30 de março de 2009

Música de Protesto

Me irrita profundamente ver tanta sujeira acontecendo desde o governo do ladrão de galinha chamado Fernando Collor e ninguém falar nada. Assim rapidamente só me vem à cabeça a música “300 Picaretas” que o Paralamas lançou em meados dos 1990 e que conseguiu, de certa forma, levantar uma discussão.

Infelizmente hoje muitos artistas, seja na música e principalmente nas artes cênicas, mamam nas tetas do governo com apoios e patrocínios e aqueles que sempre gritaram por justiça hoje são covardes de rabo preso.

Após longa e tortuosa espera pela tal “democracia”, o país continua numa lama só, até pior. Quem está no poder apenas o usa em benefício próprio, incluindo aí a mega decepção chamada Lula (o maior dos picaretas).

É tudo sujeira e roubalheira. Todos aqueles personagens que vimos lutando pela liberdade do povo brasileiro, viraram bezerrinhos que mamam nas tetas dos governos federal, estadual e municipal.

E os artistas lá, falando palavras sem sentido porque hoje o que importa mais é a melodia (já vi muito músico top, médio e alternativo falar isso). Quem já pontuou sua carreira com músicas de protesto, não quer mais saber disso, mas temos toda uma nova geração seja no sertanejo, no roque (alô ED) ou axé.

Os músicos, tendo o poder de falar para muitos, precisam ter a coragem de usar sua estrutura em favor de um bem maior. Um exemplo fora da musica é a ESPN Brasil (canal de esporte), que tem uma forte opinião independente, os jornalistas saem da esfera esportiva para cobrar direitos do cidadão e protestar.

Todo mundo sabe que é tradição aqui no Brasil manter o povo sem educação, pois assim é mais fácil enganá-lo. O próprio presidente faz ode a ignorância, fazer o quê? Música de protesto, para assim esse povo que não tem direito a educação poder saber do que acontece.

Um grande problema é a acomodação geral e a falta de instrução de quem faz música e escreve letras. Sem leitura de livros, jornais e revistas realmente fica difícil ter opinião.

Não podemos restringir a música de protesto ao punk rock e hardcore. É preciso ir além.

Dinheiro para botar hospital e escola pra funcionar não tem, mas pra mensalão tem.

Toca Raul!!!!!!!!!!!

26 de março de 2009

ATÉ QUANDO ESPERAR PARA SERMOS RESPEITADOS?

Eis um drama antigo e que parece não ter solução: a forma com que o público consumidor de grandes shows em São Paulo é tratado.

Nas últimas semanas, São Paulo recebeu duas bandas de ponta – Iron Maiden e Radiohead. Mais uma vez (ou melhor, mais duas vezes), nós, fãs, fomos forçados a sentir na pele o paradoxo do Prazer e da Dor. O prazer, representado dignamente - com toda força e poder - pela música e estilo de ambos, fazendo ao vivo espetáculos absolutamente históricos. A dor, pelo descaso que a grande maioria dos presentes teve que passar – antes, durante e depois dos eventos. Sei que esse assunto já foi amplamente tratado pela mídia, mas ainda assim entendo seja legal insistir mais um pouco com o tema, para simplesmente relembrarmos a delícia que é ter nossos ídolos tocando aqui, ou mesmo para assimilarmos o “porre” que orbita o universo destes concertos.

Iron Maiden. Impossível tentar descrever o que é assistir um show dessa que é (de longe) a maior banda de heavy metal do mundo, ainda mais em tour comemorativa de seus melhores álbuns; Muito bacana fazer parte do maior público da história deles em shows privados (e olha que estamos falando de uma carreira de 30 anos word-wide); Parafernália de cenários e luzes igualmente impecáveis; O som também estava bom, mas poderia ser melhor...Interlagos por fora: é longe pra burro, não há transporte coletivo para absorver 60 mil pessoas, nem planejamento para escoar o trânsito gerado, tampouco estacionamentos decentes e a preços compatíveis...
Interlagos por dentro: acesso único, o que por pouco não se tornou A catástrofe (tanto na entrada quanto na saída), um lamaçal de fazer inveja à Woodstock, filas imensas para o bar e banheiros nojentos; Eu estava na dita Área Premium (R$350), mas posso afirmar que o público da ‘geral’ ficou melhor (sic) acomodado; E, prevendo o caos que seria a saída ao final do show, me mandei antes de acabar, o que, convenhamos, é lamentável, mas assim me safei de uma dor maior...

