25 de julho de 2009

Série O Resgate da Memória: 10 - Raul Seixas

RAUL SEIXAS - "O ROCK´N´ROLL MORREU EM 59"
Revista Bizz de janeiro de 1986

Recém-chegado de uma mini-turnê transamazônica, quando tocou até nos garimpos de Serra Pelada, O grão-vizir do rock brasileiro recebeu Luisa de Oliveira e Alídê Vogt para uma das mais reveladoras entrevistas de sua carreira. Temas como sua prisão no governo Geisel, seus contatos com John Lennon, a importância de se levantar a gola da camisa e de não abrir as pernas para as caixas registradoras. Sem mais delongas, portanto...

BIZZ - Como foram os shows na Amazônia?
Raul - Fantástico, os garimpeiros ficaram fascinados. Eu li todo o manifesto de Aleister Crowley ("Faze o que tu quiseres, será tudo da Lei...") e eles aplaudiram e sentiram cada palavra. Agora o pessoal que manda mesmo é uma bandidagem danada. Barra pesadíssima.


BIZZ - Você mantém grupo fixo?
Raul - Procuro sempre conservar o pessoal que toca comigo, mas existe também um critério que diferencia músicos de show e músicos de estúdio. Estes eu uso sempre os mesmos: Paulo Cezar Barros, Ivan Mamão, do Azimuth... É gente acostumada a plugar, ir até a mesa de mixagem, fazem o trabalho deles em tranqüilidade e ganham por hora. Músico de show não, vive a aventura de cair na estrada.

BIZZ - O Wagner Tiso já não tocou com você?
Raul - Tocou sim, em 73. Foi uma experiência estranha. Ele, o Fredera do Som Imaginário, só gente da bossa nova... e saía rock. De vez em quando ele dava um acorde errado para eu sair do tom. E eu ainda cantava em inglês! (risos)

BIZZ - Quando você começou a ouvir rock?
Raul - Eu tinha nove anos e morava perto do consulado americano. Andava muito com o pessoal de lá e foram eles que me apresentaram Little Richard (o primeiro que fez minha cabeça), Howlin´ Wolf, Bo Diddley, Chuck Berry...

BIZZ - E quando você começou a tocar?
Raul - Eu já tocava profissionalmente aos dez anos, nos Relâmpagos do Rock... Eu tinha um amplificador que era um rádio de válvula do meu avô, adaptado pelo meu pai. O fio era curto e a gente tinha de ficar preso ao rádio. Isso em 54, 55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão, imitando o Little Richard, como eu via nos filmes que os americanos passavam. E sempre notava que as primeiras filas ficavam vazias. É que as mães pensavam que eu era epilético, com meu topete de brilhantina e camisa aberta com gola levantada. Tocamos assim até 66, quando fui gravar Raulzito e Seus Panteras. É um disco tão bonito... eu tinha voz de tenorino.


BIZZ - Como era o rock baiano na época?
Raul - Eram poucos os conjuntos... The Gentlemen, Os Ninos, onde tocava o Pepeu. Até dei uns cascudos nele por roubar meus acordes (risos). Mas o pessoal que vinha do Rio ouvia falar de um grupo baiano que mais entendia de rock´n´roll. Assim, acompanhamos todo mundo da Jovem Guarda (eles viajavam sozinhos): Ed Wilson, Roberto Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso. Mas gostava era dos Jet Blacks, que assim meio Ventures.

BIZZ - Os direitos autorais valem a pena?
Raul
- Valem sim. Eu gosto muito de gravar, mais do que de dar show. Estou mais para cientista - gosto de ficar brincando com os tubinhos de ensaio dentro do estúdio, ver explodir e dar aquela risada, que nem aquele cachorro (ri à la Mutley). Prefiro ver tudo explodir do que me expor.

BIZZ - Você não gosta do palco?
Raul - Eu curto o palco, na hora em que eu entro acaba tudo. Como disse John Lennon, "eu vomito toda vez que vou subir ao palco". Com 40 anos de idade ainda fico nervoso!

