25 de abril de 2009

Série O Resgate da Memória: 8 - Paralamas

Entrevista com Paralamas (Herbert Vianna)
Revista MIX, de 86 (Ed. Diagrama)
Herbert Vianna fala como foi a gravação do disco SELVAGEM?

(24/04/2009 - Selvagem? completa 23 anos de seu lançamento)
O terceiro disco do Paralamas do Sucesso foi uma bomba. Em vários sentidos. Primeiro porque o som da banda mudou totalmente no Selvagem? pois, nos discos anteriores, o som do Paralamas era bastante influênciado pelo Ska, Police, Clash e pelo movimento New Wave. De repente, a banda apareceu com um disco, basicamente de Reggae Roots e isso chocou a crítica e o público. Muita gente, a princípio, estranhou essa nova influência e apostou no fracasso da banda. Por outro lado, Selvagem? chegou a vender quase 200 mil cópias em menos de um mês e se tornou um dos maiores sucessos da discografia da banda. Nada como o tempo pra pôr as coisas em seu devido lugar… (PS: ficarei devendo a capa da resvista)

Mix – Como é que pintou “Alagados”, como você compos?
Herbert – Bom, tínhamos a idéia do ritmo aí, um dia ensaiando, pintou um riff de guitarra e eu tinha uma letra em casa, só que era um samba, aí juntando as coisas, senti que poderia ser um lance legal. Mostrei para o Bi, foi na época em que João estava no Sul, por causa do acidente (de moto que quebrou sua perna), aí começamos a tocar e vimos que ficava uma mistura interessante pra caramba, foi um lance até que simples. As letras, na maioria das vezes, fluem normalmente, sem maior trabalho intelectual.

Mix – Aí vocês partiram direto para o estúdio, ou fizeram primeiro uma demo?
Herbert – A gente fez demo de tudo. Eu tenho um gravador portátil, que eu acho muito legal. É um Fostex X-15, mas deu pro gasto. Aí fizemos a demo de todas as músicas, inclusive acho que nas demos, as experiências que fizemos, são bem mais arrojadas que o disco, bem mais experimentais. Acho que no disco, você acaba perdendo muita coisa em função do espaço. Aprendemos muito no disco, mas acho que o próximo será, certamente, mais radical.

Mix - Como foi gravada “Alagados”?
Herbert – Usamos uma percussão eletrônica Yamaha FX 21L, que tem até cuíca. A bateria foi a Tama do João, gravada com bastante ambiência. O baixo, ao contrário do disco passado, foi gravado com amplificador. Essa é uma das manias do Liminha, gravar o baixo no amplificador (muita gente grava os instrumentos ligados direto na mesa). Essa música talvez tenha sido a única música qu eu não usei amplificador pra gravar.

Mix – Quantas guitarras você colocou nessa música?
Herbert – “Alagados” tem duas guitarras base, duas solo e tem uma guitarra ritmo com Phase, bem ao fundo, que foi o Liminha que tocou.

Mix – Quanto tempo vocês levaram pra gravar?
Herbert
– Essa música deu trabalho, porque gravamos tudo com um clic eletrônico, tipo um metrônomo. Depois de grava-la, começamos o resto do disco. Quando fomos ouvi-la novamente, e essa era a música que depositávamos maiores esperanças, sentimos que não tinha ficado como gostaríamos, especialmente a parte da bateria. Refizemos a batera em cima do clic e João mudou alguma coisa na acentuação do bumbo e a música ficou realmente mais solta, com um resultado bem melhor. Aí ficou tão melhor que também resolvi refazer as guitarras, ficando apenas o baixo da gravação original.

Mix – Como foram feitas as bases?
Herbert – Gravamos guitarra, baixo e bateria direto e a voz só como guia. Fizemos isso em quase todas as músicas.

Mix – E “Selvagem?” como foi gravada?
Herbert – “Selvegem?” foi gravada direto, a música tem uma só guitarra e eu usei um amplificador Mesa Boogie, só que usei um pedal digital delay na gravação. Na mixagem usei outro delay em cima do delay que eu tinha usado na gravação. Ficou um resultado super interessante, mas foi gravado direto, quase que ao vivo.