Radiohead. Eu já imaginava que também seria um grande show, pois esses ingleses esquisitos tem lançados pelo menos três álbuns impecáveis (The Bends, Ok Computer e In Rainbows), fazem um som intenso permeado de letras densas e são idolatrados pelo mundo afora; Páreo duro para seus compatriotas do metal, porque o que eles trouxeram em termos visuais foi de arrepiar do começo ao fim; E o som - ah!!! o som - nunca ouvi nada tão alto, nítido e puro na minha jornada de anos e anos ‘ao vivo’...
Chácara do Jockey por fora: bem similar a Interlagos, ou seja, deficiente em tudo (distância, acessos, infra-estrutura...); Chácara do Jockey por dentro: choveu menos e a grama até que suportou bem, mas de resto foi um déjà vu, com bares lotados e banheiros sujos.

Mas, se formos comparar os dois shows em termos de organização (até porque gosto musical não se discute) o Radiohead levou a melhor em minha modesta opinião, pois apesar de tudo, a chácara é mais agradável que o autódromo, o preço do ingresso era mais barato (não havia área vip, por exigência da banda), a qualidade do som foi infinitamente superior e – aí vai a provocação: ter o Kraftwerk como special guest é melhor do que a Lauren Harris, né?

Acho que com certeza...

Este post é apenas um desabafo...
Não consigo contar quantas entrevistas tenho em meu currículo, não só as que fiz a direção, mas as que eu mesmo entrevistei. Músicos, atores, produtores, empresários, políticos, estilistas. De tudo um pouco. Publicadas em sites, revistas, jornais, fanzines e em todas as emissoras e produtoras que passei nesses mais de 20 anos de carreira que tenho.


Em grande parte delas, digo algo em torno de 90%, impera o ‘achismo’.
A expressão “eu acho que...” chega a ser tão normal que percebo também que muitas vezes ela é usada sem mesmo a pessoa se tocar que a falou.

Você conversa com o ultra especialista em economia mundial e ele: “eu acho que a crise...”.
Isso é chato demais e me irrita de uma forma tanto quando o gerúndio e o “a nível de”. Não, não sou nenhum especialista em língua portuguesa, longe disso. Mas escutar isso de pessoas que tiveram uma maravilhosa educação, que viajam o mundo inteiro, que lidam com pessoas importantes, formadores de opinião, não dá para engolir.

Quando posso, em edição de vídeo ou texto, até ajudo o entrevistado tirando essa esdrúxula expressão.

Deixe o “eu acho” de lado, afinal qual é o problema em ter certeza?
Bem, eu acho que com certeza não há problema...

23 de março de 2009

NÃO ADIANTA NEM TENTAR ME ESQUECER

Tudo começou há uns dois anos atrás quando eu liguei para meu amigo Alê Youssef, dono do Studio SP - à época situado no coração da Vila Madalena e que ganhava fama por abrigar e dar espaço a novos artistas - sabendo que naquela noite ele receberia uma banda, ou melhor, um projeto dedicado a Roberto Carlos; Era uma terça-feira e disse a ele que já ouvira falar do tal Del Rey, mas queria alguns detalhes tão pequenos (com perdão do trocadilho) do tipo: hora do show e se, de fato, valeria a pena me arriscar naquela noite fria...A resposta do Alê foi direta: “Eles sobem tarde no palco, não antes das 2 da manhã, mas na hora que começar você vai esquecer de tudo, ficar até acabar e querendo mais”.

Eu, roqueiro convicto, me sentindo desafiado, fui pagar pra ver o que poderia ser uma homenagem digna ao Roberto, sem que isso parecesse cafona, como os intragáveis especiais do “Rei” na Globo; Ainda mais o Del Rey sendo formado pelos ilustres desconhecidos Mombojó e pelo China (ex-vocalista da banda hardcore Sheik Tosado), todos de Pernambuco.

Pois bem, foi começar o show e a alegria surgiu - músicas da Jovem Guarda, permeadas pelos hits da fase de ouro de Roberto e Erasmo até os novos sucessos (sic) da dupla; Muito curioso ver todos (inclusive eu) cantando e dançando “detalhes, cavalgada, como é grande o meu amor por você, nas curvas da estrada de santos, além do horizonte”, entre tantas outras melodias que provavelmente estavam esquecidas em nossas memórias, sabe lá desde quando...

China revelou-se um sujeito carismático (a impressão é que ele se diverte mais que qualquer um), a banda tocou gostoso e fez-se A noite de todos os presentes.