BIZZ - Como era tocar rock nos anos 50?
Raul - A bossa nova surgiu junto com o cha-cha-cha, e o rock´n´roll, junto com uma influência do calipso. Era chique tocar bossa nova e o cha-cha-cha até que era permitido. O rock era outra história: eu tinha que ir até o clube das empregadas para dançar com elas. A empregada lá de casa era minha fã. Chegou uma vez para a minha mãe e disse que tinha dançado comigo. Minha mãe quase morreu... E eu ia dançar também com o pessoal da TR, uma transportadora de lixo. Era a moçada que curtia rock. A bossa nova era com o pessoal do Teatro Vila Velha. Na sociedade não se falava em rock, era coisa de empregada.

BIZZ- Você era marginalizado por isso?
Raul - Se era. Eu freqüentava Iate e o Tênis, que eram os clubes mais metidos a besta de Salvador. Chegava de camisa vermelha, com gola levantada, e ficava encostado num canto tomando cuba-libre enquanto os outros dançavam. Mas não me importava, achava ótimo, importante, tipo "tô revolucionando tudo".

BIZZ - E o que você acha do rock agora?
Raul - Dizem que se faz rock´n´roll por aí. Pra mim, ele morreu em 59. Rock´n´roll era um comportamento, James Dean, todo momento histórico. Aí veio o caos quando as indústrias não podiam mais parar de fabricar discos. Quando entrou a década de 60, botaram Chubby Checker para cantar "Hava Naguila", inventaram o hully-gully e o twist, tudo invenção de fábrica. O movimento já tinha passado. Eu chamaria de rock o que existe agora. Do Led Zeppelin, por exemplo, eu gosto - é uma abertura para dizer algumas coisas. O pior é que no Brasil não se está dizendo nada. Acho que voltamos àquela época de Cely e Tony Campello, em que se fazia rock "papai e mamãe". Mas tem o Kid Vinil querendo fazer rock mais antigo... Ele entende muito de rock.



BIZZ - Você não gosta de ninguém?
Raul - Gosto do Camisa de Vênus. A arte é o espelho social de uma época. As letras acabam inseridas dentro do ponto de vista está do que está acontecendo, tipo Nova República (risos). A TV Globo esses controla esses conjuntinhos todos.

BIZZ- E você?
Raul - Eu continuo fazendo meu trabalho. Você vê o Metrô Linha 743 (N. da R.: último LP de Raul), ele foi completamente podado pelaa Som Livre. Aliás, aproveito esta entrevista para pedir a rescisão do meu contrato. Quando eu gravei o LP, fui para os EUA e gastei oito mil dólares do meu dinheiro para pesquisar filmes em preto e branco. A música do Metrô linha 743 é preta e branca. Ela é de pau e briga, não tem nada de colorida. Aí eles não tocaram, não divulgaram. Ficou por aí...

BIZZ - E você quer continuar dando murro nessa ponta de punhal?
Raul - Quero e quero, vale a pena. Caso contrário, não durmo à noite. Estamos vivendo uma época caótica mesmo, mas este caos é o prenúncio de uma nova era. De dez em dez anos, ou de quinze em quinze, as coisas mudam. Nada de Nova República, nada disso... As coisas mudam no planeta Terra. Como aconteceu nos anos 50 com a geração pós-guerra.

BIZZ - E sua "Sociedade Alternativa"?
Raul - Continua vigorando o tempo todo, não importa de que maneira. São alternativas concretas mesmo, que têm de se solidificar. Mas não mais com palavras, nem com porta-estandarte... Até já fui expulso do país por isso.

BIZZ - Chegaram para você e literalmente mandaram embora?
Raul - "Literalmente" é choque no saco. Fui torturado mesmo no governo Geisel. Me pegaram lá no aterro do Flamengo, me botaram uma carapuça e fiquei uns bons três dias num lugar desconhecido. Aí vieram três pessoas: um bonzinho, outro mais inteligente - que faziam as perguntas - e um mais "agreste". Depois me colocaram num aeroporto e fui para Greenwich Village (bairro nova-iorquino).



