaio do Killing Chainsaw e, claro, fazia uma longa parada por lá. Se não me engano isso era 1989/90/91.

Assim como eu, o vocalista e guitarrista do Killing Chainsaw Rodrigo Guedes também morou em Brasília, mas não nos conhecíamos lá. Em 1985, quando eu estava em Piracicaba, fui vocalista de uma banda chamada Couro Cabeludo, bastante influenciada por Joy Division e Durutti Colunm, que depois passou a se chamar Último. No Couro Cabeludo não havia baixista, eram duas guitarras, mas no Último (que durou entre 1986 e 1988) havia o baixista Gerson, que depois foi tocar no... Killing Chainsaw. São muitas coincidências e ligações entre eu e o KC. Inclusive na casa onde ensaiava, outra banda de amigos também ensaiava e eles costumavam tocar “Anti Social” do Filhos de Mengele.

Bem, virei fã do Killing Chainsaw logo no primeiro instante que ouvi a banda, mesmo no ensaio com equipamento tosco dava pra ver que o som era poderoso. E era mesmo! Assisti a milhares de shows da banda em Piracicaba, inclusive no inesquecível bar The Wall (onde Couro Cabeludo fez trocentos shows) com o Gozo literalmente destruindo a guitarra. Aliás, shows do KC eu vi praticamente todos em SP e os dois do Juntatribo.

Nessa época tudo relacionado a cultura e arte no Brasil estava na lama por conta da política fajuta de Fernando Collor. Se as famosas bandas dos 1980 se arrastavam aos trancos e barrancos, imagine então as que surgiam! Não à toa começaram a cantar em inglês, já que não havia qualquer possibilidade de futuro no mercado brasileiro.

Eu não gostava de nenhuma dessas bandas, apenas de Killing Chainsaw. Não por todas essas coincidências: Piracicaba, Brasília, João Sampaio, Razera, amigos... mas porque de fato o Killing Chainsaw era diferente de todas as bandas dessa cena (e eram zilhares), seus shows eram divertidos e imprevisíveis, Gozo era um grande guitarrista. A química perfeita. Todos eram destaques, e ao dar uma geral na rede por conta desse texto, fiquei feliz de saber que a minha opinião não é única.

Não lembro bem quando a banda acabou, mas ela deixou dois discos, um lançado em 1992 e o Slim Fast Formula de 1994. E ainda para deleite dos fãs, a Midsummer Madness, de meu amigo Rodrigo Lariú, fez o grande favor de lançar a primeira demo da banda gravada em 1989 com o título ‘Early Demo (ns)’. 

Gosto de tudo, mas destaco o Slim Fast Formula, por ter sido lançado pela Roadrunner e ter chegado ao mercado internacional (lembro de ter ouvido falar que o disco tinha vendido tudo na França). É música pra escutar no volume máximo. Hoje não tenho notícias quentes, sei Rodrigo mora em Londrina e lá formou o Grenade, que é bom, mas não é o Killing Chainsaw, e li que os outros formaram uma banda chamada Plutonika, mas não sei detalhes dela, se é verdade ou quanto tempo durou, nada.

E aqui então fica a minha homenagem não só a essa banda que virou referência dessa, digamos, geração perdida do rock brasileiro, mas a toda a rapaziada do interior paulista que fazia parte da cena dessa época, a galera de Campinas, Limeira, Americana, Santa Bárbara d’Oeste e, óbvio, a maravilhosa Piracicaba.

Discografia Killing Chainsaw

Early Demos  + Texto


















(fui eu que editei esse material que faz parte de um especial do festival que passou na MTV):






2 de fevereiro de 2010

Monsters of Rock 1998

Em 1993 entrei para a MTV para ajudar na produção da Casa da Praia, primeiro projeto de verão da ex-emissora musical. No início de 1994 eu já estava dirigindo alguns programas como free lancer, cobrindo férias de quem já estava lá. Nesse mesmo ano recebi convite para ser efetivado e, claro, prontamente aceitei – tanto batalhei para entrar lá!!!

