13 de janeiro de 2008

Entrevista com Danny (Metrô)

Essa entrevista faz parte da série que fiz para uma matéria especial sobre os anos 1980 publicada na Revista da MTV. É claro que na publicação tudo foi editado, cortado, degolado. Acho que essa é mais uma entrevista que não chegou a ser pblicada. Ela foi feita por e-mail, e não corrigi quase nada (me desculpe Danny!). O que vale é o documento! Acho eu que ela tenha sido feita em 2002 ou 2003. Essa entrevista com Danny (ex-baterista do Metrô que atualmente trabalha como produtor e DJ) é muito boa, pois ele vai além de Metrô e mostra detalhes da carreira da banda. Danny também trabalhou como ator e nos anos 80 ficou também famoso pelos comerciais da US Top e pelo bordão “bonita camisa Fernandinho”. Até hoje, muita gente acha que seu nome é Fernando.
Curisidade: No final dos 80 eu fazia muita figuração para filmes publicitários. Uma vez fui figurante de um comercial, acho que da Brastemp, que era uma festa num apartamento. Nessa festa eu ficava dançando colado com uma garota e essa garota era a Virginie... hehe. Fizemos uma pequena amizade, pois nos encontramos em outras diversas filmagens, inclusive o Zaviê, também, do Metrô.
Ah! Nessa conversa não há as perguntas, apenas as respostas. Não faço a mínima idéia de onde foram parar as perguntas, mas elas são de menos...

Continuo apanhando do Word...



Muita gente ficou decepcionada mesmo pois "A Gota (Suspensa)" já tinha 1 certo publico em São Paulo. Fizemos muitos shows em Sampa sempre em Teatros (coisa rara hoje) lotados só no boca a boca (Tuca, Faap, Mackenzie etc... e o primeiro show do maravilhoso Carbono 14 e só depois nas danceterias Rose bombom etc..etc.....) e no Rio também pois Voyage tocava direto na programação da radio Fluminense.
Mas já estávamos cansados de nossos experimentos Progressivos e Instrumentais e chamamos a Virginie pra cantar no disco da Gota (ela já tinha sido cantora da banda em 1979 e nessa época nosso estilo era +"Novos Baianos" não perdíamos 1 show deles e ate viajávamos pra ver eles tocar e jogar futebol tocávamos baião , sambarock e "vivíamos" em Ajuda, Trancoso, Mauá etc...) tínhamos cabelos compridos e usávamos batas indianas e sandálias da Bahia.) A Gota teve 1 centena de formações...
Bem... voltando ! ... 1 amigo nosso guitarrista voltou de Londres e mostrou seu disco
Lembro que enlouqueci ...nós todos... e pensamos "é isso q queremos fazer".
Era 1 mistura de Television, Blondie, Talking Heads etc... mas bem inglês.
Eu gostava muito de Cólera (e lógico Sex Pistols) vi vários shows deles mas nunca fui Punk.(Estudei com Ze Eduardo Nazário ( baterista de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti) então minha formação era mais Maracatu, Jazz por causa do Zé e claro Rock sessenta e setenta etc....)
Fizemos as musicas "pop" do disco da Gota em 2 dias e ficamos muito felizes de voltar a tocar musicas simples.
Foi uma Libertação! tudo isso graça ao Punk! ....
Não posso esquecer tambem que fomos muito influenciados por nosso baixista na época
O Deus Tavinho Fialho (na época era também baixista de Arrigo Barnabé e depois da Gang 90 e ainda Legião Urbana e Caetano Velloso e que infelizmente faleceu em 1 acidente de carro deixando Cássia Eller grávida de 1 menino) .
Ele sempre queria que tocássemos coisas mais "pop" e era o único que vivía de musica o que era incrível pra nós que éramos tão garotos ( nem tanto ...eu 20 e os outros 18...) e era raro bandas de Rock gravarem (existia os Independentes no Lira Paulistana mas não era Rock) pois naquela epoca só existia espaço pra cantores lembra ? (quantos anos vc tem ?). Nosso 1 disco foi Independente....