BIZZ - Foi lá que você conheceu John Lennon?
Raul - Eu já me correspondia com ele. Eu e o Paulo Coelho (letrista, parceiro de Raul). Ele estava com um movimento chamado New Utopia. Conversamos sobre tudo isto e sobre as grandes figuras mundo. Ele ficava me perguntando sobre História do Brasil, queria saber quem tinha sido Dom Pedro..

BIZZ - Vocês chegaram a armar alguma coisa?
Raul - Não, porque eu tive de ir para a Georgia. Assim que eu voltei, o pessoal do consulado brasileiro veio em casa, dizer descaradamente que "Gita" estava fazendo maior sucesso, que era para eu voltar, que eu era patrimônio nacional. Mas vi muita coisa por lá. Toquei com Jerry Lee Lewis em Memphis, numa boate... ele me acompanhando no piano e eu cantando "Long Tall Sally" (um dos clássicos de Little Richard). Aí os americanos batiam palmas, pediam outra música enquanto eu me dizia: "Que diabo estou fazendo aqui, um baiano cantando rock em Memphis, Tennessee" Fiquei doido.

BIZZ - Nas gravadoras a sacanagem sobrepuja a honestidade?
Raul
- Sim. Eu pulei de uma para outra porque nunca tive controle, nem com quem falar. A Som Livre é a pior de todas...

BIZZ - Então com quem você fala?
Raul - Com o público. Tenho um trabalho quase pronto para um disco novo.

BIZZ - Como vai ser?
Raul - Antes de tudo um disco raul-seixista. Depois, um barroco-rock. Vou utilizar alguns dos instrumentos que vocês viram aí, medievais e renascentistas, mas que se adaptam muito bem à cozinha baixo elétrico/bateria.

BIZZ - O "Rock das Aranhas" continua censurado?
Raul - Continua. Sabe o que eu tenho vontade de fazer? Um compacto com "Mamãe Eu Não Queria Servir o Exército" de um lado e "Rock das Aranhas" do outro. O problema é que um é da Som Livre e outro da CBS (canta "Mamãe Eu Não Queria..."). Sabe que é o maior sucesso quando eu toco isso? Todo mundo canta. E não toca no rádio.



BIZZ - Qual seria a banda dos seus sonhos? Vale quem está vivo e quem já morreu. ..
Raul - Os Beatles, não tem papo, eles foram incríveis mesmo. E a banda que acompanhava Elvis em 54/55: Scotty Moore, Bill Black e DJ. Fontana. Bateria, baixo de pau e guitarra... só isso e os caras faziam a festa, incrível!

BIZZ - Numa entrevista recente, você chamou os Paralamas de Parachoques do Fracasso. Por quê?
Raul - Foi uma brincadeira. Eu gosto deles sim, mas naquela linha que não é rock´n´roll. O que os conjuntos atuais precisam entender é que eles não têm de acompanhar o processo a que estão sendo induzidos inocentemente. Eles não têm uma estrutura sólida, estão aceitando ir com a corrente, totalmente disponíveis. Foi o que aconteceu com os hippies que, com o tempo, passaram até a comprar roupas "hippies" nas lojas do Sistema.

BIZZ - E o punk?
Raul - Também é moda, nada que atinja os alicerces do Sistema. O Sistema vai reverter e capitalizar em cima, se é que isso já não aconteceu...

BIZZ - E o que resiste a tudo isso, em termos de música?
Raul - É a verdade, é o coração. Aqueles escolhidos que não são afetados pela passagem do tempo. João Gilberto.

BIZZ - Quem mais no Brasil?
Raul - Vou dar um exemplo contrário. Vocês se lembram do Gilberto Gil na Tropicália? Agora aparece fazendo propaganda de jeans, com cabelo de rock, um cara que me esculhambava! Fui banido por eles, a turma da Bossa Nova, música pela música, arte pela arte... Depois o cara vira jamaicano e agora é rock?!?! Já o João Gilberto é um cara sincero. Arnaldo Baptista, Serginho Dias... os Mutantes todos, gosto deles.



