22 de dezembro de 2008

Até 2009


Amigos e amigas. Desejo à todos boas festas e uma maravilhosa entrada para 2009. Que o ano inteiro seja bom para todos nós. Volto a postar no início de janeiro. A série Clássicos de 1986 continua!

Espero que o país melhore! Que haja menos injustiça! Enfim, cada um sabe bem o que fazer para melhorar nossas vidas.

Juízo!!!

Prêmios, Prêmios e mais Prêmios

Grammy Awards
Grammis Awards (Grammy Suécia)
Emma Awards (Grammy Finlândia)
Grammy Latino
VMA (MTV USA)
EMA (MTV Europe Awards)
AMA (MTV Asia Awards)
GMA Dove Awards (Gospel)
American Music Awards
Brit Awards
Billboard Music Awards
World Music Awards
Teen Choice Awards
NME Awards
NRJ Music Awards
Nickelodeon Kid Choice Awards
BBC Jazz Awards
Polar Music Prize (tipo Nobel)
Prêmio Pulitzer (jornalismo, literatura, música...)

Prêmio Mineiro de Música Independente
Prêmio Multishow
Prêmios de “operadora celular”
Prêmio Eldorado de Música (Erudita)
Prêmio de “cartão de crédito”
Prêmio Caras de Música
Prêmio Toddy de Música Independente
Prêmio Dinamite de Música independente
VMB (MTV Brasil)
Grammy Brasil (vai ter outro????)

De uma hora para outra fiquei encafifado com tantos prêmios espalhados por aí. Fiz uma rápida busca pela internet e achei 29 desses ‘awards’. Tem mais, muito mais, mas fiquei com os que logo apareceram. Desses 29, 10 são no Brasil. Ou seja, quase uma vez por mês há uma premiação musical por aqui.

Claro que grande parte desses prêmios são pura palhaçada. Todos eles são criados para fazer marketing e dinheiro. Publicitários e grandes patrocinadores adoram esse tipo de coisa. Todo mundo sai ganhando, menos os artistas, claro. Eles são criados não para enaltecer o trabalho musical seja lá de quem for. São criados porque geram dinheiro, muito dinheiro. Para algumas emissoras de tv essa premiação é onde elas lucram barbaridade. Gastam, sei lá, 100 mil reais e lucram 600 mil além, é claro, de fazer um chamego aos patrocinadores amigos.

Aí você olha aquele mundaréu de gente sentada no anfiteatro e se pergunta: quem é esse povo todo? Fora os artistas, são pessoas ligadas aos patrocinadores, publicitários, gerentes de banco, familiares desses parceiros comerciais, enfim, na logística desses convidados rola muita política. Quem merece ir, quem interessa estar lá, quem é mais importante e quem não faz tanta diferença.

Mas a coisa é tão cansativa que em certas premiações da para ver o local sendo esvaziado a cada bloco. Muitas pessoas que lá estão querem saber da festa que terá após a entrega e muitas dessas pessoas já começam a abandonar o local mais cedo. Um truque manjado para os lugares vazios é colocar figurantes sentados nas cadeiras vazias.

A única coisa legal desses prêmios e o fato de muitos artistas se encontrarem. Alguns até se vêem de passagem em festivais, aeroportos e hotéis, mas ali na premiação eles podem conversar com mais calma, se divertir. Só que essa parte ninguém mostra. O mais legal da festa não é mostrado!!!
Bem, de todos esses prêmios que achei, a maioria jogo no lixo. O Grammy que era de respeito, pelo tanto de franquia que abriu, já não tem mais esse respeito. É Grammy americano, latino, finlandês, sueco, brasileiro... daqui a pouco vai rolar o Big Grammy, Grammy Chicken, Grammy Salad...

quatro premiações que me chamaram a atenção: Polar Music, BBC Jazz Awards, Prêmio Eldorado e o respeitável Pulitzer. O Polar achei legal pois premia apenas dois nomes que tenham se destacado na música por terem feito algo ligado ao bem da humanidade. Ele existe desde 1992 e Paul McCartney, Led Zepellin, Gilberto Gil e Stevie Wonder já ganharam esse prêmio.

Outro legal é o BBC Jazz Awards que foi criado em 2001 e é uma premiação como as outras onde há diversas categorias. É o tipo de premiação que não interessa a ninguém aqui no Brasil. Que patrocinador vai querer bancar uma festa do Jazz?

O Eldorado é legal por premiar os profissionais da música erudita. Muito interessante.
O Pulitzer dispensa comentários. Ele existe desde 1917 e é um dos mais respeitáveis. Ele premia a literatura, o jornalismo e a música. Reportagem, editorial, fotografia, história, há diversas categorias bacanas.

O Pulitzer e o Polar são legais pois dão aos premiados uma grana, o que é bom.

Porém, 99% desses prêmios só querem ganhar em cima da imagem dos artistas. Haja paciência para acompanhar todos eles.

PS: Outro lance chatérrimo dessas premiações é o tal do tapete vermelho. Para muito dos artistas esse é o momento alto: poder mostrar no novo visual ou o novo namorado(a).

PS2: Esse é o último post de 2008. Que venha 2009! Boas festas à todos! Se for dirigir não beba!!!

17 de dezembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 4 - Rádio Pirata

Encontrei P.A (ex-baterista do RPM e atual PR-5) há meia hora atrás e ficamos conversando por uns 20 minutos e comendo uma boa esfirra. Papo vai papo vem ele me disse uma curiosidade digna de registro: o disco Rádio Pirata do RPM foi o primeiro a ser lançado em CD aqui no Brasil. Foram feitas algo em torno de 3 mil CDs, pois em 1986 apenas meia dúzia de pessoas tinham aparelho. E eram apenas dois lugares no mundo que fabricavam CD, um no Japão e outro nos EUA.
Segue relato de Paulo Ricardo sobre o disco mais vendido dos anos 1980, lançado no auge do Plano Cruzado:


Em 1984 passamos o ano inteiro rodando as danceterias de Sampa e ensaiando diariamente, então, quando Ney Matogrosso foi nos assistir, ele encontrou uma bandinha muito bem ajeitada, que tocava aquelas músicas de trás pra frente, com pegada e muita segurança. Mas foi ele quem lapidou a pedra bruta, desde nossa postura de palco até o roteiro, passando pelas luzes e pelo uso preciso e econômico do raio laser. Estreamos, ansiosos, um espetáculo ousado, hi-tech, na primeira incursão de uma banda de nossa geração num grande teatro, em horário nobre.
A presença do nosso querido Chacrinha na platéia nos deixou ainda mais nervosos. Mas os ensaios mostraram sua eficiência e tudo correu bem. Por acaso, isto aconteceu na véspera do meu aniversário de 23 anos, no dia 23 de setembro de 1985. Poucos meses, e muita, muita loucura, shows, programas de tv e rádio e várias capas de revistas depois, um acontecimento inesperado mudaria definitivamente o rumo de nossas vidas. A música "London, London", colocada no show por minha sugestão, para criar a dinâmica que o Ney precisava para o roteiro, havia sido gravada no Festival de Atlântida, em Porto Alegre, e estava estourada, numa versão pirata (meta canção!), nas rádios de todo o Brasil, chegando ao absurdo de 70 execuções/dia (para se ter uma idéia, 20 execuções já é considerado um sucesso!).

O desvio de rota passava pelo Palácio das Convenções do Anhembi em SP, onde, em duas apresentações no mês de maio de 1986, gravaríamos "Rádio Pirata Ao Vivo”. Naquela altura, estávamos no auge, pensávamos, e não podíamos imaginar o quanto à coisa ainda iria crescer. Com uma média de cinco shows por semana, éramos uma banda extremamente competente, entrosada, e nosso astral estava lá em cima, com um sucesso ímpar e todos os nossos sonhos mais megalomaníacos se realizando um a um.

As gravações transcorreram tranquilas, dentro daquela espécie de beatlemania que vivíamos, produzidas pelo experiente Mazzola, e dirigida pelo Ney. Com toda aquela bagagem, nada poderia dar errado. Fomos à Los Angeles mixar o disco, em mais uma ação pioneira, e o resultado é o que se sabe: três milhões de cópias vendidas, e ainda a maior vendagem do catálogo da Sony-BMG. O que não sabíamos é que, de certa forma, aquele era o começo do fim.
Mas essa é outra história...

Paulo Ricardo, ex-líder do RPM

15 de dezembro de 2008

Blockbuster x Filme Cabeça

Adoro filmes blockbuster. Odeio filmes cabeça. Pra mim, cinema não foi feito para pensar, mas para se divertir.

Guerra nas Estrelas, De Volta Para o Futuro, Mad Max, Hulk, Senhor dos Anéis, Porcos e Diamantes, Harry Potter, 007, Indiana Jones, Batman, O Poderoso Chefão... esses são os filmes que gosto de ver. Diversão garantida! Pipoca e Coca-Cola! Uêba!

Não agüento ver/ouvir o “público cabeça” falando mal dos blockbusters. Até porque eles são muito mais difíceis de se fazer. Uma produção dessas requer uma logística inacreditável.

Pior é ver gente como o ator José Wilker, que comenta a transmissão do Oscar, desprezar os blockbusters, assim como Inácio Araújo da Folha de São Paulo. Acho engraçado um ator como José Wilker, que faz novelas - um produto tão de quinta categoria – e falar mal de um filme por ele ter efeitos especiais ou simples cenas de ação.

Chato é aquele lance de filme com direção francesa, atores espanhóis, produção iraquiana, fotografia islandesa e no final é uma história sobre uma mulher que não sai de casa e vive em crise com os filhos e com o mundo. Pelamordedeus!

Chato é A Insustentável Leveza do Ser, Tomates Verdes Fritos, Fellini, Woody Allen, Glauber Rocha...

Vou ao cinema para me divertir e não pra sair de lá pensando na vida e suas intrigas. Até vejo alguma coisa mais parada, mas é preciso um bom roteiro, tipo Delicatessen, O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e um monte de boas comédias.

Escrevo esse pequeno post por raiva, pois vejo muita gente na mídia falando das maravilhas dos filmes europeus independentes e cuspindo em Hollywood. É difícil ver alguém defendendo os bons filmes de aventura, terror, ação, ficção...

Viva Hollywood!

E que venham Watchmen, X-Men Origins: Wolverine, O Corvo, Exterminador do Futuro 4, Mad Max 4, Carga Explosiva 3, Lanterna Verde...

8 de dezembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 3 - Longe Demais das Capitais

"Gravamos Longe Demais Das Capitais entre maio e junho de 1986 em São Paulo, nos estúdios da RCA.
Tivemos liberdade total, só mostramos o disco para os executivos quando estava pronto. O lado ruim da baixa expectativa foram os horários de estúdio que nos deram. Gravamos nos períodos que sobravam de outros artistas. Até hoje não consigo ouvir o disco sem lembrar que gravei muita coisa no início das manhãs.


Quem produziu foi Reinaldo Barriga, um cara com os dois pés no chão e sem muitas pretensões artísticas. Era exatamente o que precisávamos, pois idéias nós já tínhamos demais. Ele nos ajudou muito, pois tinha a cabeça nos anos 70. Nós não estávamos muito interessados nas mudanças tecnológicas que estavam começando a invadir os estúdios.

Queríamos estar longe demais das capitais, na contramão da euforia que rolava na cena. Predominava no ambiente uma vontade estranha de ser londrino ou nova-iorquino. Algum tempo depois pintou a onda terceiro mundista e o orgulho estranho de ser banguela. Nunca entendi estas tendências.

A foto da capa não é nada urbana. O local sugere o pampa gaúcho, mas é mais perto de Porto Alegre do que se pode imaginar.
Eu já tinha escrito todo o material antes de entrar em estúdio. As músicas já rolavam nos shows. Gosto de pensar que poderia ter feito aquelas canções hoje de manhã. Até citaria os mesmos Fidel e Pinochet em “Toda Forma de Poder”.

Um fato revela qual era nosso espírito durante a gravação: o pessoal do estúdio se enganou na hora de pegar as fitas e uma canção foi gravada sobre a anterior. Foram horas de trabalho jogadas fora. Os caras olharam para a gente apavorados, esperando que tivéssemos um ataque histérico. Nossa reação foi cair no chão de tanto rir. Teríamos que fazer tudo de novo? Que bom!"

Humberto Gessinger, líder do Engenheiros do Hawaii

2 de dezembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 2 - Capital Inicial

Aqui Flávio Lemos descreve em detalhes o que foi gravar o 1º do Capital. É um ótimo documento e mostra um pouco da dificuldade que as bandas de rock da época tinham em gravar um disco.


“Nosso 1º disco foi gravado em um estúdio chamado Nosso Estúdio, em São Paulo. As gravações começaram em janeiro de 1986 e longos três meses depois, no começo de abril, conseguimos terminar o disco. Não foi nossa primeira experiência em estúdio, pois havíamos gravado um compacto um ano antes. Mas éramos quase virgens. E isso faz uma grande diferença. Por isso a gravação foi tão demorada. Cada música foi tocada centenas de vezes até sair certo.
Nosso produtor, escolhido pela gravadora, nunca tinha gravado um disco de rock antes. Na verdade, ele nunca tinha ouvido rock. Ele só fazia discos de MPB. Falar que queríamos um timbre de guitarra igual ao do Steve Jones (Sex Pistols) não adiantava nada. A comunicação era difícil, apesar de sua boa vontade.