O que tem que ficar claro é que nos não mudamos da Gota pro Metrô pra ter sucesso, mas pra MUDAR (no melhor sentido da palavra), não tem sentido ficar preso ao 1 estilo único a vida toda...ainda mais pra 4 garotos fazendo musica com tudo pra aprender, música é pra libertar e não pra aprisionar...o mundo muda a cada segundo...( só João Gilberto pode, mas ele nunca é o mesmo pois a cada dia que passa ainda fica melhor, um DEUS !!!!)
Uma coisa tem que ficar clara de 1 vez por todas...
Não gravamos “Beat Acelerado” pra obter sucesso, muito pelo contrário, tivemos que lutar, e bota ralação nisso, muito pra que “Beat Acelerado” fosse 1 sucesso nacional (1 Bossa Nova (!!!!) escancarada no meio daquela New Wave toda)

Era Hilário, os Jornalistas metiam o pau mesmo, mas eram mais o Pepe Escobar e o Miguel de Almeida, então na Ilustrada. Mas foi bom porque virou assunto... Não tinha espaço na mídia pra "rock" só nas especializadas que eram lançadas e depois desapareciam depois de 1 ou algumas edições tipo Rock a História & a Gloria com Ezequiel Neves, Ana Maria Bahiana , Okky, Tarik etc....Tenho até hoje a coleção completa em algum lugar... Éramos carentes de informação sobre Música, equipamentos etc.
Eu estudei Jornalismo na PUC (tranquei quando fui gravar o disco da GOTA pra desespero de meu pai) e já na época do Metrô muitos amigos, como Fernando Naporano trabalhavam na Folha então era engraçado pois o mundinho era muito pequeno e nos encontrávamos sempre nas noites de São Paulo (que ainda não era essa loucura...a noite). no Rose, Napalm, e outros

Antes 1 pequeno porém, quando mostramos “Beat Acelerado” foi 1 batalha conseguir gravá-la...Ninguém queria ... Ainda o Rock Brasil não tinha espaço. Só Rita Lee tinha este espaço.... e a Blitz (que de fato impulsionou todo mercado) começando ....

Quando lançamos o CD desculpe LP do Metrô Sândalo (lado B de “Beat Acelerado” surpreendentemente estourou nas rádios) depois veio “Tudo Pode Mudar”, “Olhar”...) estávamos fazendo show em Manaus qdo soubéssemos que Tia Rita (DEUSA absoluta da minha infância e adolescência ...eu morava no Parque das Hortências e os Mutantes eram meus vizinhos!!!!! eu brincava no Buggy USA deles e era louco pra roubar a boina do Serginho Dias q ele sempre esquecia na garagem.. ) queria que gravássemos “Ti Ti Ti”. Voltamos na mesma noite depois do Show e fomos direto pro estúdio fizemos o arranjo gravamos, mixamos e a novela estreou 2 dias depois ...foi 1 loucura !!!!!
Nossa vida virou 1 loucura ...foi isso que acabou com o Metrô...
Fazíamos Shows de Terça a Domingo só em Ginásios e Estádios de Futebol, (Uma MERDA !!!) sendo que sábado seja onde estivéssemos voltávamos pro Rio pra gravar o programa do Chacrinha.

O que nos REUNIU quando eu tinha 15 anos de idade (e Alec então com 13) Foi a MÚSICA, o TRABALHO ("só o trabalho dignifica o homem"; éramos workaholics e ainda somos ...) E Não o SUCESSO e FAMA...

Ficávamos muito frustrados quando não conseguíamos fazer o show como queríamos porque o som, a luz ....éramos uns pentelhos e ...músicos no pior significado da palavra...ficávamos frustrados.. não existia tecnologia pra tocar em lugares tão grandes (só os internacionais que dispunham quando vinham. por incrível que pareça....)
Implodimos...
Fomos radicais (poderíamos ter admnistrado e diminuído o ritmo), mas pra desespero da Sony e do Poladian, resolvemos PARAR no auge.
O SUCESSO DO METRÔ FOI RÁPIDO PORQUE NÓS O ABORTAMOS...
Estávamos pela primeiríssima vez da vida ganhando dinheiro com nosso trabalho e bota trabalho nisso e, PIOR AINDA , Ironia do destino, pela 1ª vez na vida não tínhamos TESÃO em fazer o q + amávamos fazer ....NOSSO SONHO........Desde que me lembro por gente nunca tive outra vontade de fazer senão Música...Sempre foi isso que quis fazer desde de muito moleque...
Éramos Jovens, eu tinha 23 e lembro bem que pensei não quero passar a vida toda sendo Metrô.... não assim desse jeito.
Alec foi pra Jamaica, fui pro Peru e os outros pra Europa... quando nos reencontramos alguns meses depois e “Johnny Love” estourado nas rádios não tinha mais clima e nossas relações estavam bem tensas.
Foi muito traumatizante, tive uma depressão terrível, daquelas de ficar prostrado ...

E fui tocar com o NAU (Vange Leonel, Zique, Birger) fiz alguns shows e ADOREI ...Voltei pra vida com eles....

