13 de janeiro de 2008

Dinho Ouro Preto nos Anos 90

Em 2000 fiz uma big entrevista com Fê Lemos e participação de seu irmão Flávio, ambos do Capital Inicial. Publiquei-a no site TantoFaz.net (desativado desde 2001). Para completar essa entrevista/matéria, pedi ao Dinho um texto sobre seu período fora do Capital Inicial (1993-98). Eis aqui o que ele escreveu:



"Frequentemente se compara o convívio de uma banda com um casamento. Acho que é adequado. Todas as irritações, impaciências e disputas que caracterizam um casamento depois de alguns anos também acontecem dentro de um grupo.

De um modo geral acho que foi isso que me levou um dia a decidir que eu queria o divórcio do Capital. Eu tinha 29 anos e nunca tinha tocado com outros músicos e achava que, ou era então ou nunca. O que eu estava jogando para o alto era algo a se levar em consideração. Dez árduos anos.

O Capital era uma banda que nós carinhosamente chamávamos de proletária. Não fazíamos parte da elite do Rock brasileiro. Para nos mantermos em pé éramos obrigados a suar a camisa. Turnês intermináveis em condições longe de ideais. Enfim, suponho que estou reclamando de barriga cheia: essa deve ser a situação (ou muito pior) da maioria dos músicos brasileiros.

Só estou fazendo o relato para frisar que durante dez anos nos sacrificamos em nome do grupo, para um belo dia eu resolver que não valia mais a pena. Reconheço que sou um tanto impulsivo. Se fosse um pouco mais ponderado provavelmente teria reconsiderado. No começo eu não me continha de entusiasmo. Era o recomeço. Oba! O que poderia ser melhor?

Juntei uma banda com excelentes músicos. Kuaker na guitarra, Mingau no baixo e um baterista meio "poser" que, depois veio a ser substituido pelo Alja. A pricípio as dificuldades pareciam ser até estimulantes. Afinal era um desafio e tanto. No entanto, logo os mesmos problemas que existiam no Capital começaram a surgir também no Vértigo. Brigas, rivalidades e discordâncias. A grande e obvia conclusão é que isso faz parte de qualquer trabalho em grupo. Não é nada demais. Pelo contrário, é justamente a virtude de um trabalho em conjunto: a soma de idéias. Ás vezes antagônicas. Mas essa sabedoria não fazia parte do meu repertório naquela época.

Então lá fui eu tentar de novo. Dessa vez sozinho. Foi uma grande experiência. Por vários motivos. Primeiro porque para um músico de banda é um desafio ter que assinar uma obra sozinho. Embora o trabalho em equipe tenha vantagens a responsabilidade final acaba diluída entre seus membros. É muito bom saber que você é capaz de fazê-lo só. O segundo motivo foi ter tido o privilégio de ter trabalhado com o Suba.

Ao longo de minha carreira , que hoje (em 2000) tem 17 anos, nunca trabalhei com alguém como ele. Além de grande amigo, ele me ajudou muito a me livrar de vícios e maneirismos que caracterizavam meu jeito de cantar. O disco que fizemos juntos eu ainda considero a melhor coisa que já fiz. Infelizmente no final do ano passado Suba faleceu num trágico acidente. Uma perda irreparável.

Mesmo com a sensação que muito de bom saiu dessa experiência (a saída da banda) , hoje acho que foi um engano. Por um motivo simples: eu poderia ter feito tudo isso sem largar o Capital. E , mal ou bem, O Capital é minha maior realização musical. O que minha geração construiu, e sua contribuição para a música popular brasileira não é algo a ser descartado. Pelo contrário, é motivo de orgulho.

Como num casamento, às vezes só se percebe o valor de um relacionamento quando ele se vai. Muito raramente há clima para uma reconciliação. Acho que é preciso sobretudo uma imensa dose de humildade e também uma convicção grande de que o que se deixou para traz tinha valor e merece ser resgatado. Acho que é o caso do Capital. Como diria o Renato, defintivamente não foi tempo perdido".

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