Um dos primeiros programas que “ganhei” para dirigir foi o Fúria Metal. Amei por dois motivos: eu era amigo de Gastão e sempre gostei de som pesado – sou do punk rock, mas sempre admirei o metal e tenho minhas bandas preferidas mesmo quando era um punk radical (AC/DC e Van Halen eram as principais, além de gostar muito do Peace of Mind do Maiden e algumas coisas do Kiss).
Ainda em 1994 aconteceu no estádio do Pacaembu (SP) a 1ª edição do Monsters of Rock. Nessa a MTV fez apenas flash durante a programação. Vi shows do palco, entre eles o do Kiss, mas aí é outro assunto. Não lembro ao certo quantas edições esse maravilhoso festival teve aqui no Brasil (3 ou 4), mas só sei que a última edição aconteceu em 1998 no campo de futebol ao lado do ginásio do Ibirapuera.

Neste sim a MTV negociou para gravar os shows. Além de mim, outro diretor foi escalado para me ajudar a dirigir os shows, mas logo pela manhã do sábado fiquei sabendo que ele não poderia ir por motivos de saúde. Não pensei duas vezes e disse aos meus chefes para deixar comigo. Mais tarde um outro diretor da MTV me ligou a pedido dos chefes para saber se eu queria ajuda e o dispensei também. Desculpa, mas dirigir show de metal era só comigo mesmo.

Algumas pessoas não acreditavam que eu conseguiria. O 1º show, que foi do Dorsal Atlântica, começou ao meio dia e o show do Slayer, o último do festival, terminou às três da manhã. Os seja, fiquei na Unidade Móvel de vídeo dirigindo shows de metal do meio dia às três da manhã. Fiquei mais precisamente 15 horas na UM e dirigi todos os shows daquela edição... Só me arrependi de não entrar em contato com o Guiness Book... jeje.

O triste é que esse dia foi o último dia de trabalho de Gastão que foi injustamente embora da MTV e eu sequer recebi um parabéns da direção da MTV. Aliás depois ninguém veio falar comigo, saber como foi, como eu agüentei, se estava tudo bem, se ouve problemas. Nada, absolutamente nada. Mas isso já era esperado e não me chateei. As únicas pausas que eu tinha eram os 15 minutos de intervalo entre os shows, quando eu podia fumar um cigarro, fazer um xixi ou comer um sanduíche de presunto e queijo (parei de fumar em 18 de maio de 2007. Um alívio!).

Não ouve nenhum tipo de incidente. Deu tudo certo! Só o Dave Mustaine do Megadeth pediu para que a grua não ficasse na frente dele senão ele iria cuspir e chutar a câmera. No início eu respeitei, mas depois com o show pegando fogo ignorei o pedido dele e acabei fazendo alguns “razantes” da grua em frente a ele que acabou não fazendo nada. Tirando o Savatage e o Dream Teather, bandas que nunca fui fã, o resto eu me arrepiei. Foi demais.

Meu maior presente em relação a esse trabalho veio tempos depois: o Manowar gostou tanto do show que resolveu lançá-lo em DVD. Se não me engano foi em 2003 que a banda lançou Fire and Blood: Hell on Earth, Pt. 2/Blood in Brazil. Quando isso aconteceu eu já estava fora da MTV e ninguém de lá me avisou do lançamento, só fiquei sabendo pela imprensa. Nunca vi o DVD, será que meu nome está nos créditos? (pergunto isso, pois nos clipes tirados do Acústico MTV da Legião não colocaram meu nome, apesar de eu ter feito a edição que saiu em VHS e DVD – texto no arquivo abril 2007).

Uma pena não ter tido mais nenhuma edição do Monsters aqui no Brasil. Uma pena não existir mais nenhum programa de metal na MTV. Aproveito para deixar aqui um abraço especial ao pessoal do Korzus.

Monsters of Rock Brasil 1998:
Dorsal Atlântica
Korzus
Glenn Hughes
Savatage
Saxon
Manowar
Dream Theater
Megadeth
Slayer