Não tínhamos equipamento. O baixo não sofreu tanto, pois podia ser gravado em linha, plugado direto na mesa. Mas para gravar a guitarra foi um sufoco. Conseguir uma guitarra distorcida foi pior ainda. Lembro-me que chegamos a usar uma caixa que alguém trouxe de casa, que não era para instrumentos, e sim para ouvir discos. Ligando a guitarra nela, o som vinha distorcido, e foi isso que usamos.

Mas estávamos felizes e achando tudo lindo. Queríamos ‘sofisticar’ nosso som, e chamamos Bozzo Barretti para gravar piano e teclados. Ele acabou co-produzindo o disco e sugeriu colocar metais em algumas músicas. Nós gostamos do resultado final, mas os amigos mais puristas que nos conheciam da época de Brasília não acharam muita graça.

Das onze faixas do disco, seis foram compostas em Brasília, e cinco foram compostas em São Paulo. Nós nos mudamos para SP em janeiro de 1985, e passamos o ano todo ensaiando e compondo. Ensaiávamos todo dia, no porão do sobrado onde Dinho morava. As músicas compostas em SP foram: “Gritos”, “Linhas Cruzadas”, “Cavalheiros”, “Sob Controle” e “Tudo Mal”.

Com o disco terminado, fomos fazer fotos para a capa. Chamamos Ico Ouro Preto, nosso amigo de Brasília e irmão de Dinho. Fizemos várias fotos na frente do Museu do Ipiranga, e uma delas, na frente de um espelho d'água. Nossa imagem ficou refletida. Ico depois cortou a foto, e usou só o reflexo na água. Ficou um efeito interessante, numa época sem photoshop, nem computador.

Não tínhamos nenhuma expectativa com relação ao disco. Fizemos uma lista das músicas que achávamos que poderiam tocar nas rádios. “Música Urbana” ficou em último lugar. Aí a gravadora liga e diz que a música de trabalho escolhida era “Música Urbana”. Ok.
O disco só foi lançado cinco meses depois de pronto, em agosto. Nessa altura, a gente já achava o disco ruim e mal gravado. A tiragem inicial foi de quatro mil cópias. Ficamos muito felizes quando soubemos que esgotou rapidamente. Já estava bom, mas começamos a sonhar que talvez pudéssemos chegar à marca de dez mil cópias vendidas. Após um ano do lançamento, havíamos vendido 250 mil!

Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial

23 de novembro de 2008

Série Clássicos de 1986: 1 - Não São Paulo


O empresário e produtor Luiz Calanca merece tapete vermelho por onde passa. Ele é dono da Baratos Afins, pioneira dos selos independentes. Grande figura, recentemente inaugurou mais uma loja, dessa vez apenas dedicada aos vinis. Meses atrás conversei com ele sobre a 1ª edição da excelente coletânea Não São Paulo. Confira relato de Calanca sobre a produção da coletânea:
(Nota: Você encontra Não São Paulo em CD na Baratos Afins)

Não São paulo
“Em 1978 Brian Eno produziu um disco chamado No New York, com bandas pós-punks. Em resposta fizemos o Não São Paulo. Esse título, aliás, era só um nome de trabalho, um apelido que no final acabou ficando.
Tinha muita coisa acontecendo nos anos 80 e como eu também fazia alguns eventos, muitas bandas se aproximavam de mim. Eu conheci o Akira S porque ele trabalhava numa loja da Galeria (do Rock) e ficava o dia inteiro tocando baixo. A idéia era fazer um disco dele, mas tinha muita banda no cenário, então acabei optando por uma coletânea pra depois fazer o disco solo. O Musak fui eu quem convidou. O Alex (Antunes) chamou Ness e Chance. Na verdade o Não São Paulo mais apareceu na mídia do que vendeu.
Tem bons hits ali, como “Sobre as Pernas”, de Akira S e “Samba do Morro”, do Chance. Tem coisas atuais no disco e tenho orgulho dele.
Em 1986 a Baratos Afins lançou 13 discos. Trabalhei como um louco. Fumava e bebia direto. O clima no estúdio era legal, as bandas eram amigas e uma sempre aparecia na gravação da outra. Teve dia que o estúdio tinha de 30 a 40 pessoas. Às vezes eu saía de lá direto para o trabalho. Foi um ano de muita correria.
Esse disco tem uma curiosidade: a introdução da música “The Modern Age”, do Strokes, é idêntica a música “Jovens Ateus”, do Musak. O baterista do Strokes não é brasileiro? Acho que ele já escutou o Não São Paulo, porque não é possível...”

Os Clássicos de 1986

Em 2005 fui convidado para ser um dos colaboradores da revista RS. Quase um ano depois, em seus dois primeiros números, saíram algumas matérias que fiz. Entre elas, no nº 2, foi publicada uma reportagem sobre os grandes clássicos do rock brasileiro lançados em 1986. Fiz o levantamento de todos os discos lançados naquele ano e separei os mais importantes. Dessa forma fui atrás dos protagonistas desses lançamentos: os próprios artistas. Cada um deles falou sobre a importância do disco de dos bastidores das gravações. Postarei aqui um texto por semana.

Juntei os seguintes discos e artistas:
1) Cabeça Dinossauro (Titãs) – Sérgio Britto
2) Capital Inicial (1º) – Flávio Lemos
3) Dois (Legião Urbana) – Dado Villa-Lobos
4) Longe Demais das Capitais (Engenheiros do Hawaii) – Humberto Gessinger
5) Não São Paulo (coletânea) – Luiz Calanca (Baratos Afins)
6) O Concreto Já Rachou (Plebe Rude) – André Mueller
7) Rádio Pirata (RPM) – Paulo Ricardo
8) O Futuro é Vortex (Replicantes) – Wander Wildner
9) Selvagem? (Paralamas do Sucesso) – João Barone
10) Vivendo e Não Aprendendo (Ira!) - Nasi

14 de novembro de 2008

E o Grammy Foi Para a... privada

Ontem (5ª feira, dia 13/11) rolou o tal do Grammy Latino na Band. O que é ruim piorou com a invenção da festa brasileira desse prêmio. Quem aqui no Brasil se importa com a música latina? Acho que para justificar essa transmissão a Band resolveu fazer uma festa. Triste decisão.

Sou profissional de televisão, faço programas de entretenimento, principalmente de música, tenho amigos e conhecidos que trabalharam nessa festa da Band, mas não posso deixar de criticar essa lamentável transmissão. Tenho certeza que todos da equipe de produção e direção viram os erros que vi, e muitos outros.

Comecei a ver por acaso, com o controle remoto na mão. A transmissão já havia começado e lá estavam dois rapazes do CQC tentando entrevistar os convidados da festa brasileira e ao mesmo tempo tentando fazer algum tipo de humor. Enquanto isso a pobre coitada da repórter que estava em Houston (EUA), na festa verdadeira, tentava entrevistar alguns convidados no tapete vermelho, mas ela não tinha pauta (os rapazes daqui também não) e não fazia idéia do que perguntar. Eram pequenos VTs que se intercalavam. Ora SP, ora Houston. Foi bastante lamentável, até porque não havia entrevista alguma, embasamento algum. Triste.

Na hora da festa brasileira só erros terríveis, erros crassos, erros amadores, erros de produção, de direção e erros técnicos. Equipe de produção em cima do palco, atrás dos apresentadores, passando por eles, gente passando inclusive pela frente da câmera, toda hora que voltava de algum VT os apresentadores estavam desarmados, com cara de bunda, falando com equipe de produção. Teve um momento em que a câmera principal dos apresentadores Cicarelli e Tas desarmou por que alguém deu uma pancada nela e ela saiu de quadro. Coitado do Tas que é um cara super ultra profissional e teve que ficar lá, a frente de tantos erros infantis. Certamente estava espumando de raiva.

Aquela brincadeira em que os meninos do CQC fingiram sequestrar Cicarelli foi vergonhoso. Mas mais vergonhoso de tudo e que resumiu o show de horror que foi essa transmissão, foi o momento em que as Irmãs Galvão foram entregar o prêmio de Música Regional, anunciaram os candidatos e na hora do resultado, como a produção havia dado o envelope errado, elas anunciaram que o vencedor era Seu Jorge e uma delas comentou: “acho que nos deram o envelope errado”. Nesse momento alguém da produção entrou no palco e falou ao ouvido delas que os vencedores eram Chitãozinho & Xororó, mas a voz dele vazou no microfone do púlpito e, claro, todos ouviram. Um horror!!!!

Essa transmissão seria motivo de pelo menos meia dúzia de demissões. Mais uma vez falando... um show de horror. Nunca vi tantos erros numa transmissão como ontem. Digno de entrar para o Guiness Book de pior transmissão da história da televisão brasileira. Foi constrangedor.

Ninguém explicou que o Andréas Kisser faria vinhetas ao vivo com sua guitarra. Ninguém explicou que os ganhadores dos prêmios não subiriam no palco para recebê-lo. Tanto que Supla, quando anunciou CPM22 vencedor do disco de rock, perguntou sozinho: “ué, mas eles não vão vir até aqui?”.

Outra coisa péssima foi ver, mais uma vez, performances de Marcelo D2, Pitty e Andreas. Os três já haviam tocado no recente VMB. Parece até que falta artista no Brasil. Foi tudo muito constrangedor. Tenho certeza de que muita gente da Band não dormiu ontem e se a emissora é realmente profissional, deve ter mandado muita gente embora.

Ah! No meio de todo esse terror, houve um momento alto que foi a apresentação ao vivo de Chitãozinho & Xororó com Renato Borghetti.

6 de novembro de 2008

Livros, livros e mais livros

Quem leu o 1º post desse blog sabe que sou um leitor contumaz! Em setembro, voltando de uma gravação, passei pelo sebo que há perto de casa. Lá sempre vou primeiro para as prateleiras onde há os livros espíritas e os livros de música. Achei algumas coisas que peguei na hora:
- Gravando!, de Phil Ramone, respeitado e ultra premiado produtor de discos americano. Já gravou de Frank Sinatra a Ray Charles. Só fera.
- Metendo o Pé na Lama, de Cid Castro, que fala sobre os bastidores do Rock in Rio de 1985.
- Psicodelia Brasileira: Um Mergulho na Geração Bendita. Esse um trabalho de faculdade de três garotas estudantes da Casper Líbero. Um achado!
Não sei o motivo, mas sempre dou sorte de pegar livros pouco conhecidos, como este das meninas, que nem comercializado é.

Fui para casa feliz da vida com as três aquisições e foi difícil escolher o primeiro a ler. Peguei o Gravando! que tem a orelha escrita por Tony Bellotto do Titãs. Phil Ramone ganhou nada menos que 14 Grammy e mais uma penca de outros prêmios. Comecei a ler na maior expectativa. Logo no início percebi algo estranho e ao longo da outras páginas se confirmou minha estranheza. O cara é um egocêntrico que não conta nada de novo e nada de mais. Como é amiguinho de diversos artistas e absurdamente careta, não contou nenhuma boa história. Eu crente que iria aprender alguns macetes, ler boas histórias, dar boas risadas, me dei mal. O livro é muito ruim, o cara se coloca no pedestal o tempo inteiro e o livro só serve para quem não entende nada de música. Aí sim ele funciona um pouquinho.

O trabalho Psicodelia Brasileira foi o grande achado. As garotas discorrem sobre a geração roqueira da década de 1970. Contam a história de bandas como Módulo 1000, Som Imaginário, Ronnie Von, Ave Sangria, Liverpool e Bixo da Seda, Serguei, Spectrum e nomes do rock psicodélico de hoje como Mopho e Jupiter Maçã. Esse de fato muito bom, com informações que eu não tinha lido em qualquer outro lugar. As 222 páginas devorei em duas semanas. Um belo documento que, com uma melhor edição e organização, tem tudo para ser um ótimo livro para se vender.

Metendo o Pé na Lama foi outro que me decepcionou. Escrito pelo criador do logotipo do Rock in Rio, que na época trabalhava na equipe de criação da Artplan, empresa de Roberto Medina que criou o festival, o livro de 203 páginas é uma grande enrolação, onde pelo menos metade do livro ele fala da vida dele, de suas namoradas, da falta de dinheiro, de seu trabalho na Artplan, de suas puladas de cerca e, ah!, do Rock in Rio. O livro fica um pouco mais interessante na segunda metade, a partir do momento em que ele coloca uma lista dos 120 artistas que poderiam vir ao festival. Depois disso vale ler o 'diário' que ele fez dos dias de festival. Mas também não há nada de bastidores tipo grande história das bandas, essas coisas. Mas o mais interessante é realmente essa última parte do livro em que ele descreve o cansativo trabalho de toda a equipe da Artplan durante os dias de festival, a expectativa da empresa, vai dar certo ou não? e tudo isso, como falei, acontece apenas na segunda metade do livro. Enfim, um livro que tem 203 páginas e que poderia ter por volta de 90 (no máximo).