Mix – Como pintou “Selvagem?”?
Herbert – Essa música pintou quando estavam eu, Bi e o João tocando e aí eu tive a ideia do riff de guitarra. Sempre tocávamos porque curtíamos e achávamos legal e foi a última letra que escrevi para o disco. Eu estava passando a limpo as letras do disco, aqui em casa, e já tinha algumas idéias, como o lance de “apresentam suas armas”, aí afastei os papéis da mesa e escrevi a letra em alguns minutos, direto. A base já estava gravada, voltamos para o estúdio, pedi um microfone e, sem mostrar pra ninguém, botei a voz e, felizmente, todo mundo gostou. Liminha especialmente.

Mix – E “O Homem”?
Herbert – “O Homem” tem uma coisa legal, que é aquele refrão “as vezes o covarde é o que não mata”, que o João dobrou o bumbo na mixagem e o Bi, fez uns lances no delay da minha guitarra durante a mixagem. Eu gravei a guitarra já com alguns ecos e, com o delay que ele colocou, ficou demais, aliás, o Bi é especialista nesses ruídos estranhos. Essa música também só tem um baixo, uma guitarra, uma bateria e esses efeitos.
A “Melô do Marinheiro” e o “Marujo Dub” foram gravadas uma em seguida da outra. O lance Dub, foi fazer algo assim como os disco do Clash. Pra te dar um exemplo, no disco “Sandinista”, tem uma música chamada “One More Time” e outra chamada “One More Dub”, que era praticamente a mesma música, só que sem voz e com mínimas modoficações. Tinha também uma do Black Uhuru, que nós adoramos, que chama “Love is Life”, que tem um voocover e acabamos conseguindo um, num lance de sorte, porque é meio difícil arrumar um voocover aqui no Brasil. Nesse dub tem muito voocover, mas também tem lances de simplicidade como os apitos e a flauta de válvula que o Bi e o João colocaram na “Melô do Marinheiro”.

Mix – Vocês usaram um percussionista extra nesse disco?
Herbert – Usamos o Marçal.. Em “Alagados”, ele coloucou toda a percussão: conga, tamborim, cabaça… Tocou também em “Teerã” e em “Você”, do Tim Maia. Tem uma coisa interessante nesse disco. Um instrumento que as pessoas não entendem, que é um som de piano que tem numa música chamada “A Novidade” aquilo é um piano digital. O João tem uns samplers da Emulator e uma percussão que você bota o chip que você quiser. Ele tem um som de timbales, dois com som de piano, tem um gongo chinês, que está, inclusive, na música “Selvagem?” e que, ao vivo, também tem. Aliás, estamos conseguindo reproduzir tudo ao vivo, graças a essas coisinhas digitais que estão pintando.

Mix - “Você” do mestre Tim Maia, deu trabalho?
Herbert
– Apesar de ser, talvez, a música mais simples, deu trabalho, porque já estávamos cansados. Gravamos e mixamos o disco em um mês e meio. Em uma semana fizemos todas as bases, menos a de “Você”, que ficamos enrolando, tipo “é muito fácil, fazemos depois, sabe como é”. Aí acabou que foi colocado um click e tocamos eu e o Bi. O João pôs a bateria depois, pra ficar uma coisa bem precisa e o Liminha tocou teclado. Aliás ele também tocou em “Teerã”. Ficamos entusiasmados e achamos que ele tinha que ir pra estrada com a banda. Em São Paulo, ele chegou a tocar bateria com a gente.

Mix – Alguma música do material inicial foi limitada em “Selvagem?”?
Herbert – Uma música que é em inglês e que é um lance bem diferente do que estamos acostumados a fazer. Era um Country, assim como “Meu Erro” e que se chama “Clever Boy”. Foi gravada nos estúdios da Odeon há um tempo atrás. O pessoal de lá ficou super empolgado, inclusive o presidente gostou muito e mandou a fita pra convenção da gravadora em Londres mas, ao que parece, o pessoal lá de fora não gostou. Talvez pelo problema da pronúncia. Acho que criou um certo clima amargo e decidimos tira-la. Talvez algum dia a gente coloque essa música em algum lado B.

Mix – E o próximo trabalho?
Herbert
– Eletro-Funk-Reggae!!!




Barone escreve sobre o Selvagem?

http://setedoses.blogspot.com/2009_02_01_archive.html

(6º post dessa página)

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