BIZZ - Você sempre teve fama de irresponsável. É uma injustiça?
Raul - Eu sou teimoso e todos querem que eu seja certinho. Eu não, sou chato mesmo, "mosca na sopa" até hoje. Sou mais anárquico do que irresponsável, mas sei jogar. Se você mover uma peça errada, dança... é difícil.

BIZZ - E os OVNIS?
Raul - Em 73 eu comecei a falar nisso. Aí me encheram tanto que eu parei.

BIZZ - "Ouro de Tolo" aconteceu por causa deles, não?
Raul - A música rolou porque eu vi um disco voador. Foi um toque estranho mesmo, me senti impelido. Eu vomitei aquela música, não foi devagar não. Foi na Barra da Tijuca e durou uns dez minutos. E eu sou cético, agnóstico...

BIZZ - A humanidade evolui ou regride?
Raul - Isso é uma pergunta que você fez. Tem um livro meu de metafísica em que questiono a tese aristotélica, das cinco perguntas básicas: por que, quem, onde, como, qual... Não existem perguntas porque não existem respostas. Não existem respostas porque não existem perguntas. Eu não pergunto mais. As coisas são. Nós somos verbos. Somos e estamos, é a única coisa que a gente sabe. Conjecturar, quem há de? E é bonito assumir essa coisa de somente ser... Está todo mundo perguntando até hoje e ninguém tem resposta.

24 de julho de 2009

Não Compre, Baixe!

Principalmente na era do vinil era muito difícil você ter tudo que quisesse. Isso por vários motivos: disco era caro (como é o CD hoje) e muita coisa era importada. Mesmo um disco do U2 ou Dire Straits era difícil de sair simultaneamente. Tudo chegava aqui com certo atraso de meses.
Agora imagine que, se era difícil conseguir um U2, Dead Kennedys, Gang of Four e XTC, por exemplo, era praticamente impossível, ao ponto de ser quase inimaginável ter uma cópia ou mesmo gravação em fita cassete.

Agora impossível mesmo era ter acesso as coisas independentes aqui do Brasil.
Como conseguir um disco do Sérgio Sampaio como o ‘Eu Quero Colocar Meu Bloco na Rua’? Como conseguir algo do Jars Macalé, Bixo da Seda, Ave Sangria, Sexo Explícito? Inviável!
Aí surgiu o CD. Tanto nós consumidores quanto as gravadoras, tivemos que recomeçar do zero com nossa coleção. E nessa as gravadoras picaretas passaram a só reeditar o material que de fato vendia. Muita coisa ficou pra história, mofando e embolorando nas prateleiras de arquivo dessas maledetas gravadoras.

Vou dar um exemplo bem normal. Até o Capital Inicial fazer sucesso com o Acústico, to falando de 2001, ou seja, apenas 8 anos atrás, a antiga gravadora da banda (se não me engano Polygram) não havia reeditado os discos do Capital em CD. Só no segundo semestre de 2001 que, vendo o sucesso da banda, a gravadora lançou uma caixinha com todos os CDs.
E até hoje é assim: muita coisa está nas mãos das gravadoras e elas não querem relançar. Charles Gavin fez um trabalho maravilhoso de garimpagem em algumas gravadoras, principalmente Warner, mas elas frearam esse tipo de lançamento por falta de grana.

A EMI até hoje não relançou (e nem vai) o único disco de Finis Africae, Mercenárias, King Kongo e outras bandas do mesmo porte que essas. Como elas podem nos privar disso? No caso do Finis, até sei que o pessoal da banda tentou pegar a máster para relançar o disco em CD por conta própria, mas a EMI não liberou. De matar, né?
E o primeiro disco solo de Supla que foi produzido pelo João Barone (Paralamas)? Nunca iremos ver e ouvir isso.

