11 de janeiro de 2008

ANDRÉ MUELLER SOBRE ABORTO ELÉTRICO

Este texto de André Mueller está revisto e atualizado na orelha da nova edição do livro O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília que você pode, confortavelmente, comprar clicando aqui. Você também pode fazer o pedido do livro para a livraria de sua preferência.


Não me lembro bem quando foi, se 2003, 2004 ou 2005. Me encomendaram uma matéria sobre o Aborto Elétrico, acho eu que a Revista da MTV, e pedi para André Mueller, baixista e fundador da Plebe Rude e um dos primeiros nomes da Turma da Colinahttp://setedoses.blogspot.com.br/2013/11/o-diario-da-turma-1976-1986-2-edicao.html de Brasília, para escrever algo sobre a primeira banda punk da capital brasileira. Claro que o veículo que encomendou a matéria editou o texto de Mueller, o deixando capenga. Aqui vai o relato completo, que também foi postado no blog de André X da Questão:


"Durante meu exílio fora de Brasília, um ano na Inglaterra, acompanhando o doutorado de minha mãe, e seis meses em Curitiba, estudando para o vestibular, meus únicos contatos no Planalto Central eram meus melhores amigos Felipe Lêmos e André Pretórious. Naquela época, nos comunicávamos por meio do correio, por cartas, escritas à mão (Internet? Computadores? DDI/DDD barato?

Que é isso?). Recebi duas na mesma semana me contando do grupo que haviam formado, o Aborto Elétrico, e o incrível letrista/baixista que completava a formação, Rentao Manfredini (depois, Russo). Fiquei sabendo os detalhes do famoso show no Gilberto Salomão, que marcou o início do punk-Brasília. As cartas fluíam no ritmo de conversas adolescente – várias por semana. Que bom ter amigos que sabiam escrever e descrever esses primeiros meses do que viria a ser minha vida: o rock-bsb.

Enquanto em Curitiba, encontro com Dinho Ouro Preto e seu irmão, Iko. Pergunto sobre o Aborto Elétrico e, pela resposta, já sinto que há mais por trás do que outra bandinha de garagem da capital. O entusiasmo de ambos me contagia, volto à Brasília no dia 7 de setembro de 1980 e vejo um ensaio. Fiquei bobo. A comparação com um Pistols brasileiro, um Clash candango, um Public Image do cerrado, um Joy Division do Plano Piloto foi imediata. E olha que essas bandas ainda existiam! E o Aborto estava lá, pau a pau, na energia e no som. E era coisa nossa!

Todos podem negar, mas o desejo secreto do Blitx 64, da Plebe Rude e das outras bandas que começaram a se aglomerar em torno do que viria a ser a “tchurma” era ser igual ao Aborto Elétrico. Quando cheguei, André Pretórious já havia retornado à África do Sul, o Renato assumido o posto de guitarrista/vocalista e o Flávio, irmão do Fê, ocupado o posto de baixista. Isso acabou gerando atritos dentro do grupo. A reclamação de Renato era que suas idéias eram barradas pelos irmãos. Me confessou uma vez que tinham rejeitado a música “Química”, mais tarde gravada pelos Paralamas. Os ensaios e shows ficaram tensos, egos colidiam e os amigos sabiam que a satisfação dos músicos com a banda não era plena. Teve até uma baquetada do Fê na cara do Renato durante um show, que, se me lembro bem, foi o estopim para o fim.

Não que isso importasse, pois as músicas eram ótimas, a energia incomparável às outras apresentações em Brasília. Hoje, todos conhecemos o legado, repartido entre a Legião e o Capital. Mas nenhuma dessas bandas, por melhor que ficou o resultado em vinil, conseguiram reproduzir o que veio a ser a trilha sonora do final minha adolescência / início da vida adulta. E nenhuma gravou “Helicópteros no Céu!” Como!?! Era a minha música favorita, era tocada como os B-52’s interpretando pelo Bauhaus, se é que dá para imaginar.

Décadas depois, o Capital Inicial vai aplicar o efeito Fênix no Aborto Elétrico. Bom momento, a distância histórica é correta e, afinal de contas, 2/3 da banda está lá! Isso coincide com o lançamento do primeiro disco de estúdio da Plebe Rude em mais de 12 anos. Ou seja, entre as duas bandas, estamos resgatando aquele momento mágico de nossas vidas e que espero que possamos compartilhar em igual intensidade com a nova geração (e a velha também!)".

Compre O Diário da Turma clique aqui ou faça um pedido para uma livraria de sua preferência

Um comentário:

Banda Projeto Àgora disse...

nossa b-52 interpretado pelo bauhaus é verdadeiramente uma utopia, época de ouro no qual não vivi pois tenho 35 e em 1987 tinha 10 anos de idade, mas já me esgueirava pelos botes do bixiga (shop house, madame, cais, entre outros) ha mas como eu gostaria de ter uma banda naquela época! mas o existencialismo nos puxa de volta!
http://bandaprojetoagora.blogspot.com.br/p/repertorio-proprio.html