Passou o tempo, o Studio SP mudou para a Rua Augusta, melhorou a estrutura e montou um som de primeira linha no palco; O Del Rey se consolidou, virou febre e quando aparece por aqui a casa lota até a boca. Eles já estão tocando há duas sextas-feiras lá e fazem a saideira (pelos próximos meses) em São Paulo no próximo dia 27 de março.

Segue aqui então uma bela pedida para quem está a fim de curtir um programinha num espaço bacana, bem freqüentado, com preços honestos e, neste caso, disponível para se cantar alto sem um pingo de vergonha “amanhã de manhã vou pedir o café pra nós dois...debaixo dos caracóis dos seus cabelos...eu voltei! agora pra ficar porque aqui é meu lugar...eu te proponho não dizer nada, seguirmos juntos a mesma estrada...”, ainda que a minha, a sua, ou a nossa realidade seja outra fora dali...

Recomenda-se enviar nomes antecipadamente para a lista de desconto e chegar cedo. Maiores informações podem ser obtidas através do www.studiosp.org

21 de março de 2009

Série Clássicos de 1986: 10 - Dois

Esta é a última postagem dessa série!
Lembro da expectativa em torno do segundo disco da Legião. O primeiro tinha sido acima do esperado pela gravadora e pela própria banda (ele de fato poderia ter ficado zilhões de vezes melhor. Pelo que sei era pra chegar as 5 mil vendidas e acabou quase em 100 mil). Fato é que a Legião ganhou moral na EMI e pôde trabalhar com mais calma o segundo disco. O resultado é o que todo mundo sabe: o Dois acabou se tornando um dos grandes clássico daquela década, respeitado até pela turminha da MPB. É o disco folk da Legião e suas músicas nunca mais saíram das rádios.



"1986: momento histórico nacional com nosso Presidente civil, crescimento econômico e industrial, controle da inflação, Plano Cruzado, Funaro e a turma da PUC – Rio no comando, o Brock bombando e eu entrando na maioridade e nos estúdios da EMI pra ver se a gente dava seqüência ao trabalho da banda, que vinha de uma estréia bem aceitável na cena musical com um primeiro disco que quase chega a Disco de Ouro (100 mil vendidos).

Renato insistia em falar sobre a síndrome do segundo disco, o “efeito Cinderela, vamos ver se a carruagem vira abóbora, se a banda vai ou não vai pra frente”. O Paralamas já tinha lançado Passo do Lui, segundo disco exemplar.

A preocupação era grande e Renato preparou uma espécie de cartilha de como deveria ser esse disco. Ele já tinha montado a seqüência das faixas lado A, lado B, com a descrição precisa delas, e o que cada uma representava no emocional coletivo. O princípio guia era não repetir o formato, digamos assim, ’visceral’ do primeiro disco, entram em cena sutileza, lirismo, dedilhados melódicos e muito violão. Pra tanto violão Renato me passou um K7 cheio de Cat Stevens, Dylan, Stones e McCartney pra ver se eu entrava no clima.

No comando da produção estava, pela primeira vez, Mayrton Bahia, figura respeitável, criativo, totalmente zen e tolerante, pra compensar a intolerância de Carlos Savalla, engenheiro de som e enciclopédia musical, que naquele momento se dava muito bem com Renato.

A primeira música a ser gravada foi “Daniel na Cova dos Leões” que surgiu da linha de baixo do Negrete, na seqüência “Quase Sem Querer”, “Tempo Perdido”

E assim o disco foi seguindo o ritmo e os termos da cartilha de Renato sem maiores contratempos, até chegarmos à gravação de “Andréa Doria” que por algum motivo empacou. A música não vinha porque não vinha, Savalla aos berros, Bonfá já de saco cheio e todos nós já quase desistindo da música até que entrou o violão fazendo a liga, e tudo depois de dias de tormento se resolveu.

O disco vinha alternando entre configurações de arranjo mais ou totalmente acústico tipo “Eduardo e Mônica”, “Central do Brasil” e o elétrico de “Metrópole”, “Fábrica”, “Plantas Embaixo do Aquário” (música esquisita, diga-se de passagem).

