23 de novembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 1 - Não São Paulo


O empresário e produtor Luiz Calanca merece tapete vermelho por onde passa. Ele é dono da Baratos Afins, pioneira dos selos independentes. Grande figura, recentemente inaugurou mais uma loja, dessa vez apenas dedicada aos vinis. Meses atrás conversei com ele sobre a 1ª edição da excelente coletânea Não São Paulo. Confira relato de Calanca sobre a produção da coletânea:
(Nota: Você encontra Não São Paulo em CD na Baratos Afins)

Não São paulo
“Em 1978 Brian Eno produziu um disco chamado No New York, com bandas pós-punks. Em resposta fizemos o Não São Paulo. Esse título, aliás, era só um nome de trabalho, um apelido que no final acabou ficando.
Tinha muita coisa acontecendo nos anos 80 e como eu também fazia alguns eventos, muitas bandas se aproximavam de mim. Eu conheci o Akira S porque ele trabalhava numa loja da Galeria (do Rock) e ficava o dia inteiro tocando baixo. A idéia era fazer um disco dele, mas tinha muita banda no cenário, então acabei optando por uma coletânea pra depois fazer o disco solo. O Musak fui eu quem convidou. O Alex (Antunes) chamou Ness e Chance. Na verdade o Não São Paulo mais apareceu na mídia do que vendeu.
Tem bons hits ali, como “Sobre as Pernas”, de Akira S e “Samba do Morro”, do Chance. Tem coisas atuais no disco e tenho orgulho dele.
Em 1986 a Baratos Afins lançou 13 discos. Trabalhei como um louco. Fumava e bebia direto. O clima no estúdio era legal, as bandas eram amigas e uma sempre aparecia na gravação da outra. Teve dia que o estúdio tinha de 30 a 40 pessoas. Às vezes eu saía de lá direto para o trabalho. Foi um ano de muita correria.
Esse disco tem uma curiosidade: a introdução da música “The Modern Age”, do Strokes, é idêntica a música “Jovens Ateus”, do Musak. O baterista do Strokes não é brasileiro? Acho que ele já escutou o Não São Paulo, porque não é possível...”

Os Clássicos de 1986

Em 2005 fui convidado para ser um dos colaboradores da revista RS. Quase um ano depois, em seus dois primeiros números, saíram algumas matérias que fiz. Entre elas, no nº 2, foi publicada uma reportagem sobre os grandes clássicos do rock brasileiro lançados em 1986. Fiz o levantamento de todos os discos lançados naquele ano e separei os mais importantes. Dessa forma fui atrás dos protagonistas desses lançamentos: os próprios artistas. Cada um deles falou sobre a importância do disco de dos bastidores das gravações. Postarei aqui um texto por semana.

Juntei os seguintes discos e artistas:
1) Cabeça Dinossauro (Titãs) – Sérgio Britto
2) Capital Inicial (1º) – Flávio Lemos
3) Dois (Legião Urbana) – Dado Villa-Lobos
4) Longe Demais das Capitais (Engenheiros do Hawaii) – Humberto Gessinger
5) Não São Paulo (coletânea) – Luiz Calanca (Baratos Afins)
6) O Concreto Já Rachou (Plebe Rude) – André Mueller
7) Rádio Pirata (RPM) – Paulo Ricardo
8) O Futuro é Vortex (Replicantes) – Wander Wildner
9) Selvagem? (Paralamas do Sucesso) – João Barone
10) Vivendo e Não Aprendendo (Ira!) - Nasi

14 de novembro de 2008

E o Grammy Foi Para a... privada

Ontem (5ª feira, dia 13/11) rolou o tal do Grammy Latino na Band. O que é ruim piorou com a invenção da festa brasileira desse prêmio. Quem aqui no Brasil se importa com a música latina? Acho que para justificar essa transmissão a Band resolveu fazer uma festa. Triste decisão.

Sou profissional de televisão, faço programas de entretenimento, principalmente de música, tenho amigos e conhecidos que trabalharam nessa festa da Band, mas não posso deixar de criticar essa lamentável transmissão. Tenho certeza que todos da equipe de produção e direção viram os erros que vi, e muitos outros.

Comecei a ver por acaso, com o controle remoto na mão. A transmissão já havia começado e lá estavam dois rapazes do CQC tentando entrevistar os convidados da festa brasileira e ao mesmo tempo tentando fazer algum tipo de humor. Enquanto isso a pobre coitada da repórter que estava em Houston (EUA), na festa verdadeira, tentava entrevistar alguns convidados no tapete vermelho, mas ela não tinha pauta (os rapazes daqui também não) e não fazia idéia do que perguntar. Eram pequenos VTs que se intercalavam. Ora SP, ora Houston. Foi bastante lamentável, até porque não havia entrevista alguma, embasamento algum. Triste.

Na hora da festa brasileira só erros terríveis, erros crassos, erros amadores, erros de produção, de direção e erros técnicos. Equipe de produção em cima do palco, atrás dos apresentadores, passando por eles, gente passando inclusive pela frente da câmera, toda hora que voltava de algum VT os apresentadores estavam desarmados, com cara de bunda, falando com equipe de produção. Teve um momento em que a câmera principal dos apresentadores Cicarelli e Tas desarmou por que alguém deu uma pancada nela e ela saiu de quadro. Coitado do Tas que é um cara super ultra profissional e teve que ficar lá, a frente de tantos erros infantis. Certamente estava espumando de raiva.