Por tudo isso fico maravilhado com o trabalho de pessoas que, por amor a esse material esquecido, vem aos poucos postando isso em blogs de download. Não me venham falar em download ilegal, pois ilegal é nos privar do que gostamos. De dois anos pra cá tenho aumentado consideravelmente minha CDteca com coisas independentes dos anos 1960, 1970, 1980 e 1990. E até mesmo coisas que não são independentes, mas que, como disse, são esquecidas pelas maledetas gravadoras.

Como eu poderia conseguir uma cópia do disco de Gerson Conrad (Secos & Molhados) com Zezé Motta? Ou o ‘Paêbirú’ de Zé Ramalho & Lula Cortês? Ou o único lançamento de Liverpool? Enfim, esse papo de download ilegal é conversa para boi dormir. É conversa de quem não sabe enxergar o futuro. É conversa de quem não quer se esforçar no trabalho.

Esse trabalho de garimpagem que diversos blogs tem feito é merecedor de prêmios. Nosso presidente corrupto poderia conceder uma medalha de honra a todos eles. Ao mesmo tempo essas maledetas gravadoras deveriam se envergonhar do que fazem com esses registros históricos que, queira ou não, são de suma importância para nossa história cultural.
O Planet Hemp não fala “não compre, plante!”? Eu digo “não compre, baixe!”


23 de julho de 2009

Novo Blog

Estava eu hoje lendo meus e-mails e me veio a idéia de criar um blog para descarregar nele alguns e-mails que recebo e que são interessantes. Pois então criei o blog E-mails Recebidos que começou hoje.

http://emailscorrentes.blogspot.com

Ato Secreto (republicando)

Você já fez sua parte? Já ligou no senado e enviou e-mails para os incompetentes Senadores?
Não custa nada dar um copy paste nesses endereços.
A pressão faz a diferença.
Essa é a 3ª ou 4ª vez que publico esses e-mails e telefones e assim será ao menos uma vez por mês, para que possamos fazer o que está ao nosso alcance.
Por favor, reclame e mostre sua insatisfação. Publique esses dados onde puder:


Câmara dos Deputados
Disque Câmara - 0800619619
http://www2.camara.gov.br/http://www2.camara.gov.br/deputados

Senado Federal
Alô Senado – 0800612211

adelmir.santana@senador.gov.br, almeida.lima@senador.gov.br, mercadante@senador.gov.br, alvarodias@senador.gov.br, acmjr@senador.gov.br, antval@senador.gov.br, arthur.virgilio@senador.gov.br, augusto.botelho@senador.gov.br, cesarborges@senador.gov.br, cicero.lucena@senador.gov.br, cristovam@senador.gov.br, delcidio.amaral@senador.gov.br, demostenes.torres@senador.gov.br, eduardo.azeredo@senador.gov.br, eduardo.suplicy@senador.gov.br, efraim.morais@senador.gov.br, eliseuresende@senador.gov.br, ecafeteira@senador.gov.br, expedito.junior@senador.gov.br, fatima.cleide@senadora.gov.br, fernando.collor@senador.gov.br, flavioarns@senador.gov.br, flexaribeiro@senador.gov.br, francisco.dornelles@senador.gov.br, garibaldi.alves@senador.gov.br, geraldo.mesquita@senador.gov.br, gecamata@senador.gov.br, gilberto.goellner@senador.gov.br, gilvamborges@senador.gov.br, gim.argello@senador.gov.br, heraclito.fortes@senador.gov.br, ideli.salvatti@senadora.gov.br, inacioarruda@senador.gov.br, jarbas.vasconcelos@senador.gov.br, jayme.campos@senador.gov.br, jefferson.praia@senador.gov.br, joaodurval@senador.gov.br, joaopedro@senador.gov.br, joaoribeiro@senador.gov.br, jtenorio@senador.gov.br, j.v.claudino@senador.gov.br, jose.agripino@senador.gov.br, josenery@senador.gov.br, sarney@senador.gov.br, katia.abreu@senadora.gov.br, leomar@senador.gov.br, lobaofilho@senador.gov.br, lucia.vania@senadora.gov.br, magnomalta@senador.gov.br, maosanta@senador.gov.br, crivella@senador.gov.br, marco.maciel@senador.gov.br, marconi.perillo@senador.gov.br, maria.carmo@senadora.gov.br, rosalba.ciarlini@senadora.gov.br, romeu.tuma@senador.gov.br, romero.juca@senador.gov.br, webmaster.secs@senado.gov.br, renatoc@senador.gov.br, renan.calheiros@senador.gov.br, raimundocolombo@senador.gov.br, simon@senador.gov.br, paulopaim@senador.gov.br, paulo.duque@senador.gov.br, patricia@senadora.gov.br, papaleo@senador.gov.br, osmardias@senador.gov.br, neutodeconto@senador.gov.br, mozarildo@senador.gov.br, marisa.serrano@senadora.gov.br, mario.couto@senador.gov.br, marinasi@senado.gov.br, sergio.guerra@senador.gov.br, zambiasi@senador.gov.br, serys@senadora.gov.br, tasso.jereissati@senador.gov.br, tiao.viana@senador.gov.br, valdir.raupp@senador.gov.br, valterpereira@senador.gov.br, wellington.salgado@senador.gov.br