A última faixa a ser finalizada foi “Índios”, basicamente uma progressão quase bachiana do teclado junto ao baixo e mais a bateria marcando um 4/4 simples e, no fim, é claro, o violão fechando o disco. Violão tocado pelo Renato, pois eu, supersticioso, quase obsessivo, mantive o que procurei repetir em todos os discos: não tocar nenhum instrumento em uma das faixas

Foi a última letra a ser escrita e lembro de Renato colocando a voz na sessão de mixagem, a última sessão de mixagem, tipo 48 minutos do 2º tempo, foi revelador, surpreendente, arrebatador… nascia de última hora um mega sucesso popular, ninguém entendeu nada, encerramos o dia e o disco desorientados e o “Quem me dera, quem me dera, quem me dera ao menos uma vez”, repetindo na cabeça até o dia seguinte."

Dado Villa-Lobos, ex-guitarista da Legião Urbana

14 de março de 2009

Um Lado Bom da Crise

Veja só o que ganhamos com a crise mundial. Em 2007 a MTV anunciou aos quatro ventos que não iria trabalhar com videoclipe, que era um produto que estava em extinção, não dava retorno financeiro, entre outras alegações.

Aí o que já estava ruim, piorou. Mas não temos mais apenas a MTV. Quem pode ter acesso a TV a cabo ainda tem o Multishow e a VH1.
O Multishow com seu programa de clipes TVZ estava (e ainda deve estar) dando um baile na MTV. Tudo bem que a programação é baseada em hip hop, R&B e o rock pop mainstream, mas é música, é videoclipe.

Além desses programas de clipes, o Multishow tem bons shows. Já vi de tudo lá: The Hives, White Stripes, Foo Fighters, e mais recentemente o Festival Coachella.

A VH1 chegou chutando a porta, arregaçando. A maior parte da programação é videoclipe e programas especiais focados em música. A programação já é mais baseada em décadas passadas: 1960, 1970, 1980 e 1990. Quer ver coisas do baú, liga na VH1. Os grandes clássicos? VH1.

Com Multishow e VH1 dando o que falar somado com a crise, não deu outra: a MTV acabou voltando atrás e agora recheou a programação de clipes com seus famosos Labs. Massa! Ótimo pra nós, mas ficou feio para a MTV tomar decisão radical, com palavras radicais e logo depois voltar atrás. Obrigada ou não, acabou corrigindo o erro.

Outro dia mesmo estava vendo ao mesmo tempo um show de Katy Perry na MTV e os melhores momentos do Coachella no Multishow. Também na MTV, tempos atrás, teve um ótimo show do Queens of the Stone Age.

Agora torço para que as coisas continuem assim por um bom tempo.



Katy Perry
Eu já tinha escutado e não gostado do disco de Katy Perry. Gosto daquelas que foram videoclipe. Mas quis assistir ao show da moça para ver sua presença de palco, sua voz ao vivo. Me amarrei. Ela tem domínio total e dá pra ver que está a vontade. Ao contrário da maioria dessas novas cantoras brasileiras que não sabem como se portar no palco. Não vou citar nomes, mas vi alguns shows recentemente e além dos repertórios cheios de mais do mesmo, a presença de palco é nula e algumas vezes vergonhosa.

Seja bem-vindo!

A partir dos próximos dias meu amigo Edu Collaço, passará a escrever aqui no Sete Doses e trará notícias entre outras coisas.
Boa sorte, meu velho!

8 de março de 2009

Série Clássicos de 1986: 9 - Cabeça Dinossauro


Eis agora, pelo relato de Sérgio Britto, histórias de um dos grandes clássicos não só de 1986 ou da década inteira, mas um clássico supimpa do Rock Brasileiro. Lembro que havia expectativa com esse lançamento, pois mesmo sendo sucesso de público, o Titãs ainda não havia emplacado no mercado um grande disco. Quando saiu o 'Cabeça Dinossauro' uma boa imagem é de uma multidão de queixo caído. A qualidade da produção do disco e das composições, um absurdo.

Tenho uma curiosidade: no começo da década de 1980 as 1ª edições do Hollywood Rock eram de graça, na praia. Para minha sorte, o festival acontecia na praia da Enseada, em Guarujá (SP), a qual frequentei de 1976 até 1995. Numa dessas edições tocou o Titãs, que fazia os shows do disco 'Televisão', e nessa apresentação tocou uma nova que se chamava "O Grito", uma porrada, que com a gravação de 'Cabeça' acabou virando "AA UU".


"Embora possa parecer, Cabeça Dinossauro não foi propriamente uma mudança de rumo, uma “guinada radical” na nossa maneira de pensar e fazer música.