Um dia (uns seis meses depois, os meninos vieram me convidar pra tocar com Pedro D´Orey, cantor português do Mler IF Dada produzido por Paulo Junqueiro (vale a pena ouvir).
Tocamos e foi ótimo...passamos 6 meses numa casa alugada em frente ao estádio do Pacaembu improvisando e gravando centenas de horas de material...recebíamos muitas visitas ...Os Mulheres negras ...e outros....rolavam altas JAMS, virávamos noites e noites...
Tínhamos voltado pra música.......e a Sony topou lançar o material gravado em alguns dias tudo LIVE, como Metro ( na verdade já tínhamos outro nome Vide dicionário do rock brasileiro TRISTES TIGRES.
Fizemos alguns shows legais em teatros no Sergio Cardoso, Caetano de Campos ....lembro que fizemos um show onde convidamos um grupo de pagode (de raiz) e tocamos todo A MÃO DE MAO, em ritmo de Samba, nessa época começamos a flertar com a música Africana e incorporamos 2 percussionistas na Banda.
Carneiro, hoje morando em Paris e no mundo tocando com o famoso e Maravilhoso Saint Germain e Girley Miranda.(Maravilhosa !!!!!)
Quase lançamos um disco chamado AXÉ (que bom que não fizemos !!!!!) era antes da onda Axé na Bahia, mas tinha + a ver com a música Africana e Cubana ....Pedro sumiu, não aparecia nos Shows e levávamos um tape gravado pelo Artista Plástico Fernando Zarif com falas, ruídos, teatro... que soltávamos durante as músicas.... Hamilton Moreno dos Heartbreakers vinha dar canjas...e quem quizesse no show podia subir e cantar....(!!!!)..
Não houve um fim marcado, foi acabando aos poucos............

Enquanto isso Virginie fez um disco com o Fruto Proibido e depois foi trabalhar com Arrigo Barnabé, gravaram um disco LINDO na França só de Bossa Nova (INÉDITO !!!!!) e ainda com Itamar Assumpção, Carlos Careqa....

Depois Yann foi tocar com Rita Lee, e depois de uma Tour Européia, casou e ficou por lá (Ficou 8 anos !!!!) etc...
Zaviê e eu nos reunimos com André Fonseca (na época ex-guitarra da Patife Band) e Cherry Taketani no "OKOTÔ" (música punk eletrônica com instrumentos típicos japoneses) ...
Alec foi pra França com a mulher e voltou depois de um tempo.
Um tempo depois eu e Zav nos encontramos com Yann em Bruxelas (fugidos do Collor ) onde passei 2 anos. Formamos uma banda com um guitarrista Africano e um cantor e guitarrista Búlgaro e gravamos um CD : "The Passengers" , fizemos muitos Shows pela Bélgica
e França no circuito Underground ...Abrimos o La Muerte (TRASH METAL) em Paris
Tocamos com Zap Mama e também com Plastic Bertrand ("Ça plane pour moi" mega hit dos anos 80 em toda Europa).
Mas tudo era complicado quando não brigávamos eram nossas mulheres que saíam no pau literalmente!... Voltei pro Brasil por um convite de Bia Lessa, com quem já tinha trabalhado em "Orlando" , pra fazer "Viagem ao Centro da Terra" no Rio , voltei correndo!!.
8. Voltamos a trabalhar em Janeiro na minha casa em Santa Teresa (da janela vê-se o Corcovado, o redentor que lindo!) Estávamos ensaiando trabalhar juntos já havia + de um ano. Mas nunca dava.. cada um morando em um lugar diferente e com a vida já engatilhada...
Em Outubro do ano passado (NOTA: talvez 2001???) nos encontramos em São Paulo a convite de Maluly (Produtor de "Beat", “Olhar " e "A Mão de Mão”) Maluly havia falado com Virginie e ela topou vir ao Brasil gravar {ela esta de mudança da França pra Moçambique depois de alguns anos na Namibia}.
Em vez de tocar, ficamos 2 dias em São Paulo (Yann, Zavie , Alec e eu) conversando e botando a vida em dia.(o que foi otimo!!!). O assunto morreu, um dia encontrei Alec no show do Aphex Twin e ele me disse que não tinha a menor vontade de tocar conosco...Ficou por isso...
Até que em Janeiro Yann me ligou, falei pra ele vir ao Rio.
Começamos a trabalhar não como Metrô, mas pensando em músicas que tinham nos marcado, músicas de nossa infância e adolescência , {Caetano, Egberto, Gainsbourg...) começamos por aí (na verdade esse era um antigo projeto e sonho da Bia (Lessa) para um show de Maria Bethânia e Hanna Shygulla juntas) e que foi realizado na Sala São Paulo há 2 meses ...
Em 1 mês gravamos 20 músicas, mandamos pra Virginie na França, ela adorou veio em Abril, passou uma semana aqui em casa com as filhas gravando de tudo.
Foi maravilhoso!!!!. Foi como se nunca havíamos parar de trabalhar um minuto juntos nesses últimos 17 anos , tudo fácil, gravamos com nossas crianças (um bando!!!) brincando em torno de "noís" cachorro latindo, uma zona!!!! Foi o EXTASE, todo mundo de calção e bíquini voltando da praia, sem produção, nos divertimos pra valer!!!! Acho que isso fica bem claro na gravação.
Estamos muito felizes, gravamos umas 50 músicas... e convidamos vários amigos músicos ou não ...e DJS pra gravar conosco. (Kassim, Lucas Santana, Cibelle, Bruno LT ....) estamos Mixando aqui em casa mesmo
E pretendemos lança-lo até Novembro. E fazer Shows também quando a Ginie vier, quando ela não estiver vamos fazer uns Lives PAs, com samples da voz da Ginie.