25 de setembro de 2008

Quanto Vale o Show?

Não me lembro bem, mas por volta de 2004 fui convidado para ser curador de um grande festival que acabou não dando certo. Uma pena, pois era para comemorar os 50 anos de Rock Brasileiro.

Ali vi o que estava sendo feito para driblar a carteirinha de estudante: os empresários elevam o preço do ingresso a um valor absurdo, para poder cobrar a metade exigida pela carteirinha. O triste é ver o abuso do preço que faz com que o empresário ganhe mais de 100% de lucro na venda para estudantes. Imagine então o que ele ganha com a venda do ingresso inteiro!

Há tempos não vou a shows. Tenho verdadeiro pânico de aglomerações, multidões e lugares fechados e apertados. Esses problemas começaram no final dos anos 90 e realmente passo mal em lugares assim. Mês passado até fui a um show de lançamento de uma banda amiga, mas não consegui ficar além da 5ª música. É algo mais forte que eu. Quando vou, o lugar tem que ser aberto, grande e ainda fico lá no fundo.

Bem, Madonna vem aí, R.E.M. vem aí, festivais estão pipocando cada vez mais pelo Brasil e os ingressos são caros, muito caros. Algumas vezes o público é mal tratado na hora da compra e na hora do evento.

Principalmente em festivais, que você passa horas no local, não tem banheiro descente (as meninas que o digam), para beber e comer as opções são poucas e caríssimas, enfim, um verdadeiro exercício de paciência. Tudo isso vale a pena para ver o show de seu artista?

É muito caro vir para o Brasil, ainda mais quando o artista vem em turnê, que traz um bando de gente, cenário e sistema de luz e áudio. O custo é realmente mais alto que o normal. O contratante tem que arcar com todas as despesas de toda a equipe. Porém, isso não justifica o valor exorbitante cobrado. O lucro poderia ser bem menor, ainda mais quando o show é em estádio. O show do U2 foi maravilhoso, inesquecível, mas só fui porque estava trabalhando e por isso fiquei na pista, em frente ao palco, num espaço cercado. Um verdadeiro privilégio. Pra mim shows em estádio são uma porcaria. De todos que eu fui, fora o U2 claro, nenhum prestou.

Desde 2000 não vou a jogos de futebol, é olha que moro a 10 minutos do estádio de meu time. Pra quê? Pra ser mal tratado na hora da compra e mal tratado na hora do jogo? Comprar um copo de refrigerante sem gás por 5 reais? Desde então nunca mais desembolsei dinheiro algum para o futebol. E não me faz falta. Não sou mulher de malandro. Não sou masoquista.

Lembro do Hollywood Rock que fui ver o Red Hot Chili Peppers com a polícia jogando os cavalos em cima da galera que estava quieta na fila e na hora de sair que de tão apertado que estava o corredor que acabei saindo do chão. Um horror! Queria esperar a multidão sair, mas a polícia obrigou todo mundo sair na mesma hora. Santa ignorância!


Gasto meu suado dinheirinho com conforto.

24 de setembro de 2008

Cavalera.doc

Nesses três últimos meses fiz a Direção de um documentário da Cavalera chamado Cavalera.doc

O documentário mostra a produção da coleção verão/2009 que desfilou no último mês de junho. Misturei moda e música. Muita coisa boa na trilha do programa, desde Elvis Presley e Talking Heads, até Nirvana e The Zutons.

São oito capítulos de meia hora de duração que passará na Band sempre a 01h30 da manhã após o programa A Noite é Uma Criança:

26/09 - sexta-feira
29/09 - segunda-feira
30/09 - terça-feira
01/10 - quarta-feira
02/10 - quinta-feira
03/10 - sexta-feira
06/10 - segunda-feira
07/10 - terça-feira

15 de setembro de 2008

Teleguiado II – Os Mecanismos

Me cobraram esses mecanismos, então vamos lá:
Bem, para o Teleguiado funcionar, durante a meia hora que o programa ficava no ar a fitoteca da MTV só funcionava para o programa. Lá ficavam o responsável por ela e o estagiário, que era o encarregado de levar a fita com o clipe pedido para o switcher. Ainda na fitoteca era anotado num papel a entrada e saída do clipe. Se não tinha o clipe ou qualquer outro problema, o estagiário ligava pra mim no switcher e resolvíamos tudo ali, em poucos segundos. Se o problema envolvesse o participante que havia pedido o clipe, eu falava com o Cazé pelo ponto eletrônico. E ele: “Alô base, qual é o problema...”
O clipe chegava ao switcher e ia direto para o operador de vt que colocava-o no ponto. Primeiro ele achava o clipe, corria até o final dele, zerava o timer do vt e assim colocava o clipe no ponto. Dessa forma teríamos o tempo do clipe em regressiva. Com o clipe no ponto eu avisava o Cazé.
O tempo que Cazé ficava conversando dependia muito do participante. Se o papo era bom Cazé o esticava até não dar mais, se era ruim, assim que eu falasse que o clipe tava no ponto, Cazé já o chamava.
Num programa de meia hora no ar, é padrão ter entre 22 e 24 minutos de produção e três blocos. Os outros 6 ou 8 minutos restantes são para o intervalo. Para um programa de uma hora de duração o tempo de produção é de 48 minutos e 12 de intervalo com quatro blocos.
Fazíamos de tudo para que o Teleguiado tivesse um clipe por bloco, mas nem sempre dava certo, pois o tempo do clipe também contava. Por muitas vezes o programa terminava com Cazé chamando o último clipe e ele podia ficar 10 segundos ou 3 minutos.
Eu também ficava “negociando” com a equipe de exibição o tempo que eles podiam me dar a mais. Algumas vezes eu conseguia derrubar alguma vinheta de intervalo e ganhava aí 30 segundos ou um minuto. Se a programação estava adiantada, eu podia ir alguns minutos a mais do horário ou se a programação estava atrasada, azar, pois a exibição usava o Teleguiado para ajustar o horário e assim eu tinha que entregar o programa um pouco mais cedo. Ruim era quando tinha horário eleitoral, que aí não tem boi. A coisa toda tinha que ser pontual.Ah! Antes do inicio do programa, o switcher parava de trabalhar uma meia hora antes, para testarmos o telefone, o áudio, as câmeras, para não termos nenhuma surpresa durante o Teleguiado. Ainda bem que nunca houve nenhum grande problema técnico durante a transmissão. Se não me engano, já houve sim algum problema técnico que impossibilitou o programa de ir ao ar. Aí tivemos que colocar uma reprise, mas isso ocorreu apenas uma vez, e nem me lembro o motivo.

10 de setembro de 2008

Teleguiado MTV

Em 1995 a MTV, como todo ano e como todas as emissoras, veio com nova programação. Esse foi um ano marco para a emissora pois entre os novos programas, estava o Teleguiado: o primeiro programa ao vivo e interativo da MTV (e deve ter sido o primeiro programa interativo da televisão brasileira).
A idéia era simples: Cazé recebia telefonemas dos telespectadores cadastrados que pediam clipe e colocávamos na hora. Qualquer clipe que tivesse na casa. E só uma regra valia: se pedisse clipe que já tivesse passado na semana tomaria o famoso “NA CARA”. Cazé desligava o telefone na cara da pessoa.
Se não me engano o programa entrou no ar em março de 1995, nesse primeiro ano das 12h30 as 13h00. Era uma correria, pois eu e Cazé terminávamos de gravar o Na Chapa (que em breve falarei dele aqui) por volta das 12h00, ele ia para o camarim se trocar enquanto o pessoal do estúdio montava o cenário. O cenário do Na Chapa e o do Teleguiado eram duas “estantes” que de um lado era o Na Chapa e do outro o Teleguiado. Tínhamos também uma velha cadeira de barbeiro, uma micro câmera e mais alguns objetos de cena.
A partir de 1996 até seu fim, acho que em 1999, o Teleguiado ia ao ar das 20h00 as 20h30.
Fiz a direção do programa de 1995 até o final de 1998, ou seja, quase quatro anos ao vivo e diário. Não havia feriado. E era uma aventura.
A princípio, claro, todos nervosos, pois programa ao vivo era novidade na casa. O assunto? Papo furado. Nos primeiros meses Cazé perguntava da escola, do almoço, usava os textos do Na Chapa para criar assuntos (o Na Chapa era sobre cultura inútil).
Nesses anos todos que fiquei a frente do programa aconteceu de tudo. Teve até uma vez que Cazé foi ao banheiro cinco minutos antes de entrar no ar. Segurei a entrada do programa o quanto pude, até que tive que começar o programa sem o Cazé. Escrevi na tela: “Cadê o Cazé?”, subi a trilha e a câmera ficou passeando pela cadeira vazia. Deu 1 minuto e Cazé apareceu. Um minuto na televisão é uma eternidade!
Depois de 6 meses no ar, já sabíamos lidar com o ao vivo. Cazé também começou a ir atrás de assuntos para abordar no programa, inventou o ‘Dia de Chiva’, que era toda sexta-feira, quando ele destruía algum objeto, e foi de tudo: microondas, televisão, geladeira, bonecos de políticos, enfim, o que se pode imaginar. Nos primeiros, claro, chegamos a tomar bronca da direção, pois usávamos a escada de incêndio para colocar fogo em alguns objetos.
Tinha programa que era uma festa e tinha programa que era muito chato. Fazíamos placar de clipe nacional contra clipe internacional. Fazer televisão ao vivo é uma delícia, não há coisa melhor. Pode acontecer de tudo e isso que é legal.
Mas chegou 1998, as coisas mudaram bastante na MTV, o meu tesão pelo Teleguiado não era o mesmo e no momento oportuno acabei saindo. Até porque eu não fazia só o Teleguiado, fazia mais uma penca de programas. Mas foi legal, uma verdadeira escola.
Pena que aqui não possa me aprofundar mais em outras boas histórias do programa... hehe.
Ah! A música de abertura do programa, que muita gente perguntava na época, era do Pizzicato Five.
Teleguiado no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?v=uP061WtlPsk

2 de setembro de 2008

O Crítico Musical (argh!)

Palavra 'crítico' segundo o Houaiss:

Acepções■
adjetivo e substantivo masculino
1 que ou quem julga, examina
2 que ou quem examina, caracteriza, classifica obra de arte, ciência, costumes, comportamentos etc. Ex.:
3 que ou quem avalia competentemente, distinguindo o verdadeiro do falso, o bom do mau etc.

Etimologia
lat. critìcus,a,um adp. do gr. kritikós 'que julga, que avalia e decide', cog. do v. gr. krínó 'separar, decidir, julgar'; ing. critic (1544) critical (1590), fr. critique (sXIV acp. med, 1690 'decisivo'), esp. crítico (1615);

Antigamente era fácil achar um bom crítico musical, um bom jornalista que escrevia com conhecimento de causa. Antigamente.
A internet veio para esculhambar isso, tornar preguiçoso até mesmo o profissional que, algumas vezes, ganha bem para isso.
Tô cansado de ler matérias sobre as novas revelações, as novas tendências, o hype do momento e essas bobagens em fim.
Até a primeira metade dos anos 1980, essa coisa de rock, ainda era pouco explorada tanto nos USA e Europa, quanto aqui no Brasil. Eram poucas as bandas/artistas. Digamos assim que a cada 20 nomes, 5 eram bons. Hoje, com o mercado saturado, são 999 trilhões de nomes e 1 bom.
Hoje leio críticos indicando bandas por esses ou aqueles motivos e me pergunto: onde é que eles acham essas bandas? Eles simplesmente entram no sites ou compram revistas como New Musical Express, Rolling Stone, Uncut, Pitchfork, olham o que essas mídias estão comentando e comentam também. Aí, assim, dessa forma, até minha querida mãezinha, de 67 anos que adora Carpenters e Willie Nelson.
Quero ver algum desses críticos acharem, por si só, algum bom nome e apostar nele, sem depender da palavra dos outros. Quero ver coragem. Achar banda/artista bom hoje é fácil e eu não entendo o motivo pelo qual esses críticos não fazem isso. Sim, preguiça e covardia, como já falei, mas se é tão fácil caminhar com as próprias pernas, então porque não fazer isso?
Eu já escrevi para revistas especializadas, sites, jornais de todo o país, mas confesso que não gosto de escrever para os outros, mesmo porque o texto já vem direcionado, dificilmente com liberdade de escrita. Não gosto. Meu negócio é televisão, vídeo e meus blogs.
Hoje falata embasamento de quem escreve. Não acho que basta escutar e gostar de rock, tem que ter algo mais. Muito desses fraldinhasque escrevem para os grandes jornais e revistas não sabem da dificuldade de se fazer um disco, uma composição, e tudo o que envolve o mercado musical. É aquela coisa como no futebol que técnico bom é aquele que já foi jogador. E é verdade. Tem que ter conhecimento de causa.Não se deixe enganar e não espere esses picaretas dizerem à você o que é bom ou ruim. Vá atrás do que você gosta, até porque não interessa mais se outros gostam ou deixam de gostar. Tem tanta coisa legal que eu escuto e que ninguém nunca ouviu falar. Hoje, como falei, tem trilhões de bandas por aí. Ache as tuas e deixe as críticas pra lá. Isso é coisa do passado. Isso é coisa anterior a internet.