Foi, isso sim, fruto de algo que já vinha acontecendo há algum tempo. Por exemplo : “Bichos Escrotos” é anterior à gravação do nosso primeiro disco (Titãs, 1984), que só não gravamos naquela ocasião por que a censura não permitiu. No disco que antecede o “Cabeça” (Televisão, 1985) a faixa título, “Massacre”, “Pavimentação” e “Autonomia” já apontavam também para essa direção. “Babi índio” e “Pule “, do primeiro disco, se tivessem sido gravadas com um pouco mais de qualidade, também poderiam ser vistas desse modo.
Fazer um disco com uma sonoridade e um repertório mais pesado era um desejo antigo de alguns de nós que aos poucos contaminou todo mundo. A prisão do Arnaldo e do Tony (NR: por porte de heroína) e, conseqüentemente, o relativo fracasso de Televisão são fatores extra-musical que naquele momento talvez também tenham contribuído para essa virada.

Fizemos o disco num tempo relativamente curto: um mês para gravar e mixar. Em duas semanas já estava quase tudo pronto. As canções, os arranjos e até mesmo o formato das músicas já estavam definidos muito antes de entrarmos em estúdio. A primeira faixa a ser gravada foi “AAUU”: já tocávamos a música em shows e o arranjo estava muito bem resolvido. A última foi “O Que” e foi também a que mais deu trabalho. O arranjo mudou totalmente e o Liminha teve participação decisiva: programou a bateria eletrônica, sugeriu a linha de baixo, tocou guitarra e deixou a gente fazendo uma “Jam” interminavel durante dois dias até a chegarmos ao resultado final. Aquilo abriu um novo horizonte para nós e nos colocou em contato com elementos que iríamos explorar bastante nos anos seguintes.

Este disco, com certeza, se não é o melhor, é um dos melhores que fizemos. Só comparável a Õ Blésq Blom e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas.

Apesar disso não me atrevo a apontar nenhuma banda que pareça ter sido diretamente influenciada por ele. Em contrapartida, Õ Blésq Blom, se não influenciou, ao menos antecipou toda a onda do Mangue Beat e a mistura de MPB e música nordestina com elemetos de rock e programações eletrônicas.

Algumas curiosidades
- Os acetatos com os esboços do Leonardo da Vinci que estão na capa e na contra capa do disco vieram diretamente do museu Louvre, trazidos por um amigo de meu pai. Antes disso, o que tínhamos eram reproduções pequenas e sem qualidade suficiente para viabilizar o projeto gráfico. As primeiras 30 mil cópias do disco foram feitas em um papel fosco e poroso muito mais caro que o normal. Generosidade do André Midani, então presidente da Warner, que nos deu total apoio antes, durante e depois da gravação atendendo a tudo o que pedíamos.

- A percussão na faixa “Cabeça Dinossauro” foi Liminha que tocou. Depois de várias tentativas mais elaboradas, ele começou a improvisar - tocando nas paredes, no chão e nas colunas do estúdio - numa espécie de transe. Assim que ele acabou, todo mundo disse imediatamente: “é isso aí, do caralho!!”.

- Gravei a voz solo de “Polícia” no primeiro take, enquanto Liminha conversava sobre pesca submarina com Evandro Mesquita (talvez isso tenha me ajudado a ficar mais puto ainda). Quando fomos ouvir o resultado, eu queria regravar a voz a qualquer custo (tinha sido muito fácil), mas todos acabaram me convencendo de que estava bom.

- A voz de “A Face do Destruidor” foi gravada em cima da base tocada de trás pra frente. Quando gravamos tínhamos que pensar que aquilo ia ser ouvido dessa maneira.

- O Tony fez todos os solos importantes do disco usando uma técnica no mínimo curiosa: revezava um anel grande que ele tinha na mão direita com a palheta para tocar e, ao mesmo tempo, tirar efeitos percussivos da guitarra. Isso funcionava também como uma espécie de ‘bottle neck’ e acabou dando uma cara diferente para os solos que ele fez."


Sérgio Britto, vocalista do Titãs

5 de março de 2009

Quando a ANTA fala...

Recebi esse e-mail e achei legal postá-lo. Nunca votei no Lula, pois não voto em quem não trabalha. Alguém aí já viu o Lula trabalhar?


Lula, o nosso comandante em chefe, deu esta declaração "histórica", esta semana, na posse de diretores do Sebrae:

"Temos que reconhecer que a situação é delicada, que essa crise é possivelmente maior que a crise de 1929 e temos que reconhecer que o Roosevelt só conseguiu resolver a crise de 29 por causa da II Guerra Mundial. Como não queremos guerra, queremos paz, nós vamos ter que ter mais ousadia, mais sinceridade, mais inteligência, por que eu não admito que uma guerra para resolver um problema econômico tenha 6 milhões de mortos".