19 de julho de 2009

QUELLE NUIT FORMIDABLE!


Na gélida quarta-feira da semana passada, sem me dar nenhum detalhe maior, minha querida amiga Paulinha Paschoalotto me convidou para acompanhá-la num show no SESC Paulista, que reuniria o Edgard Scandurra com Fausto Fawcett. Imediatamente aceitei, primeiro porque palco onde sobe o Scandurra fatalmente tem boa música, mas o que me impulsionou mesmo foi a presença do convidado especial, que há tempos não ouvira falar.


Carioca prá lá de exxxperto, Fausto Fawcett, montou no final dos anos 80 um ousado projeto de música + performance, misturando com propriedade o rap e o rock, cantados em letras fortes e porno-futuristas, ou seja, uma loucura definida à época como “uma obra conceitual sobre uma Copacabana Blade Runner, onde os símbolos da brasilidade conviviam em promiscuamente com a avalanche pop e os avanços da mídia e da tecnologia”....Deu pra entender? Tomara que sim... Seu primeiro sucesso, Khatia Flávia, surgiu aí.


Mas como loucura pouca é bobagem, Fausto Fawcett (ao lado dos Robôs Efêmeros), lançou na seqüência os álbuns-livros-shows “O Império dos Sentidos", "Santa Clara Poltergeist" e "Básico Instinto", este último já no início dos anos 90. Naquele tempo, sua obsessão envolvia também uma ode às mulheres – vulgares e deliciosas – reveladas em corpo e alma nos shows através das loiras Regininha Poltergeist e Marinara. (Só para constar: Regininha virou atriz pornô hardcore e Marinara investigadora de polícia no Rio).


Lembro-me de ter ido a um show dele aqui em São Paulo. O sujeito trouxe uma banda de músicos conhecidos, rolava o som com um lance teatral doido demais e com o melhor: colocava as loiras dançando e se exibindo freneticamente. Acho que foi na saudosa Aeroanta e tinha um paralama no time - Bi Ribeiro ou João Barone. (Alguém pode me ajudar com essa informação?)


Passados mais de 15 anos, claro que eu sabia que não iria rolar um projeto similar agora no SESC, mas surpresa mesmo (aliada a um alto nível de desinformação) foi ter visto Edgard e Fausto cantando exclusivamente músicas francesas, em tributo a Serge Gainsbourg, artista que alavancou o pop francês por quase quatro décadas e que transitou pelo mundo das artes fazendo de tudo um pouco, pois, além de compositor ele também foi poeta, escritor, fotógrafo, cantor, pintor, pianista...Admito que não conhecia nada da obra de Gainsbourg (sorte que no mesmo espaço na Avenida Paulista há uma exposição paralela de sua obra geral), mas adorei o programa.