10 de agosto de 2008

Fúria com Slash, Ice T e Danzig

As datas certas, claro, não me vem na memória. Não sei ao certo quemveio primeiro desses. Mas as entrevistas realizadas no Fúria MTV são sempre históricas. Volta e meia encontro alguém que, quando descobre que eu era o diretor do programa, me comenta algo, relembra boaspassagens e a maioria deles tem várias VHS com clipes e entrevistas gravadas. Aos poucos vou relembrando todas as que fizemos. Agora é a vez dessastrês figuras.O Slash tínhamos um pouco de receio, pois era um cara que vinha de uma banda super ultra famosa, mil turnês, trocentas entrevistas e já mega calejado com os jornalistas. "Será que vai ser na boa?" era o que perguntávamos...Sim, foi super na boa. Slash gente fina praca. Chegou lá sozinho – não sabíamos se ele iria com a banda – chegou com sua cartola e fumando seu Gitanes. Aliás, parecia que ele era patrocinado pelo cigarro francês, pois acendia um atrás do outro, mesmo. Terminava um, acendiao outro. A entrevista durou, sei lá, uma meia hora, e ele deixou uns 5 tocos no chão do estúdio. Inclusive em qualquer estúdio do mundo é proibido fumar, mas vai falar isso para o Slash. Como todos os entrevistados do Gastão, Slash também gostou da entrevista e ficou à vontade. Ao final deu tchau à todos. À noite eu e Gastão fomos ao showdo Snakepit e fiquei de boca aberta. Showzaço! Bela banda, ótimov ocal, tudo. Fomos para ver umas cinco músicas e ficamos quase que o show inteiro. Pra mim, milhões de vezes melhor que Guns N'Roses.
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O Ice T, vou confessar que estávamos morrendo de medo. "Vai chegar um cara mau humorado, carrancudo, gangsta rapper, vai olhar pra nós dois branquelos, cuspir na nossa cara e dar um chute no nosso saco e ir embora... haha." Ledo engano. Foi a entrevista mais engraçada que fiz no Fúria. Ice T superou todas as expectativas. Chegou contando piada e saiu da mesma forma. Alto astral, sorrizão na cara, ficou lá numa boa, foi até mais que uma entrevista, foi um bate papo. Lembro-me de coisas que ele falava do guitarrista do Body Count tipo; "Não dá pra ser guitarrista, negro, canhoto e não achar que seja o Jimi Hendrix". Deu aula de rock'n'roll, falou de Black Sabbath, Led Zep e outros dinossauros. Disparada uma das mais descontraídas entrevistas. Taí um cara legal pacas!
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Desculpem os fãs, mas Danzig é um puta cara babaca. O oposto de Ice T.Esse sim sábiamos que seria difícil. A entrevista foi muito boa, maisdo que imaginávamos, pois, como disse, as pautas de Gastão deixavam qualquer entrevistado de boca aberta. Nunca era o óbvio. E olha que nessa época ainda não havia internet para pesquisar. Danzig até foi simpático durante o papo, Gastão dobrou o cara, mas ele tem cara de poucos amigos e não faz questão de ser diferente. Lá no dia, estava um amigo nosso, um amigo de muita gente que trabalhava na MTV e que era ultra mega super fã de Danzig. Ele levou uma pasta com diversas reportagens da carreira dele... reportagens do mundo todo. Durante a entrevista ficou ali no canto do estúdio quietinho. Quando terminou a filmagem, foi conversar com Danzig, pedir autógrafo e mostrar a pasta. Nesse momento eu já não estava no estúdio, mas disseram que Danzig começou ver as reportagens até chegar uma que falava do dia em que ele tomou um pau de um cara de uma outra banda (que agora não me lembro o nome). Nesse momento ele fechou a cara, e largou a pasta (não lembro se a jogou). Seu empresário chegou para nosso amigo e disse que ele havia estragado o dia do Danzig. Úi bem, ficou nervosa, santa?!?! Não fui no show pois não sou fã da nervosa...

10 de julho de 2008

50 anos de Bosta Nova

Ok. Eu sei que a Bossa Nova é um ritmo, um gênero tipicamente brasileiro, que encantou o mundo – principalmente os americanos – e que mudou os rumos da música no Brasil.
Mas também é verdade que ela é um gênero limitado, assim como é, por exemplo, o reggae. São trilhões de músicos de Bossa Nova, mas todos eles fazem tudo bem parecido. “A tardinha cai”, “o patinho faz quac quac”, “seu coração é lindinho”...
Antes da Bossa, os cantores tinham aquele vozeirão dos cantores de rádio e depois dela, todos viram a possibilidade de cantar de outras formas, alias, muitos viram que nem era preciso saber cantar muito.
Logo após o surgimento de João Gilberto, houve um boom de cantores de Bossa e até Roberto Carlos tentou ser um. Também na sequência Frank Sinatra e outros americanos descobriram a beleza da levada da Bossa.
A partir daí, pra mim, a Bossa virou música para turista. Tanto é que muitos artistas brasileiros passaram a fazer sucesso nos EUA e Europa, mas não foram reconhecidos aqui no Brasil. Vide Leila Pinheiro, Sérgio Mendes, Oscar Castro Neves, etc...
A Bossa Nova invadiu os bares do RJ que usavam o gênero para atrair os turistas. A Bossa virou, praticamente um ritmo carioca. Foram eles que dominaram essa música e exploraram suas possibilidades ao máximo. Foi lá que Nara Leão e esse turma toda se reunia para tocar, conversar, compor... nada mais justo que a Bossa seja ligada ao Rio.
Depois os modernetes e colocaram ritmos eletrônicos fazendo Bossa, tipo Style Council, Bebel Gilberto, Everything But The Girl...
Hoje até já ficou chato esse negócio de misturar batidas modernas com a Bossa. Já deu. Já encheu. Mesmo assim, novas cantoras sempre aparecem com essa coisa e as gravadoras exploram isso como se fosse a grande novidade. Argh!
Óbvio que, como um punk rocker, odeio Bossa, mas gosto de algumas coisas da MPB dos anos 70 que usam a influência dela. Mas também não tudo, é claro. Essa MPB é mais legal quando explora o rock, o psicodelismo e usa a Bossa Nova no meio disso.
Bem, o fato é que até hoje babam o ovo pra cima da Bosta Nova, isso enche os meus pacuá e pra mim ela não passa, mais uma vez digo, de música de turista. A Bossa não tem pra onde correr.
Esses 50 anos que ela completa só me confirmou uma coisa: que o rock continua marginal. Que bom.
Dos 50 anos da Bossa Nova qualquer Zé Mané falou e comentou. Agora dos 50 anos do Rock Brasileiro, completados em 2005, nem emissoras como Multishow e MTV e rádios como 89FM, Brasil 2000 e Kiss FM falaram absolutamente nada.
O rock deu muito dinheiro para as gravadoras e para esses meios de comunicação, mas essa é uma prova de que o que importa é o dinheiro. Esses prêmios tipo Multishow, VMB... só querem ganhar em cima da imagem do artista e do rock, agora dar algo em troca nada.
As favas com a Bosta Nova. As favas com o Emocore.
Por essas e outras eu continuo aqui escutando Loki?, Elo Perdido de Arnaldo Baptistae Tente Mudar o Amanhã do Cólera.

18 de junho de 2008

Qual a solução?

E então todo mundo tenta descobrir o que será do futuro das grandes gravadoras. O que elas poderiam fazer para não sumirem. Qual a solução para elas continuarem fortes?
Primeiro é bom lembrar que, apesar do choro de todas elas, todas continuam a investir pesado em marketing inútil e, principalmente, jabaculê. Aí me pergunto: se reclama pelas quedas nas vendas de CDs e da diminuição do lucro, como então pode se ter milhões de dólares para investir em jabá? E jabá não é só dinheiro, é também bens materiais, viagens, carros, e o que mais você imaginar. O problema não é só a pirataria e os programas de troca de arquivo. Se os executivos reclamam (ou fingem reclamar) dos altos impostos, alegando que eles é que aumentam o preço do produto, então porque todas essas ditas grandes não se juntam para ir até Brasília pedir e insistir na diminuição dos impostos? Reclamam mas não fazem nada. Fácil. Cômodo.
Uma vez, conversando com um grande amigo que trabalha numa dessas majors sobre esses problemas, falei para ele de algumas soluções que poderiam aumentar as vendagens, mas é claro que, não houve interesse, pois que se dane o consumidor. Disse que as gravadoras poderiam inventar formas de premiar aquelas pessoas que compram seus produtos.
Na era do vinil éramos obrigados a consumir discos sem encarte, matéria prima de péssima qualidade, produtos sem a devida proteção de embalagem, enfim, as gravadoras tinham a faca e o queijo na mão. Agora que a coisa mudou, ficam todas posando de ‘tadinhas’.
Disse ao meu amigo que essas gravadoras podres de ricas, que mamaram em nós até não poderem mais, poderiam muito bem fazer ações do tipo sorteio ou coisa parecida, para provocar aumento das vendas. Elas, ao invés de reclamar da numeração, poderiam usar esses números para sortear discografias, ingressos de shows, viagens, carros...
Imagine você comprar o CD da Britney Spears e concorrer a uma viagem para os EUA para assistir ao show dela. Ou acompanhar o CPM22 numa turnê da banda durante um final de semana. E o sorteio de um carro popular. Ou até coisas mais simples como um lap top, um computador, um home theater, ganhar 50 CDs e 50 DVDs de tal gravadora? Acompanhar seu artista em um dia no estúdio? Ou simplesmente ganhar um camarote vip e visita ao camarim em um show de tal cidade.
Bom, todo mundo tem sua opinião sobre o que poderia ser feito e a minha é essa. Gravadoras poderiam gastar menos em ações como jabá, e se tornar parceiras de seus consumidores. Se você não consegue derrubar seu inimigo, junte-se a ele.

18 de abril de 2008

Central MTV

Em 2000, antes de sair da MTV Brasil, onde fiz a direção de programas como Fúria Metal, Teleguiado, Supernova, Radiovitrola, Na Chapa, Ultrasom, Arquivo, Suor, MTV no Verão, Casa da Praia, além de shows e festivais; dirigi um programa pioneiro chamado Central MTV. Pioneiro por ser o primeiro programa diário gravado no Rio de Janeiro.
Era uma luta interna, pois não era nada fácil deixar minha casa em SP, todos os domingos, para me aventurar no RJ. O Central era gravado na casa dos artistas, ou em outras locações, era mais ou menos o que hoje a Globo faz no programa Estrelas.
Era uma rotina cansativa, de acordar muito cedo, dormir muito tarde, viver no trânsito, gravar dois programas por dia, ficar longe de casa, viver sem conforto e na ponte aérea. Sim, houve momentos prazerosos, como o programa com Cássia Eller, Pepeu Gomes e Dado, mas também houve momentos difíceis, como o programa com Pepê & Neném.
Comigo nessa empreitada estava Luciano Garcia, guitarrista do CPM22. Morávamos juntos no mesmo flat no RJ. Ele ficava no Rio agendando as bandas e artistas e eu ia e voltava toda semana. Naquela época o CPM22 ainda era uma simples banda do underground que fazia seus showzinhos no Hangar. Eu e Luciano já trabalhávamos juntos, pois era ele que sempre estava com as bandas que participavam do Fúria, então essa parte de morar com ele foi fácil e bem divertida. Luciano é um irmão, nos vemos muito pouco, mas temos essa boa vibração.
Não gravei muito o Central, acredito que apenas uns 20 ou 25 programas, pois logo que comecei o Central, recebi um convite para ser Editor de Música do (falecido) site tantofaz.net
Como estava em crise, por causa dessa rotina estressante e nada satisfeito na MTV, aceitei na hora.
No início de 2008, fuçando minhas coisas, armários, caixas... achei alguns cadernos e neles vários diários. Entre esses diários, achei os do Central, que escrevia sempre nas madrugadas do Flat, antes de dormir. Resolvi então postá-los. Eis aqui a lista dos programas que fiz diário:

Rodolfo (Raimundos)
Sepultura
Capital Inicial
Cláudio Lins
Cássia Eller
LS Jack
Gabriel O Pensador
MV Bill
Nocaute
Dado Villa Lobos
Pepeu Gomes
Wando
Rumbora
Evandro Mesquita
Vinny
Pepê & Neném

2 de abril de 2008

Central MTV com Rodolfo (Raimundos)