Revival tem sempre, nos anos 80 o revival era dos 50. Confesso que acho cedo pra um revival dos anos 80 não deu nem pra dar saudade .....só da Debbie Harry..e do John Lyndon também , mas o resto.......Não tenho nostalgia dos anos 80...na verdade nem dos 70..60..
Gosto do presente, por isso acho que nosso CD, não tem a cara do Metrô (aliás qual é a cara do Metrô? Beat...ou a Mão de Mao?......... Talvez vamos continuar decepcionado muita gente...mas é inevitável...não temos compromisso com nada...
Também não sinto Metrô como representante dos anos 80... fizemos 2 discos apenas e um relativo sucesso durante 2 anos (pouco pra uma década você não acha?) .
Anos 80 pra mim é Legião Urbana, Cazuza, Titãs.....Tenho saudade da alegria do Ultraje
Inútil é um CLÁSSICO !!!!!!
Adoro a cena atual...os DJS...o Rap. o Hip Hop em Sampa o Funk Carioca...a música no Nordeste: .Mangue Beat..Otto...Carlinhos Brown.etc...os anos 90 foram RÍQUISSIMOS
Acho o Brasil Incrível ...Tem um talento a cada esquina...
Pena que as gravadoras não entendam....É uma riqueza cultural!!!!! Não existe em nenhum outro país tanta diversidade.
Não entendo nada de mercado nem quero entender....acho que as gravadoras também não entendem NADA ....pois se olhassem um pouco pro nosso Brasil eles iam investir em TUDO em não em só um estilo.....é de uma burrice que não tem tamanho... Brasileiro gosta de tudo !!!! e isso é uma QUALIDADE nossa .
Eu adoro Carnaval e Sepultura também....Isso é que faz o Brasil GENIAL...enfim.........

Acho que posso dizer que nunca parei de pensar em Música.
Pois eu tocava Bateria 10 horas por dia e hoje não toco esta carga nem em um ano........
Hoje eu passo 18 horas por dia no Pro-Tools, fazendo música ...gravando, editando e mixando..
(o mundo mudou pra muito melhor amigo!!! não precisa + de parafernália... estúdio, técnicos, assistente do técnico, assistente do assistente...)
só um G4 e um pouco de imaginação......
O único senão foi com o maravilhoso Goodnight Varsóvia (Moreno Velloso, Cassim, Domenico, Pedro Sá, etc.) com quem fiz vários Shows em noites inesquecíveis aqui no Rio.
Toco e canto todo os dias com Clara, minha filha que aos 3 já sabe todo repertório da Bjork e dos Beatles...
Estou lutando pra acabar meu segundo filme "Maria" (o primeiro foi Crede-mi que também fiz com minha companheira nota 1000 Bia Lessa).
Já está todo filmado, foram 3 anos de viagens pelo Brasil, e estamos editando todo material na esperança de mostrá-lo no próximo Festival de Berlim em Fevereiro pois já fomos convidados por Peter Shummam.
Tenho feito várias trilhas sonoras pra teatro, desfiles, etc...(adoro !!) (Copacabana também último filme de Carla Camurati) enfim...
Atuei muito no Teatro esses anos, mas já faz uns 3 que estou longe dos palcos.....
Mas o que mais amo mesmo DE LONGE é de ficar com minha filha pequena brincando lendo historinhas... ouvindo música e vendo velhos filmes do Beatles.

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