Aquela brincadeira em que os meninos do CQC fingiram sequestrar Cicarelli foi vergonhoso. Mas mais vergonhoso de tudo e que resumiu o show de horror que foi essa transmissão, foi o momento em que as Irmãs Galvão foram entregar o prêmio de Música Regional, anunciaram os candidatos e na hora do resultado, como a produção havia dado o envelope errado, elas anunciaram que o vencedor era Seu Jorge e uma delas comentou: “acho que nos deram o envelope errado”. Nesse momento alguém da produção entrou no palco e falou ao ouvido delas que os vencedores eram Chitãozinho & Xororó, mas a voz dele vazou no microfone do púlpito e, claro, todos ouviram. Um horror!!!!

Essa transmissão seria motivo de pelo menos meia dúzia de demissões. Mais uma vez falando... um show de horror. Nunca vi tantos erros numa transmissão como ontem. Digno de entrar para o Guiness Book de pior transmissão da história da televisão brasileira. Foi constrangedor.

Ninguém explicou que o Andréas Kisser faria vinhetas ao vivo com sua guitarra. Ninguém explicou que os ganhadores dos prêmios não subiriam no palco para recebê-lo. Tanto que Supla, quando anunciou CPM22 vencedor do disco de rock, perguntou sozinho: “ué, mas eles não vão vir até aqui?”.

Outra coisa péssima foi ver, mais uma vez, performances de Marcelo D2, Pitty e Andreas. Os três já haviam tocado no recente VMB. Parece até que falta artista no Brasil. Foi tudo muito constrangedor. Tenho certeza de que muita gente da Band não dormiu ontem e se a emissora é realmente profissional, deve ter mandado muita gente embora.

Ah! No meio de todo esse terror, houve um momento alto que foi a apresentação ao vivo de Chitãozinho & Xororó com Renato Borghetti.

6 de novembro de 2008

Livros, livros e mais livros

Quem leu o 1º post desse blog sabe que sou um leitor contumaz! Em setembro, voltando de uma gravação, passei pelo sebo que há perto de casa. Lá sempre vou primeiro para as prateleiras onde há os livros espíritas e os livros de música. Achei algumas coisas que peguei na hora:
- Gravando!, de Phil Ramone, respeitado e ultra premiado produtor de discos americano. Já gravou de Frank Sinatra a Ray Charles. Só fera.
- Metendo o Pé na Lama, de Cid Castro, que fala sobre os bastidores do Rock in Rio de 1985.
- Psicodelia Brasileira: Um Mergulho na Geração Bendita. Esse um trabalho de faculdade de três garotas estudantes da Casper Líbero. Um achado!
Não sei o motivo, mas sempre dou sorte de pegar livros pouco conhecidos, como este das meninas, que nem comercializado é.

Fui para casa feliz da vida com as três aquisições e foi difícil escolher o primeiro a ler. Peguei o Gravando! que tem a orelha escrita por Tony Bellotto do Titãs. Phil Ramone ganhou nada menos que 14 Grammy e mais uma penca de outros prêmios. Comecei a ler na maior expectativa. Logo no início percebi algo estranho e ao longo da outras páginas se confirmou minha estranheza. O cara é um egocêntrico que não conta nada de novo e nada de mais. Como é amiguinho de diversos artistas e absurdamente careta, não contou nenhuma boa história. Eu crente que iria aprender alguns macetes, ler boas histórias, dar boas risadas, me dei mal. O livro é muito ruim, o cara se coloca no pedestal o tempo inteiro e o livro só serve para quem não entende nada de música. Aí sim ele funciona um pouquinho.

O trabalho Psicodelia Brasileira foi o grande achado. As garotas discorrem sobre a geração roqueira da década de 1970. Contam a história de bandas como Módulo 1000, Som Imaginário, Ronnie Von, Ave Sangria, Liverpool e Bixo da Seda, Serguei, Spectrum e nomes do rock psicodélico de hoje como Mopho e Jupiter Maçã. Esse de fato muito bom, com informações que eu não tinha lido em qualquer outro lugar. As 222 páginas devorei em duas semanas. Um belo documento que, com uma melhor edição e organização, tem tudo para ser um ótimo livro para se vender.

Metendo o Pé na Lama foi outro que me decepcionou. Escrito pelo criador do logotipo do Rock in Rio, que na época trabalhava na equipe de criação da Artplan, empresa de Roberto Medina que criou o festival, o livro de 203 páginas é uma grande enrolação, onde pelo menos metade do livro ele fala da vida dele, de suas namoradas, da falta de dinheiro, de seu trabalho na Artplan, de suas puladas de cerca e, ah!, do Rock in Rio. O livro fica um pouco mais interessante na segunda metade, a partir do momento em que ele coloca uma lista dos 120 artistas que poderiam vir ao festival. Depois disso vale ler o 'diário' que ele fez dos dias de festival. Mas também não há nada de bastidores tipo grande história das bandas, essas coisas. Mas o mais interessante é realmente essa última parte do livro em que ele descreve o cansativo trabalho de toda a equipe da Artplan durante os dias de festival, a expectativa da empresa, vai dar certo ou não? e tudo isso, como falei, acontece apenas na segunda metade do livro. Enfim, um livro que tem 203 páginas e que poderia ter por volta de 90 (no máximo).