Gravação: 23/02/2000
No ar: 28/02/2000

O Central MTV foi criado pela direção da emissora para ser um programa feito no Rio de Janeiro.
Parece mentira mas eu tinha que estar com o 1º programa pronto em 5 dias. Desde a captação até a finalização, 5 dias.
Os três primeiros programas foram marcados em SP pois não houve tempo de produzi-los no RJ.
O 1º foi marcado no apê de Rodolfo, e eu e Cris Nicklas estávamos curiosos e ansiosos pra ver no que ia dar.
Nós dois almoçamos juntos para conversar sobre o programa e as 14h00 fomos para o Rodolfo, no apê dele no Jardins.
Na equipe estava eu (diretor), Cris (apresentadora), Rodrigo Menk (câmera), Silvio (operador áudio), Flávia (Ass. direção) e Penélope (Relações Artísticas, antes de ser apresentadora da MTV).
Chegamos bem rápido e, como não sabia como seria a captação do programa, só gravei a cabeça inicial após a entrevista ter sido feita (coisa que passei a fazer em todas as gravações do Central). Estávamos curiosos para saber como Rodolfo ia nos receber. De qualquer forma, chegamos ao apê já com a câmera ligada, gravando tudo. Por sorte foi o próprio Rodolfo que abriu a porta e ali mesmo gravamos a 1ª cabeça. Ficou longa, tive que editá-la, mas rolou legal.
O briefing do programa era mostrar a casa do artista. O que é o Estrelas hoje na Globo, era o Central na MTV. Levamos o briefing ao pé da letra e mostramos o apartamento inteiro: sala, banheiros, quartos, armários, cozinha e até com a empregada conversamos. O programa ficou além da expectativa e quando a chefia assistiu, adorou.
Mas como nem tudo são flores, houve algo de ruim no áudio. Fiz o programa inteiro com boom, mas deveria ter feito com lapela. Por contra disso algumas partes do programa tive que deixar de fora, pois o áudio ficou abafado demais.
Minha grande dúvida nesse momento é: será que o RJ tem tanto artista a ponto de preencher um programa diário (de 2ª a 6ª feira) durante um ano inteiro? Eu duvido...
No final da gravação eu e Rodolfo queimamos algo que hoje não queimamos mais e ele foi para a MTV conosco, pois iria gravar algumas vinhetas junto com Canisso.
OBS: O único quadro pendurado na casa de Rodolfo, numa parede da sala, era um retrato pintado de Jesus Cristo.

Central MTV com Capital Inicial

Gravação: 24/02/2000
No ar: 29/02/2000

Achei a maior besteira do mundo a MTV querer estrear a nova programação no dia 28 de fevereiro. Era muito cedo e quase nada estava pronto (nem mesmo os cenários). Essa estréia poderia ter ficado para o dia 13 de março, após o carnaval. Tudo seria mais fácil, tranqüilo e barato. Há uma diferença enorme entre teoria e prática.
Bom, não adianta chorar o leite derramado e lá estávamos nós no Teatro Mars para gravar o 2º Central MTV com participação de Capital Inicial. Era o 1º dia de ensaio no teatro para o Acústico e era a 1ª vez na vida da banda que todos iriam usar retorno de ouvido.
Nesse programa, ao contrário do que foi com Rodolfo, iríamos falar mais de música, apesar de termos falado sobre filhos, violência e outras coisas.
A frente do Mars estava em reforma, o camarim super apertado e não havia outro lugar para gravar a não ser nas cadeiras do teatro. O programa inteiro foi feito num só lugar.
No carro, indo para a gravação, coloquei Cris a par de tudo o que estava acontecendo com o Capital e fiz uma pauta de tópicos para ela. Lá estavam Dinho, Fê, Flávio e Loro. Todos bem humorados, com grande expectaviva em relação ao Acústico e felizes de ver que a volta da banda com Dinho havia dado certo. Afinal o Atrás dos Olhos tinha vendido 80 mil cópias na época do lançamento.
Em termos de imagens o programa não teve muita coisa, mas o editorial ficou ótimo.

Central MTV com Sepultura

Gravação: 25/02/2000
No ar: 01/03/2000

3º programa e eu estava começando a me familiarizar com ele. O único problema é que, mais uma vez, não faremos como o programa do Rodolfo e sim como aconteceu com o Capital. Dessa vez entrevistaríamos o Sepultura no estúdio onde a banda estava ensaiando o próximo disco. O estúdio fica na Vila Madalena, bem ao lado do cemitério, numa ruazinha minúscula.
A gravação estava marcada para as 15h00, mas o único que estava lá nessa hora era o Paulo (baixo). Enquanto os outros não chegavam, ficamos lá conversando e lendo a biografia da banda e tirando dúvidas com Paulo (uma coisa era entrevistar o Sepultura para o Fúria, com o Gastão, mas com Cris é outra coisa).
Depois, pela ordem, chegaram Derrick, Andreas e Igor.
Muita gente costuma imaginar seus ídolos apenas andando em tapetes vermelhos e tomando champagne, mas não é bem assim. Todo mundo deveria ter consciência de que seu ídolo também paga imposto, contas de água, luz e telefone; e também tem seus problemas (e mães chatas que pegam no pé). Estou dizendo isso porque o Sepultura, que é uma banda conhecida e respeitada mundialmente, não tem frescuras. Todos eles são muito simples, mesmo tendo a moral que tem. Quantas e quantas vezes já gravei com eles e nunca vi nenhuma viadagem...
Cris não sabia quase nada sobre a banda e, por um lado, isso foi bom, pois foi mais fácil fazer uma pauta diferente. Porém, como estaríamos num estúdio, obviamente o assunto principal seria a música. Passei algumas informações para ela e outras coisas ela pegou nas informações que dei à ela (papeis com história, reportagens...). Pedi à ela, inclusive, para não falarmos de Max Cavalera, e realmente não falamos.
O programa ficou parecido com o do Capital, mais paradão, com todos sentados e as cabeças gravadas em um só lugar. A parte editorial, mais uma vez, ficou muito boa, Cris falou de tudo: carreira, lado pessoal, hobby, futebol... É uma maravilha entrevistar pessoas com boa articulação e boas idéias. Nisso, até agora, nos demos bem.
Agora acabaram-se as gravações em SP. No domingo começo a ir para o RJ. Vamô ver o que vai dar...
Vou para o RJ todos os domingos e, alternando, volto nas 4ª ou 3ª feiras...

Central MTV com MV Bill

Gravação: ?/?/2000
No Ar: ?/?/2000

É, infelizmente, não lembro quando gravei esse belo programa. Deve ter sido no início de abril. Ele foi gravado na Cidade de Deus, beeeeem antes do filme ser rodado.
Na época da gravação só se falava em Marcinho VP. Tudo foi armado pela produção com o empresário de MV Bill. O local de encontro foi uma padaria bem em frente a entrada da Cidade de Deus. Chegamos lá no horário e ficamos esperando o empresário chegar. Eis que chega um Chevette Rett, dele desce o empresário (que não lembro o nome) e vem até a van onde estava toda a equipe. Eu e Luciano descemos e fomos conversar com ele. O empresário disse que gostaria de conversar com a Cris no carro dele e, claro, eu disse que iria junto. A essa altura Cris, coitada, já estava um pouco assustada. Afinal, o que o cara queria conversar?
Eu e Cris entramos no Chevette Rett e a van foi seguindo. Entramos na Cidade de Deus e o cara começou a falar que ali a situação estava braba porque a polícia estava em cima, atrás de Marcinho VP e que não poderíamos mostrar a casa de MV Bill, pois tinhagente lá que não gostava dele e que por conta disso Bill costumava ficar em três lugares diferentes e que teríamos que ter calma pois ele teria que saber onde Bill estava naquele momento. Nos pediu que não abordássemos alguns assuntos, enfim, pôs um terrorismo que, na verdade, não existia. Cris ficou super preocupada, com medo, mas quando descemos do carro (esse rolé durou uns 15 minutos), puxei Cris para o lado, Luciano veio junto, e falei pra ela não ter medo, que o cara queria mesmo é dar uma de gostosão, de malandro descolado e que Marcinho VP não estava na Cidade de Deus. Era tudo 71 do cara, puro jogo de cena. Tanto era que ele nos deixou perto da casa de MV Bill que na hora reconheci, pois ela já havia aparecido em famosas imagens do Rapper. De qualquer forma, fiz a cabeça de abertura bem longe dali e os primeiros segmentos do programa foram gravados no fundo da casa dele. O tal empresário, depois que nos deixou lá, sumiu.
Falei pra Cris que, se MV Bill quisesse, faríamos o pgm inteiro ali mesmo nos fundos da casa dele. Mas o papo começou a rolar legal, Cris foi se acalmando cada vez mais e MV Bill, que fazia sua primeira entrevista para a MTV, se mostrou um cara ultra mega gente fina.
Sei que, após uns três segmentos, Bill falou sobre uma pasta que tinha, onde guardava vários recortes de jornais e revistas que falavam sobre rap. Nesse momento eles nos convidou para entrar na casa para mostrar a tal pasta. Foi aí que Cris olhou pra mim como que dizendo “agora tá tudo bem, aquele empresário realmente fez jogo de cena”. Gravei mais uns dois segmentos no quarto dele e de lá fomos dar uma volta na Cidade de Deus, provando mais uma vez que aquele cara do Chevette Rett havia falado um monte de mentiras, pois MV Bill andou tranqüilo pelas ruas da Cidade de Deus, fomos a uma escola pública, onde a criançada o cercou pedindo autógrafos. Ele no meio de um monte de crianças era só sorrisos, Cris estava feliz, brincou com ele. De lá fomos a outra parte da CD para mostrarmos uma rádio comunitária local. Andamos mais um pouco pelo local e terminamos o pgm com MV Bill e os caras da rádio.
Correu tudo tranquilo e foi um dos melhores pgms que fizemos (junto com o da Cássia Eller). MV Bill ficou contente com a entrevista, com os clipes que iam rolar e ao término da gravação, o deixamos em casa e fomos tranquilamente embora.

Central MTV com LS Jack e Gabriel O Pensador

Gravação: 14/03/2000 (os dois pgms)
No Ar: 20/03/2000 (LS Jack)
No Ar: 21/03/2000 (Gabriel)

Essa semana trabalho com gripe e torcicolo. Pois é, hoje acordei 07h40 para chegar na MTV 09h00. Foi difícil, pois estava com o nariz entupido e o pescoço doendo muito. Acabei tendo uma crise (interna) de depressão, porque não queria acreditar que estava no Rio e indo trabalhar. Eu estava com uma moleza incrível e até esqueci de gravar as cabeças de entrada dos pgms, foi a Cris que me lembrou. Mais pra frente conto sobre isso.
Tínhamos combinado de encontrar Cris no Jardim Botânico (gravação ia ser lá com LS Jack) as nove e pouco e chegamos bem na hora. Ela também tinha acabado de chegar, inclusive Cris faz milagres, pois o trânsito do Rio é difícil e pior ainda pra quem mora na Barra.
Enquanto estávamos preparando o equipamento para gravação (e eu malzão) o pessoal do LS Jack chegou. A essa altura já existem coisas pré-estabelecidas por inércia, uma delas é a própria Cris explicar sobre o pgm para os convidados. Acho isso bom porque ajuda a quebrar o gelo entre entrevistador e entrevistado.
É difícil fazer um programa desses, pois o conteúdo e a duração depende do estado de espírito do artista. A Cris, além de ser muitíssimo esperta, percebe rapidamente o que poderá tirar do convidado.
Davi (nosso motorista) me deu um santo remédio para gripe e, depois de toma-lo, fui dar uma volta no Jardim para ver a locação.
O pgm ficou bom e até gravei cabeças a mais. O pessoal do LS Jack é legal e o pgm rendeu bem. O vocalista da banda (esqueci seu nome) fala pra cacete, mas é muito gente boa. Em compensação tem 2 ou 3 na banda que não abrem a boca. Uma coisa de bom que vi neles é que a banda tem consciência daquela história de “sucesso-de-uma-música-só”.
O programa terminou as 11h25, bem mais cedo que o previsto. Nos despedimos da banda e fomos guardar o equipamento já decidindo onde iríamos almoçar. Sugeri de comermos num lugar perto da próxima gravação e acabamos indo ao Shopping Fashion Mall. Eu ainda estava mal, mas o remédio que tomei ajudou a dar uma melhorada (pelo menos no meu ânimo). Todo mundo comeu no Bob’s e eu fui ao MacDonald’s. Comi muito rápido e não comi tudo.
Lá no shopping mesmo Cris se maquiou e se trocou para a próxima gravação. De lá fomos para o cantão (em São Conrado) encontrar Gabriel. O sol estava “nervoso” e muuuito quente. Começamos a gravar as 14h40. Começamos andando pelo calçadão, mas o sol estava demais e assim fomos até um quiosque. Cris e Pensador ficaram sentados tomando água de coco e assim o pgm foi inteiro. Gabriel é um cara muito inteligente, faz boas letras e seu novo CD é bem legal, pois ele faz o que nenhum outro rapper faz: acrescentar instrumentos brasileiros ao seu rap. Porém ele tem um lado obscuro, é filho de uma ex-assessora de Fernando Collor e me disseram que ele não gosta de mostrar sua casa (tanto que gravamos o pgm no calçadão).
Uma das dificuldades nesse ramo fonográfico e a burrice de quem trabalha em gravadoras. Para se ter uma idéia, a Cris comprou com seu próprio dinheiro o CD do Gabriel. Os divulgadores de gravadoras costumam mandar CDs de lançamento para os chefes dos departamentos da MTV e todos eles (sem exceção) nem ao menos tiram o CD do plástico. Muitas dessas pessoas que recebem os CDs (além dos chefes) além de não escutá-los os usam como moeda de troca em lojas de CDs. Isso é foda. Pois não é só a música que interessa, é importante ver a ficha técnica e ler as letras e seus compositores.
Acabamos a gravação com Pensador as 16h40. Esqueci de dizer que no final da gravação com LS Jack, quando já estávamos na Van saindo do Jardim Botânico, a Cris lembrou que não tínhamos feito a cabeça de abertura. Paramos tudo, descemos do carro, ligamos o equipamento e gravamos.
No final da gravação com Gabriel aconteceu a mesma coisa. Acabou a gravação e quando estávamos chegando no carro, mais uma vez a Cris lembrou da cabeça de abertura. Pegamos todo o equipamento, atravessamos a rua e gravamos a cabeça no calçadão.
Cris foi pra casa, Gabriel ainda iria gravar algo para o Dep. de Jornalismo, pois ele é a estrela do mês de março, mas enquanto a Fernanda (do jornalismo) não chegava, Gabriel foi até sua casa pegar a prancha de surf (há anos ele surfa no cantão e conhece toda a rapaziada local).
De lá peguei um táxi com Luciano e Bruno e fomos para a MTV. Chegando lá, liguei para Yone (programadora) pra saber dos clipes que iriam estrear e cheguei em casa antes das 18h00. Agora são 21h30 e eu continuo mal, mas bem melhor que de manhã. Amanhã tem Pepeu Gomes e Wando. Vai ser legal!

