13 de janeiro de 2008

Entrevista com Vange Leonel

Essa entrevista faz parte da série que fiz para uma matéria especial sobre os anos 1980 publicada na Revista da MTV. É claro que na publicação tudo foi editado, cortado, degolado. A entrevista foi por e-mail e segue na íntegra. Acho eu que ela tenha sido feita em 2002 ou 2003. Para quem não sabe Vange Leonel foi vocalista da banda Nau, que lançou um disco na segunda metade dos 80 e após o fim da banda ela saiu em carreira solo e chegou a fazer um sucesso com a música "Noite Preta" abertura da novela Vamp. Hoje Vange é colunista de revistase jornais, escreveu livros e peças de teatro e ela é prima de Nando Reis, com quem já teve uma banda...

PS: Quando eu era diretor do programa Teleguiado, da MTV, lembro uma vez, quando Cazé saiu de férias, de chamarmos artistas para cobrir seus dias de folga. A Vange participou, mandou muito bem e acabou sendo um dos melhores convidados.


Paulo Marchetti - Por que o Nau não chegou ao segundo trabalho?
Vange - Nós tínhamos gravado uma demo com o repertório do segundo disco mas agravadora não gostou. O NAU não vendeu muito, acho que foram tipo umas 15 mil cópias, o que não nos deu lastro suficiente para seguir em frente. Mas como nós, da banda, acreditávamos naquele repertório, resolvemos nos desligar da então CBS e procurar outra companhia. Mas, a essa altura do campeonato, o "milagre" mercadológico do rock brasileiro já dava os primeiros sinais de enfraquecimento e nenhuma outra companhia quis investir numa banda de rock pesado que já tinha feito um disco que não tinha vendido muito.

Paulo Marchetti - Como você enfrentou, ainda trabalhando com música, a crise que rolou no país no final dos 80 e inicio dos 90?
Vange - Vou dizer uma coisa para você: eu não me lembro de nenhum período da minha vida (e eu tenho 39) que este país não estivesse em crise. Então, acho que brasileiro já nasce com um gene específico para driblar crises, ou pelo menos para conviver com elas. Parece que a crise é regra, e às vezes conseguimos escapar dela, não por uma contingência global-nacional, mas quando acontecem lances de sorte e, individualmente, conseguimos superar um momento de vacas magras. Isso aconteceu comigo em 1991, quando a minha música Noite Preta estourou nas rádios de todo o país e consegui fazer um pézinho de meia bem modesto mas que me segurou por um bom tempo.

Paulo Marchetti - Você chegou a lançar dois discos solos e depois passou a trabalhar como escritora e colunista. Desistiu da música?
Vange - Eu não desisti da música. Ainda faço, tipo, um show por ano, acústico, aqui em São Paulo. Odeio sair em turnês e isso prejudicou muito a minha carreira de cantora. Adoro cantar, adoro música, meus colegas tentam me incentivar, existem até alguns críticos caridosos que me querem de volta, os fãs reclamam, mas o cotidiano de pop star me irrita até a alma! Sou o tipo de pessoa que não compra essa mística do pop star e cheguei à conclusão que me dou melhor com a mística do escritor: gosto de trabalhar em isolamento, odeio ficar me expondo o tempo todo e prefiro me mostrar através deste biombo chamado papel. Por outro lado, adoraria gravar um CD a cada 3 ou 4 anos. Adoro o trabalho em estúdio mas duvido que alguma gravadora tope contratar uma cantora/compositora que não se apresenta em público.

Paulo Marchetti - Por favor, fale um pouco de seu período na banda Os Camarões.
Vange - Os Camarões era uma banda de reggae na qual ingressei em 1979, quando tinha 16 anos. O Nando Reis, meu primo, tocava na banda e me convidou para entrar depois que ouviu uma música minha e se entusiasmou. Além do Nando, estavam na banda, entre outros, o Jay Mahal (hoje DJ), o Cao Hamburger (que depois tornou-se o criador do Castelo Rá-Tim-Bum), o Paulo Monteiro (artista plástico, da ex-Casa 7), e a Teca Berlink (hoje artista plástica). Nós nos apresentávamos em festivais de colégio mas o auge foi uma apresentação no Festival da Vila Madalena, evento que acabou revelando o Itamar Assunção. Deste Festival saiu um LP, raríssimo, que contém duas músicas dos Camarões, uma das quais "Cheiro de Beterraba", música minha que me fez entrar na banda.


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