5 de julho de 2009

AVE LÚCIFER


Perturbado e comovido. Assim posso definir o que sinto agora, depois de sair do cinema e ter assistido “Lóki”, o documentário sobre a vida de Arnaldo Baptista.


Primeiro vale dizer que eu não sou fã incondicional dos Mutantes, não cansei de ouvir Tecnicolor, tampouco sabia a dimensão que Arnaldo alcançava. Na verdade me interessei demais pela obra dos Mutantes após ter ganhado de presente (do meu irmão músico Yves Passarell) o DVD deles gravado em Londres no ano de 2006.


O longo documentário mostra a vida comum (e aparentemente regrada) dele ainda jovem ao lado do irmão Sérgio, sua iniciação na música tocando baixo elétrico, a formação dos Mutantes e, principalmente, os detalhes de toda uma conturbada trajetória pessoal nas últimas quatro décadas. Tudo ricamente permeado por imagens sublimes e com depoimentos das pessoas -famosas e anônimas - que conviveram com ele.


Eu imaginava ser muito difícil falar de Arnaldo sem realçar sua genialidade, sua influência nos rumos da música brasileira e internacional, sem falar do estrago que lhe causou o LSD e, obviamente, sem dissecar o fenômeno Mutantes. Mas o que me deixou ‘de cara’ mesmo foi ver claramente o que a Rita Lee significou para esse sujeito. Desde que ele a conheceu, sua alma foi tomada por um amor tão grande, tão intenso e que num momento seguinte, subitamente, se tornou um amor tão dolorido, tão sofrido.


Rita Lee foi a primeira mulher da vida de Arnaldo. E ela era linda mesmo quando jovem. É nítido perceber como nos primeiros anos de banda eles tiveram os mais felizes momentos que a vida pode proporcionar a alguém. Ao lado de Sérgio, o trio se esbaldava nos festivais de música tocando com os (ainda) desconhecidos Gilberto Gil, Novos Baianos entre outros, assim como - sem dó e sem esforço - chocavam os tradicionalistas com aquela proposta de música e atitude.


Mas, quando tudo parecia um sonho, vieram os anos 70. E lá os Mutantes (com Arnaldo já tendo passado para os teclados, Dinho na bateria e Liminha assumindo o baixo) entraram de cabeça na perdição psicodélica que invadia o mundo. Entupiram-se até não mais poder de ácidos e assim deram início a um processo de experimentação tão intensa que a Rita Lee não suportou e tirou seu time de campo. Era o começo do fim. Arnaldo por um tempo até fingiu ter assimilado o golpe, mas a dependência e a perda daquele amor destruíram sua carreira. Na seqüência vieram as internações, um casamento frustrado e o nascimento de seu único filho, a tentativa de suicídio, o ostracismo, para finalmente ele ser salvo e recuperado (sic) por Lucinha, sua mulher e companheira até hoje.


Ainda bem que a história recente se encarregou de devolver um pouco de sabor na vida de Arnaldo. O reencontro triunfal dos Mutantes parece ter servido de alento a esse homem frágil que ele se tornou. O reconhecimento dos amigos, seus testemunhos emocionados hão de levá-lo adiante e confortá-lo.


Lamento somente todos nós (inclusive o protagonista) termos sido privados da palavra sincera e verdadeira daquela mulher que mudou o destino da vida desse artista. É até compreensível ela não ter participado do recente ‘revival’ dos Mutantes, mas não aparecer no documentário pegou mal.


Rita Lee: Sacanagem!!! Eu quero que você se Top Top Top.

Um comentário:

Anagrama disse...

Engraçado lastimar a ausência da Rita no documentário e sequer mencionar a RECUSA do irmão mais velho Claudio Cesar Dias Baptista, e do filho Daniel em falar sobre Arnaldo.
Eu pessoalmente, acredito que ambos teriam bastante a acrescentar, mais que Rita Lee, inclusive.
Eu sou fã incondicional de Mutantes.