PS: Foi na gravação com LS Jack, quando vi alguns garis felizes e tranqüilos varrendo o Jardim Botânico que pensei seriamente em sair da MTV. Estava mal de saúde, longe de casa, morando num flat horrível, ganhando pouco, vivendo na ponte aérea, absolutamente insatisfeito. Guardei pra mim, mas naquele momento fiquei com um pé fora da emissora. Depois falo mais sobre isso.

Central MTV com Pepeu Gomes e Wando

Gravação: 15/03/2000
No Ar: 22/03/2000 (Pepeu Gomes)
No Ar: 23/03/2000 (Wando)


O cara da gravadora que acompanhou Pepeu, não sabia como chegar ao Bosque da Barra, locação desse programa. Por isso combiamos 10h40 num estacionamento de supermercado perto desse Bosque.
Queríamos marcar essa gravação para as 10h00, mas Pepeu é daquelas pessoas (que como eu) que não gostam de acordar cedo. Então passamos o horário para as 11h00. Mas houve atraso e só começamos a gravar ao meio dia.
Nove horas nos encontramos na MTV (toda a equipe) e de lá fomos à casa de Cris. Enquanto ela acabava sua maquiagem, fomos para a padaria tomar café (Eu, Luciano, Ferraro e Davi).
Chegamos ao Bosque da Barra e quando estávamos indo gravar, descobri que teríamos que ter autorização para gravar lá. Após 15 minutos e um telefonema, consegui a autorização. Começamos a gravar o pgm com microfone lapela sem fio e assim eu prefiro pois dá pra fazer planos mais abertos e dá pra variar mais a fotografia do pgm. Só que a certa altura o vento começou a ficar forte e a vazar muito no mic (fazendo o chamado ‘puf’). Pra completar, Cris estava de cabelo solto e não podia ficar 100% contra o vento (Pepeu também não) e os planos começaram a ficar mais limitados.
Não lembro de quem sugeriu a locação, mas seja quem for, esqueceu de nos dizer que havia um pequeno aeroporto ao lado do bosque. Essa foi a pior parte. Pois era avião e helicóptero a toda hora. Por isso pedi a Cris que falasse do aeroporto na cabeça de abertura.
Não ouvi o áudio, mas o pgm ficou legal, Cris e Pepeu falaram sobre quase tudo e a gravação não demorou muito. Inclusive ao final da gravação pude trocar uma idéia com Pepeu, de quem sou fã desde os tempos de Novos Baianos e, como Wando, não é freqüente na MTV.
Saímos do Bosque e fomos à uma lanchonete almoçar. A próxima gravação era com Wando, que mora na barra. Comemos sanduíches, tomamos sucos e açaí.
Chegamos ao prédio onde Wando mora e no estacionamento de lá Cris se maquiou. Ela trocou o figurino no banheiro da lanchonete. Pegamos todo o equipamento e, antes de subir ao apê de Wando, gravei a cabeça de abertura do pgm na entrada do prédio. Estava uma ventania e estávamos ansiosos pois o Wando não é uma cara comum na MTV. Chegamos lá, o Wando estava terminando uma entrevista e ficamos aguardando ao lado dca pequena piscina do apartamento (uma bela cobertura duplex). O apê era enorme e nem chegamos a vê-lo inteiro. Wando nos disse que não abria a casa dele para a imprensa há uns 5 ou 6 anos, mas que estava abrindo uma exceção porque gostava do trabalho da MTV. Por conta disso, não quisemos abusar de sua boa vontade e não invadimos tudo. Mostramos seu quarto, o closet, a piscina e a área onde ficava seu som e sua coleção de CDs. Era umas 17h30 quando terminamos. Wando foi super receptivo e não fez restrição alguma.
Pude ver alguns de seus CDs e fiquei espantado com sua coleção nada brega. Tinha vários do U2, Legião Urbana, Prince...

PS: Não é fácil fazer esses programas ainda mais quando há movimento ou o lugar é muito fechado e apertado. Usamos câmera Beta, um trambolho de 10 quilos, luz, mais equipamento de áudio. É coisa pra dedéu.

Central MTV com Cláudio Lins e Cássia Eller

Gravação: 27/03/2000
No Ar: 30/03/2000 (Cláudio Lins)
No Ar: 31/03/2000 (Cássia Eller)

As semanas pra mim começam no domingo, pois é quando saio do conforto de minha casa, em pleno domingão, para ir ao Rio. É duro deixar minha amada em casa, nos tranqüilos domingos, para ir ao flat de Botafogo. Até onde vai minha paciência? Até onde tudo isso vale a pena?
Bom, chegando ao Rio, fui ao Mac jantar, voltei para o flat e organizei a pauta, espelhos, fitas... para as gravações de hoje.
Foi difícil pegar no sono e só dormi mesmo as 02h00. As 08h30 Luciano chegou, pois estava na casa de seu tio carioca. As 09h30 já estávamos na MTV. O 1º pgm gravado foi com Cláudio Lins, filho de Ivan, no pequeno apartamento dele na Gávea, num lugar lindo!
Fomos muito bem recebidos por ele e descobrimos que nosso câmera Márcio, estudou junto com Cláudio durante o 1º e 2º graus. O apê dele é pequeno porém legal. Como não havia muito espaço para movimentação, gravamos apenas na sala. A Cris tinha escutado o CD dele e isso é ótimo quando acontece. Algumas vezes não dá para escutar o CD, mas a maioria das vezes é por culpa da gravadora que demora a entregar o produto. Tive que fazer certo malabarismo para termos um enquadramento legal, pois a sala era pequena e a câmera um trambolho! Mas rolou legal. Lembro que enquanto preparávamos o equipamento, Cláudio ligou para o pai pedindo permissão para falar na entrevista que iria gravar um disco com produção do Ivan. Permissão concedida.
Saímos da casa de Cláudio em cima da hora (já eram 12h45). Fomos almoçar perto da MTV e voltamos as 14h15. Na MTV Cris se trocou e saímos de lá já atrasados, as 15h00, e Cássia já estava na locação (que vergonha!).
A gravação foi feita numa pequena pista de skate na Urca. Chergando, ainda no carro, eu vi a locação e tive uma grande decepção, pois o lugar era ruim, não havia muito espaço e a pista não era lá essas coisas. Coloquei Cris e Cássia sentadas num lugar onde a pista ficava de fundo e assim gravei o pgm inteiro.
Lá tinha um cachorro preto, grande e forte (não sei a raça) que ficava andando pela praça e a Cássia morria de medo de cachorro e não queria ele ali. Fui conversar com o dono e percebi que o cachorro era muito manso, além de saber andar de skate. Cachorro skatista sim!!!! Não tive dúvidas e fiz imagem dele no skate.
O pgm foi muito legal, Cássia ficou super a vontade e falou um monte de coisas interessantes, inclusive sobre sua homossexualidade, coisa que ela nunca havia falado em entrevista nenhuma. A gravação terminou as 16h30. Ainda gravei algumas cabeças com Cris e quando eram 17h15 fomos embora.
A simpatia de Cássia Eller nos deixou contentes, Cris ficou feliz pela entrevista que realmente foi uma das melhores que fiz no Central.

Central MTV com Nocaute e Dado Villa Lobos

Gravação: 13/03/2000 (os dois pgms)
No ar: 16/03/2000 (Nocaute)
No ar: 17/03/2000 (Dado)

Levantei-me as 08h40 para estar na MTV as 10h00, mas acabamos nos atrasando pois Cris e Márcio (ass. câmera) se atrasaram por causa do trânsito. Acabou o carnaval e para o Brasil o ano começou agora.
Com o Nocaute estava marcado nos Arcos da Lapa as 11h00, mas só começamos a gravar as 11h40. A banda, infelizmente, tomou um chá de espera.
Ontem, antes de vir para o RJ, passei na MTV para pegar algumas informações da banda para elaborar a pauta, mas não achei nada nos arquivos. Entrei no site oficial, mas não havia nada além de algumas fotos. A Cris, já no Rio, esperava um fax com algumas informações, mas acabei não enviando.
Fomos à gravação sem saber ao certo o que fazer. Chegamos lá e vimos as ruínas do Circo Voador e foi triste ver aquilo e saber de como tudo acabou do jeito que acabou. Políticos e prefeitura do Rio são uns bostas e não sabem (pasmem) o que o Circo representa.
Chegando lá encontrei com a Alê, que trabalha na gravadora da banda, e ela nos apresentou à todos do Nocaute. Cris ficou conversando com todos eles e eu fui ver a locação para definir o local da gravação (em 1996 havia gravado ali dois programas com Cazé). Pior de tudo é que estávamos no sol do meio dia, o pior pra se fazer uma gravação externa. Aí tive que improvisar: fiz duas cabeças no sol e o resto do pgm na sombra. A banda, nova, apareceu pouco na MTV e só tem um clipe, por conta disso, tive que diminuir o número de cabeças gravadas. Acabou sendo legal, pois a banda foi boa na conversa e nem falaram besteiras. Todos os segmentos tiveram bom conteúdo (achávamos que o pgm iria ficar fraco por causa disso).
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Por conta de nosso próprio atraso, saímos de lá em cima da hora. Ainda tínhamos a entrevista com Dado, mascada para as 15h00 e já eram 13h00. Tínhamos que almoçar e ainda passar na MTV para deixar a fita gravada com Nocaute, pois ela ia de malote para SP naquela mesma hora. Fora que Cris ainda tinha que trocar de figurino e acertar a maquiagem. Saímos da MTV atrasados e chegamos na Rock It! as 15h30.
O lugar é lindo, ruas de paralelepípedo e bastante arborizadas. Não posso dizer onde é, mas digo que é perto do Jardim Botânico. A casa onde fica a Rock It! foi construída nos anos 1920 e é enorme. No fundo, há uma escadaria que sobe um pequeno morro e nem o Dado soube dizer onde a escada acabava.
Engraçado foi que o cachorro de Dado, o Salvador, cismou comigo e queria a todo custo transar com minha perna... hehe. Durante o segmento gravado na pequena academia da Rock It!, fiquei lutando com Salvador durante uns 5 minutos. Se não fosse minha prancheta eu estava fudido. Luciano (Relações públicas e hoje guitarrista rockstar do CPM22) e Davi (Ass. Câmera) só davam risada. Davi até chorava de tanto rir da situação. A gravação rolando e eu lutando para o cachorro não transar na minha perna. Foi foda e suei muito.
O pgm foi bem tranqüilo e a única recomendação que passei a Cris era para ela não falar de Legião Urbana. Ficou muito bom, gravamos em vários ambientes da casa.
Como o Tom Capone diz, o Dado é um cara zen, tranqüilo e paciente. Juntando isso com a maravilhosa casa, só poderia dar um belo programa. Ainda falamos com Toni Garrido que estava lá gravando seu disco. Quando eram 17h30 terminamos a gravação. Cris foi com seu próprio carro e foi embora de lá mesmo.
Chegamos na MTV as 18h00 e fui embora pra casa. Luciano ficou um pouco mais. Eu estava louco pra tomar um banho, ainda mais depois da luta com Salvador que me deixou todo melado.