Depois, comentários específicos:

1. A Segunda Guerra Mundial não teve absolutamente nada a ver com a crise americana de 1929; 2. A Segunda Guerra Mundial foi motivada pelas condições impostas à Alemanha pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918;
3. A Segunda Guerra Mundial encerrou com perto de 52 milhões de mortos, quase dez vezes mais que o número que o boçal falou;
4. Seis milhões foram as vitimas do Holocausto, patrocinado pelos nazistas. Confundiu tudo o que a Assessoria dele informou (tenha paciência, não queira que ele decore tudo que lhe passam).
5. Em 1929, o mundo não tinha e nem imaginava o que seria uma economia globalizada;
6. Franklin D Roosevelt resolveu a crise americana diminuindo custos e impostos, e reduziu drasticamente as despesas do governo, exatamente o contrário do que o boçal e seus ministros estão fazendo;
7. Pela declaração imbecil, Lulla imagina que a crise só será extinta por meio de uma guerra mundial, mas ele, "o grande pacifista e magnânimo líder" não admitirá uma guerra mundial para que a crise seja solucionada;

E esse é o cara que atingiu 84% de popularidade.............. Dá para acreditar?

4 de março de 2009

Série O Resgate da Memória: 4 - Ritchie

ENTREVISTA RITCHIE
REVISTA ROLL – ANO 2 – Nº 18 – MAIO/1984


1) Durante quase dois anos Ritchie foi visto como o novo grande nome do rock brasileiro por causa de “Menina Veneno” que virou febre nacional. Rádio am e fm, televisão, novela, cinema, revistas, jornais tudo era “Menina Veneno”. Era uma verdadeira praga. Era da classe ‘E’ até a ‘A’, na quitanda ou escola, no parque ou no trabalho, na hora do parto ou no leito de morte. Todos queriam Ritchie. Todos queriam a menina veneno.

2) Bio ultra mega resumida
O inglês Ritchie chegou no Brasil no início dos anos 70. Conhecera alguns brasileiros na Inglaterra (incluindo aí Rita Lee e Liminha) que o convidaram para conhecer o país. Como namorava uma brasileira, acabou vindo. Pouco tempo depois o namoro terminou e Ritchie resolveu ficar por aqui. Pra se virar, de início deu aulas particulares de inglês. Formou uma banda que não foi adiante (Scaladácida) e em meados dos 70 entrou para a banda carioca de Rock Progressivo Vímana, que também tinha Lulu Santos e Lobão em sua formação. Gravaram disco, mas apenas lançaram o compacto Zebra (encontrado na coletânea de Lulu Santos lançada na coleção E-Collection, da Warner).
Estourou nacionalmente em 1983 com a música “Menina Veneno”, e com ela desbancou as vendas do Rei Roberto Carlos. Sim, verdade!
Brigou com a produção do Chacrinha, não quis entrar no ‘esquema’ e aos poucos foi sumindo, apesar de ter emplacado mais uns dois hits..
Essa entrevista foi feita na época do lançamento do 2º disco ‘...E a Vida Continua’. Ritchie fala das parcerias do disco, de sua vida na Inglaterra, de quando conheceu Mick Jagger e outras coisas mais. A transcrição foi fiel, com erros e tudo.


ROLL
“Busco a comunicação através do Rock”
(Nota: não há nome do jornalista)

Ritchie está trabalhando com o rock no Brasil desde meados da década de 70, pouco tempo depois de ter chegado aqui. Antes disso viveu toda e efervescência musical do gênero, no começo da década passada da Inglaterra. É, portanto um profundo conhecedor do assunto e acima de tudo um curtidor inveterado desse estilo musical diversificado que é na verdade a expressão exata de nossa época. Com o Rock, Ritchie experimentou em várias áreas. Do som elaborado do Vímana ao tom pop de seu trabalho mais recente, ele tem atacado em diversas direções. Aqui, um papo da maior importância com esse pesquisador incansável.

Roll - Antes de vir ao Brasil, você viveu sempre na Inglaterra?
Ritchie – Como meu pai era militar eu passei minha infância toda viajando. Eu nunca parei mais de 2 anos em nenhum lugar. Eu passei vários períodos de 2 anos na Inglaterra, na Escócia, esses lugares, mas nunca seguidamente. O lugar que eu mais vivi seguidamente foi no Brasil.