E há que se elogiar o SESC seja pelas instalações impecáveis (seu auditório é ideal para shows de médio porte; há um bar anexo com bebidas e comidinhas; os banheiros são limpos e há até área externa para fumantes), assim como pelos preços praticados (a exposição é free e os ingressos cobrados para o show foram módicos R$6 para estudantes). De quebra, o SESC disponibilizou um rico material impresso (de folder e catálogo) com detalhes sobre o artista em tela, o projeto musical e os convidados especiais presentes em todas as quartas-feiras deste mês de Julho.


A dica é ficar atento, pois no dia 22/07, Edgard e seus Le Provocateurs recebem Guilherme Arantes e o encerramento, dia 31/07, terá festa com discotecagem do DJ e produtor cultural Eduardo Beu.

15 de julho de 2009

A Moda e o Punk


Acho que era 1982 quando quis uma calça vermelha. Minha mãe ficou maluca e disse que não queria ver um filho vestido de palhaço na rua. Se não me engano queria a calça por causa de uma foto de Paul Simonon, ex-baixista do Clash. Não existiam calças vermelhas para vender. O que fiz foi tingir uma calça jeans normal com tinta vermelha.

Quando surgiu o movimento punk nos anos 1970, o mundo torceu o nariz. Dele nasceram o pós-punk e a new wave. O som mudou, mas a forma de se vestir não. O negócio era ser o mais louco possível. Usar muitas cores e sobreposições. Roupas rasgadas, buttons, alfinetes e todo tipo de apetrecho diferente. Chapéus de vários modelos, enfim.


Isso numa época em que bastava usar uma camiseta do Clash, Police ou AC/DC para já ser notado como diferente.

Mesmo já nos 1980 o punk continuou sendo mal visto por quem não gostava de cultura pop.

Lembro-me de um dia em 1985, Alex Podrão, grande amigo e vocalista do Detrito Federal, dizer: o símbolo da anarquia está se banalizando. De lá pra cá, tudo o que o punk inventou se banalizou, infelizmente.


No decorrer desses anos todos vimos duplas sertanejas usar calças jeans rasgadas, dançarinas do Tchan! usando piercing, pessoas pintando cabelo. Inclusive teve uma época em que você comprava uma calça e pedia para ser rasgada em lugares estratégicos. Isso até encarecia o produto. Veja só!

Pagodeiros passaram a também usar calças rasgadas e roupas coloridas. Buttons e acessórios nem se fale. Cheguei a ver Zezé Di Camargo com uma calça jeans toda rasgada e cheia de alfinetes.

Nos anos 1990, graças a maldição chamada Backstreet Boys, veio a moda da franjinha com gel e posta pra cima – coisa que até hoje usam e até hoje eu acho ridículo... hehe.


Logo depois “descobriram” que o cabelo poderia ser todo desarrumado, como era o cabelo de Johnny Rotten em 1977. Pegou e hoje o que mais se vê é motoboy com cabelo de Johnny Rotten. Não só motoboy, mas pagodeiro, sertanejo, clubber, mauricinho, jogador de futebol...

Agora a banalização chegou ao moicano. Você muda de canal e vê, na novela, no programa de auditório, na mesa redonda de futebol, noticiários... um monte de marmanjos usando moicano. Claro que de uma forma mais pop, mas não deixa de ser moicano. Wattie Buchan do Exploited hoje perde para Fábio, goleiro do Cruzeiro.


Ah! E tinha até poucos dias atrás uma propaganda de televisão que usava de trilha o refrão de “Should I Stay or Should I Go” do Clash. Até isso conseguiram banalizar.

A estética punk é infinitamente mais criativa que qualquer outra, e tudo isso mostra que até hoje, por mais que falem mal, o punk dita as regras. Seja na música ou no comportamento.

Viva o punk rock!

PS1: todas essas fotos hoje parecem normais, mas até o final dos 1980 esses visuais deixavam as pessoas horrorizadas.
PS2: a foto de estúdio do modelo posando é de um editorial de moda de 2008.