PS: No Rio moro num flat junto com Luciano e ele fica bem perto da MTV, a pé é uns 5 minutos. Eu vou e volto para SP, mas Luciano fica no Rio direto.
PS2 (2008): Nessa época o CPM22 ainda era apenas uma banda underground que vendia bem seu primeiro CD independente.

Central MTV com Rumbora e Evandro Mesquita

Gravação: 20/03/2000
No Ar: 24/03/2000 (Rumbora)
No Ar: 27/03/2000 (Evandro Mesquita)


Começamos mais uma semana de gravação. A equipe se encontrou as 09h00 na MTV e saímosde lá as 09h30 para ir à praia do Leme, onde foi gravado o Central com o Rumbora. A banda veio ao Rio para um show no Ballroom e aproveitamos para gravar um pgm com ela. Chegamos lá as 10h00 e o pessoal já estava lá tomando água de coco.
Eu já havia gravado um Radiovitrola com Cazé na mesma locação em 1995, então já sabia o que faríamos. Quando chegamos, enquanto Ferraro (Ass. de câmera) e Márcio (câmera) montavam o equipamento,Cris e eu ficamos conversando com a banda – lembrando que Rumbora é de Brasília, portanto é tudo brodagem. Eu e Biu estudamos juntos no Marista. Ele era do metal e eu do punk...
Na 6ª feira passada eu já havia enviado para Cris algumas reportagens e realises para ela montar a pauta, e no caminho para a locação conversamos mais um pouco. A gravação foi tranqüila, o pessoal da banda, apesar de estarem começando, são bem articulados e falam sobre tudo. A gravação terminou as 12h15.
Saímos de lá e voltamos para a MTV, pois Cris pegaria o carro dela e eu deixaria as fitas para irem à SP no malote da tarde.
A segunda gravação aconteceu na casa de Evandro Mesquita, num belo condomínio da Barra. Cris foi almoçar na casa dela (que era perto da locação) e o resto da equipe foi para uma lanchonete. As 13h30 pegamos Cris e fomos à casa de Evandro. Apanhamos um pouco para chegar lá. Antes de tocarmos a campainha, já deixamos o equipamento pronto, gravei a cabeça de abertura ali mesmo, e depois entramos.
Casa maravilhosa! Pra se ter uma idéia há um pequeno lençol d’água que ‘rasga’ o gramado que fica de frente pra casa e a água cai numa piscina natural. No meio do mato, a edícula da casa de Evandro é maior que meu apartamento.
Ele nos recebeu bem, mas com um pé atrás. Aqui entre nós, o Evandro não é exatamente aquela ultra simpatia que se vê na TV. É sim um cara legal, porém sério demais. A princípio não quis liberar de gravar dentro da casa, mas Cris com seu jeitinho manero, conseguiu que gravássemos pelo menos em seu escritório, o que foi legal, pois tinha bastante material ilustrativo. Aos poucos Evandro foi deixando a amarra e sua simpatia veia à tona. Mas a maior parte do pgm foi feito com eles sentados no gramado com a casa de fundo.
Gostei de fazer o pgm com Evandro Mesquita pois ele também não é uma cara muito presente na tela da MTV.

Central MTV com Vinny e Pepê & Neném

Não há diário de registro desses dois pgms, mas me lembrei deles nesses dias emque passava os diários do Central para o computador. São sei quando foram ao ar, mas sei que foram gravados em dias diferentes.

Vinny
Lembro que fomos à casa nova dele, num condomínio na Barra, casa novinha mesmo, ele havia acabado de se mudar, sua esposa estava grávida de uns 7 meses. Ele estava, claro, felizão, e sua carreira ainda ia muito bem, com músicas tocando em rádio, agenda de shows lotada...
O programa foi gravado no início da tarde e toda a equipe foi muito bem recebida na casa. Lá estavam o Vinny, sua esposa e uma moça que trabalhava lá.
A gravação foi tranqüila, bem ao estilo da proposta inicial do Central, de mostrar a casa toda, durante uma boa conversa. O bom era que estava sol, a casa tinha muitas janelas, era bem iluminada com luz natural e não precisei usar luz artificial. É sempre melhor a luz natural!
Entramos em todos os ambientes da casa, inclusive quartos e cozinha. Vinny estava amarradão do momento que estava vivendo na vida pessoal e profissional. Ele é um cara muito gente boa, sem forçar a barra.
A única pisada na bola que me lembre, nem é em relação ao pgm, mas em seu 2º CD, no encarte, em uma das letras estava escrito “Derrepente”, ao invés de “De Repente”. Quando vi isso, doeu fundo no caração!
Atenção bandas! Revisem bem os textos que irão entrar no encarte de seus discos!

Pepê & Neném
O pgm com Pepê & Neném particularmente foi especial pra mim, pois que me lembre foi o último pgm que gravei na MTV. Depois dele, saí da emissora para tomar novos rumos.
Lembro bem dessa gravação, que aconteceu na parte da tarde, e foi em Niterói, também numa casa que elas haviam acabado de comprar e se mudar.
Lembro bem da gravação, pois eu estava com uma enxaqueca gigante, tinha comido mal no almoço, não havia remédio e o calor estava, como dizem, infernal. Pra completar, foi difícil achar o condomínio em que elas estavam morando. Ou seja, nem tínhamos chegado ao local e eu já não via a hora de ir embora... hehe.
Bom, depois de muito vai e volta, achamos o tal condomínio, que ficava a beira de uma estrada. Era um condomínio simples de casas simples e Pepê & Neném estava irradiantes por dois motivos: pela casa nova, uma grande conquista delas; e pela gravação com a MTV, até porque, como outros artistas, elas não eram rostos comuns na MTV. Chegamos lá e elas fizeram questão de mostrar a piscina do pequeno condomínio. A recepção delas foi muito legal. E minha cabeça explodindo!
Na casa estava toda a família, mil comidinhas, salgadinhos, refrigerante, bolo, doces... Realmente muito legal e muito gentil da parte delas.
O pgm, se não me engano, começamos a gravar fora da casa. Era daqueles condomínios com casas iguais, umas grudadas nas outras e cada uma delas com dois andares: na parte de baixo sala, cozinha, área externa e na parte de cima os quartos. A casa delas era a primeira do condomínio, bem ao lado da estrada, o que nos obrigou, de vez em quando, por causa do barulho, a interromper a gravação por causa de um carro ou caminhão mais barulhento. Gravar com microfone boom acontece isso, pois como ele não é direcional, ou seja, pega o barulho de todo o ambiente, tem que haver cuidado em usá-lo. Nessa situação seria melhor usar microfones lapelas, aqueles pequenos que ficam grudados na roupa – muito usados em telejornais, por exemplo – mas como não tínhamos 3 lapelas, tive que gravar com boom.
E a cabeça explodindo!
Fizemos à gravação que rolou numa boa, mas ao contrário do Vinny, em alguns ambientes tive que usar luz artificial. Pepê & Neném foram super legais, com aquele sorriso aberto e quando eram umas 17h00 finalmente fomos embora.
Dia seguinte peguei avião de volta à SP e na primeira oportunidade sentei com a chefia e pedi as contas. Não agüentava mais essa rotina de ponte aérea, sempre correria para gravar, dormia mal, acordava muito cedo e ia dormir muito tarde, pois quando chegava no flat, eu ainda tinha que escrever um relatório de gravação e edição para a Flávia, então minha assistente, que editava o Central. Era uma rotina muito dura, muito perversa para quem já tinha 7 anos de casa. Eu havia recebido uma ótima proposta de um site estrangeiro para ser Editor de Música, e como o mercado de internet era novo, estava crescendo, acabei aceitando o convite.
Tempos depois fiquei sabendo que, infelizmente, por dificuldades na carreira as meninas tiveram que vender a casa, mas não sei se isso aconteceu de fato.

14 de janeiro de 2008

Entrevista com Roger Moreira (Ultraje à Rigor)



Essa é mais uma entrevista da série que fiz quando trabalhava no site tantofaz.net


Era 2000, primeiro semestre, e o Ultraje à Rigor estava num hiato, sem lançar e sem gravadora. No ano anterior a banda tinha lançado o disco 18 Anos Sem Tirar com atraso de vários anos...


Quando cheguei ao tantofaz.net para ser editor de música a primeira coisa foi não ceder aos apelos de gravadora e segui fazendo o que bem queria. Eu nem havia formado uma equipe ainda. Bem, fato é que fui procurar artistas que estavam um tanto sumidos da mídia como Edgard Scandurra, Roger, Fê Lemos entre outros (Capital ainda estava engatinhando com a volta).


Sem gravadora, como poderia eu chegar ao Roger? Recorri ao grande amigo Mingau (e grande baixista!). Não lembro agora se Bacalhau já estava no Ultraje, fato é que consegui o telefone da casa de Roger e liguei na cara e coragem. Atendeu secretária eletrônica, deixei recado com zilhões de referencias, citando amigos em comum, essas coisas. Dois minutos depois de eu ter desligado, Roger retornou a ligação e topou fazer a entrevista, mas na casa dele e sem fotógrafo.


Cheguei lá a tarde, numa bela casa no Morumbi, e assim que entrei Roger pediu: “podemos fazer a entrevista depois da sessão da tarde? É que vai passar De Volta Para o Futuro 3 e eu adoro esse filme”. Topei na hora até porque também sou fanático pela série De Volta Para o Futuro. Nos afundamos no sofazão, eu ele e a mulher dele e assistimos o filme quietos até o fim como se estivéssemos no cinema.


Terminado o filmaço, demos início a entrevista. Cheguei em sua casa as 16h00 e saí de lá umas 20h00.

Paulo Marchetti – Em junho fará um ano de lançamento do “18 Anos Sem Tirar”. O que mudou de lá pra cá?


Roger – Não mudou muito, nós já vínhamos fazendo shows todo esse tempo… as pessoas vinham e falavam “vocês sumiram, pararam…” mas, na verdade, estávamos fazendo shows. A parte ao vivo do disco, foi gravada em 96, que foi quando decidi gravar pra, depois, decidir o que fazer. Na verdade o projeto do disco ao vivo era pra 92. Começou a muito tempo atrás… porque aconteceu o senguinte: lançamos o “Vamos Invadir Sua Praia” em 85 e saimos em turnê e, como só eu que componho, lançamos o “Sexo” só em 87. Eu não consiguo compor enquanto estou viajando… preciso parar e pensar. Meu processo é meio demorado. Daí o próximo disco só saiu em 89, foi um disco de covers chamado “Porque Ultraje `a Rigor”, pra mostrar nossas influências e porque também fazia parte de um plano meu de juntar mais os lançamentos porque, num disco de covers, não é preciso compor, então fomos gravando-o até mesmo durante as gravações do “Crescendo”. Então a idéia era lançar esse de covers, mais um inédito em 91, um ao vivo em 92 e mais um inédito em 93. Mas não sei o que realmente aconteceu, onde foi que… eu sei que, em 90, a diretoria da Warner mudou e, não sei se por isso ou por algum outro motivo, os nossos discos estavam vendendo bem, não teve uma queda de vendagem significativa pra justificar um desinteresse pelo Ultraje. Quer dizer, o “Porque Ultraje `a Rigor” não ganhou disco de ouro, mas também ninguém esperava isso de um disco de covers, mas chegou a vender entre cinquenta e sessenta mil cópias. Aí em 91, falamos pra gravadora que queríamos lançar algo novo e a gravadora falou: “agora não está numa epoca boa…” e em 92 foi a mesma coisa, mas eles resolveram lançar uma coletânea. Aí eu reclamei e falei que estava querendo lançar um disco ao vivo…
Nesse tempo todo, aconteceu um monte de coisas, a formação da banda mudou. O Maurício saiu e começou um período de entra e sai gente na banda e as coisas na gravadora não estavam legais… Em 93 eu fui lá e pus os caras na parede e eles me falaram de critérios e questionei esses tais critérios. Porque os outros artistas estavam gravando tipo Kid Abelha, Titãs, Barão… vi que o negócio era pessoal, então pedi pra me liberarem. Eles chegaram a conclusão de que seria melhor, mas eu ainda gravei o “Ó”, mas esse disco foi gravado na correria, com a banda ainda se entrosando, foi feito de qualquer jeito, foi mal divulgado e, segundo consta, não só não divulgaram, como também boicotaram, mas isso eu não posso afirmar com certeza. O que aconteceu na sequência é que continuamos a fazer shows, mas não tínhamos disco. Eu tentava vender a idéia do disco ao vivo, mas ninguém queria. O tempo foi passando, em 96 gravamos e, em 97, eu já tinha duas músicas prontas, “Nada a Declarar” e “Mostro de Duas Cabeças”. Eu levava nas gravadoras, todo mundo achava o máximo, mas ninguém comprava a idéia.
Eu não queria gravar um disco ao vivo qualquer. Eu queria qualidade e conseguimos isso. Gastamos sessenta mil reais e até chegamos a pensar em lança-lo como o Lobão fez, através de editora, vendendo nas bancas…
Até que o Rafael (Baba Cósmica e Quiz MTV), filho do João Augusto, viu uma entrevista minha na qual eu falava sobre disco e ele acabou falando com o pai que acabou comprando a idéia. Então fomos contratados da Deck Discos, de propriedade dele, mas logo em seguida ele foi para a Abril Music e acabou nos levando.