Você veio pra cá quando?
Ritchie – Em 72. A idéia era ficar pouco tempo, mas eu não faço planos, nunca fiz e nunca farei. E acabei ficando por aqui.

Como começou o envolvimento com a música?
Ritchie – A partir dos 15 anos eu comecei a me interessar por Rock, e passei a freqüentar cada vez mais a Inglaterra. Depois de fazer 18 anos até vir pra cá aos 21 eu morei na Inglaterra. E essa foi uma época em que vi muita música, em que eu passei a me profissionalizar em música. Mas antes disso, nos supermercados de compras para as Forças Armadas, havia seleções de discos incríveis. Tinha James Brown, Wilson Pickett, Otis Redding, muita música americana. Aí eu comecei a ouvir muito Soul.

Tem muita influência da música americana na Inglaterra, não?
Ritchie – Atualmente a influência do Soul na Inglaterra é muito forte. Bandas como Spandau Ballet, você vê a influência de Aretha Franklin, de todo o movimento daquele selo Stax. Eu ouvia muito Soul quando tinha 17 anos. Houve também uma influência muito grande da música progressiva. Você vê que são coisas completamente diferentes, mas eu tive uma formação clássica de música. E esse som progressivo, embora seja uma coisa falida musicalmente – eu digo, uma coisa pastiche – eu tive uma identificação com ele por causa desse lance com a música clássica. Então eu entendia as intenções deles, se bem que eu ache que a música progressiva nunca chegou a se realizar totalmente. Ela estava indo numa boa direção, em LPs como “The Yes Álbum”, pois ainda tinha muita pulsação. Depois eles passaram um pouco do ponto, começaram a entrar muitos tempos compostos e tudo ficou um pouco acima do público. Uma coisa meio sofisticada, e na verdade sofisticada numa ruim, embora eu tenha identificação. Você vê, o Vímana era um conjunto progressivo. Atualmente, quando eu olho em retrospectiva, quando vou ouvir um disco do Gentle GIant, que eu adorava, eu vejo que era uma coisa um pouco introspectiva demais. E minha busca através do Rock’n’Roll é a comunicação e não isso.

Você teve ter visto muitos shows históricos, não?
Ritchie – Eu tentei até ver os Beatles, mas cheguei no Queen Elizabeth Hall e não consegui entrar. Nessa época eu tinha 10 anos e era um dos últimos shows que eles fizeram na Inglaterra – foi a primeira vez que tentei ir a um show de Rock.
Agora, eu vi muita coisa. Como eu disse, eu era fã do Gentle Giant. Do Genesis eu era macaco de auditório, e seguia o grupo por todo lado. Até 72 eles eram um grupo que ainda não tinha estourado. Tinha o “Nursery Crime” e estavam começando a fazer “Foxtrot”, quando eu vim pra cá. Eu fiquei fascinado com a figura de Peter Gabriel, que no meu entender continua sendo uma das figuras mais interessantes dentro do Rock inglês. Em primeiro lugar admiro-o por ter abandonado o barco quando o abandonou, para procurar uma coisa mais vanguarda. E hoje em dia acho que o trabalho dele é muito interessante, embora não tenha um pingo de comercialismo. E ele está sempre pesquisando. Eu acho importante ter esse underground com gente como Robert Fripp, como Peter Gabriel, mantendo o underground num nível muito forte e sem preocupação comercial.

E acabam virando trabalhos comerciais...
Ritchie – Às vezes você tem algo como “Shock The Monkey” ou “Sulsbury Hill” do Peter Gabriel. Ele sabe fazer uma boa melodia e eu respeito o lance dele pesquisar coisas um pouco mais obscuras... percussão africana. Agora ele está de olho aqui no Brasil, como todos, na verdade, estão. Você vê, a Sade e o Style Council estão fazendo Bossa Nova.

Mas a Bossa Nova deles não tende mais para o Jazz?
Ritchie – Totalmente. Mas tem aquele batuque, aquele aspecto latino.

Você pensa em levar sua música para a Inglaterra?
Ritchie – É possível que isso aconteça. Eu inclusive gravei “Mulher Invisível” em inglês. Não sei se vão lançar, mas me pediram e nós fizemos uma letra. Digo fizemos porque o Bernardo Vilhena trabalhou na letra também – eu queria manter a parceria ail. Ele não fala inglês bem, mas tem boas idéias e eu fui corrigindo. Mas foi mais porque eles pediram do que por vontade nossa.