7 de julho de 2009

Michael Jackson

Lamentável o show de funeral. Ninguém merece. E Stevie Wonder ainda fala “esse é um momento em que não queria estar aqui”. Então porque estava?
Quantos ganharam com o velório show? Ingressos, apresentações, coral, discursos e até fã tirando foto com o ingresso do funeral na mão e rindo.
O ser humano é mesmo lamentável.

5 de julho de 2009

AVE LÚCIFER


Perturbado e comovido. Assim posso definir o que sinto agora, depois de sair do cinema e ter assistido “Lóki”, o documentário sobre a vida de Arnaldo Baptista.


Primeiro vale dizer que eu não sou fã incondicional dos Mutantes, não cansei de ouvir Tecnicolor, tampouco sabia a dimensão que Arnaldo alcançava. Na verdade me interessei demais pela obra dos Mutantes após ter ganhado de presente (do meu irmão músico Yves Passarell) o DVD deles gravado em Londres no ano de 2006.


O longo documentário mostra a vida comum (e aparentemente regrada) dele ainda jovem ao lado do irmão Sérgio, sua iniciação na música tocando baixo elétrico, a formação dos Mutantes e, principalmente, os detalhes de toda uma conturbada trajetória pessoal nas últimas quatro décadas. Tudo ricamente permeado por imagens sublimes e com depoimentos das pessoas -famosas e anônimas - que conviveram com ele.


Eu imaginava ser muito difícil falar de Arnaldo sem realçar sua genialidade, sua influência nos rumos da música brasileira e internacional, sem falar do estrago que lhe causou o LSD e, obviamente, sem dissecar o fenômeno Mutantes. Mas o que me deixou ‘de cara’ mesmo foi ver claramente o que a Rita Lee significou para esse sujeito. Desde que ele a conheceu, sua alma foi tomada por um amor tão grande, tão intenso e que num momento seguinte, subitamente, se tornou um amor tão dolorido, tão sofrido.


Rita Lee foi a primeira mulher da vida de Arnaldo. E ela era linda mesmo quando jovem. É nítido perceber como nos primeiros anos de banda eles tiveram os mais felizes momentos que a vida pode proporcionar a alguém. Ao lado de Sérgio, o trio se esbaldava nos festivais de música tocando com os (ainda) desconhecidos Gilberto Gil, Novos Baianos entre outros, assim como - sem dó e sem esforço - chocavam os tradicionalistas com aquela proposta de música e atitude.


Mas, quando tudo parecia um sonho, vieram os anos 70. E lá os Mutantes (com Arnaldo já tendo passado para os teclados, Dinho na bateria e Liminha assumindo o baixo) entraram de cabeça na perdição psicodélica que invadia o mundo. Entupiram-se até não mais poder de ácidos e assim deram início a um processo de experimentação tão intensa que a Rita Lee não suportou e tirou seu time de campo. Era o começo do fim. Arnaldo por um tempo até fingiu ter assimilado o golpe, mas a dependência e a perda daquele amor destruíram sua carreira. Na seqüência vieram as internações, um casamento frustrado e o nascimento de seu único filho, a tentativa de suicídio, o ostracismo, para finalmente ele ser salvo e recuperado (sic) por Lucinha, sua mulher e companheira até hoje.


Ainda bem que a história recente se encarregou de devolver um pouco de sabor na vida de Arnaldo. O reencontro triunfal dos Mutantes parece ter servido de alento a esse homem frágil que ele se tornou. O reconhecimento dos amigos, seus testemunhos emocionados hão de levá-lo adiante e confortá-lo.


Lamento somente todos nós (inclusive o protagonista) termos sido privados da palavra sincera e verdadeira daquela mulher que mudou o destino da vida desse artista. É até compreensível ela não ter participado do recente ‘revival’ dos Mutantes, mas não aparecer no documentário pegou mal.


Rita Lee: Sacanagem!!! Eu quero que você se Top Top Top.