Paulo Marchetti – E agora como está?
Roger
– Os nossos discos antigos não estão em catálogo, o que eu acho um ABSURDO! Muitos fãs novos apareceram, os shows estão bem cheios e a preferência é pelas músicas antigas. O disco era pra ser “15 Anos Sem Tirar”, mas não rolou. Quando o disco saiu já estávamos na metade do dezenove (risos).
Hoje em dia está tudo diferente. Antigamente, quando ouvíamos um banda, tínhamos que ir atrás, as informações eram poucas, os discos não eram lançados aqui… Hoje, se as coisas não caem no colo, o jovem não sabe o tem por aí. Isso porque temos a facilidade da internet e globalização... Há uma falta de cultura e de interesse.

Paulo Marchetti – Vocês chegaram a tocar em lugares que ainda não tinham ido?
Roger
– Não. Até porque, desde 86 eu não ando de avião, desenvolvi um medo dentro de mim. Em 95 eu fiz um grande esforço e fomos tocar nos Estados Unidos. Sempre recebemos convites para ir ao Japão, Argentina, Europa… mas não vamos por minha causa, pelo meu medo de avião. Até fiz algumas exigências que não costumo fazer mas, mesmo assim toparam e eu tive que ir (risos).

Paulo Marchetti – Como você faz pra ir tocar no nordeste?
Roger
– Nesse disco não fomos. No começo, chegamos a fazer uma turnê de 45 dias entre norte e nordeste, de ônibus. Foi uma coisa bem estressante, no final nós já olhávamos um pro outro de mau humor, não aguentávamos mais.

Paulo Marchetti – Então vocês só tocam pelo Sul…
Roger
– Brasília pra baixo. Temos muitos pedidos do nordeste e de for a do país mas, infelizmente…

Paulo Marchetti – Nem tomando um calmante pra dormir…
Roger
– Pior é isso, também não tomo remédio.

Paulo Marchetti – Então você teve Síndrome do Pânico…
Roger
– Eu tive Síndrome do Pânico em 83, mas, na época, ninguém sabia o que era e não havia isso diagnosticado como doença. Eu ia em todos os médicos e todos eles falavam que eu não tinha nada. Ninguém sabia o que era. Durante muito tempo eu tomei Lexotan, andava com ele no bolso… até que me curei na marra. Quando dava uma crise, eu falava comigo “calma, você já teve isso, daqui uns dez minutos passa” e fui me curando. Foram vários sintomas juntos: eu não ia em lugar que não tivesse hospital por perto, cidades muito pequenas, multidão… Fui me livrando dessas coisas, mas sobrou o medo do avião.

Paulo Marchetti – Sua primeira banda foi o Ultraje?
Roger
– Eu tocava flauta e, tive umas bandinhas meio jazz. Mas a primeira banda que eu levei a sério foi o Ultraje. Teve uma única vez que foi um guitarrista fazer um teste para entrar no Ultraje, e ele me falou que tinha uma banda e me convidou pra ser vocalista, mas eu fiz ensaio e nunca mais. Meu negócio mesmo era fazer o Ultraje `a Rigor.

Paulo Marchetti – Quando o Ultraje lançará o próximo disco?
Roger
– Estou num processo penoso de compor. Porque, pra compor, tem que haver um motivo. Não consigo compor por compor. Tem que haver vontade e eu fico me esforçando ao máximo, prestando atenção em tudo o que acontece. Mas mudou muito… os meus temas iniciais, o ambiente que eu vivia, a minha idade. Certas coisas não combina comigo então esse processo de composição é demorado. Agora eu tô no meio dele e a idéia é lançar um disco novo e de músicas inéditas no segundo semestre.

Paulo Marchetti – O Scandurra me falou que também tem tido dificuldade em escrever coisas legais…
Roger
– Eu entendo isso. Nós somos muito idealistas, mas não é só isso. Já fizemos muita coisa, já passamos pelo processo do ímpeto inicial, de precisar se expressar e ter muito o que falar e fazer. Depois você acaba perdendo a inocência. Hoje temos 40 anos, dividimos o espaço com bandas mais novas e acho que o direito é todo dessas bandas tipo Raimundos, Skank… Eu acho que temos que fazer coisas de acordo com a nossa idade e, como tocamos Rock’n’Roll, que é coisa de adolescente, acabamos tendo um certa ‘crise’ do que falar. Se fôssemos mais mercenários, faríamos coisas que o mercado está pedindo e pronto. Mas tem gente como eu, o Edgard, o Lobão que fazemos músicas porque gostamos e não porque queremos vender e ficar na moda. Se eu tinha alguma coisa pra provar, eu já provei e agora estou relax. Eu me considero mais do que bem sucedido no que me propus a fazer, que era apenas de ter uma banda e poder tocar nos finais de semana. Pra tocar e fazer shows, o tesão continua o mesmo mas, pra compor…

Paulo Marchetti – Você falou que os primeiros discos do Ultraje estão fora de catálogo e têm muitos outros…
Roger
– Não só de Rock. O ‘Acabou Chorare’ dos Novos Baianos você não encontra. É a falta de cultura do povo, eu acho. Falta pedirem esses discos, falta procura e assim não há discos. É aquilo que falei de que, se não cair no colo, ninguém vai atrás. Não da pra culpar um só lado, é claro que a gravadora tem mais culpa, porque ela tem o material, sabe que existe, ela pode por pra vender, mas prefere lançar coletânea, que é mais fácil de vender, sei lá. Isso é uma mutilação do seu trabalho

Paulo Marchetti – Você já tentou brigar pelas matrizes do Ultraje?
Roger
– Já. O Maurício (ex-baixista) tentou lá de Miami, porque ele tem uma distribuidora de CDs. Foi lá falar com o pessoal da Warner, mas não deixaram. Eu ainda pretendo ver isso aí… Podia ser até uma coisa de oportunismo, aproveita que lançamos um disco, que estamos fazendo divulgação e lançam o resto. Eu acho isso uma sacanagem, porque não custa nada manter nossos primeiros discos nas prateleiras.

Paulo Marchetti – Você já recebeu convite pra produzir discos?
Roger
– Eu já produzi um disco do Korzus e um do Garotos Podres. Mas não produzi a ponto de mudar a música deles, era mais uma ajuda de quem era mais experiente. Não ganhei nada pra fazer isso. Pra mim dá mais trabalho… até pode ser futuramente, mas aí seria pra produzir seriamente.

Paulo Marchetti – Você ainda tem contato com o pessoal da primeira formação do Ultraje?
Roger
– Tenho. Em 96 o Maurício esteve no Brasil e tocamos juntos num bar no Itaim. O Carlinhos é produtor de disco e até começou a fazer o “18 Anos…”, mas depois saiu… e o Leospa está aqui em São Paulo, ele tem um estúdio de ensaio.

Paulo Marchetti – Tinha umas histórias de que ele não conseguia tocar bateria nos discos…
Roger
– Isso era frustante. Pô, a formação era da banda era genial, mas tinha essa coisa. Tiveram outros micos: uma vez fomos gravar uma música pra uma trilha sonora e ele não conseguia tocar… ou porque bebia ou sei lá. Os produtores sempre falavam pra chamar outro baterista. O “Crescendo” ele gravou inteiro, porque eu dei um toque nele e ele criou vergonha na cara. Nem tudo são flores, né? Mas faz tempo que eu não falo com ele.

Paulo Marchetti – Como foi a experiência de posar nu?
Roger
– O engraçado é que, quando começou a sair esse tipo de publicação, eu já havia pensado no assunto. Eu já frequentei praias naturistas e, na verdade, quando compus “Pelado”, a filosofia era essa de não ter frescuras e, por isso, eu cheguei a me perguntar se um dia faria. Mas nunca pensei que alguém fosse me chamar, afinal estou com 43 anos e não faço ginástica, nem nada (risos).
Um dia o Júnior, nosso empresário (irmão do Nasi – Ira!) me ligou dando risada e dizendo que eu tinha recebido o convite. Mas eu fiz exigências: que tivesse pouca gente na equipe, que fosse só mulher e dei meu preço, que eles acharam alto, mas toparam.

Paulo Marchetti – Por que só mulher na equipe?
Roger
– Porque acho que o homem tem mais vergonha de ficar nu na frente de outro homem.
Na hora de posar eu também pensei na barreira que estava quebrando. Eu fui primeiro roqueiro a posar nu… tinham algumas coisas que me fizeram posar e o dinheiro também foi bom.

Paulo Marchetti – Como é que você fez pra ficar de pau duro?
Roger
– Essa foi a parte mais difícil. Eu achei que não fosse, mas acabou sendo foda. Eu tive que ir até o camarim e ficar de pau duro, pra depois voltar ao set e fotografar. Não foi fácil, eu demorei um pouco (risos).

Paulo Marchetti – Elas deram revistas pra te ajudar?
Roger
– Eu ouvi dizer de algumas pessoas da revista que é normal o contrangimento. Eles me ofereceram algumas revistas, mas eu não quis. É difícil, porque ao mesmo tempo que você está tentando se exitar, você sabe que tem pessoas esperando por você, então ficou aquele negócio… ele levantava e, na hora de sair, começava a murchar (risos). Ficou uma situação engraçada. Até minha mulher foi comigo mas, mesmo assim foi foda, porque além de tudo, você sabe que aquelas pessoas que estão te esperando pra fotografar, irão julgar seu pau (risos).

Paulo Marchetti – Você teve alguma crise depois de ser fotografado?
Roger
– Não, foi tudo tranquilo. Até hoje tem mulheres que levam a revista no show pra eu autografar. Nem teve muita tiração de sarro! É claro que meus amigos ficavam falando coisas do tipo “tirou foto pra revista de gay”, mas qual é o problema? Na minha cabeça estava tudo muito resolvido, então não tinha como ficarem tirando muito sarro de mim. Eu até tentei negociar pra não ter que tirar fotos com o pau ereto, mas essa era uma exigência da revista. Fiquei até orgulhoso. Acho que até tem a ver com o Ultraje. Sei de muita gente mais nova que eu, que foi concidada e não teve coragem de aceitar.

Paulo Marchetti – Seu irmão Trovão ainda trabalha no Ultraje?
Roger
– Trabalha.

Paulo Marchetti – O público ainda o confunde com você?
Roger
– Não tanto, porque ele continua cabeludo. Mas ainda confundem, ainda mais quando vamos `a uma cidade pequena, que a muito tempo não íamos. Ele costuma chegar primeiro nos lugares, pra montar o palco e passar o som, então as pessoas vão falar com ele. Tem uma história engraçada: uma vez, depois que acabou um show, estávamos indo embora e tinha um carro atrás do nosso ônibus, fazendo sinal pra nós pararmos e aí o pessoal subiu no ônibus pra pegar autógrafo e me procuraram. As pessoas entraram no ônibus, passaram por mim e foram direto pro Trovão. O pessoal ficou avisando os fãs de que aquele não era o Roger, mas eles não acreditaram, pegaram o autógrafo dele, passaram por mim e desceram (risos). Ele também já deu entrevista no meu lugar. Foi numa corrida de moto, os organizadores o viram e pediram pra ele dar a entrevista, mas ele falava que não era o Roger e a galera não acreditava, pensava que EU estava de frescura. Saiu até foto dele na revista (risos).

Paulo Marchetti – Como o Miguau foi parar no Ultraje?
Roger
– O Minguau caiu do céu. É um grande baixista. Apesar de ser mais moço que eu, somos da mesma geração e começamos juntos (Minguau fez parte da primeira formação do Ratos de Porão e depois passou por várias bandas, inclusive chegou a fazer testes para a Legião Urbana). Era engraçado porque sempre nos cruzávamos por aí, em shows ou outra coisa, `as vezes até tocávamos juntos. Sempre falávamos de fazer um som, mas nunca rolava, nunca dava certo. Nosso ex-baixista Serginho, saiu da banda pra estudar química, mais ou menos na época que começamos a gravar o disco ao vivo. Então tive a idéia de chamar o Minguau. Liguei pra ele e rolou. Era pra ter acontecido e, apesar de eu sempre pensar nele em primeiro lugar, algumas pessoas me falavam que ele estava com alguns problemas… então antes de ligar pra ele, eu liguei pro pessoal do Rumbora, que me indicaram o Zé Ovo (ex-Little Quail). Eu cheguei a ligar pro Zé, ele ficou de ir até minha casa e nunca foi. Aí liguei pro Minguau e ele topou. A entrada do Minguau deu muito ânimo pra banda, combinou em tudo. O engraçado é que, essa história de tocarmos juntos, era um desejo dele e meu.

Paulo Marchetti – Vocês já tem músicas novas?
Roger
– Não, só pedaços de idéias.