“Mulher Invisível” ou “Menina Veneno”?
Ritchie – “Mulher Invisível” mesmo, porque eles acham mais atual. “Menina Veneno”, na verdade, não tem grande apelo na Inglaterra. Tem nos países latinos. Estourou na Espanha, em Portugal, na América Latina. Então eu acho que se acontecer naturalmente tudo bem, mas não é um plano. Eu gosto de estar morando neste país e de fazer o meu trabalho aqui.

Como você compõe suas músicas?
Ritchie – O importante é você ter condições de estar perto de um instrumento a toda hora. É como o bom fotógrafo que carrega sua câmera para todo lado. Eu procuro criar de todas as maneiras. Quando estou no carro, por exemplo, eu tenho um micro gravador que eu uso para gravar melodias. Também estou sempre com meu quatro canais ligado lá em casa para qualquer coisa. Agora, a inspiração é fundamental. Não adianta você chegar e dizer que vai escrever uma música. Porque às vezes sai, às vezes não acontece. Agora, acho importante você tocar 4 horas por dia, que é o que eu faço, e também estar ali pesquisando. Eu não vejo a música como uma coisa construtiva. A música é um lance que vem e a gente capta de uma maneira pior ou melhor, é coisa de sintonia. Pergunte ao Gil. É um lance de sincronização de sua época.

Como é a parceria com Lobão, Liminha, Steve Hackett?
Ritchie – Com cada um é diferente, inclusive minhas experiências com Liminha são poucas. “Bons Amigos” era uma música pronta com um refrão mal resolvido, e o Liminha chegou com uma introdução que eu gostei demais e que acabou virando a harmonia do refrão. A participação dele não foi no momento da criação, foi uma coisa posterior que valorizou a música. “Bad Boy”, que eu fiz em parceria com Lobão, é uma música antiga e ela nem ia entrar no disco. Mas como “Bons Amigos” não estava saindo bem, Lobão sugeriu que a gente esquentasse com “Bad Boy”. Aí esquentamos e o Liminha ligou as máquinas e saiu com essa versão mesmo. Foi de primeira por isso não está tecnicamente perfeita. Mas está com uma garra e uma energia que jamais teríamos captado de novo. Com o Steve foi mais ou menos como com o Liminha. Ele sugeriu que aquela parte de “Mulher Invisível” que diz “Ela está onde ninguém está / Ela é dona da noite”, que era num tom maior, que fosse feita numa progressão menor. Ele disse para eu tocar “James Bond Theme”, e aí a música ficou com a mesma progressão. A participação dele foi uma sugestão verbal, e ele nem tocou na guitarra. Mas eu não posso negar que ele alterou a face da música. Agora, parceria mesmo é com Bernardo.

E a sua participação no vídeo(clipe) do (Mick) Jagger, como foi?
Ritchie – Foi muito bom. Gostei muito de conhecer Mick Jagger. Eu dividi o trailler com ele para fazer a maquiagem e a gente bateu um papo sobre mil coisas. Ele é muito legal e muito pragmático em termos de trabalho. Ele disse que tinha ouvido Rock Brasileiro e que não tinha se interessado muito, não. Eu disse que a gente ainda está engatinhando e lembrei que a tradição de Rock fora do Brasil tem 30 anos e que aqui ainda é uma novidade, tem só 10 anos. Ainda é uma coisa começando a ser explorada, com muita forçação de gravadora. Eu disse pra ele voltar daqui um, dois anos, para ver. Ele ouviu meu primeiro disco e disse que gostou, mas eu não sei até que ponto ele estava fazendo uma média. Agora foi muito bom ver como ele domina o seu trabalho. Ele estava aqui supervisionando tudo. Iluminação, maquiagem, direção, mudou o script. Em todos esses aspectos ele estava presente e ativo.

E a gravação de “Sky Moon”, como aconteceu?
Ritchie – A música é genial. Eu cheguei pro Caetano no show do Palace, antes mesmo dele ter gravado, e perguntei se ele pretendia gravá-la. E ele disse que não. Eu falei então que queria que ele deixasse eu gravar. Ele perguntou por quê, e eu respondi que tinha achado a música genial e que era uma poesia perfeita em inglês e que estava pensando em lançá-la lá fora. Eu queria que os outros ingleses ouvissem a música. Ai ele falou que nesse caso pensaria duas vezes. Aí, quando ele decidiu gravar, me convidou para cantar com ele.